domingo, 19 de março de 2017

O inferno soviético na Terra
mantido pela “nova Rússia”

Restos da prisão de Norilsk
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





A cidade mais populosa do Ártico russo, com 46 graus abaixo de zero às 8 horas da manhã, está sumida na noite polar, mas as crianças vão para a escola como em qualquer dia normal de inverno.

Ela está fechada para os estrangeiros. O secretismo que envolve a cidade restringe até as poucas licenças concedidas à imprensa do exterior.

É “a pior cidade do mundo para viver”. Mas um jornalista de La Vanguardia de Barcelona acabou conseguindo a licença e contou o que viu.

A razão do mistério está encharcada de sangue, repressão e ditadura. Norilsk nasceu nos anos trinta do século XX e as galerias de suas minas foram escavadas por prisioneiros do gulag, vítimas dos expurgos stalinistas do Grande Terror.

Na península de Taimir há enormes reservas de níquel, cobre e platino, e ainda hoje a cidade de 170.000 habitantes é regida pela estatal Norilsk Nikel, da qual depende até o último detalhe da vida.

Norilsk não tem estrada, nem trem. Só se pode chegar de avião ou de rompe-gelo.

A cidade é uma das mais contaminadas do mundo. A neve cai preta, os rios são vermelhos, a chuva é ácida e quase todas as árvores morreram. A expectativa de vida é de 46 anos. A mineração e a indústria local jogam anualmente no ar 4.000 toneladas de dióxido de sulfuro.



Norilsk foi construída por prisioneiros políticos e étnicos do comunismo.
Na foto, prisioneiros ucranianos.
É, no resumo de La Vanguardia, “o inferno na Terra”.

O passado de mão de obra escrava é um tema proibido. No museu poucas fotos relembram o terror soviético.

Elizaveta Obst, diretora da Sociedade de Defesa das Vítimas da Repressão Política, é filha de prisioneiros do gulag.

Ela ainda lembra nitidamente “as fileiras de prisioneiros rumando ao trabalho, rodeados por soldados e vigiados a todo o momento pelos cachorros”.

Elizaveta organiza palestras sobre o gulag de Norilsk e do Grande Norte russo a troco de uns escassos rublos que lhe permitem manter sua pequena sala presidida pelo retrato de Vladimir Putin e suas mínimas atividades.

A poucos metros fica o Teatro Dramático Polar, onde em dezembro foi estreada a obra “Aguarda-me… Regressarei”, que narra o infinito sofrimento de Vladimir Zuev, condenado no gulag de Norilsk.

Norilsk e suas 'chaminés do inferno' testemunhas do passado soviético.
Um passado resguardado pela 'nova URSS' de Putin.
Após intérminas horas de trabalhos forçados, Zuev era obrigado a dirigir um grupinho de atores, prisioneiros como ele, para divertir os chefes do sinistro campo de concentração.

Por que hoje não se pode visitar livremente Norilsk?

A “nova Rússia” de Vladimir Putin está empenhada em silenciar a lembrança dos milhões de cidadãos russos que padeceram e sucumbiram nos campos da morte comunistas.

Putin virtualmente fechou os memoriais abertos após a queda da URSS, que recuperavam a memória de incontável número de pessoas exterminadas e exibiam em todo o seu horror os campos de concentração, não inferiores aos nazistas.

O autoproclamado paladino do cristianismo, empenhado em restaurar a URSS visceralmente anticristã, abafa a lembrança de suas vítimas.

E faz tudo para manter quantidades imensas de sofridos cidadãos russos em esquemas como o de Norilsk, que muito se assemelham aos de Stalin, mas no III milênio!






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