domingo, 8 de setembro de 2019

Francisco e Putin: “2 Papas” para se repartir os cristãos?

Agência por excelência da "guerra da informação" russa Sputnik apresenta ambos líderes unidos para "defender os cristãos pelo mundo todo"
Agência por excelência da "guerra da informação" russa Sputnik
apresenta ambos líderes unidos para "defender os cristãos pelo mundo todo"
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs










Parece absurdo supor que o Papa Francisco e o presidente da Federação Russa Vladimir Putin possam ser igualados com um mesmo rótulo de “Papas”.

Mas segundo o perspicaz “The New York Times”, os dois estão agindo como “2 Papas” que se repartem os dois polos em que estão se dividindo os católicos,

Como isso pode ser sequer cogitado por um jornal dessa envergadura?

Putin tem em seu favor uma máquina de guerra da informação que trabalha para fazer dele um “papa” alternativo que guia espiritualmente um novo movimento cristão.

“Posso estar dizendo uma heresia, mas Putin me parece mais um papa, pela maneira que vive o cristianismo, em comparação com aquele que para todos os efeitos deve ser o papa”, afirmou, por exemplo, Gianmatteo Ferrari, secretário de um grupo italiano pró-Rússia chamado “Associação Cultural LombardiaRussia”, noticiou o “The New York Times”



Velho truque da KGB: quando necessário explorar o sentimento religioso em favor do perseguidor de todas as religiões!
Velho truque da KGB: quando necessário explorar o sentimento religioso
em favor do perseguidor de todas as religiões!
É incrível, mas é um velho método da KGB.

Quando o Kremlin precisou mobilizar a população russa ante a invasão do exército alemão na II Guerra Mundial, pôs em circulação santinhos representando Santa Olga, ou até Nossa Senhora, aparecendo a Stalin e lhe dando conselhos!

Em 1941, ondas da Rádio Moscou exortavam os cristãos a se unirem pela defesa da cristandade. A “Rádio Cristã” reproduzia a mensagem evangélica numa meia dúzia de línguas com tal fidelidade que muitos poderiam ter achado que ouviam a Rádio Vaticana.

Emissões de julho 1941 defendiam ser “necessário abandonar a velha fábula do catolicismo aliado aos opressores das nações”. As emissões em italiano concluíam com a pia exortação “cristãos, católicos! perseverai na batalha contra o anticristo”!

No dia da Assunção em 1943, a “Rádio Cristã” em polonês comemorou a festa de Nossa Senhora, dizendo:

“rezemos ardorosamente à protetora de nosso católico país [...] a Ela que é mais forte que Satanás se deve a queda das cidades de Orel e de Biegorod nas mãos do Exército Vermelho”. Cfr. “A ‘cruzada’ de Stalin para salvar o cristianismo em 1941: truque revivido por Putin”

Hoje a mencionada “Associação Cultural LombardiaRussia” espalha que “o maior, mais imponente e mais enérgico defensor dos nossos valores cristãos é Putin”, segundo seu diretor.

A declaração precedeu a mais recente das frequentes visitas de Putin ao Papa Francisco na biblioteca privada do Vaticano.

“Putin representa uma Cristandade medieval, pré-Iluminismo, no mínimo uma visão da Cristandade pré-Vaticano II”, afirmou Massimo Introvigne, sociólogo italiano, que se posiciona mais próximo do Pontífice. “O Estado de S.Paulo”.

Introvigne acrescenta que “o papa Francisco representa uma visão mais progressista e moderna da Cristandade que aceitou e promulgou a concepção ocidental dos direitos humanos”.

Essas críticas, porém, caem bem em certos católicos chocados com a crise atual na Igreja.

Na Rússia, Putin se faz venerar religiosamente. Até mais que o Papa Francisco no mundo livre!
Na Rússia, Putin se faz venerar religiosamente.
Até mais que o Papa Francisco no mundo livre!
O “The New York Times” e algumas de suas transcrições em outras línguas falaram em manchetes do encontro entre os “2 Papas”.

Mas os “2 Papas” não estão tão opostos assim.

O papa Francisco acredita na cooperação com Putin e com a Igreja Ortodoxa Russa enquanto o líder russo entoa um canto de sirena para os católicos europeus seduzidos pelos políticos nacionalistas.

