O anunciado país de Malorossía incluiria as regiões de Lugansk e Donetsk por completo. Mas, isso seria só um início de conversa... |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Separatistas pró-russos no leste da Ucrânia proclamaram um novo Estado denominado Malorossía, que significa “Rússia Menor”, mas que de fato é o primeiro passo de um processo que visa engolir quase todo o território da Ucrânia e até parte da Moldávia!
O líder pró-russo Alexander Zajarchenko explicou que o novo Estado se aglutinará em volta das autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk. Sua Constituição será votada em referendo e a capital será a cidade de Donetsk, informou “El Mundo” de Madri.
Esses dois territórios sublevados pelo influxo de Moscou já tinham aprovado a secessão num referendo em que os eleitores votavam mirados por fuzis e cujos resultados foram contestados. No dia seguinte os “vencedores” pediram a integração na Federação Russa.
Mas Vladimir Putin não ousou sequer reconhecer a independência desses secessionistas. Seu plano era mais sibilino.
Ele pretendia usar os revoltosos que já estavam sob seu controle para exigir imediatas concessões do governo ucraniano legítimo de Kiev.
Mais na frente, ele esperava usá-los como alavanca para engolir a Ucrânia inteira. Mas a intriga não conseguiu quebrar o patriotismo ucraniano e ficou paralisada.
Agora renova a tentativa com a proposta desta atreira Malorossía. “Será um Estado sucessor da Ucrânia”, confessou Alexander Timofeev, membro do governo da autoproclamada República Popular de Donetsk.
Alegam que “o governo da Ucrânia demonstrou ser um Estado falido”, sem se preocupar que nas regiões usurpadas os separatistas nem fornecem os serviços básicos à população.
O mapa da Malorossía vem mudando, mas inclui territórios nunca alcançados pelos separatistas. Chegam até a Moldávia, engolindo a grande cidade ucraniana de Odessa e todo a costa do mar Negro.
O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, relembrou que os separatistas são meras “marionetes da Rússia”.
Balazs Jarabik, investigador do Centro Carnegie, afirma ser evidente que “os separatistas não poderiam sobreviver sem ajuda russa”. Durante o conflito, os separatistas apelaram à Rússia para que essa os salvasse anexando seus territórios.
É bem o que Putin gostaria como início de conversa. Mas a astúcia lhe sugeriu cuidar-se. Inventou a “Novorrosía” e tentou forjar uma guerra civil que não foi acompanhada pela população.
Foi então obrigado a engajar pesadamente tropas russas e invadir os territórios “separatistas”, sofrendo graves perdas e desprestigiando a causa da guerra aos olhos da opinião pública russa.
A conhecida escritora Anne Applebaum, que está publicando o livro A fome vermelha, sobre a história da Ucrânia, acredita que a “Rússia está por trás”.
Ela mostra que desde os tempos da URSS, Moscou costuma “criar estados 'fake' (falsos) baseados em territórios ocupados pela própria Rússia para desestabilizar outros países” que ela quer engolir.
Simultaneamente, o Kremlin intensificou as violações das linhas de fogo acertadas nos acordos de Minsk, estimulando ataques militares dos separatistas armados por ele.
Kurt Volker, ex-embaixador dos EUA perante a OTAN e encarregado das negociações de paz na Ucrânia, responsabilizou a Rússia pela retomada das violências no leste ucraniano.
Segundo ele, atualmente as partes estão se matando numa “verdadeira guerra” que nada tem de um “conflito congelado”, como a Rússia e seus companheiros de viagem fazem crer, noticiou a agência Reuters.
Na cidade de Kramatorsk, 700 km ao sudeste de Kiev, Kurt Volker anunciou que recomendará a Washington um maior engajamento no processo de paz.
Os recentes combates na região do Donbass deixaram 12 mortos numa semana. Berlim e Paris exigiram respeito dos acordos de cessar-fogo de Minsk de 2015.
Esses estão sendo regularmente violados e é patente que a Rússia e seus acólitos não pretendem cumpri-los. No máximo, explorá-los para tirar vantagens.
Soldado ucraniano católico morto em recente ataque dos separatistas pró-russos violando os acordos de Minsk. Combates retomaram com intensidade. |
Esse visa “a liberdade dos territórios ocupados” pela Rússia em ambos os países e promover “a integração total na OTAN e na União Europeia”, noticiou a UOL.
Poroshenko qualificou os povos ucraniano e georgiano de “vítimas da agressão da Rússia”. E agradeceu aos voluntários georgianos que combatem contra os separatistas pró-Rússia no leste da Ucrânia “pelo convencimento que dessa forma também lutam pela Geórgia”.
“Apesar de termos duas regiões ocupadas (pela Rússia), estamos orientados para a cooperação e a amizade”, acrescentou o presidente georgiano Margvelashvili.
Ele se referia às autoproclamadas repúblicas de Abecásia e Ossétia do Sul, que o Kremlin considera Estados independentes após engoli-los pela força das armas na guerra russo-georgiana de 2008.
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