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Para Putin a queda de Ianukovich
foi a pior das derrotas |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
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A vitória em Kiev de um movimento anticomunista, patriótico e religioso significou para Vladimir Putin “a maior derrota desde que chegou ao Kremlin, como premiê, em 1999”, segundo o jornal “O Estado de S.Paulo” (28.02.14).
Bem no estilo viperino e cruel de seus predecessores na URSS o revide foi inspirado pelo espírito de vingança, como observou a “Folha de S.Paulo” (01.03.14). Mas em política a desforra induz a desastres.
A Criméia foi o primeiro alvo dessa vingança. As circunstâncias militares, sociais e históricas favoreciam uma invasão ilegal.
A brutalidade dos procedimentos de Putin, o desrespeito generalizado de acordos assinados, a falsidade de suas declarações logo desmentidas pelos fatos por ele encomendados, revelam uma fera ferida, acuada, que com rugidos tenta dissimular seu estado de fraqueza e falta de apoio popular.
“A Rússia está preocupada, porque não esperava uma saída tão rápida de Víktor Yanukóvytch” disse Alexander Konovalov, do Instituto de Estudos Estratégicos.
Aquela que é o berço da Rússia histórica – a Ucrânia – disse não ao Kremlin e sim à sua independência.
As manifestações nas províncias orientais da Ucrânia estão sendo engrossadas com “russos do outro lado da fronteira — turistas de protestos”, enviados em ônibus por Moscou, observou Andrew Roth, do
New York Times.
Roth esclareceu que “a presença de cidadãos russos e relatos de ônibus cheios de ativistas que chegam da Rússia sugerem um alto grau de coordenação com Moscou”.
A importação de agitadores sugere que nas províncias ucranianas que falam russo os cidadãos não estão dispostos a fazerem uma revolução para cair nas garras do Kremlin.
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Putin ruge para ocultar sua fraqueza. |
Então, Putin precisa enviar gente paga. Já vimos muito disso no Brasil com militantes “sem terra” e assemelhados pagos para manifestarem nas cidades ou invadirem fazendas no campo. Sem paga diária não se movimentam.
“Quando milhares de manifestantes pró-russos em Kharkiv invadiram um prédio do governo no sábado, foi um moscovita de 25 anos, hospedado em um hotel ao lado da praça, que escalou o prédio, retirou a bandeira ucraniana e hasteou a bandeira da Rússia. Identificado como Mikhail Chuprikov, funcionários do hotel confirmaram o check-in dele. Com um passaporte russo”, acrescentou Roth.
Putin precisou bloquear as redes sociais ocidentais, pois nos foros de discussão, os cidadãos apoiavam massivamente a causa da Ucrânia livre.
Para o ditador do Kremlin ficou a rede social
VKontakte (uma contrafação de Facebook).
Porém, também nela os censores da agência de vigilância das comunicações Roskomnadzor têm muito trabalho cortando as opiniões discordantes do regime e de uma eventual guerra na Criméia provocada pela Rússia.
Embora Putin tenha despachado grandes contingentes de tropa para a Criméia, dando a impressão que o Golias russo esmaga o Davi ucraniano, as coisas não são tão claras do lado militar.
Os dois lados sofrem pela falta de modernização das respectivas forças armadas.
Acresce que os números sete ou oito vezes superiores do exército russo são enganosos, porque o fator que pode decidir num conflito é o ânimo dos eventuais contendentes.
E o ânimo das forças ucranianas inferiores em número impressiona, como na cena em que soldados ucranianos marcham desarmados em direção a russos que disparam por cima de suas cabeças. Eles não se intimidam.
Em Kiev enormes filas de jovens se apresentam nos quarteis como voluntários para uma eventual guerra, ainda quando cartazes avisam que não se iniciou o recrutamento.
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Soldados ucranianos desarmados marcham contra tropa russa
que dispara por cima de suas cabeças |
Os ucranianos pensam em defender sua terra, a terra de seus pais, de sua família, do local onde nasceram.
Não pensam assim os soldados russos, muitas vezes trazidos de regiões longínquas e que não veem por que dar a vida por uma Criméia que nem sabem localizar no mapa.
“A verdade é que a maioria dos russos se opõe à intervenção na Ucrânia”, escreveu Vladimir V. Kara-Murza, para o “Washington Post”. “O Centro de Pesquisa de Opinião Pública Russo, estatal, admitiu que 73% dos russos são contra”, acrescentou Kara-Murza (O Globo, 6.3.2014).
Na Ucrânia o povo se une em função de um eventual enfrentamento. Mas, na Rússia o povo se divide e se multiplicam os protestos contra uma guerra em Crimeia, protestos esses rapidamente silenciados pela polícia política.
A apresentadora Liv Wahl da TV Russia Today criada por Putin para desinformar Ocidente e que emite desde Washington, em meio da transmissão anunciou que ela fazia causa comum com a Ucrânia e que abandonava essa TV pela insuportável manipulação das informações.
Dias antes, outra apresentadora da mesma estação, Abby Martin, denunciou a invasão da Crimeia por tropas russas.
Ainda na balança de forças militares, o número de soldados de que Putin disporia para um conflito parece reduzido. A causa é que o chefe do Kremlin deve aplicar muita tropa em regiões que estão em virtual ou real revolta contra ele, como a Chechênia.
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Ocidente não pode fraquejar como fez ante Hitler sob pena de uma guerra universal |
Dessa maneira, a brutalidade e arbitrariedade do procedimento de Putin, servem para mascarar que o Colosso russo têm pés de barro.
O grande fator que poderá inclinar a balança do lado russo é a indecisão e vontade de entregar os pontos por parte de Ocidente.
Essa fraqueza ocidental pode transformar qualquer acordo com a Rússia em um novo acordo de Munique, onde a Inglaterra e a França abaixaram a cabeça diante das provocações de Hitler nos Sudetos com o pretexto de evitar a guerra.
E assim prepararam a maior guerra mundial que o mundo já padeceu...