Concentração militar russa em Opuk, costa do Mar Negro, Crimeia |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O Kremlin fez espalhafato com suas movimentações militares junto à fronteira da Ucrânia. Ela pretextava risco de guerra civil nesse país que a obrigaria a intervir, leia-se invadir.
No momento que escrevemos está retirando forças estacionadas na região, mas seus procedimentos são imprevisíveis e nada confiáveis.
O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, deu um falso verniz humanitário ao apoio aos rebeldes separatistas que obedecem instruções da Rússia e controlam partes de Lugansk e Donetsk, duas áreas autônomas no leste da Ucrânia, noticiou a “Folha de S.Paulo”.
“O mundo todo, incluindo a Rússia, tomará medidas para evitar a repetição dos eventos de 1995 em Srebenica na Ucrânia, em caso de que uma ação militar total recomece ali”, alardeou.
A montagem de Peskov explora a massacre de 8.373 muçulmanos por forças sérvias ortodoxas na Bósnia.
Aquele horrível genocídio nada tem a ver com a crise ucraniana, mas sugere que a máquina de propaganda russa tem algo imaginado nesse perverso sentido para invadir a Ucrânia.
Peskov inventou ainda outro sofisma: “se uma guerra civil com atividades militares de larga escala recomeçar perto das nossas fronteiras, isso será uma ameaça para a segurança nacional da Rússia”, acusando a Kiev de “não rejeitar a ideia do uso da força”.
A única “guerra civil” que pode ser possível é se a Rússia incitar as minorias separatistas que arma e sustenta em território ucraniano e enviar grandes quantidades de tropas e armamentos.
Os EUA seguraram o envio de dois navios de guerra para o Mar Negro junto às áreas conflituosas onde a Rússia está exibindo navios em exercícios navais.
Bases russas na Criméia |
Kiev também reforça sua presença militar na parte da fronteira de 500 km com as áreas nas mãos de separatistas. Esses se declararam “repúblicas autônomas” integradas na “Grande Rússia”, posicionamento nunca levado a sério pela ordem internacional, o Kremlin excetuado obviamente.
Em caso de um provável desfecho negativo para os apaniguados por Moscou, a Rússia não pode permitir a humilhação diante de quem qualifica de “satélite dos EUA”, observou o diretor do Centro de Análise de Tecnologias e Estratégias de Moscou, Ruslan Pukhov.
O G7 exortou Rússia a frenar seus movimentos de tropas e Jens Stoltenberg, secretario general da NATO fez a mesma exigência com mais força, informou “Clarín”.
Stoltenberg qualificou a concentração bélica russa de “injustificada, inexplicável e profundamente preocupante e que a Rússia deve cessar com suas provocações e parar toda escalada imediatamente”.
A diplomacia russa não aceita nada a acusa a OTAN e os EUA de jogar com fogo enviando armas a Ucrânia.
Os funcionários ucranianos estão convencidos de que Rússia está à procura de um pretexto dizendo que age em legítima defesa.
Ucrânia diz que Moscou concentrou 80.000 homens na fronteira (logo elevados para 150.000) reforçados com artilharia, tanques e mísseis de curto alcance.
Gustav Gressel, analista do ‘European Council on Foreing Relations’ acha que embora a guerra é possível, não é o cenário preferido pelo Kremlin.
Tropas russas aerotransportadas perto da Ucrânia |
“Eles têm que fazer sentir ao Kremlin que o conflito terá custos desproporcionalmente maiores que os benefícios”.
Também “The New York Times” aponta a grande concentração militar camuflada russa em Maslovka, do lado russo.
Michael Kofman, pesquisador do CNA, um think tank de Arlington, Va., considera que os militares russos agem abertamente porque não visam a guerra, mas um show de forças.
Os alarmas cresceram quando Biden anunciou novas sanções a empresas russas e a expulsão de dez de seus diplomatas.
Moscou, como é praxe, expulsou outros dez diplomatas americanos e seu chanceler Sergei Lavrov prometeu “medidas dolorosas” para o mundo dos negócios americano.
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