Mais de um milhão de idosos está sem a 2ª dose da Sputnik V que a Rússia não manda |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O governo argentino que se prestou à guerra da informação russa deveria estar aplicando a segunda dose da vacina Sputnik V. Mas Moscou não a envia.
Buenos Aires enviou uma carta ao Fundo Russo de Inversão Direta (RDIF, em inglês), expressando seu grave desgosto e reprochando a Moscou pelo acentuado desrespeito dos prazos, denunciou “La Nación”.
Buenos Aires também protagonizou cenas de ríspida tensão quando Xi Jinping atrasou as entregas.
A Casa Rosada está pressionada pela “angustia” da população, especialmente o mais do milhão de idosos que ficaram com os prazos vencidos para a segunda dose.
O governo esquerdista não queria vacinas “estrangeiras”, leia-se americanas, e correu para a oferta russa.
Embaixador russo na Argentina, Dmitry Feoktistov, guarda silêncio |
Na carta a Moscou, Buenos Aires “põe a nu a preferência geopolítica por essa vacina” e “explicita algo obvio: que faz um uso faccioso do plano de vacinação”, escreve “La Nación” patenteando a essência pro-comunista do governo populista.
Também ficou em evidencia que a administração da pandemia é apenas um dos campos em que se desenvolve um conflito ideológico atiçado pelo Kremlin contra Washington.
A carta a Moscou se abre com “uma confissão angustiante”, diz o jornal. “Estamos numa situação muito crítica... após nossa conversa tínhamos a esperança que melhoraria. Mas piorou”, diz.
E implora pelo menos um milhão de segundas doses para os idosos, para os quais só chegou uma parte minoritária.
A Human Vaccine, empresa criada para vender a Sputnik V está no ponto de falir. “No total faltam receber 18.734.185 doses (1 e 2) prometidas e não entregues”, queixa-se a Casa Rosada.
A carta manifesta ainda a vergonha comunistoide de estar recebendo doses dos odiados “outros provedores” ocidentais – leia-se americanos e britânicos – “de forma regular, com cronogramas que cumprem”.
Num outro parágrafo que parece redigido para sensibilizar a Vladimir Putin, ameaça que “se continuam nos ignorando nós vamos atrás dos EUA”, aludindo à “estratégia de vacinação montada com critérios geopolíticos mais do que sanitários”.
Um dos derradeiros carregamentos de Sputnik V chegou em junho |
O laboratório local contratado para elaborar a “Sputnik V nacional” não cumpre porque a Rússia não manda o material, com grande desprestígio para o presidente Fernández.
Esse prometeu, por interesses eleitorais, que a fabricação local iniciaria no dia 9 de julho, data da independência nacional. E nada!!!
O Estado populista concedeu benefícios alfandegários para as doses russas. E nada!!!
O fim da carta é de chorar: se os russos nem respondem às mensagens peronistas, pelo menos mandem – implora – as vacinas.
Fernández faz tudo o que pode, argumenta, por Putin, pela Sputnik V, mas Moscou o está deixando sem argumentos para se jogar como quer pelo chefe do Kremlin.
Acresce que até os funcionários públicos estão processando legalmente o governo, pondo-o em risco.
Por sua vez, a Rússia após fenomenal marketing sanitário afunda no escândalo. Até a Índia, a quem foi proposto fabricar a vacina russa, acabou julgou irresponsável fazer a Sputnik V porque a Rússia não é capaz de fornecer os elementos para a segunda dose.
O presidente argentino, em verdade, pede a Putin uma coisa que o chefe do Kremlin promete, mas não tem nem para seu próprio povo.
Chegam 3,5 milhões de vacinas Moderna doadas pelos EUA. Fato foi humilhante para o peronismo e para o Kremlin. |
É o caso do ministro Ginés González Garcia, responsável pela lei de aborto, e outros políticos que ocupam ministérios ou governações importantes.
Para “La Nación” o panorama se assemelha às fantasias doentias que enchiam os complôs no tempo da URSS de Stalin.
A conclusão sensata é: não confie na guerra da informação que Moscou promove com suas vacinas e seus correspondentes ocidentais porque são motivados por objetivos ideológicos e de dominação política, sem se interessar por coisas tão importantes como a saúde de povos inteiros.
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