domingo, 28 de maio de 2023

O Kremlin treme de modo inusual

Drones impactam o Kremlim, um atentado muito psicológico
Drones impactam o Kremlin, um atentado muito psicológico
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Um misterioso ataque de drones ao Kremlin, um explosivo colocado em um carro que feriu um dos principais apoiadores da invasão da Ucrânia, secretário de Putin no Palácio Presidencial, quatro aeronaves militares de última geração derrubadas em um dia de testes, incêndios inexplicados por toda a Rússia além de um outro inexplicado no Ministério de Defesa e duas infiltrações de brigadas militares anti-Putin na fronteira sul, para só mencionarmos estos.

Com isso tudo dentro do país, a liderança do Kremlin “está tremendo”, escreveu Anna Nemtsova correspondente do “The Washington Post” que nunca viu tão grande abalo na cúpula do Kremlin.

Anna Nemtsova cobriu o regime de Vladimir Putin durante duas décadas e nunca viu tamanho caos e confusão. A toda hora os analistas do que se passa no cerne do regime putinista julgam ver sinais de intrigas palacianas verdadeiras ou falsas.

Drone ucraniano atinge base de Engels no interior da Rússia
Drone ucraniano atinge base de Engels no interior da Rússia
Aumenta a instabilidade o grande confidente de Putin, Yevgeniy Prigozhin, chefe da milicia preferida do ditador, o Wagner Group.

Em recentes vídeos Prigozhin xingou desbocadamente os principais comandantes militares russos e exige a punição do ministro da Defesa, Sergei Shoigu e do chefe do Estado-Maior Conjunto, general Valery Gerasimov.

O Kremlin carrega a sua óbvia corrupção e incompetência e os ucranianos intensificam sua guerra psicológica para exacerbar as divisões no regime herdeiro de Lenin e Stalin.

Ataques intensificados de drones a bases militares, refinarias de petróleo e depósitos de combustível (oficialmente não reconhecidos como o do Kremlin e o incêndio suspeito no Ministério de Defesa.)

Os ucranianos divulgam com insistência seus planos de contraofensiva que demora para sair, mas destrói os nervos russos.

Já tinham feito uma contra ofensiva surpreendentemente bem-sucedida para recuperar Kharkiv.

Prigozhin acusa os soldados do Exército Regular Russo de terem “fugido” da batalha em Bakhmut, acusa o alto comando de “traição à pátria” e promete ir a Moscou a acertar as contas com os deputados putinistas que defendem aos generais.

Prigozhin abandona Bakhmut xingando o alto comando russo
Prigozhin abandona Bakhmut xingando o alto comando russo
Prigozhin tirou propagandística foto no centro de Bakhmut anunciando a conquista de cidade onde ainda se combatia. Na realidade o centro já havia sido conquistado há tempo.

Logo a seguir anunciou que retirava seus milicianos e deixava só dois deles para defende-la caso o exército regular russo não conseguisse fazê-lo. Uma bofetada na cara dos generais.

Mas Prigozhin também é acusado de traição, e não se sabe se suas bravatas não visam postula-lo para sucessor de Putin.

Moscou disfarça mal suas impressionantes perdas. E Prigozhin piora os dados anunciando que só em Bakhmut morreram 10.000 de seus milicianos (20.000 em toda a guerra) e que outros 14.000 recrutados nos cárceres sumiram para não voltar.

Analistas ocidentais estimam que desde o início os russos sofreram algo mais de 200.000 baixas, além de muitos milhares de tanques e veículos militares, aviões e helicópteros.

Os líderes russos mostram medo. Na grande festa da vitória sobre a Alemanha nazista em 1945, Vyacheslav Gladkov, governador de uma região perto da fronteira ucraniana, disse que cancelaria a parada.

Soldados russos prisioneiros chegariam a 16.000
Soldados russos prisioneiros chegariam a 16.000
No Dia da Vitória de Putin, na Praça Vermelha, foi exibido um único tanque, relíquia de II Guerra Mundial, as tropas foram a metade em número do habitual, a força aérea só foi vista por um truque de imagem da TV oficial.

“Ninguém nos explica como seria vencer esta guerra”, disse a senadora Lyudmila Narusova, viúva de Anatoly Sobchak, mentor político de Putin. Os objetivos de 'desnazificação' e 'desmilitarização” não foram atingidos. Ante os ucranianos armados e equipados pelos ocidentais, Narusova afirma que “a meta de desmilitarizar a OTAN é inatingível."

