Sir Richard Shirreff, comandante supremo da NATO até 2014: “Temos que julgar Putin pelos seus gestos, não por suas palavras. Ele invadiu a Geórgia, a Crimeia e a Ucrânia” |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O general britânico Sir Richard Shirreff, Comandante Aliado Supremo da OTAN na Europa entre 2011 e 2014, escreveu um livro-ficção: 2017 War with Russia (“2017 Guerra contra a Rússia”).
Trata-se de um exercício de projeção tática sobre como poderia acontecer um temido ataque russo contra o Ocidente. O panorama montado foi tido como inteiramente plausível pela BBC, escreveu o jornal inglês “The Independent”.
O general prevê como mais provável um ataque contra os Países Bálticos: a Estônia, a Lituânia e a Letônia.
Esses países são os menores nos confins da Rússia e os mais apetecíveis. Acresce que a corajosa luta da Lituânia pela sua independência acelerou o processo de derrocada da URSS. A “nova URSS” ficou por isso com o sangue no olho.
O general Shirreff considera que, no caso de uma guerra, Putin apelará para a bomba atômica. Isso está de acordo com o pensamento militar russo, as fraquezas defensivas do Kremlin e os mal-estares internos na Rússia. A hipótese poderia se concretizar em 2017.
“Temos que julgar o presidente Putin pelos seus gestos, e não por suas palavras. Ele invadiu a Geórgia, a Crimeia, a Ucrânia. E apelou para a força para atingir seus objetivos”, observou o general Shirreff.
Se ele atacar algum país báltico, a OTAN ficará obrigada a obedecer o artigo 5 de sua Carta fundacional, que declara que um ataque a qualquer um de seus membros é um ataque contra todos.
Segundo Shirreff, Putin alegaria que age para proteger as minorias russófonas nesses países, mas só tomaria a iniciativa se perceber que a NATO se mostra indecisa ou desanimada.
Este cenário poderia se verificar caso o candidato Trump ganhe a eleição presidencial e, como já acenou, retire o apoio americano à Aliança Atlântica.
Reunião geral da NATO em Varsóvia
De momento, a OTAN está reforçando suas defesas nos Países Bálticos. Mas, segundo o general, é preciso montar resistências suficientemente altas para dissuadir qualquer agressor que queira desafiar o risco, pois elas não estão tão altas como deveriam.
A reunião da OTAN em Varsóvia em inícios deste mês não teve precedentes desde o fim da Guerra Fria e da Ata Fundacional de 1997 que rege as relações OTAN-Rússia e que estabele a redução das forças convencionais na Europa e na Rússia.
Putin tem grandes amigos no Ocidente que partilham o ideário socialista. Na foto, com o presidente socialista francês François Hollande. |
As decisões fazem parte do plano de resposta da Aliança em face de uma eventual agressão russa, noticiou “La Nación”.
Para o “The New York Times” a reunião de Varsóvia foi reveladora de rachaduras preocupantes na Aliança. Paris, Bonn e Roma estão dando sinais de amizade ao governo de Vladimir Putin.
O primeiro ministro da Itália Matteo Renzi tomou parte do Fórum de São Petersburgo criado para contrastar o Fórum de Davos. O presidente socialista francês Hollande acenou uma distensão favorável ao Kremlin.
Por sua vez, o ministro de relações exteriores e líder social-democrata alemão Frank-Walter Steinmeier criticou os grandes treinos conjuntos realizados em junho na mesma Polônia e saiu em defesa da Rússia que segundo ele se sentiria provocada.
“Putin está testando todos esses países e os está dividindo”, comentou Nicholas Burns, ex-embaixador EUA na OTAN.
O fato é que Putin manifesta ter bons amigos de tendência socialistas nesses governos e que se sentem mais a vontade com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia.
No Vaticano, onde a afinidade do Papa Francisco I com Putin foi reforçada em encontros pessoais, o jornal “L’Osservatore Romano” (09.07.16) comentou a mudança operada na Europa durante a administração Obama que está concluindo.
O jornal vaticano acenou com “outros tempos”. Obama deixou um Ocidente fragilizado, a Europa atacada pelo ISIS, não tendo ele nem a UE apresentado uma atitude coesa e tendo aberto flancos para a ascensão da estrela de Moscou.
Durante a Conferência 2016 de Segurança em Munique, o Secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, tinha falado em termos concretos sobre o perigo que representa o poder nuclear russo.
Ele destacou que as ameaças e os exercícios russos que estavam em andamento, levando equipamentos portadores de armas atômicas, “visam intimidar seus vizinhos”.
E acrescentou: “Estamos vendo um modelo perigoso na conduta russa: anexação, ações agressivas e intimidação. O conflito na Ucrânia está se aprofundando com um custo horrível para os civis.
“As causas são claras e não podem ser negadas. A Rússia continua fornecendo treinamento, equipamentos e tropas para apoiar os separatistas. Ela continua desestabilizando a Ucrânia, em agudo desrespeito à soberania e à integridade territorial do país.”
Discurso do secretário geral da NATO Stoltenberg sobre a ameaça nuclear da Rússia, na 2016 Munich Security Conference
Cúpula da OTAN em Varsóvia reforça medidas contra eventual ataque russo:
Por favor, ninguém mais cumpre acordos...
ResponderExcluirQuem disse que Trump vai retirar seu apoio à Aliança Atlântica?
ResponderExcluirEle mesmo! Trump esta fazendo o jogo do Putin...
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