Historiador Yury Dmitrieyev condenado por tirar à luz os crimes soviéticos |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O historiador russo Yury Dmitrieyev, especialista no estudo da repressão estalinista foi condenado a 15 anos de prisão por uma acusação que, segundo o sentir geral de advogados e peritos é uma montagem infamante para abafar a injusta repressão, no pior estilo estalinista, de Vladimir Putin.
Dmitrieyev, 65 anos, pertence à organização não-governamental (ONG) Memorial, dedicada à preservação da memória das vítimas dos campos de trabalho forçado estalinistas (‘gulag’). Poucos dias depois essa foi extinta em dois processos, divulgou o “Diário de Notícias”.
A condenação de Yury Dmitrieyev acrescenta dois anos à facciosa sentença proferida em 2020, no mesmo caso, por um tribunal em Petrozavodsk, na Carélia, norte da Rússia, onde o condenado dirigia uma filial de Memorial.
Memorial considera que Dmitrieyev é um preso político e denunciou que o verdadeiro motivo do seu julgamento é a “atividade para preservar a memória das repressões políticas” da era soviética.
A Memorial é um dos pilares da sociedade civil russa desde a queda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), há 30 anos. A ONG foi indiciada pelo regime como “agente estrangeiro” (indivíduos ou organizações que, de acordo com as autoridades russas, são financiados a partir do exterior).
Gulags, os campos do trabalho forçado e do exterminio |
A Presidência russa tenta minimizar a página da História que massacrou dezenas de milhões de vidas. Ela não quer fazer sombra ao discurso oficial sobre o heroísmo e a grandeza da Rússia, herdeira da URSS, que Putin promove.
O investigador passou décadas localizando valas comuns e exumando os restos mortais das vítimas da repressão comunista.
Sob a orientação de Vladimir, um antigo oficial do KGB, a FSB policia de enormes poderes que sucedeu à polícia política de Stalin, reduziu drasticamente o acesso aos arquivos estatais sobre esses assuntos.
As identidades dos assassinos que efetuaram os expurgos foram cobertas com um manto de segredo.
Em 2009, a ONG Memorial, Oleg Orlov, Sergei Kovalev e Lyudmila Alexeyeva foram galardoados com o Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento pelo Parlamento Europeu.
Memorial trabalhava recuperando os sítios de morte e os restos mortais das vítimas. |
Putin nem ligou: conhece a falta de seriedade e inconsistência dos pronunciamentos desse Parlamento.
Os eurodeputados apelaram para que fossem retiradas todas as acusações contra a ONG Memorial e para que ela tivesse todas as garantias de “continuar a realizar com segurança o seu importante trabalho sem interferência do Estado”.
A Suprema Corte da Rússia ordenou dissolver o grupo depois de um ano de intensa repressão à oposição no país, quando o dissidente Alexei Navalni foi primeiro envenenado e depois preso e muitos de seus colaboradores foram forçados a fugir, noticiou “Yahoo!”.
A promotoria russa forjou a acusação de ter agido “de maneira sistemática” como “agente estrangeiro”.
A Igreja Católica poucos anos atrás sofreu idêntica ameaça. Moscou também se autojustifica alegando que quer impedir o extremismo financiado por influências estrangeiras.
John Sullivan, embaixador dos EUA na Rússia, qualificou a decisão de “tentativa trágica de suprimir a liberdade de expressão e apagar a história”.
Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disse que o acordão é “incompreensível” e que levanta grandes preocupações.
Restos da 'estrada de Stalin' que viram passar centenas de milhares de assassinados. Putin não quer que se investigue. |
Ele visou preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Stálin.
O desagrado que causava a Putin era evidente, disse Oleg Orlov, um membro do conselho do Memorial, fora do tribunal.
A ONG montou um banco de dados com os nomes de mais de três milhões de vítimas exterminadas, apenas um quarto do número total, segundo estima a instituição.
O promotor asseverou ao tribunal russo que Memorial colou na União Soviética a falsa imagem de “estado terrorista” e que “alguém” estava financiando essa atividade delitiva.
Memorial International publica metodicamente seu orçamento e a origem de seu financiamento externo, oriundo de apoiadores e fundos da Polônia, Alemanha, Canadá e República Tcheca.
A acusação de servir a “agentes estrangeiros” foi criada em 2012 no auge do período de Putin visando sufocar a oposição.
Em outro processo, a promotoria russa obteve a dissolução do Centro de Defesa dos Direitos Humanos do Memorial , órgão da mesma rede que confeccionou uma lista de atuais presos políticos na Rússia.
A ficção acusatória diz que o Centro “justifica atividades terroristas”, segundo recolheu o jornal “The New York Times”.
A paz de Cristo.
ResponderExcluirPutin está enroscado agora com a sua tentativa de invasão na Ucrânia, mas ele é festejado por muitos conservadores que crêem ser ele, um democrata de "direita". O passado de Putin na antiga KGB diz exatamente o contrário disso.
Oremos.
Salve Maria!