Ninguém mais entende o plano de vitória de Putin.

O líder checheno Ramzan Kadyrov, aliado de longa data de Prigozhin, parece ter cortado relações com o chefe de Wagner, e as três principais forças russas no cerco de Bakhmut – Wagner, as milícias chechenas e o Exército regular – lutam entre si enquanto as tropas ucranianas avançam.

Abbas Gallyamov, ex-redator de discursos de Putin, disse à jornalista do “The Washington Post” que o Kremlin "está tremendo". Kiev comemora a eficácia de sua guerra psicológica contra o regime russo.

Pela Rússia toda milhares patenteiam seu descontentamento com Putin
Pela Rússia toda milhares patenteiam seu descontentamento com Putin

Segundo o “The New York Times”, a profundidade das lutas internas no governo russo é mais ampla e profunda do que se acreditava segundo um novo conjunto de documentos de inteligência secretos que vazaram online.

A principal agência de inteligência doméstica da Rússia, o Serviço Federal de Segurança (FSB), “acusou” o Ministério da Defesa do país “de ofuscar as baixas russas na Ucrânia” reforçando as diatribes de Prigozhin.

Pelos documentos o presidente russo, Vladimir Putin, não conseguiu uma vitória militar por brigas internas e acusações entre agências russas responsáveis pela guerra.

Soldados russos anti-Putin executam incursões armadas em território russo
Soldados russos anti-Putin executam incursões armadas em território russo
Putin há tempos se gabava de que a Rússia é o líder mundial em mísseis hipersônicos, que sistema ocidental algum conseguiria interceptar. Por fim mandou disparar seis desses, mas todos foram derrubados pelos veteranos mísseis Patriot americanos, como registrou a imprensa internacional.

Putin então resolveu prender três cientistas do o Instituto Khristianovich de Mecânica Teórica e Aplicada em Novosibirsk que trabalharam nesses mísseis hipersônicos acusados de “traição”.

A saída semeou pânico nos cientistas que trabalham nos projetos militares russos. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, falou de uma carta aberta de cientistas siberianos defendendo os indiciados, alegando que os processos infligiriam sérios danos à ciência russa.

E não são os primeiros que caem nas rédeas da vingança ditatorial.


domingo, 14 de maio de 2023

“Navios fantasmas” russos projetam sabotagens a cabos de internet e dutos de energia

Navios fantasmas russos espionam secretamente no Mar Báltico
Navios fantasmas russos espionam secretamente no Mar Báltico
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Uma frota de 'navios fantasmas' enviados pela Rússia navega pelo Mar Báltico com transmissores desligados, para mapear parques eólicos offshore, gasodutos, linhas de energia e internet nas águas que cercam os países nórdicos para possíveis ataques de sabotagem, noticiou a agência europeia “Euronews”.

Estas são apenas alguns fatos documentados na série de documentários “The Shadow War” ("A guerra das sombras”), produzida por meios de comunicação estatais da Suécia, Dinamarca, Finlândia e Noruega.

A série foca as operações de inteligência da Rússia na região para “em caso de conflito com o Ocidente, eles estarem prontos e saberem onde intervir se quiserem paralisar a sociedade dinamarquesa”, disse Anders Henriksen, do Serviço de Inteligência da Polícia Dinamarquesa (PET).

Os jornalistas seguiram especialmente o navio de pesquisa russo Almirante Vladimirsky no estreito de Kattegat.

O transmissor AIS, sistema usado para identificar navios e sua posição, foi desligado, mas o tráfego de rádio criptografado foi usado para rastreá-lo.

A investigação se concentrou em um navio russo chamado Almirante Vladimirsky. Fonte BBC
A investigação se concentrou no navio russo Almirante Vladimirsky. Fonte BBC
Um homem a bordo exibia uniforme, colete à prova de balas e um fuzil de assalto enquanto o navio passava por parques eólicos na Escócia, Inglaterra e Holanda.

Especialistas dizem que as informações coletadas durante essas viagens vão diretamente para o Kremlin.

“Esta é uma capacidade estratégica muito importante para a Rússia e é controlada diretamente desde Moscou”, disse Nils Andreas Stensønes, chefe do serviço de inteligência norueguês.

