domingo, 17 de agosto de 2014

Putin extingue a liberdade na Internet

Sede da rede social VKontakte em São Petersburgo.
Sede da rede social VKontakte em São Petersburgo.

Pavel Durov, fundador da Vkontakte, a primeira rede social da Rússia, considerada o Facebook daquele país, teve de abandonar o país para nunca mais voltar. Seu “crime” foi defender, através de charges, sete reformas importantes “sem as quais retornar à Rússia não tem mais significado”.

Na realidade, ele pedia um afrouxamento do sistema totalitário: Justiça com processos abertos ao público, simplificação da legislação, sistema educativo menos uniforme e autonomia econômica para as regiões.

Na véspera de renunciar à Vkontakte, Pavel explicou que sairia da Rússia por causa de tensões com as autoridades, num ambiente de rarefação da liberdade para a Internet, segundo informou o jornal francês “Le Parisien”.


Ele acrescentou que o FSB (Serviço Federal de Segurança, herdeiro da KGB) lhe havia exigido os dados pessoais dos organizadores do grupo Euromaidan, que está no centro do movimento pró-ocidental na Ucrânia.

Ele recusou, mas percebeu que sua negativa o condenava.

Pavel Durov, fundador de Vkontakte, teve que se auto-exilar  antes de sofrer as consequências.
Pavel Durov, fundador de Vkontakte, teve que se auto-exilar
antes de sofrer as consequências.
Antes de cair nas mãos da inescrupulosa polícia de Putin e ser encarcerado ou morto, preferiu fugir.

Poucas semanas depois, o Parlamento aprovou projeto obrigando os sites de Internet a arquivar os dados pessoais dos cidadãos russos no território do país, noticiou a Reuters.

Todo mundo intuiu que a nova lei, não obstante certos conformes, procura disponibilizar esses dados para a polícia e os serviços secretos.

A partir de 2016, todas as empresas na Internet terão que transferir os dados de cidadãos russos a algum servidor instalado na “nova URSS”. Caso contrário terão suas atividades bloqueadas.

“A finalidade desta lei é criar mais pretexto, quase legal, para fechar Facebook, Twitter, YouTube e outros serviços”, disse à agência Reuters o blogueiro e especialista em Internet, Anton Nossik.

“A finalidade última é fechar as bocas, reforçar a censura no país e enquadrar uma situação onde os negócios via Internet não podem existir nem funcionar adequadamente”, acrescentou.

Putin, que foi oficial da ex-KGB, já disse que a Internet é uma “invenção da CIA”, mas negou que quisesse restringir as liberdades. Segundo ele, a principal preocupação é proteger as crianças de conteúdos indecentes.

A ficção do presidente russo entrou pelos olhos dos internautas, especialmente após o bloqueio dos sites dos dissidentes políticos Alexei Navalny e Garry Kasparov, acusados de “conter apelos a atividades ilegais”, nada tendo a ver com criança alguma.

Um dos principais executivos do Twitter foi solicitado a bloquear uma dúzia de contas. Ele não aceitou e atraiu sobre si represálias do governo.

Por sua vez, a “Gazeta Russa”, edição em português, tentou acalmar o pânico internacional dizendo que “não é preciso desesperar: ainda não há uma ‘muralha da China’ em torno da Rússia”.

Só não esclareceu quanto tempo durará esse “ainda”.

Explicou apenas que, segundo a nova lei, “a característica principal dos ‘dados pessoais’ é a capacidade de identificar, entre muitas pessoas, um indivíduo específico”.

Quer dizer, fornecer à polícia os dados de sua vítima ou de um simples dissidente.


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