Um ano após a tentativa de assassinato de Sergueï Skripal, os matadores do Kremlin continuam impunes |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
As investigações sobre o envenenamento quase fatal do ex-espião russo Serguei Skripal e de sua filha no Reino Unido prosseguem e acabaram de convencer o Ocidente de que Moscou não está jogando “limpo”, segundo observou o jornal de Madri “El Mundo”.
O último 'golpe' assassino dos agentes silenciosos do Kremlin pôs em ressalto a “via selvagem” dos operativos secretos de Moscou no exterior.
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A espionagem sempre existiu, mas Ocidente acreditava assaz tolamente que havia perdido muito de sua extensão e da ferocidade criminosa com a queda da URSS em 1989.
A tentativa de assassinato de Skripal patenteou que a máquina secreta russa está trabalhando de um modo escancarado em numerosos países, notadamente nos EUA, no Canadá e na Holanda.
Skripal foi formado na mesma escola de Vladimir Putin e enviado ao Ocidente. Acabou sendo identificado pelos serviços de inteligência britânicos e se dispôs a colaborar com eles.
Mais tarde, o então agente duplo foi descoberto e encarcerado pelos russos. No fim, se beneficiou de uma troca de agentes em 2010 e se refugiou em Salisbury, amparado pelo acordo de troca.
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De ali a intoxicação de Skripal e sua filha com 'Novichok', um agente tóxico de difícil manipulação reservado como sádico aviso a outros possíveis espiões renegados. Skripal teria cometido um crime supremo denunciando as conexões dos espiões de Putin e da máfia russa, segundo a BBC.
Putin quer agentes que se não são infalíveis pelo menos ninguém segura. O GRU recruta e forma esses agentes. Por isso tem acesso direto ao presidente que autoriza atividades sem controle institucional, custem o que custar.
“Sua mentalidade é agressiva, militar, cumprir a missão é mais importante que evitar riscos”, explica Mark Galeotti, especialista em serviços secretos russos e investigador no Instituto de Relações Internacionais de Praga.
O GRU está mandado fazer para os “novos campos de batalha com contornos duvidosos”: a Síria, a África, o Meio Oriente. Entornos 'selvagens' sem normas nem bandos bem definidos.
O GRU, que Galeotti definiu em livro de ‘Super Máfia’ está autorizado a instalar espiões ‘ilegais’ que nem os serviços diplomáticos nem os outros serviços russos podem conhecer. Esses só obedecem a ordens do chefe supremo de Moscou.
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Os agentes adotam novas identidades, geralmente com os nomes mais comuns na Rússia. O GRU, obviamente, os conhece e chama de 'verdugos' aos agentes e seus passaportes.
“Não são clássicos espiões, não colhem informação, esses matam”, explicou Pavel Felgenhauer, analista militar russo no jornal 'Novaya Gazeta'.
Segundo Felgenhauer, a tentativa de assassinato em Salisbury revela uma “presença tão ativa nos países da NATO que é má noticia, porque em geral acostumam agir em locais onde vai começar uma guerra”.
O GRU também é importante ator na espionagem cibernética e recruta especialistas em informática.
Por isso, Andrei Soldatov, especialista em espionagem e autor de 'The new nobility', escreve que o velho GRU, fundado em 1918 no auge da guerra civil russa e que esmagou as oposições à ditadura leninista, constitui o 'estado dentro do Estado' que sobreviveu sem transformações a Stalin e ao fim da URSS.
Hoje aparece mais adaptado às novas realidades geopolíticas que qualquer outra agência russa.
Seus homens, matadores seletos, estão mais atrevidos do que nunca, e sabem que o chefe Vladimir Putin está os observando.
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