domingo, 14 de maio de 2023

“Navios fantasmas” russos projetam sabotagens a cabos de internet e dutos de energia

Navios fantasmas russos espionam secretamente no Mar Báltico
Navios fantasmas russos espionam secretamente no Mar Báltico
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Uma frota de 'navios fantasmas' enviados pela Rússia navega pelo Mar Báltico com transmissores desligados, para mapear parques eólicos offshore, gasodutos, linhas de energia e internet nas águas que cercam os países nórdicos para possíveis ataques de sabotagem, noticiou a agência europeia “Euronews”.

Estas são apenas alguns fatos documentados na série de documentários “The Shadow War” ("A guerra das sombras”), produzida por meios de comunicação estatais da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega.

A série foca as operações de inteligência da Rússia na região para “em caso de conflito com o Ocidente, eles estarem prontos e saberem onde intervir se quiserem paralisar a sociedade dinamarquesa”, disse Anders Henriksen, do Serviço de Inteligência da Polícia Dinamarquesa (PET).

Os jornalistas seguiram especialmente o navio de pesquisa russo Almirante Vladimirsky no estreito de Kattegat.

O transmissor AIS, sistema usado para identificar navios e sua posição, foi desligado, mas o tráfego de rádio criptografado foi usado para rastreá-lo.

A investigação se concentrou em um navio russo chamado Almirante Vladimirsky. Fonte BBC
A investigação se concentrou no navio russo Almirante Vladimirsky. Fonte BBC
Um homem a bordo exibia uniforme, colete à prova de balas e um fuzil de assalto enquanto o navio passava por parques eólicos na Escócia, Inglaterra e Holanda.

Especialistas dizem que as informações coletadas durante essas viagens vão diretamente para o Kremlin.

“Esta é uma capacidade estratégica muito importante para a Rússia e é controlada diretamente desde Moscou”, disse Nils Andreas Stensønes, chefe do serviço de inteligência norueguês.

O Almirante Vladimirsky não é o único navio nesta atividade: os jornalistas identificaram 50 navios russos na última década com padrões semelhantes de conduta perto de campos de petróleo e gás, ou de exercícios militares da OTAN.

Homem armado confrontou o repórter quando ele se aproximou do navio. Fonte BBC
Homem armado confrontou o repórter quando ele se aproximou do navio.
Fonte BBC
A guerra na Ucrânia aumentou muito as tensões. “Os cabos são muito vulneráveis e a Rússia já passou muitos anos mapeando cabos de comunicação submarinos e infraestrutura de energia”, diz Karen-Anna Eggen, estudante de doutorado no Instituto Norueguês de Estudos de Defesa.

“Por meio de cooperações econômicas, a Rússia obteve acesso a dados sensíveis. Ela usa embarcações de pesquisa e pesca, para sondar e interromper, o que considero parte de uma preparação mais ampla caso a situação de segurança no Extremo Norte ou na Europa se torne mais tensa”, disse ela à “Euronews”.

Em abril de 2021, uma seção de cabo submarino perto da ilha norueguesa de Svalbard, usada por pesquisadores e militares, desapareceu; em dezembro do mesmo ano, um dos dois cabos principais que ligam Svalbard à Noruega continental também foi cortado.

Em 2022, depois que o gasoduto Nord Stream foi alvo de explosivos no Mar Báltico, a Noruega reforçou a segurança de sua infraestrutura offshore por medo de ataques.

Percurso do navio suspeito. Fonte BBC.
Percurso do navio suspeito. Fonte BBC.
Navios de pesca russos foram vistos cruzando os cabos de Svalbard várias vezes antes de as conexões serem cortadas.

“Este é um ponto geopolítico importante para a atividade militar russa. A Rússia nega qualquer responsabilidade, mas o tempo, local e capacidade corresponde ao fato”. “É um caso clássico de ação secreta para interromper, instilar medo e testar a resposta norueguesa”, acrescentou Karen-Anna Eggen.

É a primeira vez que quatro países nórdicos cooperam num projeto dessa magnitude e o que descobriram surpreendeu os jornalistas envolvidos.

“Devo dizer que fiquei surpreendido com o número de embarcações envolvidas nesta atividade. Não só a magnitude, mas também o intervalo de tempo em que aconteceu”, disse Håvard Gulldahl, jornalista da mídia norueguesa NRK.

Håvard Gulldahl acrescentou que especialistas civis e militares estavam cientes das atividades dos russos, mas houve uma “mudança de paradigma” desde o início da guerra na Ucrânia.

“Atividades que antes considerávamos benignas não são mais”, diz ele.

O 'Elektron' russo fotografado enquanto fugia de um guarda costas norueguês
O 'Elektron' russo fotografado enquanto fugia de um guarda costas norueguês
A BBC ecoou a investigação conjunta de emissoras públicas na Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia e entende que as autoridades britânicas estão cientes de que navios russos se movimentam pelas águas do Reino Unido como parte do programa, resumiu “Mar sem fim”.

Os países europeus investiram fortemente em parques eólicos no Mar do Norte. O Reino Unido lidera com a maior quantidade de capacidade instalada, representando 40,8%. Segue-se a Alemanha com 32,5%. 

A Dinamarca continua a ser o terceiro maior mercado com 10,1% enquanto a Holanda (8,8%) e a Bélgica (5,6%) ocupam o quarto e quinto lugares, respectivamente. Juntos, representam 97% de todas as turbinas conectadas à rede na Europa.

Acontece que a Europa está em guerra e Putin já tentou asfixiar a UE com o corte de suas instalações de gás, comentou “Mar sem fim”.

Campos de energia eóilica estão sendo mapeados para destruição em caso de guerra. Fonte BBC
Campos de energia eólica estão sendo mapeados
para destruição em caso de guerra. Fonte BBC
A BBC, citando um agente de contraespionagem dinamarquês, disse que os planos de sabotagem estão sendo preparados para o caso de um conflito aberto com o Ocidente.

Para a BBC uma das opções dos russos consiste em danificar as comunicações ou derrubar os sistemas de energia dos países para gerar caos.

Hoje, no subsolo marinho existem mais de 380 cabos submarinos com 1,2 milhão de quilômetros de extensão. É através deles que circulam os dados da internet, para ficarmos só neste exemplo, conclui “Mar sem fim”.


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