domingo, 31 de março de 2024

Europa pensa em guerra mundial e na Igreja grassa “guerra civil” teológica universal

Almirante Rob Bauer, chefe da NATO diz que aliança se prepara para conflito com a Rússia
Almirante Rob Bauer, chefe da NATO
diz que aliança se prepara para conflito próximo com a Rússia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






continuação do post anterior: Eleição de Putin e rumores de guerra mundial

Europa se prepara para a guerra


Em janeiro, o general Patrick Sanders, chefe do Estado-Maior do exército britânico anunciou que no Reino Unido os cidadãos poderão ser convocados para uma guerra com a Rússia, para a qual as forças armadas se encontram assustadoramente desprovidas de soldados .

Falou também em começar a instrução militar de 120.000 civis.

O encolhimento das mais respeitadas forças militares da Europa é atribuível a décadas de propaganda ingênua de que o comunismo morreu deixando o lugar a uma era sem choques civilizatórios voltada exclusivamente para a economia.

Por sua vez, o almirante holandês Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da NATO, defendeu que os países membros devem se preparar para um conflito iminente aberto por Moscou.

No mesmo sentido o ministro sueco da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, falou para seu pais que, antes que seja tarde demais, todos devem se preparar para o pior dos cenários: uma guerra com a Rússia .

A Dinamarca ordenou duplicar o número de alistamentos e forneceu jatos F16 para a Ucrânia.

O serviço militar obrigatório, há anos abolido, está voltando a Europa e em alguns países incluirá às mulheres na previsão de uma guerra massiva .

E a União Europeia após muitas discussões, validou uma ajuda de 50 bilhões de euros em empréstimos e dons para sustentar Kiev até 2027 e mais 5 bilhões em ajuda militar, segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, após reunião extraordinária em Bruxelas, no início de fevereiro, noticiada por “Le Monde” .

General Patrick Sanders, chefe das FFAA inglesas, alertou para guerra próxima com a Rússia
General Patrick Sanders, chefe das FFAA inglesas,
alertou para guerra próxima com a Rússia
Também haverá eleições gerais para o Parlamento Europeu em junho deste ano que sondarão a opinião publica continental face a um eventual ataque vindo da Rússia.

O ministro da Defesa da Letônia, Andris Spruds, estuda retirar seu país do tratado sobre minas terrestres, ou Convenção de Ottawa.

Os países bálticos concordaram em construir uma “Linha de Defesa do Báltico”, um complexo de bunkers e fortificações, com sensores e obstáculos físicos anti-tanques além das minas.

“Podemos esperar que a NATO enfrente um grande exército de estilo soviético”, disse o diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia, Kaupo Rosin, divulgada em fevereiro .

“Nosso plano é usar massivamente minas antitanque, minas de visão e todo tipo de outras minas”, disse Kusti Salm, secretário permanente do Ministério da Defesa da Estônia.

Políticos bálticos pedem fazer tudo o possível para que o Kremlin pense duas vezes antes de cruzar a fronteira .

O ponto de vista alemão


Exercício NATO
Exercício NATO
Nada alarmou mais do que a difusão de documento secreto das forças armadas alemãs no inicio do ano pelo jornal Bild.

Ele desenha diversos cenários possíveis de uma iminente guerra europeia desatada pela Rússia.

Segundo a hipótese “Defesa da Aliança 2025”, Moscou planejaria atacar o flanco oriental da NATO por volta de junho após uma contraofensiva bem-sucedida contra a Ucrânia, que parece estar acontecendo .

Essa “ofensiva de primavera” engajaria 200.000 homens e seria secundada por ataques cibernéticos e outras formas de guerra híbrida, primeiramente contra a Estônia, a Letônia e a Lituânia.

A Alemanha ocupa uma posição central nesses possíveis conflitos e é muito respeitada na planificação da guerra.

Vizinhos da Rússia temem os tanques de Putin e usam minas terrestres para se proteger de uma invasão russa
Vizinhos da Rússia temem os tanques de Putin
e usam minas terrestres para se proteger de uma invasão russa
Os cenários do Ministério da Defesa alemão focam a Polônia e o corredor estratégico (“Suwalki Gap”) entre a Bielorrússia e o enclave de Kaliningrado há muito identificado como um dos calcanhares de Aquiles da NATO.

