quinta-feira, 23 de junho de 2016

Forças Armadas russas estão sucateadas,
dizem especialistas

Empresa holandesa Dockwise Shipping BV foi contratada para para levar submarinos nucleares de volta para o estaleiro. Na foto o 'Bratsk' e o 'Samara'.
Empresa holandesa Dockwise Shipping BV foi contratada
para levar submarinos nucleares de volta para o estaleiro.
Na foto o 'Bratsk' e o 'Samara'.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



No Ocidente, certa propaganda quer apresentar as intervenções militares de Vladimir Putin como jogadas de um líder de potência bélica capaz de desafiar os EUA e de assumir o controle de situações horríveis como a da Síria.

Os arautos dessa propaganda sugerem que Putin está nas antípodes da debilidade de caráter de Barack Obama e de seus homólogos ocidentais, e que num enfrentamento frontal acabará vencendo.

A questão é relevante porque Putin está envolvido em conflitos onde um míssil disparado por erro ou por iniciativa particular pode desatar um conflito mundial.

A derrubada do voo MH17 da Malaysian Airlines em julho de 2014, ou de um jato russo por um caça turco mais recentemente, levantaram essa assustadora hipótese.


A anexação ilegal da península da Crimeia, a invasão do leste da Ucrânia e a intervenção militar na Síria passaram a imagem de um chefe do Kremlin que se sente seguro apoiado em seu poderio militar e que arrisca pesado.

Mas a realidade é muito mais complexa, segundo o especialista Mark Galeotti, professor no Center for Global Affairs da New York University. Ele participou do “The Great Debate”, onde debateu o tema com outros especialistas, noticiou a agência Reuters.

Da discusão resultou que o agressivo Putin não dispõe dos recursos militares que banca ter. Sua esperança está nas fraquezas psicológicas do Ocidente e não no poder real de suas armas.

Acresce que o presidente russo enfrenta dificuldades políticas e econômicas domésticas que lhe impediriam sustentar um conflito militar em grande escala.

Galeotti pinta um Kremlin fazendo fita para explorar a desprevenção do Ocidente. A aventura na Síria é um exemplo. Ele estufou o peito na hora de entrar no conflito e, não muito depois saiu de fininho, sem derrotar os terroristas do ISIS, cujo extermínio havia garantido.

Para Dave Majumdar, diretor do setor de Defesa da revista de estratégia e política internacional “The National Interest”, malgrado as modernizações ordenadas por Putin, o grosso das Forças Armadas russas é integrado por conscritos mal treinados e equipamentos dessuetos da era soviética.

Tanques soviéticos para serem modernizados a perder de vista.Acabaram esquecidos na Ucrânia.
Tanques soviéticos para serem modernizados a perder de vista.
Acabaram esquecidos na Ucrânia.
Depois da queda da URSS, os líderes russos prometeram uma reforma do exército que nunca executaram. As atrapalhadas intervenções na Chechênia e em 2008 na Geórgia testemunham isso.

Na agressão da pequena Geórgia, o Kremlin precisou apelar para tropas de fortuna e acabou ganhando um páreo duro que outrora teria dado em fácil vitória.

A maioria das forças russas engajadas na Síria em 2015-2016 combatia com equipamentos modernizados na década dos ‘70.

Apenas a quarta parte das unidades do Exército está completa com soldados bem treinados e profissionais. E os profissionais não receberam treinamento no nível dos ocidentais.

O Kremlin tenta imitar a educação militar do Ocidente. Muitas divisões soviéticas foram reformadas seguindo o modelo do Exército americano. Procura também reduzir o número exagerado de oficiais em funções burocráticas e melhorar a logística.

Mas todas as reformas ficaram incompletas e assim ficarão durante muitos anos, especialmente se a queda do petróleo e do rublo, mais as sanções econômicas ocidentais, continuarem devorando a desequilibrada economia russa.

A indústria militar é apenas uma sombra da monstruosa e vetusta máquina soviética. Ela está atrofiada, paralisada em áreas tecnológicas cruciais. A Rússia procura tecnologias para armas de precisão ou radares, e esses são apenas exemplos, escreve Majumdar.

Os estaleiros russos não são mais capazes de construir grandes navios de guerra como um porta-aviões; estão esclerosados, aplicando velhas técnicas de construção.

Alguns anúncios parecem irreais, como a produção de 2.300 tanques T-14 Armata. O país está construindo grandes aviões de guerra como os Su-30M2s, Su-30SMs, Su-35S e Su-34s, que são todos eles adaptações do mesmo modelo Flanker. Os MiG-29 atualizados apresentam os mesmos problemas.

O Kremlin anunciou pelo menos três novos tipos de aviões de combate, mas não se sabe como financiará programas tão caros.

Sebastopol: bases navais russas servem de depósito de navios de guerra de uma outra era.
Sebastopol: bases navais russas servem de depósito de navios de guerra de uma outra era.
Na Síria, a Rússia não usou suas armas mais modernas, que não foram testadas em combate quiçá por não possuí-las em número suficiente.

A Rússia conserva importante força submarina. Começou a desenvolver os formidáveis submarinos balísticos da classe Borei e os de ataque da classe Yassen. Mas carece de recursos econômicos para tocar os projetos. De momento só está modernizando os submarinos que possui.

A maioria de seus navios de superfície é velha, não teve manutenção adequada e sai pouco para navegar. O único porta-aviões russo — o Almirante Kuznestov — quebrou durante exercícios navais e navega junto com um rebocador oceânico capaz de trazê-lo de volta ao porto. A construção de novas belonaves anda devagar.

Acresce que a Rússia de Putin já não tem mais a população da era soviética para preencher as unidades de combate. “Putin não tem números significativos de tropas nem corpos especializados que possam intervir em qualquer ambiente”, disse o Dr. Galeotti na Escola Superior de Guerra nos EUA.

O exército russo é uma miragem, um tigre de papel, conclui o especialista.

As forças nucleares, embora vetustas, podem provocar um holocausto mundial. E o dono do Kremlin não teria escrúpulos para o crime planetário desde que sirva ao sonho de instaurar a “nova URSS”.

Esse sim é um perigo que requer muita prevenção. De onde o esforço americano para montar mísseis de interceptação não longe do território comandado pelo frio e ambicioso ‘ex’-coronel da KGB.


Falhas nos equipamentos modernos na parada da Vitória, 7 de maio 2015, Moscou.




Míssil falha na festa pela anexação da Crimeia, Sebastopol, 2015




3 comentários:

  1. Não é só isso, vc foi até gentil, a Rússia tem problemas sérios: Crescimento da população islâmica em seu território, economia descontrolada, mas a pior, seu principal aliado (China) está completamente arruinado. Não consigo imaginar o Putin no comando por muito tempo, assim que o Partido Comunista Chinês cair, o Putin cairá junto.

    ResponderExcluir
  2. O Regime Chinês não conseguirá se manter para além de 2018...

    ResponderExcluir