domingo, 15 de março de 2020

Cresce o risco de III Guerra Mundial

Embaixador Sérgio Duarte mais perto da guerra mundial do que nunca
Embaixador Sérgio Duarte: mais perto da guerra nuclear do que nunca
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O conflito atômico mundial que parecia afastado há 50 anos, quando entrou em vigor o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), hoje está mais perto do que se poderia imaginar.

Assim declarou em entrevista por email à “Folha de S.Paulo”, o embaixador Sérgio Duarte, 85, que foi o presidente da sétima revisão quinquenal do TNP, em 2005, e de 2007 até sua aposentadoria, em 2012, foi o alto representante das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento.

“Não há dúvida de que nos tempos de hoje o mundo é mais perigoso do que em qualquer época desde o início da era nuclear”, disse Duarte que preside em Belo Horizonte a ONG internacional Conferências Pugwash, receptora do Nobel da Paz de 1995 por seus esforços em prol do desarmamento nuclear.

Em 2019, os EUA abandonaram um dos principais acordos de limitação de armas nucleares do fim da Guerra Fria após a Rússia ostentar repetidamente que estava fabricando armas atômicas de uma capacidade destrutiva inaudita.

O presidente Trump revidou com o anúncio da fabricação de novas bombas atômicas menos potentes, porém mais empregáveis.

A Coreia do Norte continua produzindo, testando e esbravejando, com resultados até ridículos, mas que bem podem servir de estopim universal.

E o Irã causa calafrios no mundo tendo ficado claro que seus propósitos de desnuclearização não podem ser levados a sério ou são mera tapeação para esconder objetivos sinistros.

Em 2020 os EUA e a Rússia devem decidir se prolongam o maior tratado de limitação de arsenais global, o Novo Start, que vence em 2021.






Todos os nove possuidores de armas nucleares, sem exceção, vêm aumentando seus arsenais ou acrescentando novas tecnologias destruidoras, como mísseis várias vezes mais velozes que o som, uso de técnicas cibernéticas, lasers, inteligência artificial e outras inovações, numa verdadeira proliferação tecnológica”, afirmou o embaixador Sérgio Duarte.

Americanos e russos têm 92% das ogivas do mundo, respectivamente 1.750 e 1.650 prontas para uso. Isso fora um estoque de 8.130 bombas operacionais que podem ser reativadas.

Ainda possuem armas nucleares os rivais Índia e Paquistão, China, França, Reino Unido, Coreia do Norte e Israel —que faz disso um segredo de polichinelo útil no xadrez do Oriente Médio, escreveu a “Folha”.

 Míssil 'hipersônico' 'Tsirkon' que Putin garantiu estar desenvolvendo
 Míssil 'hipersônico' 'Tsirkon' que Putin garantiu estar desenvolvendo
O embaixador observou que o Novo Start, sempre foi vago no quesito desarmamento. “A única cláusula não produziu resultados satisfatórios, ao contrário, os países nucleares vêm aperfeiçoando seu poder”, explicou.

O TPAN (Tratado de Proibição de Armas Nucleares), de 2017, não está em vigor porque as potências atômicas e as candidatas a serem não querem ratifica-lo.

O Brasil foi pioneiro com a antiga rival Argentina, é signatário do TNP e do TPAN, e um regime de confiança mútua está instaurado.

Mesmo assim, o país se recusa a assinar o Protocolo Adicional ao TNP, de 1997, que prevê inspeções internacionais. Os EUA tentam convence-lo, mas sem sucesso inclusive sob o governo Bolsonaro.

“Nenhum instrumento no campo da não proliferação nuclear até hoje logrou adesão universal”, sublinhou Duarte.

Ele falou das “profundas divergências e à rivalidade, desconfiança e hostilidade entre EUA e Rússia”.

“Os arsenais existentes são suficientes para inviabilizar completamente a civilização humana caso sejam utilizados, por desígnio ou acidente”, resumiu o embaixador.

Esse tenso fundo da questão contradiz as aparências da era da “morte do comunismo”. Por isso, para os espíritos melhor informados, fatos que seriam vistos como menores podem mexer com um potencial de devastação universal.

O 'Yantar' no porto do Rio
O 'Yantar' no porto do Rio
Foi o caso do Yantar, navio russo de pesquisa e inteligência suspeito de espionagem na Europa e nos Estados Unidos, que a Marinha brasileira monitorou durante uma semana.

O Centro Integrado de Segurança Marítima do Rio de Janeiro detectou a embarcação de tecnologia avançada de sensores, dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Brasil em fevereiro, segundo noticiou “O Estado de S.Paulo”.

Feito o primeiro contato, o navio sumiu do monitoramento, levantando a hipótese de que o equipamento AIS, que permite a sua localização, tenha sido desligado.

Por fim, um helicóptero da Marinha e um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) localizaram a embarcação a 80 quilômetros das praias do Rio.

A tripulação russa ou não atendia às chamadas ou respondia com evasivas, enquanto trabalhava numa área de cabos submarinos de internet. Acabou atracando no porto do Rio, onde ficou poucos dias e partiu.

O que mais intrigou as autoridades náuticas foi o fato de a embarcação, “reaparecer” perto dos cabos submarinos de comunicação que ligam o Brasil a outros países, após ficar por quase uma semana com o seu aparelho identificador desligado.

Com sensores de alta tecnologia para rastrear o fundo do mar, o navio oceanográfico Yantar sempre esteve na mira de governos. A Rússia repete que o navio de 5.700 toneladas e 108 metros atua em pesquisas científicas e em ajuda a outros países.

O Yantar anunciou que cooperaria na localização do submarino argentino desaparecido “San Juan”. A mídia exultou comemorando que então sim o submarino perdido seria encontrado. Nada disso, depois de recolher os dados que procurava retornou a Rússia, sem dizer nada.

Esquema de funcionamento do Yantar
Esquema de funcionamento do Yantar
A marinha britânica o considera um “navio espião” e os EUA suspeitam que os pequenos submarinos do Yantar operam especialmente no rastreamento de áreas de cabos submarinos.

E o Yantar ouve e vê tudo até 6 mil metros de profundidade porque pode lançar dois minissubmarinos de 25 toneladas da classe Konsul capazes de descer até esses abismos.

Os cabos submarinos respondem por 99% das comunicações transoceânicas e 97% das conexões de internet entre os servidores do mundo.

Uma ruptura desses cabos pode não apenas causar danos gravíssimos à economia global, como deixar países inteiros sem acesso à internet.

Relatório de 2019 do Real Instituto de Serviços para Estudos da Defesa, citado pelo “O Estado de S.Paulo”, revela que os navios de inteligência da Rússia “perambulam discretamente por áreas estratégicas o tempo todo em todo o mundo”. 

Um atrito com suspeitadas operações de sabotagem ou espionagem com um navio provocador desses, ou alguma fricção armada com as incursões aéreas russas mirando Ocidente que publicamos periodicamente no nosso blog, poderia servir de pretexto à má vontade para ativar o potencial nuclear.

É uma das espadas de Dámocles que pairam sobre o mundo.


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