Em qualquer um dos cenários, uma guerra aberta entre os dois blocos seria o início de uma Terceira Guerra Mundial, disse a CNN .

O conflito especulado teria como ponto de partida um exercício militar em grande escala na Bielorrússia denominado “Zapad 2024” e teria seu pior momento durante a transição presidencial dos EUA.

A Rússia arguiria falsos “conflitos fronteiriços” ou “motins com numerosas mortes”, ou até um complô macrocapitalista contra a gestão de Putin, o diria agir “em defesa própria” .

Francisco I pede a rendição da Ucrânia?


O golpe psicológico que mais favoreceu a estratégia de Putin proveio infelizmente do Papa Francisco I.

Em entrevista à Rádio e Televisão Suíça (RTS), propôs que a Ucrânia tivesse a “coragem de alçar a bandeira branca e negociar”, gesto universalmente interpretado como capitular diante da invasora Rússia.

A reprovação da proposta foi universal, a Ucrânia convocou o núncio apostólico [embaixador do Vaticano] Monseñor Kulbokas, em sinal de protesto, e se sucederam indignadas críticas e desmentidos vaticanos que não solucionaram o caso.

A diplomacia ucraniana acusou ao Pontífice de “legalizar a lei do mais forte” e apoiar Putin a “seguir ignorando o direito internacional” .

Francisco I pede a rendição da Ucrânia? Não pediu o mesmo ao agressor Putin, seu amigo
Francisco I pede a rendição da Ucrânia? Não pediu o mesmo ao agressor Putin, seu amigo

O secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que “não é momento para falar em rendição” pois “seria um perigo para todos”.

A única solução negociada duradoura e pacífica passa pelo respaldo militar a Ucrânia, acrescentou.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, discordou das declarações do Papa.

“Kiev tem o direito de se defender e pode contar com nosso apoio”, asseverou.

Os bispos alemães qualificaram “infeliz” a fórmula do Papa, mas adotaram as contorções verbais vaticanas que tentam lhe dar um sentido “benigno”.

O fato que as palavras criticadas deram continuidade à velha diplomacia vaticana conhecida como “Ostpolitik” que há décadas tenta a aproximação com o comunismo, hoje atualizado em Vladimir Putin.

Conflito doutrinário na Igreja


Os ditos do pontífice também atiçaram o violento conflito doutrinário dentro da Igreja rotulado de “guerra civil” religiosa em todos os campos da teologia e da disciplina eclesiástica.

Ela se mostrou agravada pela posta em evidencia de uma infiltração de agentes russófilos provocadores no mundo católico, que não só militam na extrema esquerda mas também se fingem “conservadores” e desta posição aplaudem ou desculpam os crimes de Putin.

Então às pesadas nuvens carregadas do perigo de uma Terceira Guerra Mundial se somaram os temores pelo preocupante estado de saúde do Papa que poderia precipitar a eleição de um sucessor num Conclave decisivo para o futuro da Igreja.

NATO treina a defesa do corredor estratégico Suwalki Gap
NATO treina a defesa do corredor estratégico Suwalki Gap.
Na Igreja, o conflito teológico-moral-litúrgico e disciplinar vai mais longe
Caso aconteça, os misteriosos manipuladores da guerra psicológica no Ocidente e no mundo católico tentarão por certo condicioná-la.

O que aconteceria, então, num contexto de conflito bélico iminente ou em ato, de formas caóticas de guerra híbrida, de ataques cibernéticos e invasões de migrantes empurrados desde Moscou percorrendo a Europa.

Nesse horizonte tenebroso, Putin “consagrado” em eleições fraudulentas, estaria interessado num Papa que olhasse para a Rússia como um baluarte contra o Ocidente corrupto, ponderou o prof. Roberto de Mattei .

