Stepnaz elimina quem pensa diferente do chefe |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A newsletter do “Corriere della Sera” America-Cina Il Punto voltou a um tema macabro que ainda assim mais é de amigo alertar.
Na Rússia e no Ocidente a dissidência de “antigos amigos” está sendo ceifada com requintes de maldade e falsidade tendo virado uma dialética diária nos últimos meses, diz a newsletter.
Simultaneamente, o Ministério da Educação jogou-se na propaganda da guerra ensinando desde o início do ano letivo aos adolescentes os méritos da “operação especial” de invasão a Ucrânia, quando, até agora, os professores eram expressamente proibidos de falar dela. Ai do rapaz que, chegando à idade, não se oferecer para bucha de canhão.
A Rússia desinformada e “limpada” de dissidentes vivia no mundo mais azul conservador, evocador da paz soviética.
Mas, o regime de mentiras de Estado não deu mais.
O bilionário ucraniano Mikhail Tolstosheya também apareceu enforcado na garagem |
A linguagem dos funcionários é crua demais, mas habitual nos homens educados no regime soviético: “está provado, escrevem que os cidadãos de países onde há mudanças regulares de poder vivem melhor e mais tempo do que aqueles onde os líderes só saem quando estão mortos”.
Ainda viriam em São Petersburgo, sete vereadores pedindo à Duma de Moscou um “impeachment” do próprio presidente por alta traição. A guerra, escrevem eles, “prejudica a segurança da Rússia e de seus cidadãos”.
Na autoritária Rússia putinista esses gestos podem ter altíssimo custo: severas penas de prisão, como Alexei Navalny que enfrenta pelo menos nove anos numa colônia penal.
O mais informal e drástico dos destinos é conhecido por aqueles que se afastam do círculo mágico do presidente. Tendo sido velhos e serviçais “amigos” outrora impunes criticam, ainda que muito reservadamente, a liderança, após tê-la bajulado, e morrem assassinados.
Yegor Prosvirnin, fundador dos sites pró-governo, Sputnik e Pogrom também caiu da janela |
Ravil Maganov, 67, ex-presidente da petrolífera Lukoil, apontado como “gravemente doente” caiu em 1º de setembro da janela do quarto onde estava internado, no sexto andar de um hospital de Moscou.
A doença parece ter sido pedir a retirada da Ucrânia em março.
Kirill Zhalo, diplomata russo, agente do FSB, sumiu dos vivos em outubro.
Ivan Pechorin, homem-chave de Putin no estratégico Ártico, caiu no Mar do Japão e não foi mais visto. Ele era um executivo da Corporação de Desenvolvimento do Extremo Oriente e do Ártico, organização ministerial.
Seu último discurso no Fórum Econômico de Vladivostok contem palavras que podem tê-lo condenado.
Pechonin só atualizou a misteriosa lista de mortes de potentados desde o início da guerra.
Igor Nosov, ex-CEO da mesma corporação, foi acometido por um ataque cardíaco suspeito aos 43 anos em fevereiro.
Mikhail Tolstosheya, magnata ucraniano, apareceu em fevereiro, pendurado na garagem de sua vila em Surrey.
Vasily Melnikov, outro bilionário putinista, também foi encontrado enforcado em março num cenário semelhante. Sua esposa e dois filhos de 10 e 4 anos foram esfaqueados até a morte. Parentes e vizinhos não acreditaram na versão oficial.
Dan Rapoport, investidor achado morto em Washington |
Aleksander Subbotin, ex-líder da Lukoil, foi encontrado morto em maio, num porão onde praticava “rituais de purificação”.
Leonid Shulman, 60 anos, foi achado morto – e também sua família. O jovial executivo da Gazprom, estava na banheira com os pulsos cortados. Uma intrigante mensagem junto ao inexplicável suicida falava de uma dor numa perna que o obrigava a se afastar do trabalho.
Alexander Tyulyakov, mais um executivo da Gazprom, apareceu três meses depois enforcado na sua garagem.
Sergej Protosenya, ex-chefe da gigante do gás Novatek foi outro dos que apareceram enforcados na sua vila espanhola de Lloret de Mar. Uma macabra repetição ou repetitiva planificação do FSB.
Ivan Pechorin 'caiu de um barco no Ártico' |
Vladislav Avayev, ex-vice-presidente do Gazprombank, é outra vítima de mais um assassinato-suicídio.
E a lista segue crescendo.
Ingênuos conservadores ocidentais amigos de generosos neo-amigos putinistas, no aperto do mal rumo da guerra na Ucrânia e da onda de agitações que o Kremlin prepara no coração da Europa ocidental pela falta de energia e pela carestia da vida poderão ser convidados a praticar atos que repugnam a suas consciências.
Acham que poderão recusar sem consequências habituados como estão a um ambiente de liberdades. Mas a KGB – hoje FSB – não entende nada disso e paga horrendamente.
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