O Almirante Vladimirsky não é o único navio nesta atividade: os jornalistas identificaram 50 navios russos na última década com padrões semelhantes de conduta perto de campos de petróleo e gás, ou de exercícios militares da OTAN.

Homem armado confrontou o repórter quando ele se aproximou do navio. Fonte BBC
Homem armado confrontou o repórter quando ele se aproximou do navio.
Fonte BBC
A guerra na Ucrânia aumentou muito as tensões. “Os cabos são muito vulneráveis e a Rússia já passou muitos anos mapeando cabos de comunicação submarinos e infraestrutura de energia”, diz Karen-Anna Eggen, estudante de doutorado no Instituto Norueguês de Estudos de Defesa.

“Por meio de cooperações econômicas, a Rússia obteve acesso a dados sensíveis. Ela usa embarcações de pesquisa e pesca, para sondar e interromper, o que considero parte de uma preparação mais ampla caso a situação de segurança no Extremo Norte ou na Europa se torne mais tensa”, disse ela à “Euronews”.

Em abril de 2021, uma seção de cabo submarino perto da ilha norueguesa de Svalbard, usada por pesquisadores e militares, desapareceu; em dezembro do mesmo ano, um dos dois cabos principais que ligam Svalbard à Noruega continental também foi cortado.

Em 2022, depois que o gasoduto Nord Stream foi alvo de explosivos no Mar Báltico, a Noruega reforçou a segurança de sua infraestrutura offshore por medo de ataques.

Percurso do navio suspeito. Fonte BBC.
Percurso do navio suspeito. Fonte BBC.
Navios de pesca russos foram vistos cruzando os cabos de Svalbard várias vezes antes de as conexões serem cortadas.

“Este é um ponto geopolítico importante para a atividade militar russa. A Rússia nega qualquer responsabilidade, mas o tempo, local e capacidade corresponde ao fato”. “É um caso clássico de ação secreta para interromper, instilar medo e testar a resposta norueguesa”, acrescentou Karen-Anna Eggen.

É a primeira vez que quatro países nórdicos cooperam num projeto dessa magnitude e o que descobriram surpreendeu os jornalistas envolvidos.

“Devo dizer que fiquei surpreendido com o número de embarcações envolvidas nesta atividade. Não só a magnitude, mas também o intervalo de tempo em que aconteceu”, disse Håvard Gulldahl, jornalista da mídia norueguesa NRK.

Håvard Gulldahl acrescentou que especialistas civis e militares estavam cientes das atividades dos russos, mas houve uma “mudança de paradigma” desde o início da guerra na Ucrânia.

“Atividades que antes considerávamos benignas não são mais”, diz ele.

O 'Elektron' russo fotografado enquanto fugia de um guarda costas norueguês
O 'Elektron' russo fotografado enquanto fugia de um guarda costas norueguês
A BBC ecoou a investigação conjunta de emissoras públicas na Dinamarca, Noruega, Suécia e Finlândia e entende que as autoridades britânicas estão cientes de que navios russos se movimentam pelas águas do Reino Unido como parte do programa, resumiu “Mar sem fim”.

Os países europeus investiram fortemente em parques eólicos no Mar do Norte. O Reino Unido lidera com a maior quantidade de capacidade instalada, representando 40,8%. Segue-se a Alemanha com 32,5%. 

A Dinamarca continua a ser o terceiro maior mercado com 10,1% enquanto a Holanda (8,8%) e a Bélgica (5,6%) ocupam o quarto e quinto lugares, respectivamente. Juntos, representam 97% de todas as turbinas conectadas à rede na Europa.

Acontece que a Europa está em guerra e Putin já tentou asfixiar a UE com o corte de suas instalações de gás, comentou “Mar sem fim”.

Campos de energia eóilica estão sendo mapeados para destruição em caso de guerra. Fonte BBC
Campos de energia eólica estão sendo mapeados
para destruição em caso de guerra. Fonte BBC
A BBC, citando um agente de contraespionagem dinamarquês, disse que os planos de sabotagem estão sendo preparados para o caso de um conflito aberto com o Ocidente.

Para a BBC uma das opções dos russos consiste em danificar as comunicações ou derrubar os sistemas de energia dos países para gerar caos.

