Hiroshima, depois da bomba |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Comemora-se em agosto o 75º aniversário do lutuoso uso da primeira bomba nuclear na II Guerra Mundial.
Em 6 de agosto de 1945, o bombardeiro B-29 americano Enola Gay despejou a primeira bomba nuclear sobre a cidade japonesa de Hiroshima, causando a morte de por volta de 70.000 pessoas, além de incontáveis feridos.
Hoje, Hiroshima é uma cidade moderna, pujante e próspera, onde a vida progride com vigor, tendo virtualmente desaparecido os vestígios de radiação nuclear.
Outro calamitoso episódio também envolveu a energia nuclear. Ele aconteceu no dia 26 de abril de 1986 na central atômica soviética de Chernobyl, a 100 quilômetros no norte de Kiev, capital da Ucrânia.
Naquela data ainda era território russo e a usina estava sob a jurisdição direta das autoridades centrais da União Soviética.
Hiroshima, hoje |
Segundo os responsáveis russos, a explosão do reator só produziu a morte de dois empregados, e mais 29 nos três meses seguintes.
Na verdade, nunca se saberá o número exato de mortes provocadas pela radioatividade que se espalhou por boa parte da Ucrânia, Europa Central e Europa Ocidental.
O reator está hoje no epicentro de uma zona de exclusão de 30 quilômetros de raio. 160.000 pessoas foram evacuadas e os níveis de radioatividade nas redondezas superam centenas de vezes o máximo permitido.
Chernobyl hoje: tudo teve que ser abandonado de urgência e ficou como estava. |
O site Gizmodo, resumido por La Nación, identificou três razões decisivas.
1) A bomba de Hiroshima levava 6,3 quilos de plutônio. No reator 4 de Chernobyl havia 180 toneladas de combustível nuclear, das quais 2% (3.600 quilos) eram urânio puro e a explosão liberou sete toneladas do combustível (e 200 quilos de urânio).
2) Em Hiroshima, segundo a Fundação para a Investigação dos Efeitos da Radiação (RERF), a explosão deu-se na altura e só 10% do plutônio da bomba entraram em fissão. A própria explosão evaporou os 90% restantes, que foram dispersos pelos ventos.
O estouro de Chernobyl aconteceu em nível do solo e foi muito mais eficaz na sinistra hora de disseminar isótopos radioativos. O incêndio posterior evaporou os materiais, que foram espalhados em doses maciças.
Chernobyl: em áreas críticas só com proteção anti-radiação e não demorando muito. |
O resto foram raios gama, letais no momento, mas que não deixam impronta no local ou nos objetos. Hoje há áreas do mundo com maior radiação natural do que Hiroshima.
Em sentido contrário, os isótopos de Chernobyl impregnaram num prazo de dias as redondezas com doses que ainda hoje continuam letais. Em alguns locais, a radiação é 100 vezes maior que em Hiroshima.
A usina foi desativada em 2.000. Será preciso aguardar 900 anos para que o ser humano possa voltar a habitar a zona.
Da bomba de Hiroshima se fala muito. E se compreende perfeitamente.
Da brilhante recuperação de Hiroshima se fala pouco. E não se entende essa omissão.
Da catástrofe de Chernobyl, imensamente mais danosa para o meio ambiente, fala-se pouco ou de modo leviano. E isso não se entende mesmo. Chega-se até a promover roteiros turísticos nas redondezas.
Chernobyl hoje e uma cidade abandonada. |
Quando algo serve para falar mal da ordem ocidental – no caso, dos EUA – a mídia e os figurantes políticos e religiosos de viés esquerdista carregam o tom, como se dá com a bomba de Hiroshima.
Quando algo fala positivamente da ordem ocidental, como a recuperação de Hiroshima, essa turma se interessa pouco ou mal.
Quando algo fala mal do socialismo ou do comunismo, como o caso de Chernobyl, a mesma turma faz todo o silêncio possível.
Dois pesos e duas medidas para desmoralizar o mundo não comunista e poupar o inferno socialista-comunista.