domingo, 26 de novembro de 2023

“Guerra híbrida” da Rússia usando migrantes

Finlândia fecha fronteiras a asiáticos e norteafricanos usados como massa de invasão pela Rússia
Finlândia fecha fronteiras a asiáticos e norteafricanos usados como massa de invasão pela Rússia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A Finlândia fechou quase todos seus pontos fronteiriços com a Rússia acusando Moscou de tentar desestabilizar o país ao permitir que migrantes indocumentados atravessassem a fronteira, noticiou “Yahoo!Actualités”.

A Finlândia partilha uma fronteira de 1.340 km com a Rússia e assiste a um afluxo de migrantes isentos de visto por Moscou.

O estranho é que essas ondas migratórias provêm do Médio Oriente e de África, particularmente do Iraque, da Somália e do Iêmen, e teriam sido encaminhadas pelo Kremlin como parte de uma “guerra híbrida”.

“O governo tomou a decisão de fechar os pontos de passagem de Vaalimaa, Nuijamaa, Imatra e Niirala”, disse a ministra do Interior finlandesa, Mari Rantanen.

Como africanos e meio-orientais teriam atravessado a imensa distância saindo de regiões quentes para fronteiras geladas sem um estimulo e apoio material do governo russo?

O encerramento de quatro pontos da fronteira no sudeste deixa aberto apenas uma passagem muito a norte. Ele deveria continuar até 18 de fevereiro de 2024, com o estudo dos pedidos de asilo concentrado em dois centros, mas a data foi adiantada para dezembro 2023.

Migrantes asiáticos e norteafricanos querem entrar na Finlândia vindos da Rússia
Migrantes asiáticos e norteafricanos querem entrar na Finlândia vindos da Rússia
O governo finlandês suspeita que Moscou tenta desestabilizar o país porque aderiu a NATO em abril 2023.

Preparamo-nos para diferentes tipos de ações, atos maliciosos por parte da Rússia, por isso a situação não é uma surpresa”, disse o primeiro-ministro Petteri Orpo.

“Queremos que este fenômeno pare, queremos que a atividade fronteiriça volte ao normal”, acrescentou. “Se a situação se espalhar para outros pontos de passagem e se tornar mais difícil, tomaremos as medidas necessárias”.

“Este desenvolvimento negativo dos acontecimentos levará naturalmente a medidas retaliatórias”, respondeu o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo.

Trata-se do surgimento de novas divisões na Europa que não resolvem nada, mas levantam novas questões problemáticas”, disse a porta-voz Maria Zakharova, à agência Tass.

Para Henri Vanhanen, investigador do Instituto Finlandês de Assuntos Internacionais, “a Finlândia envia a mensagem à Rússia de ter a coragem política de tomar medidas adicionais se necessário”.

O Kremlin prometeu tomar “contramedidas” após a adesão da Finlândia a NATO, qualificando a expansão da aliança ocidental como um “ataque à segurança” da Rússia.

Estônia montou um plano para deter a imigração de massa ilegal empurrada pela Rússia
Estônia tem plano para conter
a imigração de massa ilegal empurrada pela Rússia
O alcance destas contramedidas “é limitado apenas pela imaginação”, disse o finlandês Vanhanen à agência AFP, citando ações de desinformação, ameaças de desastres ambientais ou obstáculos à liberdade de circulação no Mar Báltico.

“Esse tipo de ações maliciosas, que permanecem abaixo do limiar da guerra, são aplicadas onde funcionam”, explicou o especialista. É uma guerra camuflada – a famosa “guerra híbrida” – posta em prática por Moscou.

Cerca de 280 requerentes de asilo apresentaram-se na fronteira russo-finlandesa desde setembro, segundo a guarda costeira, mas “os números não são o problema”, observou o ministro do Interior.

“Este é um caso em que temos indicações e informações de que as pessoas estão a ser manipuladas para entrar na Finlândia", disse ele.

A vizinha Noruega, que tem um posto fronteiriço com a Rússia no extremo norte, disse, através da sua ministra da Justiça, Emilie Enger Mehl, que está pronta para fechar a sua fronteira “se necessário, num curto espaço de tempo”.

Estônia monta obstáculos à 'guerra híbrida' com a imigração ilegal feita pela Rússia
Estônia monta obstáculos à 'guerra híbrida' com a imigração ilegal feita pela Rússia
Durante a crise migratória de 2015, milhares de migrantes isentos de visto cruzaram a fronteira entre a Rússia e a Noruega de bicicleta.

O influxo foi visto pelos especialistas como uma tentativa de desestabilização enquanto, do lado russo, é difícil entrar na zona fronteiriça, vigiada de perto pelo FSB (Segurança do Estado Russo), sem autorização.

Por sua vez, o ministro do Interior da Estônia acusou a Rússia de promover uma “manobra de ataque híbrido” enviando migrantes para o seu território, noticiou “Le Monde”.

A declaração teve lugar após cerca de trinta migrantes, principalmente da Somália e da Síria, tentar entrar na Estônia através do ponto de passagem de Narva, na fronteira com a Rússia. Todos foram rejeitados.

Polícia polonesa bloqueia migrantes usados como armas de 'guerra híbrida'
Polícia polonesa bloqueia migrantes usados como armas de 'guerra híbrida'
A Estônia está pronta para fechar as suas fronteiras se “a pressão migratória da Rússia se intensificar”, disse um porta-voz do ministro, Lauri Läänemets.

“Infelizmente, há muitos sinais de envolvimento de agentes e talvez outras agências fronteiriças russos”, disse. E acrescentou:

“Francamente, a atual pressão migratória na fronteira oriental da Europa é uma manobra de ataque híbrido”.

A agência Reuters pediu esclarecimentos às autoridades russas nas não recebeu resposta.

A situação na fronteira entre a Estônia e a Rússia é “semelhante” à enfrentada pela Letônia e pela Lituânia nas suas fronteiras com a Bielorrússia, acrescentou o ministro do Interior estônio.

Migrantes asiáticos e norteafricanos trazidos pela Bielorussia tentam pular a fronteira da Polônia
Migrantes asiáticos e norteafricanos trazidos pela Bielorussia tentam pular a fronteira da Polônia
Crise de maiores proporções já estourara na fronteira da Polônia, mas a pressão cessou após Varsóvia mostrar a firme determinação de não se deixar invadir pelos “migrantes” teleguiados.

Esses países bálticos e a Polônia acusam a Bielorrússia de ter estimulado a passagem de milhares de migrantes do Médio Oriente e de África desde 2021.

Os casos em curso no norte europeu levantam suspeitas sobre uma mão russa nos fluxos norteafricanos para a Europa através do Mediterrâneo.



"Guerra híbrida nas fronteiras da Finlândia




Nenhum comentário:

Postar um comentário