domingo, 24 de setembro de 2017

Nomes dos carrascos da polícia secreta estalinista
saem a público

Cemitério de vítimas de Stalin em Levashovo, São Petersburgo. Muitos russos querem saber o destino final de seus antepassados.
Vala comum de vítimas de Stálin em Levashovo, São Petersburgo.
Muitos russos querem saber o destino final de seus antepassados.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





A partir de 1993, Andrei Zhukov percorreu, pelo menos três dias por semana durante duas décadas, os arquivos de Moscou, vasculhando hora após hora as pilhas de ordens emanadas pela NKVD, a polícia secreta de Joseph Stálin continuada pela KGB onde se formou Vladimir Putin.

Ele procurou e encontrou muitos nomes de oficiais e seus respectivos cargos hierárquicos na organização.

Foi a primeira pesquisa metódica sobre os homens que executaram o “Grande Terror” de Stálin entre 1937 e 1938.

Nesse período da ditadura socialista foram presas pelos menos 1,5 milhão de pessoas, 700 mil das quais foram friamente fuziladas.

Oficial da NKVD
Oficial da NKVD
Na verdade, não foi o primeiro estudo sobre os líderes da NKVD nesse monstruoso crime.

Mas sim o primeiro a identificar os investigadores e os algozes que cumpriram a sádica missão.

E na lista há mais de 40 mil nomes!

Zhukov disse que não agiu por motivações políticas:

“Eu sempre fiquei interessado em coisas secretas ou difíceis de achar.

“Comecei isto apenas com um instinto de colecionador”, disse, segundo “The Guardian” de Londres.

Mas os historiadores perceberam a importância de seu trabalho.

A organização Memorial, a mais importante em recuperar a lembrança das vítimas chacinadas e dos locais de horror onde passaram seus últimos dias, publicou um CD com o banco de dados dos nomes e o postou na Internet.

Foram anos de meticuloso trabalho porque a polícia secreta tinha uma ampla faixa de atividades além das prisões e execuções.

“Não todos na lista foram açougueiros, até alguns foram assassinados por não executarem os crimes ordenados.

Grupo de agentes da NKVD
Grupo de agentes da NKVD
“Mas a vasta maioria estava ligada ao terror”, comentou Yan Rachinsky, copresidente de Memorial.

Nikita Petrov, outro historiador de Memorial, sublinhou que “trabalhar na NKVD era prestigioso.

“Nos inícios dos anos 1930, marcados pela pobreza e pela fome, recebia-se para comer bem e ganhava-se um belo uniforme.

“Aqueles que entravam não sabiam que dentro de cinco anos estariam sentenciando milhares de pessoas à morte”, acrescentou.

Cenotáfio aos religiosos assassinados em Levashovo
Cenotáfio aos religiosos assassinados em Levashovo
O banco de dados de Memorial sobre as vítimas da repressão socialista soviética contém por volta de 2.700.000 nomes e mais 600.000 devem ser acrescentados ao longo de 2017.

Rachinsky acha que uma lista completa somaria aproximadamente 12 milhões de nomes, incluindo os deportados ou sentenciados por razões políticas.

Acresce-se que em algumas regiões os algozes locais nunca confeccionaram listagens das vítimas, enquanto em outras os arquivos permanecem fechados.

O jornalista Sergey Parkhomenko lançou a campanha Endereço Final, instalando alguns milhares de placas onde morreram vítimas do socialismo estalinista para lhes render uma derradeira homenagem.

Dos 40.000 agentes registrados por Zhukov, cerca de 10% acabaram sendo executados, encarcerados ou enviados aos campos de concentração.

Alguns voltaram quando Stálin precisou de homens para combater na II Guerra Mundial. Até ganharam medalhas ou se dedicaram a cometer mais homicídios.



domingo, 17 de setembro de 2017

Rússia: uma economia “africana” que sonha com a URSS deitada sobre 7.000 bombas atômicas

Venda de pães e doces perto da estrada de Novgorod
Venda de pastéis perto da estrada de Novgorod
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
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Segundo avaliação do jornal espanhol “El Mundo”, a Rússia é uma superpotência militar com uma economia terceiro-mundista.

A Rússia está muito aquém da Espanha, pois tem o mesmo PIB (Produto Interior Bruto) e o triplo de população. Em outros termos, a renda per capita russa é um terço da espanhola.

