Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Os padres católicos ucranianos redentoristas Ivan Levitsky e Bohdan Geleta reapareceram em imagens publicadas pela Igreja Greco-Católica Ucraniana (IGCU).
Segundo essa fonte, as fotos foram obtidas quando os dois sacerdotes ainda estavam detidos numa prisão russa, informou o “Catholic Standard”.
Os sacerdotes foram presos por soldados russos em Berdyansk, na Ucrânia, em novembro de 2022, e recentemente foram libertados, segundo anunciou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em junho de 2024.
O padre redentorista Bohdan Geleta contou na Zhyve TV, canal de televisão da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que ele e seu colega redentorista, o Pe. Ivan Levitsky, tiveram sua paróquia Igreja da Natividade do Santíssimo Theotokos em Berdyansk, invadida por soldados russos que os levaram pela força.
A Igreja Católica nunca soube onde estavam reclusos nem as condições exatas em que viviam durante a maior parte dos 18 meses de cativeiro, mas reapareceram muito emagrecidos e com a cabeça rapada numa troca de prisioneiros.
O Pe. Geleta confirmou que foram sujeitos a tortura psicológica e física segundo informou o Arcebispo-mor católico ucraniano Sviatoslav Shevchuk.
Após a ocupação russa da cidade, os dois sacerdotes continuaram celebrando a Divina Liturgia, rezando e acolhendo refugiados, disse o Pe. Geleta.
No entanto, um carro marcado com a letra “Z”, símbolo das tropas invasoras na Ucrânia, circundou ameaçadoramente a Igreja “diversas vezes” até que prenderam o Pe. Geleta que se preparava para celebrar a Divina Liturgia, e o Padre Levitsky que ia para uma reunião de oração ao ar livre.
Os militares entraram na igreja mascarados e armados e ordenaram irem com eles sem outra explicação senão a ameaça dos fuzis.
O Pe. Geleta tirou os paramentos e foi levado para o local de detenção preventiva central em Berdyansk.
Foram acusados de não terem pedido autorização às autoridades para rezar na cidade. A acusação é típica das forças de ocupação russas na Ucrânia.
Essas suprimem todas as religiões, exceto os ‘popes’ obedientes ao Patriarcado de Moscou que servem aos ditadores do Kremlin.
Os russos destroem casas de culto, prendem, torturam e matam clérigos e estabeleceram leis para restringir a prática religiosa que não sirva à propaganda de Putin.
Na região de Zaporizhia, os ocupantes proibiram a Igreja Católica, os Cavaleiros de Colombo e a Caritas, braço humanitário oficial da Igreja Católica mundial.
O Pe. Geleta e o Pe. Levitsky, foram mantidos separados em celas úmidas onde “podiam ouvir gritos provenientes dos corredores”, enquanto os prisioneiros eram torturados.
Um companheiro de cela do Pe. Geleta levou choques elétricos e foi obrigado a aprender o hino nacional russo, sob ameaça de execução.
Os carrascos queriam que os padres cooperassem com a polícia política de Putin, a FSB, que tenta recrutar líderes religiosos para torná-los propagandistas do domínio da Rússia nas zonas ocupadas da Ucrânia.
“Mas nós recusámos”, disse o Pe. Geleta.
Os inquisidores “não gostavam da palavra ‘guerra’”, preferindo o eufemismo do Kremlin, “operação militar especial”, para descrever os seus ataques à Ucrânia.
Esse é um capricho de Putin, mas a invasão foi qualificada até genocídio, segundo grandes relatórios do New Lines Institute e do Centro Raoul Wallenberg para os Direitos Humanos.
Os raptores acusaram falsamente os padres de armazenarem armas na sua Igreja, pelo que seriam julgados e condenados a 25 anos de prisão.
Foram então transferidos para a colônia penal russa n.º 77 em Berdyansk.
O Pe. Geleta foi trancado numa cela solitária com um alto-falante que “tocava canções soviéticas durante o dia todo. Nessa altura, percebi como é que uma pessoa enlouquece, percebi porque é que as pessoas se suicidam”, disse ele.
“O Senhor Deus ajuda e dá força através da oração. Deus, Jesus Cristo, Maria e os anjos estavam todos presentes. A oração era a salvação. E, como eu estava a dizer, senti a oração da Igreja”.
Os padres foram transferidos algemados e vendados, com sacos na cabeça para outra colônia penal em Horlivka, Donetsk, onde os prisioneiros eram “maltratados quase todos os dias (…) a admissão era muito terrível, muito cruel”, disse o religioso.
Os combatentes do regimento Azov da Ucrânia e os civis que desafiaram a ocupação russa de Mariupol foram “lá muito maltratados”, contou.
Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas recebidos pelo Núncio Apostólico |
Durante as torturas o sacerdote “lembrou-se de Jesus Cristo, da Sua Cruz, do Seu sofrimento. “E foi uma força e uma graça tão grandes que eu dizia: Senhor, eu posso sofrer contigo”, disse ele.
Ele e o Pe. Levitsky partilharam a mesma cela durante apenas 15 dias dos 10 meses de prisão em Horlivka, onde estavam detidos cerca de 2.000 prisioneiros de guerra.
“Tivemos a oportunidade de conhecer muitas pessoas” que “contaram-nos muitas coisas e estavam à procura de ajuda espiritual”, acrescentou o Pe. Geleta.
No cárcere, o sacerdote organizou reuniões de oração de manhã e à noite, lendo a Bíblia e recitando o Pai-Nosso e a Ave Maria pelas intenções dos prisioneiros.
Também pôde ouvir confissões e sentiu que “toda a Igreja” rezava pela libertação dos sacerdotes.
Os russos consideram os católicos da Igreja Greco-Católica Ucraniana como “uma seita que se separou da Ortodoxia” pelo que os seus sacerdotes devem ser “erradicados, isolados da sociedade e purificados”.
Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan |
“Sofremos e carregámos esta cruz com os prisioneiros que lutaram por uma Ucrânia livre, para estar perto de Deus, da salvação do Senhor”, disse.
O Pe. Geleta exortou às famílias, mães, esposas, que têm filhos, pais e irmãs em cativeiro, a não perderem a esperança, que rezem, que se voltem para Deus.
“O Senhor Deus através destes sofrimentos conduz todos até Si. Caso contrário, uma pessoa poderia não suportar aquilo”, explicou o sacerdote torturado, mas no fim libertado.