domingo, 17 de abril de 2016

É o Titanic afundando?
Não! É a economia russa!

É o Titanic que afunda? Não!, é a economia russa!
É o Titanic que afunda? Não!, é a economia russa!
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



O “Titanic” afundando foi a imagem dominante nas redes sociais russas nas festas de Natal e Ano Novo, as quais acontecem com alguma defasagem em relação ao Ocidente devido à diversidade dos calendários.

E desde então, os índices só pioraram.

O Titanic afunda?

Não!!! É a economia, respondiam em coro os cidadãos russos.

“O Titanic já colidiu, as adegas estão se enchendo de água fria, mas a tripulação e os passageiros da primeira classe se conduzem como se não estivesse acontecendo nada. O capitão almoça tranquilamente no salão”, escreveu o blogueiro Alexeï Kougourov, citado pelo jornal “Le Monde” de Paris.

“A todos aqueles que estão aguardando que a economia russa atinja o fundo dos mares para voltar à superfície, avisamos que o Titanic [o histórico] também tocou o fundo, porém nunca mais ressurgiu”, comenta um outro internauta com uma ponta de humor cáustico.

“Le Monde” fornece um apanhado da vertiginosa ciranda descendente de diversos indicadores, como a Bolsa de Moscou e a cotação do rublo, a moeda nacional.



As chacoalhadas são incessantes e os números da manhã são apagados pelos da tarde. A fortiori os de ontem pelos de hoje, e os de hoje pelos dos dias vindouros.

Um fato determinante continua em pé e seus efeitos são arrasadores: a Rússia de Vladimir Putin não acabou com o coletivismo socialista.

O pouco que há de propriedade privada e de livre iniciativa subsiste em pequenas e medianas empresas, sempre mais cerceadas pelo regime. Então não espanta que a Rússia, dotada de recursos naturais admiráveis, não se sustente em quesitos básicos.

Após a queda do regime soviético veio o “inverno capitalista”, que prometeu despontar com os fabulosos proventos do gás e do petróleo da Sibéria, extraídos por capitais e tecnologias ocidentais. E pagos na cotação internacional com moedas também ocidentais.

Os velhos vícios econômicos do tempo comunista ficaram. Mas, a vodka é o menos importante. O dirigismo e a propriedade comunista estão destruindo a vida econômica do país.
Os velhos vícios econômicos do tempo comunista ficaram.
A vodka é o menos grave. O dirigismo e a propriedade comunista
estão destruindo a vida econômica do país.
Mas a praga de fundo não foi modificada, e grande parte dos recursos financeiros do capitalismo foi dilapidada para manter a propriedade coletiva. Agora que acabou a bonança excepcional, foi-se a ilusão.

E o monstro devorador da propriedade comunista soviética ficou não em mãos do Estado, mas de uma equipe de magnatas obedientes ao chefe do Kremlin, que morre de saudades dos tempos de Stalin.

Então tudo falta ou ficou inacessível. Produtos de péssima qualidade vindos de kolkhozes – assentamentos da reforma agrária – longínquos e desconhecidos servem para paliar as carências, mas deprimem os habitantes das cidades-vitrine Moscou e São Petersburgo.

O orçamento oficial de 2016 estima o petróleo cotado a 50 dólares o barril. É um nível muito pernicioso para o regime. Mas hoje o valor flutua em volta, ou por baixo, de 35.

Bloomberg classificou o desempenho econômico russo previsto para 2016 como o quarto pior do mundo, superado apenas pela Venezuela, pelo Brasil e pela Grécia.

A diferença com o Brasil, é que nós temos – ainda! – propriedade privada, livre iniciativa e um excelente produção agropecuária que afasta os horizontes negros da Rússia neocomunista, da Venezuela socialista e da Grécia liderada por alucinados “anticapitalistas”.

Segundo o instituto de pesquisa VTsIOM, 30% da população russa dizem que ainda conseguem comprar alimentos como antes, mas que não têm para comprar roupas. Acresce que 40% deixaram de comprar eletrodomésticos ou mobília.

Com esta decalagem, os números econômicos previstos pelo Kremlin, já distorcidos na base pelas exigências da propaganda, não são mais críveis.

Nos andares de cima da nomenklatura putinista se passa bem.
E até muito bem. Mas a implacável crise engole os andares de baixo
Para o economista Vladimir Jukovski, também citado pelo “Le Monde”, “o Titanic faz água pelo fundo enquanto os comandantes agravam a situação da economia real flagelando as empresas pequenas e médias”.

A partir do Titanic russo, à testa de plutocratas sem nenhuma moral, Vladimir Putin despeja milhões em bombas sobre a Síria e acena outros milhões para partidos europeus e americanos de tendências anticapitalistas e antiliberais, agora reanimados por sedutoras promessas pecuniárias, nem sempre pagas.

À luz do brilho dessas notas, os “companheiros de viagem” ocidentais entoam loas ao mantenedor do velho comunismo reciclado. Apresentam-no como o salvador da família cristã, da vida, do cristianismo. Em poucas palavras, um Carlos Magno!

Algo de muito parecido acontecia nos tempos da URSS. Um líder supremo se apresentava segurando criancinhas felizes em meio a guirlandas de flores! E era o modelo de governante russo preferido por Vladimir Putin: Joseph Stalin!

Naqueles tempos, perto ou longe de Moscou, nos gulags e nas estepes, milhões de homens, mulheres, crianças, famílias inteiras eram chacinados pela glória e pelo poder do senhor da Rússia vermelha, sem que os “companheiros de viagem” ocidentais sequer manifestassem um sentimento básico de humanidade.

Mera coincidência com o que estamos vendo hoje?


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