Em entrevista recente ao “Financial Times”, Putin declarou o fim do liberalismo ocidental, e preanunciou um maior rol da religião na política. Suas palavras soaram como uma defesa das tradições da Igreja Católica e não são tão contrárias à antipatia manifestada pelo Papa de Roma contra os EUA.

Putin não fala de alguma “revelação de Santa Olga”, mas suas críticas aos regimes livres soou como música aos católicos cada vez mais numerosos que vem no Papa Francisco – que prega a inclusão dos LGBTs e dos imigrantes muçulmanos – um elemento destrutivo.

Putin tem muitos fãs na Itália que lhe professam admiração. Quando líder do ministério, o então vice primeiro-ministro e Ministro do Interior Salvini participou em eventos políticos na Rússia usando uma camiseta com o rosto do presidente russo.

Putin elogiou no “Corriere dela Sera” a “atitude acolhedora em relação a nosso país” por parte de Salvini.

Ele e seu partido, segundo o dono de Moscou apoiam ativamente a “cooperação plena entre a Itália e a Rússia” prejudicadas pelas retaliações econômicas ocidentais à invasão russa da Crimeia e do leste ucraniano.

Não espanta que alguns caiam no conto de que Putin substituiu a Francisco como o maior defensor na Europa dos valores cristãos tradicionais.

Os mais devotos do culto a Putin falam do líder russo em termos místicos, comparando-o ao Katechon, uma força que mantém o Anticristo à distância, escreve o jornal novaiorquino.

Os “devotos” falam da Terceira Roma, invenção de algum czar do século XV para justificar o império religioso da Igreja Ortodoxa, obviamente submetida à bota imperial, por cima de Roma e Constantinopla (primeira e segunda Roma, respectivamente).

O filósofo ocultista Alexander Dugin fornece teorias esotérico-místicas sobre a missão religiosa do salvador do cristianismo: o ex-coronel da KGB!
O filósofo ocultista Alexander Dugin fornece teorias esotérico-místicas
sobre a missão religiosa do salvador do cristianismo: o ex-coronel da KGB!
As teorias esotérico-místicas a respeito de Putin são nutridas pelo filósofo ocultista Alexander Dugin, apologista de um “tradicionalismo” que pouco ou nada tem a ver com a autêntica Tradição católica.

Dugin forjou uma arbitrária confusão de esoterismo e crenças evolucionistas para justificar a “missão providencial” do coronel da (ex-)KGB..

Dugin prolonga o misticismo tingido de práticas luciferinas encravado na essência da espiritualidade da Igreja Ortodoxa russa e da qual o curandeiro Rasputin (1869 –1916) foi o representante mais conhecido.

Dugin tenta atrair católicos frustrados com o progressismo e lhes apresenta Putin como um protetor e até um financiador.

Em sentido oposto, o prof. Roberto de Mattei, presidente da Fundação Lepanto e reputado líder tradicionalista romano, suspeita que a manobra Putin-Dugin não passa de uma “operação política.”

“Temo haver um jogo duplo”, disse de Mattei, acrescentando que Putin e o Papa Francisco jogam uma partida de xadrez para ludibriar Ocidente, o qual, de fato “não tem um líder de verdade”, conclui “The New York Times”. 



Um comentário:

  1. Um "papa" que almeja censurar informação digital de forna pior que do dos ideologistas do Vale do Silício? Me lembra o livro 1984.

    Rússia cogita implantar proibição das redes sociais

    "Houve especulações no passado de que o governo Vladimir Putin poderia agir para banir tais meios de divulgação e interação do país.

    Atualmente, de acordo com a Internet Protection Society, ONG que luta pela liberdade online, planos governamentais com este fim estão em andamento. Já havia várias evidências do movimento.

    Mikhail Klimarev, chefe da ONG, disse que os legisladores da Rússia estão seriamente empenhados em seguir adiante com o plano:

    “Acredito que o YouTube, o Facebook e o Instagram serão bloqueados. Isso foi anunciado em uma reunião do Conselho da Federação e o plano é que o parlamento realize audiências regulares sobre interferência nos assuntos internos da Rússia, levando a um caso de ação a ser tomada.”

    Segundo a revista Forbes, Klimarev acrescentou:

    “Segundo as autoridades russas, (uma proibição gradual) do Facebook e do YouTube (não causará) protestos em massa.”"

    Fonte: Renova Mídia

    Paulo Kelson/Manaus

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