Assim de três eleições aparentemente muito diversas – as presidências russa e americana, e a de um Papa num Conclave, que esperamos possa acontecer sem perturbações internas ou externas – neste ano 2024 pode se decidir o rumo da Igreja e do mundo.



domingo, 24 de março de 2024

Eleição de Putin e rumores de guerra mundial

Aurora boreal sobre porta-aviões HMS Prince of Wales do Reino Unido, Exercício Steadfast Defender, o maior da OTAN desde a Guerra Fria
Aurora boreal sobre porta-aviões HMS Prince of Wales do Reino Unido,
no exercício Steadfast Defender, o maior da OTAN desde a Guerra Fria
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A prolongação até 2030 da autocracia que Vladimir Putin exerce há 24 anos obteve 87% dos votos na farsa montada dos subterrâneos do Kremlin, e semeada de protestos, atentados e violências policiais.

O mundo todo, excetuados seus amigos, desqualificou a “comédia negra” que o presidente russo aprontou obter o 5º mandato.

Um dia antes de concluir a votação de três dias, com a “vitória” pelo 87% divulgado, Putin se voltou ameaçadoramente contra os que não gostaram dele.

A fraude eleitoral foi pavimentada pela supressão dos candidatos que poderiam desdourar uma “arrasadora” vitória de Putin.

Ninguém superaria a máquina de fraudar os resultados, porém Alexander Navalny, ou alguém indicado por ele, teriam podido colher uma votação reveladora da insatisfação popular pela invasão da Ucrânia.

Esse temor no Kremlin precipitou a morte do opositor.

Mais de 3000 pesoas en protestos contra Putin assassino
Mais de 3000 pesoas em protestos contra Putin assassino
Navalny foi encarcerado após se submeter a um tratamento na Alemanha que o salvou do agente nervoso Novichok, um dos venenos preferidos pelos serviços putinistas.

Desapareceu da colônia penal onde estava preso por “extremismo” e reapareceu numa outra colônia penal em Kharp, no Ártico russo, onde teria sido assassinado por ordem de Putin segundo “The Economist” .

Dezenas de milhares de russos compareceram ao enterro e cerimônias públicas em muitas cidades desafiando a intimidação policial.

A “purga” de dezenas de “oligarcas” próximos do ditador e de altos mandos militares se somou ao mais de um milhão de cidadãos que fugiram do provável envio como “bucha de canhão” à Ucrânia.

Acresce ainda o meio milhão de baixas na guerra, segundo fontes independentes , o equivalente ao número total de homens engajados no início da invasão.

Putin queria, a qualquer custo, uma vitória para ser aclamado pelo eleitorado como um triunfador.

Vitória de Putin estopim da Guerra Mundial?


Mulltidão canta contra Putin no enterro de Alexei Navalny em Moscou
Mulltidão canta contra Putin no enterro de Alexei Navalny em Moscou
Por que, se a eleição estava decidida em seu escritório? Ele revelou suas intenções acionando um sinistro teclado de ameaças militares contra os países vizinhos.

Voltou-se contra a Polônia dizendo que devia boa parte de seu território a Stalin.

E a Polônia, desconfiada pela invasão da Ucrânia fez de seu exercito o maior de Europa e é o país que mais gasta em se armar no continente.

A Suécia e a Finlândia, países neutrais há dois séculos entraram às presas na NATO.

Até maio a mesma NATO está fazendo o maior exercício desde a Guerra Fria nas fronteiras da Rússia: o “Steadfast Defender 2024” com 90.000 soldados.

A Suécia re-militarizou a ilha de Gotland, no Mar Báltico, que controla a saída naval dos complexos militares russos em torno de São Petersburgo e no enclave lotado de mísseis nucleares de Kaliningrado,.

A Lituânia, a Letônia e a Estônia semeiam minas na fronteira com a Rússia e prepararam suas populações para uma invasão.

Putin reclamou da Noruega as ilhas Svalberg, estratégicas para a saída da frota russa de suas bases siberianas.

No sul Putin apontou contra a desarmada Moldávia, membro da NATO, que tem uma faixa de seu território – a Transnístria – ocupada por tropas russas.

Ali um plebiscito teledirigido pediu a anexação do país pela Rússia .

Na véspera da reeleição, o amo do Kremlin causou alvoroço mundial insistindo em entrevista à TV estatal que o arsenal da Rússia “está pronto” para uma guerra nuclear e anunciando armas “mais avançadas” que as dos EUA .

Essas, quando testadas repetidas vezes deram num fiasco.

