Dimitri Kiselyov, âncora da TV, mostra objetivos nos EUA a serem pulverizados (Captura de vídeo) |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O presidente Vladimir Putin ameaçou os EUA com um equivalente da “crise dos misseis” acontecida a propósito do envio de mísseis nucleares russos a Cuba, e que pôs o mundo à beira da guerra mundial atômica durante 13 dias (16-28 outubro de 1962).
Uma semana depois, a TV estatal voltou à carga com as ameaças enumerando os objetivos que o Kremlin atacaria em território americano em caso de conflito nuclear, noticiou o jornal de Barcelona “La Vanguardia”.
No operativo a Rússia usaria um míssil hipersônico que estaria desenvolvendo.
Segundo a agência Reuters, Dimitri Kiselyov, o âncora do Vesti Nedeli principal noticiário semanal da TV moscovita, exibiu num mapa pelo menos cinco objetivos: o Pentágono, a casa de feiras do presidente em Camp David (Maryland), centros militares como Fort Ritchie, uma base aérea em McClellan (Califórnia) e uma base naval no Estado de Washington.
Objetivos do pavoneado ataque nuclear contra os EUA (Captura de vídeo) |
A represália, segundo Kiselyov, seria feita com misseis nucleares hipersônicos de alcance intermédio disparados desde submarinos perto de águas estadunidenses.
Segundo ele, o míssil “Tsirkon”, atingiria os alvos em cinco minutos voando na atmosfera a mais de cinco vezes a velocidade do som.
Os EUA se limitaram a responder que tendo a Rússia saído do Tratado de redução de foguetes de curto e meio alcance, as duas potências podem livremente desenvolver e instalar novas armas nucleares.
Aliás, ambos estão se acusando reciprocamente de violar os acordos, que nesse ambiente vão virando segundo uma péssima expressão “farrapos de papel”.
Kiselyov chegou a dizer que Moscou poderia reduzir EUA a cinzas radioativas. |
O pacífico Kiselyov já chegou a dizer que Moscou poderia converter os EUA em cinzas radioativas. Interrogado por essa afirmação de Kiselyov, o Kremlin disse em nada ter influído.
A impostação agressiva de Putin foi recebida como mais uma tática para forçar conversações com os EUA sobre o ‘equilíbrio estratégico entre as duas potências, algo pelo que Moscou pressiona há muito tempo”, na opinião de “La Vanguardia”.
De fato, a existência e a viabilidade das “hiper-armas” anunciadas por Putin é contestada. Algumas delas não passaram de apresentações quase no nível de videojogo.
Mas, a vontade de extermínio da nova-Rússia é de se levar muito a sério.
Por outra parte, como afirmam especialistas mencionados pelo “La Vanguardia”, a Rússia pode supor que ameaças assustadoras imporiam conversações orientadas a uma entrega de pontos do Ocidente.
A histórica “crise dos mísseis de Cuba” serve de precedente.
Do míssil 'hipersônico' 'Tsirkon' só foi apresentada uma imagem digna de videojogo |
Mas, do ponto de vista psicológico, o ganho soviético foi enorme. Sobre tudo dentro da Igreja Católica.
O Papa reinante João XXIII pela primeira vez na História mudou o posicionamento da Santa Sé face ao monstro soviético.
O Vaticano que até então sempre defendia a causa dos países cristãos e até ex-cristãos ocidentais, assumiu uma posição de “neutralidade” entre o agressor marxista e os EUA agredidos.
João XXIII iniciou a diplomacia de aproximação com os regimes comunistas que foi se acentuando até nossos dias.
A URSS lhe retribuiu com a distensiva visita de Alexander Adjubei, diretor da revista oficial do Partido Comunista Soviético Izvestia e sua mulher, filha de Nikita Kruschev, chefe supremo do império ateu, no dia 7 de março de 1963.
O Concilio Vaticano II acolheu então os enviados do Patriarcado de Moscou, disfarçados agentes da polícia soviética KGB.
A visita do genro do chefe supremo do comunismo marcou época na virada da Santa Sé rumo à Rússia |
Desde então a aproximação Vaticano-Moscou e o afastamento da diplomacia da Santa Sé dos EUA e do Ocidente cristão ou ex-cristão não cessou mais.
Hoje chegamos à simpatia escancarada do Papa Francisco pelo presidente russo e à áspera antipatia do Pontífice em relação ao presidente americano e aos católicos e evangélicos americanos que votaram nele.
Neste contexto não é difícil prever os apoios que Putin pode esperar do lado eclesiástico num diálogo ou conversações com os EUA em que ele pretenda obter capitulações.
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