Meninos e meninas são treinados no uso de armas letais. Na foto, centro de treino em Noginsk, perto de Moscou |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A educação das crianças na Rússia de Putin é assustadoramente oposta ao que nós transmitimos a nossos filhos, segundo se depreende de reportagem do “The New York Times”.
O jornal americano descreve o espírito belicista que está sendo inculcado na juventude, em função de um conflito apresentado como iminente e atribuído demagogicamente aos “diabólicos” capitalistas ocidentais.
O governo russo inculca nas crianças essa paranoia para que aceitem a necessidade de se consagrar ao preparo para a guerra limpa ou suja, à mídia oficial e à cismática Igreja Ortodoxa.
O ideal proposto é ir até o ponto de dar a vida por essas instituições como aconteceu na II Guerra Mundial sob a foice e o martelo.
A educação “patriótica militar” delirante é prioritária e justifica que as crianças levem botas pesadas e uniformes militares, que treinem com armas de guerra e fogo real, luta corpo a corpo com punhais, inclusive as meninas.
Murais excitam a imitar os 'heróis soviéticos' da II Guerra Mundial |
Ele se referia à concentração de tropas na fronteira da Ucrânia, que inspira o temor de uma invasão iminente.
A militarização constante da sociedade russa sob o presidente Vladimir Putin parece ter acostumado a muitos com a ideia de que “a batalha final” poderia estar chegando.
“As autoridades estão vendendo ativamente a ideia de guerra”, disse Dmitry Muratov, editor do jornal russo independente "Novaya Gazeta" que dividiu o Prêmio Nobel da Paz 2021, mas que teve seis jornalistas assassinados após a ascensão de Putin. Cfr. Anna Politkovskaya
O Novaya Gazeta tem sua sede em Moscou e uma circulação entre quase 200.000 leitores. Cfr. Wikipedia
Há muitos sinais de que o governo está se preparando para o conflito. O Kremlin quer aumentar drasticamente a “educação patriótica” atraindo pelo menos 600.000 crianças de até oito anos a um exército jovem uniformizado. Como nos tempos de Hitler.
Na televisão estatal, programas políticos como “Moscou. Kremlin. Putin” descrevem um golpe fascista em curso na Ucrânia e o Ocidente tramando a destruição da Rússia.
A ateia 'catedral das Forças Armadas Russas' aonde as crianças devem peregrinar |
Alexei Levinson, chefe de pesquisa sociocultural do Levada Center, um pesquisador independente de Moscou, chama a tendência de “militarização da consciência” dos russos. 62% da população teme uma guerra mundial em 2022, o índice mais alto desde 1994.
O Kremlin aplica sua versão da II Guerra Mundial aos dias atuais, omitindo as 27 milhões de vidas perdidas, posicionando a Rússia como mais uma vez ameaçada por inimigos empenhados em sua destruição.
No discurso do Dia da Vitória de 2021, Putin atacou os inimigos não identificados da Rússia que estariam reeditando a “teoria delirante” dos nazistas.
“Há uma transposição dessa vitória” – na Segunda Guerra Mundial – “para o confronto atual com o bloco da Otan”, diz Levinson.
Simulacro de campo de batalha 'patriótica' junto à 'catedral' da guerra ateia |
Os “meninos romeiros” devem caminhar entre trincheiras cobertas de neve em uma linha de frente simulada.
Sob a cúpula da igreja, podem entrar numa réplica em miniatura de um tanque de guerra.
Em Moscou, Sergei Kiriyenko, o poderoso vice-chefe do gabinete de Putin, elogiou os mestres ou “voluntários da vitória” que fazem essa “instrução sagrada”.
Em uma pesquisa Levada publicada em novembro de 2021, 39% dos russos disseram que a guerra entre a Rússia e a Ucrânia é inevitável e que os EUA e a NATO são os culpados.
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