Cadete no treino |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Vladimir Putin é candidato a mais uma reeleição presidencial.
Aliás, Evo Morales também. Não há proximidade geográfica entre os dois. Mas sim ideológica e psicológica.
O instinto diz ao déspota que não pode largar o poder, pois as consequências pessoais podem ser irreparáveis. Falem Lula e Cristina Kirchner.
Nas últimas semanas, Putin acenou com massacres em massa no leste ucraniano – atribuindo-as à Ucrânia – e fez declarações que insinuam a guerra mundial a propósito da Coreia do Norte.
As ameaças, entretanto parecem direcionadas ao público russo. Elas visariam atemoriza-lo e aglutiná-lo em volta do atual presidente para aceitar o resultado eleitoral.
Esse resultado já deve estar pronto em algum ministério putinista. Também a aprovação pública ao ditador aumentou segundo o governo queria.
Nesse aumento de popularidade contribui o recrutamento e doutrinação de crianças-soldados. O exército carece de soldados pela acentuada queda da população e da natalidade.
Putin deitou mão de um velho recurso de ditador beirando o desespero: recrutar adolescentes e crianças para lhes dar oficialmente “educação militar e patriótica”.
Na região meridional de Stavropol, segundo “La Nación”, a propaganda oficial exalta a imagem dos cossacos. Historicamente, os cossacos constituem uma famosa raça de guerreiros de toda confiança que garantia a guarda pessoal dos Tsares de todas as Rússias.
Treino de crianças soldado |
Acabaram perdendo e pagaram caro: Stalin decidiu puni-los com a fome. Por volta de oito milhões deles teriam falecido num dos piores genocídios da história, conhecido como holodomor.
Mas, agora, Putin precisa deles. Então, a propaganda oficial os apresenta como camponeses tranquilos nos tempos de paz e heroicos defensores da pátria soviética.
E em especial contra os invasores das irrequietas regiões da Chechênia e do Daguestão. Também são exaltados como corajosos soldados nas campanhas militares para expandir o poder de Moscou.
Nenhuma palavra sobre as guerras que fizeram contra os turcos invasores nem mesmo contra a invasão napoleônica em que lutaram como heróis. No mundo islâmico e até na própria União Europeia, Putin tem grandes amigos e aliados.
“O amanhã começa hoje” é o ditado da escola de cadetes de Stavropol dedicada a Alexei Yermolov, um general do século XIX que conquistou o Cáucaso para o império russo e que Putin quer reconquistar agora, tendo invadindo a Geórgia com resultado inconcludente.
Estudantes da Escola de Cadetes General Yermolov |
Mas, não se trata só de bons rapazes. Por volta de 40% desses cadetes abandonaram a escola e alguns já passaram por unidades suspeitas, ou não, do exército e das policias.
Os instrutores passaram anos em “posições quentes” ou zonas de conflito.
No verão russo, um grupo de adolescentes do chamado clube “Patriota” da invadida Crimeia frequenta o acampamento “Cavaleiros russos” para receber treinamento militar.
Nesse acampamento até 600 meninos e meninas recebem instrução militar todos os verões junto com mais de 1.500 adolescentes.
Os exercícios físicos vão de mãos dadas com o treino de armas, aprimoramento da pontaria, aprenderem a conduzir carro e pular de paraquedas.
Para o dia que o omniarca de Moscou precisar deles, mesmo sem ter atingido a maioridade.
“Estamos prontos para morrer por Putin” canta um muito divulgado coro de cadetes da polícia russa de Volgogrado (ex-Stalingrado) dirigidos por Anna Kuvychko, deputada do partido putinista Rússia Unida.
Coro de cadetes da polícia da ex-Stalingrado promete 'Morrer por Putin' |
O fundo são monumentos aos soldados soviéticos mortos na batalha de Stalingrado.
Numa outra versão, as imagens de guerra incluem o treino de crianças soldados.
A letra é um impropério contra os EUA; deblatera contra a União Europeia desunida e invadida; promete devolver o estado americano de Alasca à Rússia; reforçar o enclave militar de Kaliningrado entre a Polônia e a Lituânia; endurecer a defesa das ilhas Curilas disputadas com o Japão e reforçar a ocupação da Crimeia.
Todo o contexto é de guerra contra os vizinhos apresentando a Rússia como um recinto de paz armada.
Como refrão, as crianças repetem com punhos fechados e olhares de ódio: “Mas, se o comandante supremo nos chamar para a batalha final, ‘Tio Vladimir’ (‘Vova’) nós estamos com você!” Cfr. “The Daily Mirror”.
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