domingo, 2 de outubro de 2016

Moscou finge eficácia, ajuda o Estado Islâmico
e tapeia com propaganda

Mohammed al-Adnani foi o principal porta-voz do Estado Islâmico
Mohammed al-Adnani foi o principal porta-voz do Estado Islâmico.
EUA silenciou, mas Rússia diz que feito foi dela.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Mohammed al-Adnani, o estrategista e segundo homem do Estado Islâmico, foi atingido por “um ataque de alta precisão” dos EUA.

Tratou-se de uma das maiores perdas sofridas até o presente pelo grupo, que reivindica a fidelidade ao pé da letra aos ensinamentos do Islã.

O próprio Estado Islâmico reconheceu a perda, também confirmada pelo porta-voz do Pentágono, Peter Cook, segundo noticiou “Le Nouvel Observateur” de Paris.

Porém, no dia seguinte, chegou uma declaração que seria histriônica se não fosse a tensão instalada entre Washington e Moscou: o Ministério de Defesa russo afirmou que a façanha devia ser atribuída a um de seus aviões.

Um porta-voz do Pentágono respondeu: “É uma piada. Seria risível, se nós esquecêssemos o tipo de campanha que os russos estão fazendo na Síria”.



Os EUA esclareceram com luxo de detalhes o lance que acabou com um dos piores chefes do grupo terrorista religioso.

O porta-voz americano tentou amenizar a tensão aventando a hipótese de alguma trapalhada verbal russa, acrescentando que “nós não temos informação alguma que corrobore as afirmações da Rússia”.

“Os russos certamente não têm o nível de competência em matéria de pontaria que têm os americanos”, explicou Philippe Gros, pesquisador da Fundação para a Pesquisa Estratégica (IFRI) de Paris.

Segundo o “Nouvel Observateur”, a maior parte das perdas do Estado Islâmico se deve estatisticamente às ações da coalizão liderada pelos americanos.

Em sentido contrário, os danos ocasionados pelos russos aos fanáticos religiosos são muito menores. Mas Moscou divulgou em maio números mirabolantes de baixas que teria ocasionado aos islamitas radicais: 28.000 mortos, enquanto os EUA só lhes teriam causado a perda de 5.000 combatentes.

Segundo o “Washington Post”, “as autoridades russas apresentam números sobre sua intervenção que são verossimilmente exagerados e concebidos para minimizar os esforços dos EUA”

Moscou afirma que mira os combatentes do Estado Islâmico. Mas, na prática, a maioria de seus bombardeios visam os aliados sírios dos EUA que combatem a ditadura socialista de Bachar al-Assad, grande aliado da Rússia.

Bombas russas miram população civil e hospitais em Aleppo. EUA, França e Grã-Bretanha falam em "crimes de guerra". Moscou quer salvar seus aliados no Oriente Médio.
Bombas russas miram população civil e hospitais em Aleppo.
EUA, França e Grã-Bretanha falam em "crimes de guerra".
Moscou quer salvar seus aliados no Oriente Médio até com métodos inumanos.
O porta-voz do Pentágono, Peter Cook, relembrou essa artimanha da propaganda russa: “desde o início, como todos sabem, a Rússia dedicou a maior parte de sua campanha militar para sustentar o regime de Bachar el-Assad. Ela não consagra seus esforços para alvejar os líderes do Estado Islâmico”, informou ABC News.

Segundo o site americano Institute for the Study of War, que estuda regularmente os relatórios militares russos, Moscou concentra seus ataques aéreos até contra a população civil, num empenho metódico de salvar o ditador socialista seu aliado.

O site também analisa os relatórios vindos das redes locais sírias, as declarações ocidentais e os dados publicados pela mídia no mundo.

O conjunto dessa documentação confirma que a Rússia concentra seus ataques contra as áreas livres para torná-las mais vulneráveis aos ataques desferidos pela ditadura de Damasco, seu satélite.

Moscou entrou no conflito alegando que iria combater o Estado Islâmico, mas na prática está fazendo outra coisa, em boa medida oposta ao que anunciou.

Pretender que a Rússia eliminou o estrategista chefe dos islamitas soou como mais um golpe de propaganda para tornar crível sua entrada no conflito e desviar as atenções de seu duplo jogo.

Philippe Gros sublinha que “toda a estratégia russa consiste em impedir o desabamento do poder instalado em Damasco”. E não em combater o Estado Islâmico.


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