MiG-29 bielorrusso obrigou pousar um avião comercial para sequestrar passageiro |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Numa ação sem precedentes, um caça MiG-29 bielorrusso interceptou um avião de passageiros da Ryanair perto da fronteira da Lituânia e o obrigou a pousar em Minsk, capital da Bielorrússia, informou a imprensa mundial, como “La Nación”.
O voo comercial ia sem escalas da capital grega Atenas com destino a Vilnius, na Lituânia. Levava entre os passageiros a Roman Protasevich, editor do canal informativo de oposição Belamova, que denuncia ao autocrata Alexander Lukashenko, servidor de Vladimir Putin.
Lituânia e Grécia são membros da União Europeia e da NATO, mas é de se temer que essas poderosas alianças não ajam muito para proteger dois pequenos países membros.
Após o avião pousar contra sua vontade, a KGB – sinistro nome que ainda conserva a polícia bielorrussa perpetuando o regime da URSS – prendeu a Roman que pedia encarecidamente aos pilotos “Não façam isso. Eles vão me matar”, informou o “Jornal de Brasília”.
Roman Protasevich preso pela polícia em Minsk, em 2017 |
Após o sequestro, o avião que ficou na pista rodeado por militares e policiais e os passageiros foram obrigados a descer em grupos de cinco tendo suas bagagens farejadas por cães. Só depois de uma retenção dos passageiros no prédio pode levantar voo para completar o percurso.
Os viajantes testemunharam os agentes bielorrussos entrando no avião e retirando o blogueiro à força. A noiva russa de Roman, Sofia Sapega, e mais quatro pessoas não voltaram a embarcar. O governo bielorrusso e o Kremlin nada dizem sobre eles.
A KGB incluiu Roman na lista de terroristas, crime que leva à pena de morte. “Temo que ele agora seja torturado pela KGB”, afirmou em rede social o jornalista Franak Viacorka, ex-colaborador de Roman.
No país, a ditadura bloqueou a internet e Roman que havia sido processado em 2017, vivia exilado na Lituânia. Desde ali animava o canal Belamova cujo editor fora preso por protestar contra a morte numa colônia penal do prisioneiro político Vitold Ashurk, no dia 21.
A ditadura filo-russa nega a ilegalidade dos fatos, acusa os países europeus de politizar o incidente, e disse agir para evitar um atentado a bomba, escreveu “Yahoo! Business”.
Bagagens farejadas por cachorros |
O Ministério do Interior da Bielorrússia confirmou inicialmente a prisão de Roman no Telegram, mas logo depois suprimiu a mensagem
Vários países da União Europeia (UE), como Alemanha, França e Lituânia, denunciaram os acontecimentos, que o primeiro-ministro polaco, Mateusz Morawiecki, qualificou de “terrorismo de Estado” pedindo “sanções imediatas”.
O chanceler do Reino Unido, Dominic Raab, advertiu ao presidente bielorrusso que se expõe a "graves consequências”. O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, pediu uma “investigação internacional” deste “incidente sério e perigoso”.
O ministro das Relações Exteriores da Irlanda, Simon Coveney qualificou o episódio de “pirataria de Estado”. A Lituânia abriu duas investigações.
Polícia bielorrussa prendeu 32.000 manifestantes com brutalidade |
É de se temer que essas declarações verbais fiquem, como em outras ocasiões, num mero ruído verbal, para não ofender o chefe máximo que está em Moscou acobertando as violências repressivas do presidente da Bielorrússia.
O ditador, segundo o popular canal opositor Nexta, deu pessoalmente a ordem para a operação de sequestro que violou todas as convenções aéreas internacionais.
O sequestro foi comemorado no Parlamento como uma “brilhante operação especial”.
Aconteceu após meses de protestos populares contra as fraudes eleitorais da ditadura e que concluíram com a prisão de mais de 32.000 manifestantes. Centenas deles foram brutalizados pela polícia, lembrou “The New York Times”.
“Lukachenko faz coisas piores que [o ditador norte-coreano] Kim Jong-un”, afirmou a ativista bielorrussa Tatiana Sivachenko à BBC.
Líder da oposição Roman Protasevich com as cores nacionais, gesto punido pela KGB |
“Poucos dias depois veio a notícia da morte de Vitold Ashurk, depois o fechamento do Tut.by. Ninguém vai nos ajudar, não há a quem recorrer, há só uma escuridão infinita”, diz.
Segundo a tradutora, os cidadãos comuns passaram a ser presos ou multados apenas por levar na carteira um adesivo vermelho e branco, as cores nacionais.
O INSUPORTÁVEL T0T4L1T4R1SM0 IDENT1TÁR10
ResponderExcluirhttps://www.youtube.com/watch?v=QmifXPjFvDc