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Rússia cortou o gás para a Europa via gasoduto Yamal |
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Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs
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A empresa russa Gazprom fechou o gasoduto que passa pela Polônia rumo a Europa, em represália contra as sanções da União Europeia e do G7, que querem reduzir ao mínimo sua dependência da Rússia que se tem mostrado um parceiro não confiável e até criminoso na invasão da Ucrânia, noticiou
“El Mundo”.
A gigante
Gazprom manifestou em comunicado colhido pela AFP, que sua decisão “significa a proibição de usar um gasoduto pertencente ao grupo
EuRoPol GAZ [responsável pela parte polonesa do gasoduto
Yamal-Europa] para transportar gás russo via Polônia”.
O governo de Putin puniu mais de 30 empresas da UE, EUA e Singapura. Entre eles, a mais decisiva
EuRoPol GAZ S.A., proprietária da parte polonesa do gasoduto
Yamal-Europa.
No mesmo dia,
o ministro alemão da Energia, Robert Habeck, acusou a Rússia de usar a energia como “uma arma de várias maneiras”. O corte é sensível para quatro países, e a Alemanha é a mais prejudicada.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, exortou a UE a reduzir sua dependência energética da Rússia.
“O oxigênio energético da Rússia deve ser desconectado”, disse Kuleba em entrevista coletiva. “A Rússia mostrou que não é um parceiro confiável”, acrescentou.
A perspectiva é que se os preços aumentarem não drasticamente, os europeus terão que apertar o cinto.
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Percurso do gasoduto Yamal |
Mas
se Moscou fechar completamente, haverá racionamento forçado, uma redução significativa do fornecimento e até um teto geral em todo o continente, concluiu a Comissão Europeia, órgão máximo da EU, acrescentou
“El Mundo”.
A UE estuda mais sanções ao petróleo russo antes do final do ano e a Rússia responde com punições contra empresas europeias.
O corte do gasoduto Yamal direcionado à Alemanha através da Polônia, fez os preços futuros disparar a mais de quatro vezes o preço de um ano atrás.
Se a Rússia cortar completamente os envios, o efeito será brutal para a Europa e sua economia e não haverá escolha a não ser o racionamento.
Acresce que Bruxelas está tentando aplicar imprudentes ideias de transição verde e de eficiência energética que vão lhe limitar as fontes de energia atuais.
A UE diz que tem planos nacionais de emergência e instou os estados membros a atualizarem os seus planos de contingência. Leia-se se preparem até para um racionamento.
A urgência é ter os depósitos cheios para os próximos outono e inverno que no hemisfério norte começam a partir de 21 de setembro.
Em caso de racionamento,
Bruxelas apela ao “princípio da solidariedade” visando ajudar os estados membros mais afetados, reduzindo o consumo das empresas.
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Putin inspeciona o gasoduto Yamal
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O problema é que essa solidariedade vem faltando nas relações entre os membros da UE, com muitas resistências populares às normas de Bruxelas.
A Comissão Europeia sabe que a decisão final é dos governos nacionais. Mas esse cada vez se afastam mais do sentimento popular e não se sabe o que aconteceria se o estrangulamento for máximo.
O
downsizing da indústria será aplaudido pelas minorias ecologistas que reclamam planos para “lockdowns climáticos” com drásticas reduções de atividade industrial, do consumo e até das liberdades e uma queda geral do nível de vida.
Mas poderiam produzir contra-reações populares, como disse britanicamente Lord Lipsey em debate da Câmara dos Lords: “se apresentássemos este relatório ao povo britânico, ele seria recebido: ‘Oh, você não pode estar falando sério’”.
Mas
o problema é sério: a Rússia está usando o gás e o petróleo como um bandido inescrupuloso usa uma arma de grosso calibre.
Em caso de emergência máxima, as discussões entre os países da UE podem rumar para o pior cenário.
Até o outono e o inverno europeus haverá alguma calma, mas chegando o frio não só o aumento do preço do gás causará atritos imprevisíveis.
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Percurso do gasoduto Yamal Europa e outros gasodutos |
“A menos que seja acompanhado de um corte notável” no consumo, observa a UE. Mas
isso enche de terror aos governantes e pode fazer explodir bombas sociais que as redes sub-reptícias de subversão russa não deixarão escapar. Já Putin insinuou os desmandos que poderiam acontecer no coração da Europa, até agora tão ordenada.
O corte russo criou um horizonte escuro de dúvidas no continente e fez esfregar as mãos de muito agente da FSB (ex-KGB) em Moscou.
O perigo de ficar sem gás no mercado é real, conclui “El Mundo”.
O mais paradoxal é que os perigos da chantagem energética russa puderam ser evitados na base e na própria origem do gasoduto Yamal hoje em foco.
E foi um brasileiro, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira que advertiu na “Folha de S.Paulo” em 24/10/1982.
Quarenta anos antes de esta chantagem se efetivar!
Eis um excerto do profético artigo:
Confira também: Dutos russos fazem hoje o que os tanques soviéticos faziam ontem
Para a corda de aço, escravos
Sirvo-me da documentação exuberante coletada pela analista política norte-americana dra. Juliana G. Pilon, Ph. D., que a benemérita
The Heritage Foudation, de Washington, publicou há pouco (16-9-82).
Trata-se de um estudo sobre a construção do gasoduto de Yamal, imensa corda de aço na qual Moscou pretende enforcar tanto a Europa oriental quanto a ocidental.
Pois tornará uma e outra dependentes do gás soviético para enfrentar os rigores do inverno.
O projeto Yamal será um dos maiores empreendimentos da Rússia. Custará cerca de 45 bilhões de dólares, e será financiado em sua maior parte com créditos ocidentais a juros baixos.
Alguns desses créditos têm juros de apenas 7,5% (cfr. depoimento do especialista Roger W. Robinson, do Chase Manhattan Bank, in
“Congressional Record”, vol. 128, n.° 65, de 25-5-82).
Alcançando por vezes o frio na Sibéria 50 graus abaixo de zero, compreende-se que o Kremlin não tenha conseguido preencher com trabalhadores livres grande parte dos empregos que a realização do projeto acarreta.
As estatísticas oficiais da Rússia calculam em cerca de dois milhões os empregos não preenchidos na Sibéria.
Considerando que há mais ainda a preencher nos outros ramos da construção pesada em território soviético, torna-se necessário o trabalho escravo nas obras que se realizam na Sibéria.
Daí ter havido um encontro entre Brejnev e o chefe comunista vietnamita Le Duan.
Do que resultou que o Vietnã pagaria suas dívidas para com o bloco soviético não com dinheiro, mas com trabalho escravo (cfr.
“Foreign Report” da revista
"The Economist" de 17-9-82).
Confira o original no ACERVO DA FOLHA DE S.PAULO. Ou em PLINICORREADEOLIVEIRA.INFO
Gazprom corta fornecimento de gás à Europa através da Polônia (agência EFE)