Mais ainda, o PIB nominal per capita do Brasil – US$ 11.387 – está acima do russo: US$ 9.054. (Fonte: Brasil, Wikipedia; Rússia, Wikipedia). 

Como as perspectivas econômicas russas são as piores, o jornal lhe aplica pejorativamente o carimbo de “país do Terceiro Mundo”.

Exporta petróleo, gás natural e mais algumas matérias-primas, mas tem que importar todo o resto, porque não produz quase nada. É o esquema de uma economia de país pobre, diz o jornal.

A exceção são as exportações de material militar, em grande parte destinadas a antigos clientes da União Soviética, cujos exércitos só conhecem o armamento russo.

Mas esses compradores são cada vez menos confiáveis e se interessam sempre menos pelas antigualhas russas malgrado as melhorias cosméticas.

domingo, 10 de setembro de 2017

Beato Teófilo Matulionis: primeiro lituano
mártir do comunismo nos altares

Na cerimônia da beatificação de D. Matulionis em Vilnius, seu quadro é exposto à veneração religiosa dos fiéis.
Na cerimônia da beatificação de D. Matulionis em Vilnius,
seu quadro é exposto à veneração religiosa dos fiéis.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Dezenas de milhares de católicos concentrados no último dia 25 de junho diante da Catedral de Vilnius, capital da Lituânia, assistiram à beatificação de Dom Matulionis, Bispo de Kaisiadorys.

Herói da resistência ao comunismo e mártir, foi assassinado em 1962 pela sanha impiedosa dos esbirros da Moscou soviética.

A cerimônia da beatificação foi dirigida pelo Cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

Figura ímpar da Hierarquia católica do pequeno país báltico, o primeiro a se levantar contra o colosso soviético em 1990, ao proclamar a sua tão desejada independência sem apoio algum das potências ocidentais.

O Beato Teófilo Matulionis é modelo de fidelidade à fé e de santa intransigência em face dos inimigos da Igreja.

Retorno da Lituânia ao redil da Santa Igreja

domingo, 3 de setembro de 2017

Putin manda silenciar crimes de Stalin

Em 1997, o historiador Yury Dmitrieyev localizou o túmulo de massa de Sandarmokh, Carélia, onde 9500 prisioneiros foram mortos por ordem de Stalin
Em 1997, Yury Dmitrieyev localizou o túmulo de massa de Sandarmokh, Carélia,
onde perto de 9.000 prisioneiros foram assassinados por ordem de Stalin
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Yury Dmitrieyev, líder de Memorial, a mais antiga organização de defesa dos direitos humanos da Rússia, dedicou décadas de sua vida a encontrar os lugares onde a polícia política de Stalin, a NKVD, executou milhares de opositores durante o Grande Terror da década de 1930.

Mas isso não agradou Vladimir Putin, ex-coronel da KGB, continuadora da NKVD, que mandou prendê-lo e processá-lo com acusações pelo menos duvidosas, escreveu “Slate”.

No dia 5 de agosto foi o 20º aniversário da descoberta do local da carnificina de Sandormokh, no noroeste da Rússia. Ali foi localizado um dos maiores túmulos coletivos deixados pela URSS, com os restos de mais de 6.000 prisioneiros assassinados no Grande Terror dos anos 1930.

Yury Dmitrieyev foi o primeiro a identificar esse imenso cemitério clandestino em 1997. Porém, não poderá assistir à comemoração do 20º aniversário da descoberta.

Em dezembro de 2016 ele foi encarcerado em circunstâncias estranhas, segundo noticiou o jornal britânico “The Guardian”.

A montagem da acusação faz lembrar procedimentos utilizados no Ocidente para destituir um bispo considerado “conservador”: uma acusação desmoralizadora de nível sexual com crianças negada pela vítima e nunca satisfatoriamente comprovada.

Os membros da reputada associação Memorial têm como certo tratar-se de uma manobra política do regime. Este visa silenciar um opositor que revelava o lado oculto da história russa que o Kremlin quer apagar das memórias.

Sandormokh é um local de romaria até para poloneses. Putin quer silenciar os crimes de seu 'modelo' Stalin
Sandormokh é um local de romaria até para poloneses.
Putin quer silenciar os crimes de seu 'modelo' Stalin
Yury Dmitrieyev escreveu vários livros listando nomes e locais dos cemitérios clandestinos das vítimas do comunismo estalinista. Para ele, é necessário “instruir as pessoas” para que “o governo reconheça sua parte de responsabilidade”.

