Vala comum de vítimas de Stálin em Levashovo, São Petersburgo. Muitos russos querem saber o destino final de seus antepassados. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
A partir de 1993, Andrei Zhukov percorreu, pelo menos três dias por semana durante duas décadas, os arquivos de Moscou, vasculhando hora após hora as pilhas de ordens emanadas pela NKVD, a polícia secreta de Joseph Stálin continuada pela KGB onde se formou Vladimir Putin.
Ele procurou e encontrou muitos nomes de oficiais e seus respectivos cargos hierárquicos na organização.
Foi a primeira pesquisa metódica sobre os homens que executaram o “Grande Terror” de Stálin entre 1937 e 1938.
Nesse período da ditadura socialista foram presas pelos menos 1,5 milhão de pessoas, 700 mil das quais foram friamente fuziladas.
Oficial da NKVD |
Mas sim o primeiro a identificar os investigadores e os algozes que cumpriram a sádica missão.
E na lista há mais de 40 mil nomes!
Zhukov disse que não agiu por motivações políticas:
“Eu sempre fiquei interessado em coisas secretas ou difíceis de achar.
“Comecei isto apenas com um instinto de colecionador”, disse, segundo “The Guardian” de Londres.
Mas os historiadores perceberam a importância de seu trabalho.
A organização Memorial, a mais importante em recuperar a lembrança das vítimas chacinadas e dos locais de horror onde passaram seus últimos dias, publicou um CD com o banco de dados dos nomes e o postou na Internet.
Foram anos de meticuloso trabalho porque a polícia secreta tinha uma ampla faixa de atividades além das prisões e execuções.
“Não todos na lista foram açougueiros, até alguns foram assassinados por não executarem os crimes ordenados.
“Mas a vasta maioria estava ligada ao terror”, comentou Yan Rachinsky, copresidente de Memorial.
Grupo de agentes da NKVD
Nikita Petrov, outro historiador de Memorial, sublinhou que “trabalhar na NKVD era prestigioso.
“Nos inícios dos anos 1930, marcados pela pobreza e pela fome, recebia-se para comer bem e ganhava-se um belo uniforme.
“Aqueles que entravam não sabiam que dentro de cinco anos estariam sentenciando milhares de pessoas à morte”, acrescentou.
Cenotáfio aos religiosos assassinados em Levashovo |
Rachinsky acha que uma lista completa somaria aproximadamente 12 milhões de nomes, incluindo os deportados ou sentenciados por razões políticas.
Acresce-se que em algumas regiões os algozes locais nunca confeccionaram listagens das vítimas, enquanto em outras os arquivos permanecem fechados.
O jornalista Sergey Parkhomenko lançou a campanha Endereço Final, instalando alguns milhares de placas onde morreram vítimas do socialismo estalinista para lhes render uma derradeira homenagem.
Dos 40.000 agentes registrados por Zhukov, cerca de 10% acabaram sendo executados, encarcerados ou enviados aos campos de concentração.
Alguns voltaram quando Stálin precisou de homens para combater na II Guerra Mundial. Até ganharam medalhas ou se dedicaram a cometer mais homicídios.