Blindados espanhóis cruzam o rio Vístula durante o exercício Steadfast Defender
Blindados espanhóis cruzam o rio Vístula durante o exercício Steadfast Defender
Por sua vez, seu vice-presidente Dmitry Medvedev, em Socchi, no Festival Mundial da Juventude 2024 apresentou um mapa do futuro, em que da Ucrânia só fica uma área minúscula em volta de Kiev, e a Rússia abocanharia mais territórios de países próximos.

Também na iminência do pleito eleitoral russo, o presidente francês Emmanuel Macron acenou a hipótese de enviar soldados à Ucrânia deixando o prato servido a Putin que ameaçou retaliações de grande porte.

Nos mesmos dias, três unidades de soldados russos anti-Putin incursionaram em seu país desde a Ucrânia enquanto dezenas de drones incendiavam as principais refinarias de petróleo em território adversário.

Temores europeus pela vitória de Trump


Vicepresidente de Putin, Dmitry Medvedev, apresenta o mapa futuro do que sobraria da Ucrânia
Vicepresidente de Putin, Dmitry Medvedev, apresenta o mapa futuro do que sobraria da Ucrânia
Na Europa ecoam rumores de guerra, as indústrias bélicas se enchem de encomendas, os países aumentam seus orçamentos militares e se espalhou-se o temor de uma vitória eleitoral de Trump nos EUA.

O virtual candidato republicano diz que cortará o dinheiro dos EUA para a parte do orçamento da NATO que os europeus não cobrem.

Entrementes, seu partido, o Republicano bloqueia as verbas para a Ucrânia que, sem munição suficiente, cede pontos sensíveis do front permitindo ao exercito russo fazer avanços, pequenos em verdade, mas que antes não conseguia fazer.

A ninguém se esconde a recíproca simpatia pessoal entre Trump e Putin.

No partido Democrata, Joe Biden, que se posiciona pela Ucrânia, é o opositor eleitoral de Trump embora seja o presidente mais impopular da história dos EUA e exiba uma condição física e mental fraca para enfrentar uma crise das dimensões anunciadas.



Continua no próximo post: Europa pensa em guerra mundial e na Igreja grassa “guerra civil” teológica universal


domingo, 17 de março de 2024

Boomerang de frio congelou russos

Populares queimam o que podem sem aquecimento
Populares queimam o que podem sem aquecimento
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Centenas de milhares de russos ficaram sem aquecimento no ultimo inverno (2023-2024), que foi particularmente rigoroso. Avarias em sistemas de aquecimento coletivo foram relatadas em todo o país.

As maiores delas foram registradas em Podolsk, uma cidade dormitório nos arredores de Moscou com uma população de 149 mil pessoas, segundo reportagem da FranceTVinfo.

Caldeiras quebradas, canos estourando em quase todos os lugares foram uma constante na região de São Petersburgo, em Voroniej, Volgogrado, e até no Extremo Oriente...

Por toda parte, viram-se moradores intumescidos de frio e exaustos, se aquecendo em grupos em volta de esquálidas fogueiras alimentadas com restos de qualquer coisa que queime.

Alguns deles difundiram vídeos nas redes sociais para dizer que estão congelando em casa e literalmente de congelar até a morte.

Como sempre acontece numa situação destas na Rússia de Putin, os cidadãos entre desesperados e resignados ante o fatalismo ensinado por cismâticos e comunistas apelaram a autoridade máxima do Kremlin.

Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Esse encenou alguma reação e pediu ao Ministério de Situações de Emergência tomar medidas. Também trombeteou que estava assumindo pessoalmente a situação que só se resolveu com o fim do inverno.

Nas redes sociais, não poucos russos, e em particular os ucranianos, viram nisto a prova de que a Rússia inteiramente focada na economia de guerra, estava a pagar a conta, cobrada por uma mão providencial.

Na realidade o problema não é tão novo: está intimamente ligado às disfunções crônicas do regime russo igualitário e dirigista, que é mais do mesmo do que havia na falida URSS.

As enormes caldeiras feitas para aquecer inteiras áreas urbanas herdadas da era soviética foram mal conservadas, e a guerra consumiu as verbas não roubadas pelos burocratas que deveria consertá-las.

