Drones impactam o Kremlin, um atentado muito psicológico |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Um misterioso ataque de drones ao Kremlin, um explosivo colocado em um carro que feriu um dos principais apoiadores da invasão da Ucrânia, secretário de Putin no Palácio Presidencial, quatro aeronaves militares de última geração derrubadas em um dia de testes, incêndios inexplicados por toda a Rússia além de um outro inexplicado no Ministério de Defesa e duas infiltrações de brigadas militares anti-Putin na fronteira sul, para só mencionarmos estos.
Com isso tudo dentro do país, a liderança do Kremlin “está tremendo”, escreveu Anna Nemtsova correspondente do “The Washington Post” que nunca viu tão grande abalo na cúpula do Kremlin.
Anna Nemtsova cobriu o regime de Vladimir Putin durante duas décadas e nunca viu tamanho caos e confusão. A toda hora os analistas do que se passa no cerne do regime putinista julgam ver sinais de intrigas palacianas verdadeiras ou falsas.
Drone ucraniano atinge base de Engels no interior da Rússia |
Em recentes vídeos Prigozhin xingou desbocadamente os principais comandantes militares russos e exige a punição do ministro da Defesa, Sergei Shoigu e do chefe do Estado-Maior Conjunto, general Valery Gerasimov.
O Kremlin carrega a sua óbvia corrupção e incompetência e os ucranianos intensificam sua guerra psicológica para exacerbar as divisões no regime herdeiro de Lenin e Stalin.
Ataques intensificados de drones a bases militares, refinarias de petróleo e depósitos de combustível (oficialmente não reconhecidos como o do Kremlin e o incêndio suspeito no Ministério de Defesa.)
Os ucranianos divulgam com insistência seus planos de contraofensiva que demora para sair, mas destrói os nervos russos.
Já tinham feito uma contra ofensiva surpreendentemente bem-sucedida para recuperar Kharkiv.
Prigozhin acusa os soldados do Exército Regular Russo de terem “fugido” da batalha em Bakhmut, acusa o alto comando de “traição à pátria” e promete ir a Moscou a acertar as contas com os deputados putinistas que defendem aos generais.
Prigozhin abandona Bakhmut xingando o alto comando russo |
Logo a seguir anunciou que retirava seus milicianos e deixava só dois deles para defende-la caso o exército regular russo não conseguisse fazê-lo. Uma bofetada na cara dos generais.
Mas Prigozhin também é acusado de traição, e não se sabe se suas bravatas não visam postula-lo para sucessor de Putin.
Moscou disfarça mal suas impressionantes perdas. E Prigozhin piora os dados anunciando que só em Bakhmut morreram 10.000 de seus milicianos (20.000 em toda a guerra) e que outros 14.000 recrutados nos cárceres sumiram para não voltar.
Analistas ocidentais estimam que desde o início os russos sofreram algo mais de 200.000 baixas, além de muitos milhares de tanques e veículos militares, aviões e helicópteros.
Os líderes russos mostram medo. Na grande festa da vitória sobre a Alemanha nazista em 1945, Vyacheslav Gladkov, governador de uma região perto da fronteira ucraniana, disse que cancelaria a parada.
Soldados russos prisioneiros chegariam a 16.000 |
“Ninguém nos explica como seria vencer esta guerra”, disse a senadora Lyudmila Narusova, viúva de Anatoly Sobchak, mentor político de Putin. Os objetivos de 'desnazificação' e 'desmilitarização” não foram atingidos. Ante os ucranianos armados e equipados pelos ocidentais, Narusova afirma que “a meta de desmilitarizar a OTAN é inatingível."
Ninguém mais entende o plano de vitória de Putin.
O líder checheno Ramzan Kadyrov, aliado de longa data de Prigozhin, parece ter cortado relações com o chefe de Wagner, e as três principais forças russas no cerco de Bakhmut – Wagner, as milícias chechenas e o Exército regular – lutam entre si enquanto as tropas ucranianas avançam.
Abbas Gallyamov, ex-redator de discursos de Putin, disse à jornalista do “The Washington Post” que o Kremlin "está tremendo". Kiev comemora a eficácia de sua guerra psicológica contra o regime russo.
Pela Rússia toda milhares patenteiam seu descontentamento com Putin |
Segundo o “The New York Times”, a profundidade das lutas internas no governo russo é mais ampla e profunda do que se acreditava segundo um novo conjunto de documentos de inteligência secretos que vazaram online.
A principal agência de inteligência doméstica da Rússia, o Serviço Federal de Segurança (FSB), “acusou” o Ministério da Defesa do país “de ofuscar as baixas russas na Ucrânia” reforçando as diatribes de Prigozhin.
Pelos documentos o presidente russo, Vladimir Putin, não conseguiu uma vitória militar por brigas internas e acusações entre agências russas responsáveis pela guerra.
Soldados russos anti-Putin executam incursões armadas em território russo |
Putin então resolveu prender três cientistas do o Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada em Novosibirsk que trabalharam nesses mísseis hipersônicos acusados de “traição”.
A saída semeou pânico nos cientistas que trabalham nos projetos militares russos. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, falou de uma carta aberta de cientistas siberianos defendendo os indiciados, alegando que os processos infligiriam sérios danos à ciência russa.
E não são os primeiros que caem nas rédeas da vingança ditatorial.