domingo, 13 de fevereiro de 2022

Putin apaga lembrança dos crimes de massa comunistas

Historiador Yury Dmitrieyev condenado por tirar à luz os crimes soviéticos
Historiador Yury Dmitrieyev condenado por tirar à luz os crimes soviéticos
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








O historiador russo Yury Dmitrieyev, especialista no estudo da repressão estalinista foi condenado a 15 anos de prisão por uma acusação que, segundo o sentir geral de advogados e peritos é uma montagem infamante para abafar a injusta repressão, no pior estilo estalinista, de Vladimir Putin.

Dmitrieyev, 65 anos, pertence à organização não-governamental (ONG) Memorial, dedicada à preservação da memória das vítimas dos campos de trabalho forçado estalinistas (‘gulag’). Poucos dias depois essa foi extinta em dois processos, divulgou o “Diário de Notícias”.

A condenação de Yury Dmitrieyev acrescenta dois anos à facciosa sentença proferida em 2020, no mesmo caso, por um tribunal em Petrozavodsk, na Carélia, norte da Rússia, onde o condenado dirigia uma filial de Memorial.

Memorial considera que Dmitrieyev é um preso político e denunciou que o verdadeiro motivo do seu julgamento é a “atividade para preservar a memória das repressões políticas” da era soviética.



A Memorial é um dos pilares da sociedade civil russa desde a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), há 30 anos. A ONG foi indiciada pelo regime como “agente estrangeiro” (indivíduos ou organizações que, de acordo com as autoridades russas, são financiados a partir do exterior).

Gulags, os campos do trabalho forçado e do exterminio
Gulags, os campos do trabalho forçado e do exterminio
Para muitas organizações, o regime fez pagar a Dmitrieyev sua investigação sobre a extensão da repressão estalinista.

A Presidência russa tenta minimizar a página da História que massacrou dezenas de milhões de vidas. Ela não quer fazer sombra ao discurso oficial sobre o heroísmo e a grandeza da Rússia, herdeira da URSS, que Putin promove.

O investigador passou décadas localizando valas comuns e exumando os restos mortais das vítimas da repressão comunista.

Sob a orientação de Vladimir, um antigo oficial do KGB, a FSB policia de enormes poderes que sucedeu à polícia política de Stalin, reduziu drasticamente o acesso aos arquivos estatais sobre esses assuntos.

As identidades dos assassinos que efetuaram os expurgos foram cobertas com um manto de segredo.

Em 2009, a ONG Memorial, Oleg Orlov, Sergei Kovalev e Lyudmila Alexeyeva foram galardoados com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento pelo Parlamento Europeu.

Memorial trabalhava recuperando os sitios de morte e os restos mortais das vítimas.
Memorial trabalhava recuperando os sítios de morte e os restos mortais das vítimas.
Em dezembro de 2021, o Parlamento Europeu condenou as “repetidas perseguições e as recentes tentativas políticas das autoridades russas para encerrar as duas entidades jurídicas da ONG Memorial: International Memorial e o Centro de Direitos Humanos Memorial”.

Putin nem ligou: conhece a falta de seriedade e inconsistência dos pronunciamentos desse Parlamento.

Os eurodeputados apelaram para que fossem retiradas todas as acusações contra a ONG Memorial e para que ela tivesse todas as garantias de “continuar a realizar com segurança o seu importante trabalho sem interferência do Estado”.

A Suprema Corte da Rússia ordenou dissolver o grupo depois de um ano de intensa repressão à oposição no país, quando o dissidente Alexei Navalni foi primeiro envenenado e depois preso e muitos de seus colaboradores foram forçados a fugir, noticiou “Yahoo!”.

A promotoria russa forjou a acusação de ter agido “de maneira sistemática” como “agente estrangeiro”.

A Igreja Católica poucos anos atrás sofreu idêntica ameaça. Moscou também se autojustifica alegando que quer impedir o extremismo financiado por influências estrangeiras.

John Sullivan, embaixador dos EUA na Rússia, qualificou a decisão de “tentativa trágica de suprimir a liberdade de expressão e apagar a história”.

Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disse que o acordão é “incompreensível” e que levanta grandes preocupações.

Restos da 'estrada de Stalin' que viram passar centenas de milhares de assassinados. Puttn não quer que se investigue.
Restos da 'estrada de Stalin' que viram passar centenas de milhares de assassinados.
Putin não quer que se investigue.
Há três décadas o Memorial International vinha se destacando como o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos, incluindo o vencedor do Prêmio Nobel da Paz e físico nuclear Andrei Sakharov.

Ele visou preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Stálin.

O desagrado que causava a Putin era evidente, disse Oleg Orlov, um membro do conselho do Memorial, fora do tribunal.

A ONG montou um banco de dados com os nomes de mais de três milhões de vítimas exterminadas, apenas um quarto do número total, segundo estima a instituição.

O promotor asseverou ao tribunal russo que Memorial colou na União Soviética a falsa imagem de “estado terrorista” e que “alguém” estava financiando essa atividade delitiva.

Memorial International publica metodicamente seu orçamento e a origem de seu financiamento externo, oriundo de apoiadores e fundos da Polônia, Alemanha, Canadá e República Tcheca.

A acusação de servir a “agentes estrangeiros” foi criada em 2012 no auge do período de Putin visando sufocar a oposição.

Em outro processo, a promotoria russa obteve a dissolução do Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Memorial , órgão da mesma rede que confeccionou uma lista de atuais presos políticos na Rússia.

A ficção acusatória diz que o Centro “justifica atividades terroristas”, segundo recolheu o jornal “The New York Times”.


Um comentário:

  1. A paz de Cristo.

    Putin está enroscado agora com a sua tentativa de invasão na Ucrânia, mas ele é festejado por muitos conservadores que crêem ser ele, um democrata de "direita". O passado de Putin na antiga KGB diz exatamente o contrário disso.

    Oremos.

    Salve Maria!

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