Há décadas que os governos prometem resolver o problema, mas a rigidez burocrática, o imediatismo político e a corrupção significam que nada está a melhorar.

Pelo contrário, tudo piora como no comunismo soviético.

O governo russo não pode acalmar o descontentamento porque a economia de guerra produz consequências de longa duração, entre as quais o deterioro ou omissão de conserto de todos os serviços públicos. Já se faz saber que as verbas para melhorar as habitações coletivas diminuirão drasticamente nos próximos anos.

Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Um quarto dos russos não tem acesso a banheiros conectados ao esgoto.

O projeto de modernização do aquecimento socializado é gigantesco... no papel. Entretanto, para acalmar a população, o governo recorre aos velhos métodos socialistas: escolher culpados.

Em Podolsk, o vice-chefe da administração e o diretor da sala das caldeiras foi detido e encarcerado por corrupção, mas nada foi solucionado.

Pensar que no início da guerra de invasão da Ucrânia a Rússia bombardeou seletivamente os sistemas de energia das cidades ucranianas, achando que o pobre país não suportaria o frio e acabaria capitulando.

A Ucrânia resistiu patriótica e religiosamente. Agora, tudo se passa como se um boomerang providencial tivesse abatido sobre a população russa recordes de frio com as infraestruturas de aquecimento sem conserto.

Ficaram em pânico Putin, seus cúmplices e o monstruoso dirigismo comunista que o déspota do Kremlin faz tudo para preservar. Pois o omniarca se aterroriza quando ouve os escravos agitando as correntes que os prendem, neste caso gemendo de frio.


domingo, 10 de março de 2024

Acusar de “seita”: velho artifício comunista, hoje putinista

Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregaddo de rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregado de
rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Luis Dufaur
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Moscou explora mais um artifício para reprimir os grupos dissidentes: os acusa de serem perigosas “seitas” cuja ameaça para a sociedade deve ser extirpada.

Nessa perseguição, o Kremlin tem um apoio destacado no líder anti-“seita”: o arcipreste Alexander Novopashin, que esteve afiliado até março de 2023 à Federação Europeia de Movimentos Anti-“seita” apoiada pela francesa, FECRIS.

Ele oficia na catedral cismâtica de São Alexander Nevsky, em Novosibirsk, dependente do Patriarcado de Moscou, porta-voz religioso das vontades de Putin.

A denúncia das ações deste agente foi feita por “Bitter Winter” site especializado em desvendar as perseguições religiosas no mundo.

O arcipreste é um inimigo profissional das “seitas” para o que ele elaborou um coquetel venenoso de ideologia criminosa do regime de Putin com os artifícios do movimento anti-“seita” ao estilo FECRIS.

Novopashin acusa os EUA de satanista e aponta contra a Ucrânia como responsável dos crimes satanistas cada vez mais freqüentes na Rússia.

Esse coquetel é derramado contra as vítimas escolhidas a dedo ou, por vezes, é mantido em silêncio aguardando para aplicá-lo em seu momento. A polícia política putinista escolhe.

Após o início da guerra de agressão contra a Ucrânia, a maior parte do coquetel saiu à luz para espalhar teorias anti-ucranianas tão absurdas quanto possível.

Em comparação com Alexander Dvorkin, outro importante ativista russo que trabalha contra ditas “seitas”, Novopashin se assemelha mais a um burocrata obtuso que multiplica as contradições, apontou Massimo Introvigne especialista nas perseguições anticristãs na Europa e no mundo.

O eclesiástico russo já apareceu bancando de especialista em espionagem.

Ele disse ao “News of Siberia” que a inteligência ucraniana recrutou “milhares” de agentes na Rússia para espionar infraestruturas militares, movimentos de tropas e comboios militares.

Ele apontou aos “tristes seguidores de Navalny”, o dissidente a quem definiu “agente estrangeiro e terrorista”. Navalny morreu depois num cárcere ártico, causando comoção mundial pelo aparente assassinato putinista.

Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior, representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior,
representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin não conta, nem sabe, onde se escondem os espiões ucranianos. “Na maioria das vezes”, explica o arcipreste da polícia putinista, “os encarceramentos de espiões ucranianos ocorrem em novas regiões do país”, ou seja, em partes da Ucrânia que a Rússia anexou fraudulentamente.

