domingo, 22 de janeiro de 2017

Álcoois pesados matam milhares
numa Rússia sem religião

O drama de Irkutsk e da Rússia numa ilustração do The Guardian
O drama de Irkutsk e da Rússia numa ilustração do The Guardian
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs




Um dos mais deploráveis vícios que consomem a população russa é a bebedeira. Não é novo, vem de séculos.

Mas a chamada Igreja Ortodoxa russa, que deveria ensinar a moral e promovê-la, nada fez para acabar com esse flagelo. Pelo contrário, muitos de seus religiosos e hierarcas são conhecidos pelo povo por seu homérico abuso do álcool.

Tampouco fez nada o comunismo soviético que, aliás, via na vodca um instrumento para avassalar a população.

Vladimir Putin, falsamente tido como moralista e cristão, também explora e promove esse vício como recurso de abaixamento e anestesia da população.

O vício está especialmente espalhado entre os homens – embora muitas mulheres não estejam isentas – e é o grande causante da baixíssima expectativa de vida deles na Rússia, uma das menores do mundo.

Porém, o grau de degradação a que chegou nessa matéria a “URSS 2.0” nos últimos anos estarrece até os próprios russos.



A recente tragédia de Irkutsk, na Sibéria, foi paradigmática. Avizinhando-se o Natal, 71 alcoólatras morreram bebendo um óleo para banho em lugar de vodca, segundo cômputos provisórios que talvez nunca serão definitivamente completados, referidos em reportagem do jornal parisiense “Le Monde”. 

Essas mortes foram confirmadas pelo escritório local do Ministério da Saúde, citado pela agência oficial Interfax. As vítimas contadas atingiam em 22 de dezembro o número de 106. Além dos falecidos, outros 40continuavam hospitalizados e apenas cinco puderam voltar por si sós para casa.

O drama não se limita a essa cidade isolada na Sibéria, mas é nacional. Sem dinheiro para comprar vodca, as infelizes vítimas recorrem a produtos farmacêuticos ou cosméticos que, para evitar o congelamento, incluem substâncias químicas como o metanol, o mais pesado dos álcoois.

Putin ordenou mais uma vez endurecer as normas para as substâncias alcoólicas e “reduzir o consumo” de produtos substitutivos da aguardente.

Mortes por alcoolismo em Irkutsk horrorizaram Rússia no período natalino
Mortes por alcoolismo em Irkutsk horrorizaram Rússia no período natalino
Homens na maioria, mas mulheres também, em estado de coma ou gravíssimo encheram os hospitais de Irtkusk.

O pânico tomou conta da cidade e os telefonemas implorando auxílio saturaram os pontos de atendimento. A vítima mais jovem tinha 28 anos e a mais velha 62.

As autoridades judiciárias abriram inquéritos, a polícia prendeu falsificadores, milhares de vidros foram confiscados, mas nada permite supor que a crise coletiva não irá se repetir.

O jornal local Baïkal Daily explicou que a ingestão de metanol basta para provocar uma cegueira quase certa, e praticamente a morte.

O órgão oficial de estatísticas Rostat contabilizou o óbito de 15.242 pessoas em 2015 “por envenenamento com álcool”, especialmente por excesso no consumo.

Mas o caso do metanol de Irkutsk leva a uma categoria estatística diversa: a de “outros envenenamentos”, na qual a Rostat inclui 7.786 falecimentos no mesmo ano.

Medidas administrativas, jurídicas ou policiais não resolvem o caso. Só uma verdadeira reforma dos costumes e o abandono do vício poderão salvar suas vítimas presentes e futuras.

Sabe-se bem que luta moral é necessária para se abandonar um vício, especialmente o do álcool.

E essa vitória só pode ser conquistada com o auxílio poderoso da graça divina, da qual a Igreja Católica é a única dispensadora universal.

Mas a pregação do catolicismo é mal tolerada na Rússia. A igreja dita “ortodoxa”, sob a batuta de ex-agentes da KGB, companheiros de Vladimir Putin, exerce um intolerante despotismo religioso em escolas soviéticas para a formação de agentes da repressão e da espionagem.

Com líderes falsamente “cristãos” como esses, a infeliz população russa só continuará decrescendo com mortes precoces, abortos, além de outros vícios e crimes nauseabundos tornados oficiais ou partilhados pelos líderes da “nova-Rússia”.


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