domingo, 19 de maio de 2019

Venezuela será base para incursões militares russas?

Crise venezuelana evoca crise dos mísseis soviéticos em Cuba
Crise venezuelana evoca crise dos mísseis soviéticos em Cuba
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Enquanto a ditadura comunista-chavista na Venezuela despencava mais um degrau, John Bolton, assessor de Segurança Nacional do presidente americano Donald Trump, confidenciou aos jornalistas que altas patentes da nomenklatura de Nicolas Maduro teriam negociado a saída do ditador, segundo “La Nación” de Buenos Aires.

Bolton pediu ao Exército venezuelano cooperar na saída pacífica do ditador.

Por sua vez, o Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, disse pela CNN que Maduro tinha um avião pronto para leva-lo a Havana.

E o influente senador republicano pela Florida Marco Rubio, comemorou o início da “fase final” da libertação da Venezuela.


Também o presidente Donald Trump pareceu achar que com certeza se efetivaria o arranjo previamente consertado.

Acreditando na palavra dos hierarcas da tirania, o presidente interino Juan Guaidó convocou o alzamiento das Forças Armadas que deu num fiasco.

Porém, a intervenção da Rússia teria dissuadido Maduro de pôr fim ao horror em que vivem os venezuelanos e o intimou a ficar.

Repressão sanguinária de falido alzamiento. Rússia teria proibido Maduro de sair
Repressão sanguinária de falido alzamiento. Rússia teria proibido Maduro de fugir
Após a frustração, Trump ameaçou Cuba com um embargo total e as maiores sanções, se não cessavam as operações cubanas na Venezuela.

A declaração visou à Rússia, que tele-dirige Cuba, e raspou no Vaticano para quem a ditadura cubana é o modelo de regime latino-americano, imperando numa “ilha do diálogo”.

A Rússia negou ter bloqueado a saída de Nicolas Maduro, mas quem teria tido força para esquentar as costas do ditador senão ela?

Maria Zajarova, porta-voz do Ministério de Relações Exteriores do Kremlin mostrou quanto esse se sente engajado no caso e acusou Mike Pompeo de estar promovendo uma “guerra da informação”, noticiou o jornal britânico “The Guardian”.

“Washington provocará o colapso da situação”, acrescentou Zajarova, quem lamentou que “em Washington, alguns políticos não vejam o lado destrutivo desta estrada”, acrescentou “El Mundo”.

Os porta-vozes russos mostram-se tomados por temores apocalípticos de assustadoras destruições. Mas a fonte desses males não parece provir do Ocidente que está mais preocupado com seu próprio bem-estar.

Tais horizontes de morte e sangue parecem girar muito por Moscou e povoar as mentes de seus líderes.

“Este é nosso hemisfério”, disse Bolton. “Não é lugar para a Rússia ficar interferindo”, completou com uma linguagem de tensão que evocou a crise dos mísseis soviéticos em Cuba nos anos 1960.

Bombardeiros nucleares russos na Venezuela causaram alarme da NATO
Bombardeiros nucleares russos na Venezuela causaram alarme da NATO
O ministro russo para as relações exteriores, Sergei Lavrov, advertiu a Pompeo por telefone que se os EUA intervinham para depor Maduro sofreriam “as mais severas consequências”, que só poderiam ser militares, quiçá nucleares.

A Rússia é um dos maiores fornecedores de armas e dinheiro do regime socialista em ruínas de Caracas. Lhe transferiu bilhões de dólares e o gigante moscovita da energia Rosneft investe pesadamente para sustentar a produção de petróleo que decai sem cessar.

“La Nación” de Buenos Aires se interrogou se a Venezuela vai se converter no epicentro de uma nova crise como a dos foguetes em Cuba de 1962.

Nesse caso todo o continente sul-americano poderá ser gravemente afetado.

Nas capitais europeias e no quartel geral da NATO se acenderam as luzes vermelhas quando o regime venezuelano exibiu a chegada de grandes aviões militares russos ao quase deserto aeroporto da capital. Eles transportaram 99 militares comandados pelo general Vasilly Tonkoshkurov.

Os cargueiros, um Antonov 124 e um Ilyushin Il-62, também desembarcaram 35 toneladas de material.

Cargueiro Antonov-124 descarregou 35 toneladas de equipamentos militares em Caracas
Antonov-124 descarregou 35 toneladas de equipamentos militares em Caracas
Moscou garantiu ser mera “assistência técnica”. Mas os EUA denunciaram que esses militares russos eram especialistas em foguetes e iam consertar os mísseis terra-ar S-300 prejudicados num dos gigantescos cortes de energia acontecidos no país.

Dimitri Peskov, porta-voz do Kremlin, acabou confirmando que se tratava de “especialistas” na manutenção das armas de fabricação russa.

Moscou insistiu em que “são totalmente infundadas as afirmações de que a Rússia está realizando operações militares na Venezuela”, por meio da citada porta-voz Maria Zajarova. Ela advertiu que Putin não se deixaria intimidar.

O desembarco de técnicos especializados em misseis não é um episódio isolado. Os governos ocidentais estão em alerta máxima desde a inauguração no país caribenho de um centro de treino de pilotos militares de helicópteros russos Mi-17V-5, Mi-35M e Mi-26T.

Venezuela é o maior cliente latino-americano de armamento russo. Já recebeu tanques, caças multifuncionais Su-30MK2, helicópteros de combate e sistemas de mísseis e de defesa antiaérea.

Também causa intranquilidade a presença de mercenários russos da milícia Wagner, unidade privada independente que obedece a Putin, que é encarregada das missões “non sanctas” e que combateu na invasão do leste da Ucrânia e na Síria.

População venezuelana foge de seu país em caos para os países vizinhos
População venezuelana foge de seu país em caos para os países vizinhos
A atual estratégia do Kremlin na Venezuela é semelhante à da URSS na Nicarágua nos anos 1980, afirmou Gleb Pavlovsky, politólogo e historiador russo citado por “La Nación”.

É a estratégia chamada de “política dos flancos”, que consiste em não atacar frontalmente o adversário, mas pelos lados, assumindo um risco mínimo.

A Rússia, a China e países ditos “bandidos” porque acobertam o terrorismo, apoiam Maduro enquanto que 54 países ocidentais, incluindo os sul-americanos, reconhecem a Juan Guaidó.

Moscou e Pequim fizeram grandes investimentos aguardando o pagamento em ativos petrolíferos. Mas já era de domínio público que a derrocada da produção venezuelana tornava mais do que incerta qualquer devolução.

A Rússia podia aguardar um retorno mais interessante: pôr o pé no continente sul-americano reclamando o pagamento.

Para o chefe do Comitê de Assuntos Internacionais da Câmara Alta da Duma (Parlamento), Konstantin Kosachev, a política “tocou fundo”. “Não posso descreve-la senão como uma política para além dos limites da decência humana elementar”, escreveu em seu perfil de Facebook.

Soldados bolivarianos venezuelanos num dos fechamentos da fronteira com a Colômbia
Soldados bolivarianos num dos fechamentos da fronteira com a Colômbia
A Rússia – e ainda menos a Venezuela – não tem condições para enfrentar militarmente os EUA.

Porém, apelando a organizações narco-guerrilheiras – como fez Lenine na Revolução Bolchevista – pode aspirar a realizar o velho sonho.

Esse foi proclamado outrora por Fidel Castro e o Che Guevara: transformar o continente num imenso campo de guerra como foi o Vietnã.



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