'Slava' está na execução dos segredos sujos de Putin |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
“Machiavel russo”, “marionetista do Kremlin”, ou, mais sugestivamente, “Rasputin de Putin”, são os apelidos com os quais é conhecido Vladislav Surkov, ou ‘Slava’, o conselheiro mais influente da camarilha fechada do Kremlin, escreveu a revista francesa L’Express.
Seus próximos dizem que é um ideólogo “brilhante, cínico e manipulador”, indispensável ao sistema, comenta Macha Lipman, analista do Centro Carnegie.
“Se Putin está tão solidamente ancorado no poder por onze anos, deve-se em grande parte à inteligência e à ausência de escrúpulos de ‘Slava’”.
A Duma — o Parlamento — não é senão uma câmara de aprovação das decisões do Kremlin, onde só a decisão presidencial vale. E Slava cuida para que tudo seja executado segundo as instruções vindas de cima.
Surkov/‘Slava’ é o doutrinador da “democracia dirigida”, eufemismo para designar o regime autocrático atual, enquanto se fala do retorno a um “czarismo” não tradicional na pessoa do todo-poderoso Putin.
“Nossa democracia tem algo de teatral”, admite Boris Nadejdine, um dos líderes do partido liberal “à europeia” Justa Causa, que não está representado na Duma.
“O pluralismo é fictício e as sete agrupações políticas representadas são teleguiadas em graus diversos a partir do Kremlin. Seus líderes devem prestar regularmente contas a Surkov/‘Slava’.”
“Surkov define a intensidade de oposição que o Partido Comunista oferecer ao poder do Kremlin em combinação com Guenadi Ziuganov, o dirigente ostensivo do PC, explica Alexeï Kondaurov, antigo general do KGB. Em função disso Ziuganov modera suas críticas e não organiza manifestações de rua. Em troca, o financiamento do partido está assegurado”.
'Slava' teria ordenado a ação assassina dos snipers durante a tentativa de repressão de Maidan na Ucrânia. |
Aqueles que se não obedecem são marginalizados ou morrem de modo suspeito, como Boris Nemtsov, ex-vice-primeiro ministro de Iéltsin.
O Tribunal Eleitoral se recusa a registrar partidos “trapalhões” que ficam sem existência legal e incapacitados de participar nas eleições.
Para L’Express, trata-se do mais puro Kafka, mas é a Rússia de Putin.
“O Kremlin controla todas as TVs, nas quais não entram nem figuras opositoras como Gary Kasparov, ex-campeão mundial de xadrez. Mikhail Kassianov [primeiro ministro de 2000 a 2004], o novelista Eduardo Limonov e eu mesmo somos afastados dos microfones”, relatou Nemtsov antes de ser morto de modo suspeito numa ponte perto do Kremlin.
Desde 2005 os governadores das regiões são nomeados pelo poder central, e não mais eleitos.
‘Slava’ pode criar movimentos políticos do nada e depois destruí-los, como foi o caso do Partido dos Aposentados, criado em 2003 para atender as queixas dos idosos e logo depois afundado.
O oligarca Mikhail Prokhorov assumiu a direção do partido Justa Causa, mas não prestava contas a Surkov e criticava os amigos de Putin.
'Slava' é o mago de todos os conchavos políticos na Duma a serviço de seu patrão, rotando nos cargos na fidelidade ao omniarca |
‘Slava’ requinta seus jogos verbais. Ele declarou à TV chechena: “Estou sinceramente convencido de que Putin foi enviado por Deus à Rússia para ajudá-la num momento difícil, para nosso maior bem”.
Certa vez — conforme relatou Anatoli Iermolin, ex-deputado pró-Putin —, contra toda lógica, ‘Slava’ ordenou a um grupo parlamentar que aprovasse a construção de um oleoduto ao longo do lago Baikal. Os parlamentares lhe imploraram quase de joelhos que renunciasse a essa loucura que suscitaria revoltas na região de Irkutsk.
Após semanas de controvérsia, Putin anunciou que o oleoduto passaria pelo local mais simpático. Então todos compreenderam que havia sido uma mera jogada de ‘Slava’ para promover a popularidade de Putin.
O “Rasputin de Putin” criou com jovens simpatizantes de Putin o movimento ultranacionalista “Os Nossos”, o qual é formado por dezenas de milhares de simpatizantes e um núcleo duro de “barras pesadas” regados com muito dinheiro.
A finalidade é intimidar a oposição, tomar conta das ruas e impedir pela força qualquer protesto popular, notadamente por ocasião de eleições.
É a tropa de choque nova monarquia, na qual Putin está coroando a si próprio.
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