Rússia desenvolve novos mísseis nucleares que poderiam destruir qualquer cidade ou país no mundo. Foto do Ministério da Defesa russo |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Enquanto despachava uma frota de submarinos para desafiar um exercício militar ocidental, Moscou trombeteava estar “pronto para o pior” numa nova Guerra Fria com os EUA, por meio do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citado por Yahoo! Notícias.
O presidente americano, Joe Biden, semanas antes havia elevado a tensão entre Washington e Moscou a um nível inaudito até na velha Guerra Fria com a URSS definindo a Putin como um assassino em entrevista na TV.
O contexto do choque partiu do envenenamento do opositor Alexei Navalny, que suscitou grandes passeatas anti-Putin nas principais russas revidadas com violência pela polícia política.
Navalny voltou à Rússia onde foi preso mais uma vez e onde iniciou uma greve de fome de 24 dias. Quando apareceu estava extraordinariamente emagrecido.
Biden também quer tirar satisfação pelas interferências cibernéticas russas em favor de seu adversário Donald Trump no pleito presidencial americano de 2020.
“É claro que não podemos descartar os comentários de Biden”, disse Peskov enquanto Biden reafirmava sua posição sobre a questão eleitoral.
A “velha” Guerra Fria tinha um componente mais visivelmente militar com atritos, guerras e guerrilhas em todos os continentes enviando Moscou armas, tropas, dinheiro e treinando líderes anti-EUA.
Após a queda desastrosa do carunchado império soviético em 1991, teve lugar um desarme psicológico no Ocidente pela aparente desaparição de um conflito de grande envergadura.
A queda dos diversos muros e cortinas que vedavam a vista sobre o estado mendigo russo, revelou a espantosa miséria em que o regime socialista da URSS tinha afundado à Rússia.
Manifestações pela liberdade do dissidente Navalny e contra Putin na Rússia deram em milhares de violentas prisões |
Mas, o velho comunismo fora gestando em seus mais escuros âmbitos uma nova guerra que exploraria a imbecilizante distensão que seus agentes também espalhavam no Ocidente.
A Europa aplicou capitais gigantescos que transformaram a Rússia em seu maior fornecedor de combustíveis fósseis. Washington começou a reagir face à China, que malgrado seu exibicionismo não é uma potência militar comparável aos EUA.
Mas – com capitais ocidentais – Pequim apresentou um desafio que impressionou pelo lado mais sensível aos americanos: o crescimento econômico e seu crescente papel no comércio global.
A relação comercial entre as duas superpotências começou a rachar quando os americanos perceberam que sua indústria e sua influência econômica estava sendo corroída pelo gigante asiático que mostrava ter objetivos hegemônicos universais.
Nos EUA foi morrendo a simpatia pelos produtos chineses baratinhos que fechavam as empresas americanas e faziam desaparecer os empregos.
A antipatia anti-chinesa atingiu seu ápice atual com o misterioso spray viral que espalhou a pandemia no mundo, menos no próprio fulcro que deveria ter sido atingido em grande escala desde o início.
Recentes explosões em bases no Ártico teriam sido em testes do novo míssil de propulsão nuclear chamado Burevestnik. Foto exercícios conjuntos com a China |
Ele conservou o velho arsenal nuclear soviético equiparável ao de Biden, mas em pleno rejuvenescimento, enquanto os EUA dormitavam.
O mais recente relatório do Ministério da Defesa aponta que mais de 80% dos mísseis e ogivas russos são modernos ou modernizados.
Enquanto as maiores peças temporais do xadrez do mundo assim se movimentavam no Vaticano se operou a maior mudança de paradigma de pelo menos o último século.
A Santa Sé que na velha Guerra Fria apoiou Ocidente contra o “monstro comunista de Oriente” passou a receber calorosamente a Putin que multiplicou audiências com o Papa Francisco.
E esse não poupava manifestações de desagrado contra seus fiéis católicos americanos e seus ideologicamente próximos evangélicos que tinham votado por Trump para presidente.
Mudança de paradigma de 180º de certos católicos em face do anticristo russo |
E até passaram a comemorar o ditador russo como se fosse comparável aos imperadores católicos Carlos Magno, ou o Constantino, desta vez vindo do Oriente.
Se apressaram a apagar em seus escritos e discursos toda palavra que arranhasse o socialismo ou o comunismo, “esqueceram” o passado histórico, as violações da doutrina católica ou do direito internacional praticadas pelo regime de Putin.
Em poucas palavras o eixo espiritual do mundo, a Santa Sé, virou em 180º seu posicionamento em torno da grande questão sobre a qual se joga o destino do mundo.
Nisso deu um fecho à obra de silenciamento do comunismo e de crítica do capitalismo privado iniciada no Concílio Vaticano II, sendo acompanhado por muitos que se dizem discordar teologicamente desse Concilio.
Putin encomendou o chamado 'Avião do Juízo Final' para um eventual uso próximo. O fundo do cartaz de propaganda que o objetivo é arrasar com os EUA. |
Até empreendeu guerras internas e externas para reconstituir o monstro que outrora tirava o sono do mundo, e agora recolhe sorrisos e omissões cumplices no mundo católico.
Mais recentemente, a frota do Mar Negro, centrada em Sebastopol. Crimeia, despachou seus seis submarinos de ataque ao mesmo tempo, alegando um exercício militar da Otan, liderado por um ex-país escravo –a Romênia – e que incluía 18 navios de guerra, 10 aviões e 2.400 soldados de cinco países.
A Crimeia foi ocupada por Putin em 2014, em vingança pela derrubada popular do governo ucraniano pró-Moscou que tirou de sua influência uma grande parte da antiga URSS e o berço histórico do mundo eslavo.
O deslocamento de 150.000 homens para junto das fronteiras da Ucrânia, a interceptação de aviões de reconhecimento e manobras militares provocadoras de toda espécie amainaram quando os soldados russos voltaram a seus quarteis deixando, porém, o armamento e as instalações para um eventual uso rápido.
Exibição de poder naval russo no Mar Negro preocupou o mundo |
A atitude russa é clara: no ano passado, um destrutor russo quase abalroou um americano no Pacífico. De ali não viria guerra, mas a sim houve um conflito de estados de espírito.
Moscou precisa do acesso ao Mediterrâneo, e pelo sul só é possível através dos estreitos de Bósforo e Dardanelos dominados pela Turquia seu inimigo-amigo.
Assim como o mar Báltico, o Ártico e o Extremo Oriente russo, o mar Negro é hoje um ponto em que forças ocidentais buscam contestar essa ambição e ameaça de domínio, se possível, como no recente pouso de um bombardeiro estratégico americano no norte da Noruega.
Nenhum comentário:
Postar um comentário