Obviamente, o Kremlin não quer saber de responsabilidade alguma. Em junho, Vladimir Putin defendeu que “a demonização excessiva de Stalin era um modo de atacar a União Soviética e a Rússia”.

Em certas cidades estão sendo erigidas estátuas para glorificar Stalin, o mais cruel ditador comunista russo. E no mesmo mês de junho, uma sondagem montada pelo governo constatava que na Federação Russa o grande autor das chacinas coletivas estava à testa dos personagens “mais destacados de todos os tempos”.

Vladimir Putin figurava humildemente na segunda posição, atrás do homem que ele declara ser seu modelo.

“Durante o Grande Terror, as represálias políticas, os homicídios, as execuções sem julgamento eram a regra. Agora, as perseguições, as detenções, a violência policial contra as manifestações de rua também viraram regra na Rússia”, deplorou Irina Flige, diretora de Memorial em São Petersburgo. Ela participou da descoberta do cemitério clandestino de Sandormokh juntamente com Dmitriyev.

O processo contra Dmitriyev já começou. Lev Shcheglov, presidente do Instituto Nacional de Sexologia de Moscou, testemunhou no processo que as fotos pegas com Dmitriyev nada tinham a ver com a pedopornografia de que o dissidente era acusado.

O tribunal então mudou a acusação para “atos perversos” e porte ilegal de armas, por causa de um fuzil velho de 60 anos.

Mais de 30.000 pessoas assinaram uma petição online reclamando contra a manifesta falta de Justiça e pedindo a restauração da legalidade no caso de Dmitriyev.

A imprensa estatal, porém, continua acusando-o de pedofilia e denigrando a Memorial como um grupo de subversivos que age contra o governo.

A floresta de Sandormokh é um imenso memorial das vítimas do comunismo
A floresta de Sandormokh é um imenso memorial das vítimas do comunismo
Numa vasta floresta entre o Lago Onega e a fronteira com a Finlândia, 6.241 prisioneiros foram massacrados nos campos de concentração pela NKVD em 1937-8.

Eles eram obrigados a se deitarem com o rosto na areia e recebiam um tiro de revólver na nuca, segundo o relato de “The Guardian”.

Ficaram sinais no chão da floresta, os quais permitiram a Yury Dmitriyev e ao Memorial a identificar o local desse crime de massa.

Próximo das ilhas Solovetsky, na região da Karelia, noroeste da Rússia, dezenas de milhares de prisioneiros foram mortos com um tiro ou afogados no infame canal do Mar Branco que Stalin mandou escavar num plano quinquenal.

No breve período na década de 1990 em que os arquivos da polícia secreta ficaram abertos, Dmitriyev registrou milhares de ordens de execução. Depois tentou identificar cada esqueleto com base nas sanguinárias ordens encontradas.

O percurso registrado de 1.111 prisioneiros, que incluía muitos líderes políticos, culturais e religiosos de toda a União Soviética, levou-o até Sandormokh.

Flige, Dmitriyev e Veniamin Iofe refizeram o percurso dos condenados a partir do testemunho do carrasco Mikhail Matveyev, e encontraram uma pilha de caveiras, entre as quais de algumas crianças.

Hoje, na floresta, em simples oratórios de madeira ou colados em troncos de árvores, podem-se ver lembranças fúnebres com os nomes de algumas vítimas, e até suas fotografias.

De início, as autoridades locais aprovaram a iniciativa construindo uma estradinha e uma capela. Mas desde o ano passado nenhum representante do governo comparece à comemoração da descoberta.

O mal-estar popular pela inimizade do governo com a memória das vítimas de Sandormokh cresceu desde que Putin invadiu a Crimeia.

Os ucranianos descendentes de inúmeras das vítimas não puderam comparecer. Também os poloneses ficaram intimidados. Para coroar o descontentamento, Dmitriyev condenou num discurso o apoio do Kremlin aos separatistas do leste da Ucrânia.

Memorial informou que 40.000 ex-membros da polícia secreta da era soviética receberam ameaças telefônicas para não cooperarem de alguma forma na investigação dos crimes do socialismo na URSS.


Sandormokh: entre os mais de 7.000 homens assassinados pelo comunismo havia muitos finlandeses