domingo, 15 de maio de 2016

Opositores russos agredidos com ácido
por agentes putinistas

Lyudmila Ulitskaya agredida com ácido em ato lembrando os milhões de vítimas do comunismo soviético.
Lyudmila Ulitskaya agredida com ácido em ato
lembrando os milhões de vítimas do comunismo soviético.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs



No centro de Moscou, por volta de vinte ativistas putinistas atacaram a romancista Lyudmila Ulitskaya conhecida pela sua posição crítica em relação à “Nova Rússia” de Vladimir Putin.

Lyudmila participava com alguns alunos de um concurso organizado pela associação Memorial, o principal grupo defensor dos direitos humanos na Rússia. Memorial concentra suas atividades em resgatar a memória das milhões de vítimas do comunismo soviético, inclusive nos campos de concentração, segundo informou a agência AFP.

Como já se tornou usual, uma vintena de militantes putinistas ligados ao Movimento de Libertação Nacional (NOD, sigla em russo), coordenado pelo deputado pró-Kremlin Evgueni Fiodorov, jogaram ovos e líquidos químicos contra Lyudmila em plena cerimônia.

Refutando o comentário de que “ainda bem que não foi ácido sulfúrico”, Lyudmila deplorou que “essas são nossas condições de vida”, referindo-se às hostilidades que sofrem todos aqueles que querem reparar os crimes cometidos pelo comunismo na era soviética.

Putin não vê com bons olhos essas atividades e costuma enviar provocadores ou montar artifícios burocráticos para impedi-las ou bloqueá-las.



O NOD, como também já é costumeiro, negou toda participação na agressão. Porém, testemunhas presentes como Julius Freytag, da Fundação alemã Freiheig, que sustenta a Memorial, descreveu para a AFP o ataque de militantes “muito organizados, muito agressivos e que tinham o jeito de quem sabia perfeitamente quem participava do evento”.

“A polícia estava ali ao lado, olhava e não fazia nada”, acrescentou Freytag.

“Havia uma conivência absoluta com a polícia”, completou Ian Ratchinski, copresidente de Memorial, que também estava presente. “Os militantes levavam cartazes onde estava escrito: ‘Não temos necessidade de uma história alternativa’”, acrescentou.

O advogado opositor Alexeï Navalny também foi atacado com ácido na mesma data. Segundo ele há cumplicidade da polícia de Putin
O advogado opositor Alexeï Navalny
também foi atacado com ácido na mesma data.
Segundo ele há cumplicidade da polícia de Putin
Os agressores levavam bandeiras vermelhas com a foice e o martelo e cantavam canções soviéticas, sinais identificadores dos seguidores de Vladimir Putin e de seu projeto de uma “URSS 2.0”.

Foram atingidos 40 jovens provenientes de todo país, que ali se encontravam para a entrega dos prêmios do concurso “Indivíduos na História, a Rússia do século XX” promovido por Memorial.

O concurso consagra todos os anos, desde 1999, os melhores ensaios escritos por alunos do curso secundário sobre o modo como suas famílias suportaram a repressão estalinista ou a II Guerra Mundial.

“Isto é um sintoma da degradação do clima político na Rússia, é a primeira vez que acontece este absurdo”, avaliou Ratchinski.

Por sua vez, Alexeï Navalny, um dos mais conhecidos opositores do Kremlin, publicou em seu site na Internet que foi agredido no mesmo dia em seu escritório em Moscou.

Agressores não identificados procederam do mesmo modo, jogando-lhe substâncias químicas nos olhos. Felizmente não conseguiram atingi-lo.

“Não há nada de esquisito, comentou ironicamente. Tudo isto acabará com o ácido jogado em meu rosto, com o apoio da polícia e dos serviços secretos”, declarou.

O NOD, que diz ter 163.000 membros, executa regularmente este tipo de agressões contra dissidentes ou opositores das políticas do dono do Kremlin.

Os agentes putinistas acusam os dissidentes de serem “agentes do estrangeiro”, agredindo-os de modos humilhantes e de público sob o olhar indiferente ou cumplice da polícia.


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