Continuação do post anterior: Por que é indispensável a consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria
Depois de iniciada a Segunda Guerra Mundial, a Irmã Lúcia se dirigiu diretamente ao novo Papa, Pio XII:
“Em várias comunicações íntimas, Nosso Senhor não tem deixado de insistir neste pedido, prometendo ultimamente — se Vossa Santidade se dignar fazer a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, com menção especial pela Rússia, e ordenar que, em união com Vossa Santidade e ao mesmo tempo, a façam também todos os Bispos do mundo — abreviar os dias de tribulação com que tem determinado punir as nações de seus crimes, por meio da guerra, da fome e de várias perseguições à Santa Igreja e a Vossa Santidade”.
Em 1942, por ocasião do encerramento do ano jubilar das aparições de Fátima, o Papa Pio XII consagrou a Igreja e o gênero humano ao Imaculado Coração de Maria, ato que ele renovou em 8 de dezembro.
Mas o texto fazia apenas uma alusão velada à Rússia, sem mencioná-la explicitamente.
Em carta de 4 de maio de 1943 ao Pe. Gonçalves, a Irmã Lúcia afirmou ter tido outra revelação de Nosso Senhor, prometendo “o fim da guerra para breve, em atenção ao ato que Sua Santidade se dignou fazer.
“Mas, como ele foi incompleto, fica a conversão da Rússia para mais adiante”.
Em julho de 1952, Pio XII consagrou os povos da Rússia ao Puríssimo Coração de Maria, sem associar os bispos do mundo.
Em novembro de 1964, Paulo VI “confiou o gênero humano” ao Imaculado Coração de Maria.
João Paulo II fez duas consagrações: uma em Fátima, no dia 13 de maio de 1982; e outra em Roma, em 25 de março de 1984, ambas precedidas de um convite aos Bispos para se unirem a ele nesses atos.
Alguns episcopados se uniram ao ato; mas no Brasil, que tem o terceiro maior episcopado do mundo, apenas poucos bispos o fizeram.
Além do mais, a Rússia não era mencionada no texto da consagração, apenas alguns circunlóquios lhe faziam uma alusão indireta, o que foi ainda mais evidenciado quando o Papa polonês, saindo do texto, improvisou a seguinte invocação:
“Mãe da Igreja! [...] Iluminai especialmente os povos dos quais esperais a nossa consagração e a nossa entrega”.
Em 2015, o então exorcista-chefe de Roma, Pe. Gabriele Amorth (recentemente falecido), declarou o seguinte a propósito dessa consagração:
“Eu estava lá em 25 de março [de 1984] na Praça de São Pedro; estava na primeira fila, praticamente a uma curta distância do Santo Padre. João Paulo II queria consagrar a Rússia,
“mas sua comitiva não [queria], temendo que os ortodoxos fossem antagonizados, e quase o frustraram.
“Porém, quando Sua Santidade consagrou o mundo de joelhos, ele acrescentou uma frase não incluída na versão distribuída, que em vez disso dizia consagrar ‘especialmente aquelas nações das quais Vós solicitastes sua consagração’.
“Então, indiretamente, isso incluía a Rússia.
“No entanto, uma consagração específica ainda não foi feita”.
Essa versão foi confirmada de modo ainda mais claro no centenário da primeira aparição na Cova da Iria.
Nesse dia foi celebrada uma missa solene na Catedral de Nossa Senhora de Fátima, em Karaganda (Cazaquistão), como conclusão de um Congresso Mariano internacional.
Na homilia, o cardeal alemão Paul Josef Cordes, que viveu muitos anos no Vaticano, como presidente do Pontifício Conselho Cor Unum, referiu-se ao ato realizado por João Paulo II em 1984:
“Ele se absteve de mencionar explicitamente a Rússia, porque os diplomatas do Vaticano lhe haviam pedido com insistência que não mencionasse esse país, já que, do contrário, poderiam surgir conflitos políticos [...].
“Logo depois ele me convidou para almoçar.
“Em nosso pequeno círculo, ele falou do desejo que sentia em seu interior, de mencionar a Rússia durante essa consagração, antes que ceder a seus conselheiros.
“Então ele nos disse, com um rosto radiante, que aquilo ao que ele havia renunciado fazer por si mesmo havia, porém, sido realizado.
“Através de amigos, tinha sabido algo importante e consolador para ele: que alguns bispos ortodoxos russos haviam aproveitado sua própria consagração do mundo à Mãe de Deus como uma ocasião para consagrar a Rússia de uma maneira muito especial a Maria”.
Podemos objetar, no entanto, que o pedido insistente de Nossa Senhora não foi que os bispos cismáticos russos consagrassem seu país ao Imaculado Coração de Maria, e sim que tal consagração fosse feita pelo Papa em comunhão com todos os bispos católicos do mundo!
Continua no próximo post: A consagração da Rússia não feita: o comunismo continua espalhando seus erros pelo mundo
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