Hoje, no subsolo marinho existem mais de 380 cabos submarinos com 1,2 milhão de quilômetros de extensão. É através deles que circulam os dados da internet, para ficarmos só neste exemplo, conclui “Mar sem fim”.


domingo, 7 de maio de 2023

Por aborto e vícios Rússia se esvazia de habitantes

O interior russo se desertifica
O interior russo se desertifica
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A imoralidade reinante na Rússia, malgrado os esforços da propaganda putinista e cismática para ocultá-la, está jogando o país numa espiral de morte demográfica.

A má notícia é preocupante para os países vizinhos, porque o ditador do Kremlin pode estar em busca de conquistas militares para preencher o vazio populacional.

O número de mortes ultrapassa o de nascimentos quase todo ano e não só pela invasão da Ucrânia que fez até o momento uma cifra aproximada de 200.000 mortos, desaparecidos ou prisioneiros sem contar algumas centenas de milhares de feridos ou inabilitados, estimou o “Estado de S.Paulo”.

O campo fica sem trabalhadores
O campo fica sem trabalhadores
 recrutamento obrigatório de numa primeira fase 300.000 “reservistas” provocou a fuga de mais de um milhão de russos de meia idade, em geral formados em profissões chaves.

Na imoralidade soviética, a população russa vinha parando de crescer, mas não ao ritmo atual.

A população atingiu seu pico em 1993, com 148,6 milhões.

No início de 2022, havia estimados 145,6 milhões de habitantes, ou seja, um declínio de 2%, enquanto que a população dos EUA cresceu 33% no período equivalente que vai de 1990 a 2020.

A expectativa de vida dos russos, segundo o Banco Mundial é de 71 anos; nos EUA é de 77. Entre homens: nos EUA, a expectativa de vida é de 75 anos; na Rússia, é de 66 atribuída ao abuso do álcool e da droga.

A população vai rareando
A população vai rareando
A Rússia tem a 11.ª maior economia do mundo, mas em expectativa de vida figura na 96.ª posição.

Segundo Nicholas Eberstadt, pesquisador do American Enterprise Institute, a taxa de nascimentos na Rússia é de apenas 1,5 filho a cada mulher — bem abaixo do nível de reposição (dois filhos por mulher).

Na Rússia o sistema de saúde pública é terrível, e seus níveis extremo de alcoolismos e drogas são sinais de desespero.

Durante a pandemia de covid-19, entre 2020 e 2023, o verdadeiro número de mortes teria ficado entre 1,2 milhão a 1,6 milhão, segundo The Economist, superando os EUA cuja população é mais de duas vezes maior.

“O índice-médio de mortes de soldados russos mensalmente é pelo menos 25 vezes maior do que o índice de mortos por mês na guerra da Chechênia e 35 vezes maior do que o índice de mortos no combate em Afeganistão”, relata o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

Assim a Rússia deverá ter 135 milhões de habitantes até 2050 e 126 milhões até 2100.

Os jovens abandonam o interior e correm para Moscou e São Petersburgo
Os jovens abandonam o interior e correm para Moscou e São Petersburgo
Então o atual nono país mais populoso do planeta, cairá para a 22.ª posição.

Os dias da Rússia enquanto grande potência estão demograficamente contados pela imoralidade do reinado de Vladimir Putin.

Putin chegou a afirmar que a Rússia poderia ter uma população de 500 milhões não fosse a dissolução, em 1991, da União Soviética, que ele qualificou como “a maior catástrofe geopolítica do século”.

Sua invasão à Ucrânia pode ser considerada um estratagema para aumentar a população russa à força.

O fato ter sequestrado pelo menos 11 mil crianças ucranianas parece especialmente sinistro sob essa luz.

Stephen Sestanovich, ex-embaixador americano nas repúblicas soviéticas considera que Putin está agitado por “um delírio febril de declínio”.

A população que fica no interior está empobrecida, Kamchatka
A população que fica no interior está empobrecida, foto em Kamchatka
O despovoamento da Rússia, afirmou o embaixador, “alimenta o senso apocalíptico de Putin com o a fantasia de talvez conquistar 40 milhões de pessoas na Ucrânia para resolver o seu problema”.

Putin tentou mobilizar 300 mil soldados em 2022 mas precisa de outros 400 mil combatentes para continuar infligindo grande sofrimento ao povo da Ucrânia.

Portanto, há pouca esperança de que o “loop demográfico apocalíptico” evite que Putin se torne mais desesperado e perigoso.