domingo, 20 de setembro de 2020

Bielorrússia na orla do precipício

Pedem democracia e honestidade eleitoral e recebem pauladas. Divulgação
Pedem democracia e honestidade eleitoral e recebem pauladas. Divulgação
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Alexander Lukashenko ditador do regime comunista bielorrusso que prolonga a URSS se formou na liderança de uma fazenda coletiva, segundo editorial do “Le Monde”. Aliás num kolhoz equivalente aos assentamentos do MST

Seu tirânico reinado supremo sobre o país já atingiu vinte e seis anos conservando o esquema marxista-leninista.

Em agosto, “o último ditador da Europa” foi reeleito com 80,2% dos votos numa “nova farsa eleitoral”, segundo o jornal francês que, embora seja caixa de ressonância do socialismo, nessa ocasião acompanhou as críticas da mídia mundial.

A oponente Svetlana Tsikhanovskaya atraiu imensas multidões nos atos eleitorais, mas no cômputo oficial apareceu com apenas 9,9% dos votos.

A população acha que ela obteve realmente a maioria.

Desde aquele dia, dezenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas de modo pacífico. Mas foram recebidos com violência boçal e inesperada pela polícia de choque em Minsk e 20 outras cidades do país.



Aliás, a polícia conserva o velho nome soviético KGB (Comitê de Segurança do Estado) e é controlada pelo presidente Lukashenko.

A Bielorrússia pelo menos vista de longe aparece como um engendro stalinista. Nos mapas históricos seu território é do Grão Ducado da Lituânia, com partes menores habitadas por populações polonesa e lituana, e a maior parte pela chamada Rússia Branca, russos de um desenvolvimento cultural notável que os distinguiu e separou da Grande Rússia de Moscou.

Lukashenko é o mais antigo ditador da Europa
Lukashenko é o mais antigo ditador da Europa
O apetite imperialista criou essa ficção geopolítica para garantir o domínio comunista moscovita na região. Agora Putin está explorando o artifício em seu favor.

Segundo “Le Monde” a votação pareceu um baile de máscaras: candidatos da oposição presos, urnas opacas, cabines de votação sem cortinas, escrutinadores espancados e presos, jornalistas estrangeiros proibidos, etc.

“O roubo das eleições e um regime autoritário sem escrúpulos” abalou o país de 9,5 milhões de habitantes.

A chapa opositora é liderada por três mulheres, esposas ou partidárias de candidatos afastados da oposição, e que ocuparam o lugar dos homens integrando um trio que deu esperança.

Os militantes opositores são novatos, mas corajosos. Eles deram credibilidade à candidatura de uma delas, Svetlana Tsikhanovskaya, 37, cujo marido, um blogueiro ultra-popular, está na prisão.

Lukashenko recomendou vodca para tratar o Covid-19. É fiel lacaio de Vladimir Putin que lhe fornece gás e petróleo a preços amigáveis, para evitar a falência de uma economia ultracomunista deficitária.

Putin já brigou com Lukashenko sem seriedade. O verdadeiro problema é que Moscou perdeu o sono com a brilhante sublevação da Ucrânia do jugo marxista-putinista.

Putin treme pensando numa revolução análoga na Bielorrússia, um país escravo com funcionamento de tipo soviético, como gosta o chefe do Kremlin.

Os incessantes protestos pacíficos põem o ditador contra as cordas
Os incessantes protestos pacíficos põem o ditador contra as cordas


Os assassinatos policiais se sucederam desde o início. Dentre os milhares de vítimas da brutal repressão muitos exibem os ferimentos das torturas até em Youtube, registrou entre outros “El Mundo”.

A KGB age como seus homólogos ucranianos na Praça Maidan: usa granadas e balas de borracha contra os manifestantes mas já na cidade de Brest as substituiu por balas reais.

Como em Kiev, Putin enviou unidades de elite para ferir a população descontente. A violência policial é selvagem e transmitida pelas redes sociais todos os dias. Cfr. “Jornal de Brasília” que cita o site de monitoramento de tráfego aéreo FlightRadar24.

Lukashenko responde que se trata de “desempregados com um passado criminoso”. As internações nos hospitais somam centenas, e muitos mais não encontram atendimento.

Bielorrussos indignados passaram às fileiras da oposição. Cidadãos se concentram junto aos centros de detenção, e dizem ouvir os presos gritando pelos maus-tratos que sofrem.

O Ministério do Interior acusa os países vizinhos, especialmente os da NATO de instigarem uma “desordem pública no país que não é espontânea”, teleguiados pelos EUA, segundo reza a propaganda marxista.

Os russos, escreve o “Jornal de Brasília” fizeram uma série de exercícios aeronavais em toda a região: efetivaram manobras no mar Báltico, no encrave de Kaliningrado e na região de Leningrado que faz fronteira com a Belarus.

A movimentação visa mostrar prontidão ao Ocidente. O presidente russo reitera apoios a Lukachenko, diz descartar a intervenção militar imediata, porém está estudando as opções.

Ditadura de Lukashenko só subsiste sob o guarda-chuva de Putin
Ditadura de Lukashenko só subsiste sob o guarda-chuva de Putin

 É a repetição sem graça do script lido logo antes da invasão militar da Ucrânia.

A escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, ganhadora do Prêmio Nobel, acusou o presidente Lukashenko de arrastar o país para um "abismo" e pediu-lhe que deixasse o poder.

Pelo menos 6.700 pessoas foram presas em cinco dias de protestos. Centenas dessas pessoas descreveram o inferno que experimentaram na detenção, onde foram privadas de comida, água, sono, espancadas e torturadas com eletricidade, noticiou “Francetvinfo”.

“Pensamos que seríamos enterrados aqui”, disse uma delas.

Iana Bobrovskaya ficou privada de comida por três dias e não teve papel higiênico e proteção sanitária. De acordo com a ONG Anistia Internacional, várias mulheres foram ameaçadas de estupro na prisão e os homens às vezes foram forçados a ficar de quatro, completamente nus, para serem espancados com cassetetes.

Vários ex-detidos foram levados para o hospital ao sair da prisão, em ambulâncias. “Queimaram minhas mãos com cigarro” disse Maxim Dovjenjko para AFP.

Um homem enviou para um repórter do Financial Times fotos de seu corpo marcadas pelas violências de que foi objeto na prisão.

Olessia Stogova, uma russa presa enquanto assistia aos protestos, compara sua estada na prisão a uma “câmara de tortura”. Ela foi espancada com cassetetes e ameaçada de ser “desfigurada” até “não se reconhecer”.



Vídeo: cidadãos descrevem torturas da KGB bielorrussa CLIQUE NA FOTO




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