segunda-feira, 24 de maio de 2021

Caça bielorrusso intercepta avião de passageiros e sequestra opositor

MiG-29 bielorrusso obrigou pousar um avião comercial para sequestrar passageiro
MiG-29 bielorrusso obrigou pousar um avião comercial para sequestrar passageiro
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Numa ação sem precedentes, um caça MiG-29 bielorrusso interceptou um avião de passageiros da Ryanair perto da fronteira da Lituânia e o obrigou a pousar em Minsk, capital da Bielorrússia, informou a imprensa mundial, como “La Nación”.

O voo comercial ia sem escalas da capital grega Atenas com destino a Vilnius, na Lituânia. Levava entre os passageiros a Roman Protasevich, editor do canal informativo de oposição Belamova, que denuncia ao autocrata Alexander Lukashenko, servidor de Vladimir Putin.

Lituânia e Grécia são membros da União Europeia e da NATO, mas é de se temer que essas poderosas alianças não ajam muito para proteger dois pequenos países membros.

Após o avião pousar contra sua vontade, a KGB – sinistro nome que ainda conserva a polícia bielorrussa perpetuando o regime da URSS – prendeu a Roman que pedia encarecidamente aos pilotos “Não façam isso. Eles vão me matar”, informou o “Jornal de Brasília”.

Roman Protasevich preso pela polícia em Minsk, em 2017
Roman Protasevich preso pela polícia em Minsk, em 2017
Mas os funcionários da empresa se escudaram em “acordos internacionais” pelos quais o avião poderia ser derrubado com todos seus 170 passageiros.

Após o sequestro, o avião que ficou na pista rodeado por militares e policiais e os passageiros foram obrigados a descer em grupos de cinco tendo suas bagagens farejadas por cães. Só depois de uma retenção dos passageiros no prédio pode levantar voo para completar o percurso.

Os viajantes testemunharam os agentes bielorrussos entrando no avião e retirando o blogueiro à força. A noiva russa de Roman, Sofia Sapega, e mais quatro pessoas não voltaram a embarcar. O governo bielorrusso e o Kremlin nada dizem sobre eles.

A KGB incluiu Roman na lista de terroristas, crime que leva à pena de morte. “Temo que ele agora seja torturado pela KGB”, afirmou em rede social o jornalista Franak Viacorka, ex-colaborador de Roman.

No país, a ditadura bloqueou a internet e Roman que havia sido processado em 2017, vivia exilado na Lituânia. Desde ali animava o canal Belamova cujo editor fora preso por protestar contra a morte numa colônia penal do prisioneiro político Vitold Ashurk, no dia 21.

A ditadura filo-russa nega a ilegalidade dos fatos, acusa os países europeus de politizar o incidente, e disse agir para evitar um atentado a bomba, escreveu “Yahoo! Business”.

Bagagens farejadas por cachorros
Bagagens farejadas por cachorros
Alegou também um conflito entre passageiros e tripulantes, que na realidade teria sido provocado por agentes da KGB que subiram no avião em Atenas.

O Ministério do Interior da Bielorrússia confirmou inicialmente a prisão de Roman no Telegram, mas logo depois suprimiu a mensagem

Vários países da União Europeia (UE), como Alemanha, França e Lituânia, denunciaram os acontecimentos, que o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, qualificou de “terrorismo de Estado” pedindo “sanções imediatas”.

O chanceler do Reino Unido, Dominic Raab, advertiu ao presidente bielorrusso que se expõe a "graves consequências”. O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, pediu uma “investigação internacional” deste “incidente sério e perigoso”.

O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney qualificou o episódio de “pirataria de Estado”. A Lituânia abriu duas investigações.

Polícia bielorrussa prendeu 32.000 manifestantes com brutalidade
Polícia bielorrussa prendeu 32.000 manifestantes com brutalidade
O Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, exigiu a libertação imediata de Roman mas só viu tranquilamente a língua de Lukachenko.

É de se temer que essas declarações verbais fiquem, como em outras ocasiões, num mero ruído verbal, para não ofender o chefe máximo que está em Moscou acobertando as violências repressivas do presidente da Bielorrússia.

O ditador, segundo o popular canal opositor Nexta, deu pessoalmente a ordem para a operação de sequestro que violou todas as convenções aéreas internacionais.

O sequestro foi comemorado no Parlamento como uma “brilhante operação especial”.

Aconteceu após meses de protestos populares contra as fraudes eleitorais da ditadura e que concluíram com a prisão de mais de 32.000 manifestantes. Centenas deles foram brutalizados pela polícia, lembrou “The New York Times”.

“Lukachenko faz coisas piores que [o ditador norte-coreano] Kim Jong-un”, afirmou a ativista bielorrussa Tatiana Sivachenko à BBC.

Líder da oposição Roman Protasevich com as cores nacioinais, gesto punido pela KGB
Líder da oposição Roman Protasevich com as cores nacionais, gesto punido pela KGB
Nas ruas da Belarus, o clima é de desolação, descreve a tradutora Jenny, que não quis dar o sobrenome.

“Poucos dias depois veio a notícia da morte de Vitold Ashurk, depois o fechamento do Tut.by. Ninguém vai nos ajudar, não há a quem recorrer, há só uma escuridão infinita”, diz.

Segundo a tradutora, os cidadãos comuns passaram a ser presos ou multados apenas por levar na carteira um adesivo vermelho e branco, as cores nacionais.


Um comentário:

  1. O INSUPORTÁVEL T0T4L1T4R1SM0 IDENT1TÁR10

    https://www.youtube.com/watch?v=QmifXPjFvDc

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