domingo, 18 de junho de 2017

Assassinos disfarçados caçam inimigos de Putin
na Ucrânia e no mundo

Osmayev e Amina respondem aos jornalistas sobre a tentativa de assassinato em Kiev
Osmayev e Amina respondem aos jornalistas sobre a tentativa de assassinato
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Um homem alto e elegante, de terno escuro, falando com sotaque francês se apresentou a políticos de Kiev como “Alex Werner”, jornalista do bem conhecido “Le Monde” de Paris, segundo reportagem do “The New York Times”.

“Era calmo e confiante”, lembrou Amina Okuyeva que quase foi morta por ele. O marido de Amina ficou famoso na Ucrânia como voluntário checheno na guerra contra os separatistas no leste do país e “Werner” procurou entrevistá-la várias vezes.

Até que a entrevista marcada virou aterrorizante tiroteio. “Werner” de fato era um assassino checheno enviado da Rússia para matar o herói dos ucranianos. Artur Denisultanov-Kurmakayev era seu verdadeiro nome e fora enviado para matar Amina Okuyeva e seu marido, Adam Osmayev.

Mas o crime ficou frustrado porque Amina estava armada.

Em 2006, o governo russo legalizou os assassinatos praticados no exterior contra adversários que o Kremlin rotula de ameaça terrorista, retomando uma prática da era soviética.

Denisultanov-Kurmakayev se instalou um ano em Kiev, misturando-se com políticos e ativistas anti-Rússia. Mas Amina desconfiava: ele carregava um notebook que quase não usava; seus ternos eram caros demais.



O pedido de entrevista foi comum: “a imprensa nos pedia entrevistas com frequência”, explicou ela. “A mídia adora escrever sobre nós”. Amina e seu marido Osmayev, são conhecidos na Ucrânia.

O matador Artur Denisultanov-Kurmakayev bancou de jornalista do 'Le Monde'.
O matador Artur Denisultanov-Kurmakayev
bancou de jornalista do 'Le Monde'.
Por sua vez, o governo russo acusa Osmayev de planejar a morte de Vladimir Putin. Ele foi preso na Ucrânia, mas sua extradição para a Rússia foi bloqueada pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.

Depois da revolução anti-russa ucraniana em 2014, Osmayev foi comandante do batalhão de chechenos Dzhokhar Dudayev que lutava contra os separatistas pro-russos.

O casal sabia que era visado. “Putin está pessoalmente interessado em livrar-se de nós”, explicou Amina.

O suposto “Werner” propôs ir até a embaixada da França e disse que tinha um presente para o casal enviado pelos diretores do “Le Monde”.

Na rua pediu parar o carro para fazer a entrevista no banco e lhes entregar o presente embrulhado em belo pacote vermelho.

Enquanto o assassino dizia “este é o seu presente” puxou uma arma de fogo e disparou.

O tiro feriu Osmayev que lutou com o atacante e apanhou sua arma. Amina carregava uma pistola e atirou quatro vezes em Denisultanov-Kurmakayev que ficou gravemente ferido, mas salvou-se.

A tentativa de assassinato praticada por agentes russas não é nova. É até relativamente frequente. Essa foi a terceira vez que uma figura de notoriedade sofreu em Kiev um atentado de morte planejado desde a Rússia.

O ex-legislador russo exilado na Ucrânia, Denis Voronenkov, foi baleado em março na rua diante do hotel Premier Palace em Kiev. Foi salvo pelo guarda-costas que abateu o matador.

Em 2016, um carro-bomba foi jogado contra o jornalista Pavel Sheremet no centro da capital.

O Ministério do Interior e legisladores da Ucrânia culparam o serviço de inteligência russo pelo crime contra Osmayev e Amina. “Temos a prova de que a Rússia está cometendo atos terroristas em outros países”, disse o deputado Anton Gerashenko.

“Ele poderá contar quem o mandou para cá e por que”, disse.

Amina na saída do hospital em Kiev. Ela desconfiou, foi armada, e salvou  casal.
Amina na saída do hospital em Kiev.
Ela desconfiou, foi armada, e salvou  casal.
Em 2008, responsáveis austríacos detiveram Denisultanov-Kurmakayev que impetrou asilo dizendo ser um delator checheno. Na realidade, tinha recebido a missão de matar a Umar Israilov, um dissidente que prestou depoimento na Corte Europeia dos Direitos Humanos contra o líder putinista na Chechênia Ramzan A. Kadyrov.

Ele delatou que seu chefe na Rússia tem uma lista de 300 inimigos a ser mortos. Também alegou que não quis cometer o homicídio e se entregou à polícia austríaca para ser protegido da vingança de seus chefes russos pelo fato de não executar a ordem.

Umar Israilov, o dissidente que ele tinha ido matar em Viena foi abatido a tiros por desconhecidos numa rua da capital austríaca dois meses depois.

Esses procedimentos altamente imorais e friamente calculados no Kremlin já produziram outras vítimas infelizmente celebrizadas pelo seu extermínio.

Muito famoso foi o caso do ex-espião russo Alexander Litvinenko assassinado em Londres com polônio-210 como em crimes precedentes.


Confira: Justiça britânica: Litvinenko foi assassinado com a anuência de Putin

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