O arcipreste acusa a ucranianos de espionar para a Ucrânia na própria Ucrânia, o que não deixa de ter algo de histriônico.

“Mas o SBU [serviço de inteligência ucraniano] tenta expandir a sua rede de agentes, razão pela qual seus agentes são detidos mesmo na Sibéria”, acrescenta incongruentemente.

“Na verdade”, explica o inimigo das “seitas” que não são a sua, “milhares de agentes recrutados foram descobertos, a imprensa noticia apenas os casos mais ressonantes”.

E ali ele encaixar sua missão: “é necessária uma contra-propaganda em grande escala para suprimir as atividades de recrutamento do inimigo”.

“Os cidadãos da Federação Russa devem saber em detalhes como funciona a inteligência estrangeira, como ocorre o recrutamento e quais ameaças os agentes potenciais enfrentam para tais ações”. Essa denúncia justificaria a detenção de dissidentes anti-Putin.

“Tudo isto deve ser apresentado com exemplos modernos e históricos, da forma mais clara possível. Mas, infelizmente, esse trabalho não está sendo realizado”.

“Precisamos de uma visão mais ampla e inteligente do problema, e isto não é apenas uma questão da competência dos serviços de inteligência”, acrescentou.

A pátria russa precisa de lutadores contra as “seitas” que sejam clarividentes como ele para denunciar os espiões ucranianos que se escondem nessas “seitas”.

O jornal siberiano, em acordo com o arcipreste-policial Novopashin, apresenta uma antiga lista de 58 “seitas” (e “muitas outras”), que inclui de tudo, desde os Santos dos Últimos Dias às Testemunhas de Jeová, e desde a Cientologia à desconhecida Soka Gakkai.

O clérigo do Patriarcado de Moscou também define quem é cristão ou não, como no caso da Igreja da Nova Geração, que Putin persegue por qualquer razão, e que ele chama de “paródia blasfema do Cristianismo, movimento sectário ocultista”.

Obviamente, para ele a pior das “seitas” é o anticomunismo e o catolicismo levados a sério.


domingo, 3 de março de 2024

Guerra é usada para atroz “purga” na Rússia

Velório de Alexei Navalny, dissidente 'purgado' porque podia oscurecer o triunfo
Velório de Alexei Navalny, dissidente 'purgado'
porque podia oscurecer o triunfo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Putin empreendeu uma “purga” daqueles que não o acompanhavam em sua enigmática marcha ao precipício. E a guerra de invasão da Ucrania foi a oportunidade.

De certo muitos da “oligarquia” se manifestaram e foram purgados, sendo encontrados suicidados, caindo da janela, etc.

Essas dezenas de “acidentes” que noticiamos fartamente neste blog, agora pela primeira vez uma alta autoridade russa reconheceu que fazem parte de uma purga. O estilo é do modelo soviético admirado por Putin: o de Joseph Stalin.

Quem deu a público que essas dezenas de mortes de altos funcionários russos, civis e militares foi pelo desejo supremo de "purgar", foi nada mais e nada menos que o Ministro de Relações Exteriores Serguei Lavrov, um dos mais íntimos colaboradores na ditadura de Putin.

Lavrov falou na comemoração do segundo ano da invasão, que deveria se ter completado em poucos dias e está custando por volta de 500.000 baixas, equivalentes ao número total dos soldados enviados para o ataque geral inicial.

Serguei Lavrov não teve escrúpulo em comemorar os “benefícios” dessa cruel guerra, incluindo entre esses a necessidade de uma purga que eles precisavam na sociedade russa, segundo noticiou a Radio France International (RFI).

A criminosa afirmação não é invenção de Lavrov, mas de seu patrão Vladimir Putin.

Esse, logo no início da guerra, em 17 de março de 2022, declarou num discurso no estádio Luzhniki: “O povo russo sempre será capaz de reconhecer a escória e os traidores, cuspi-los como se cuspiria um mosca que entrou na boca”.

O número exato é desde então desconhecido, porque entre os “purgados” e execrados se contam muitos cidadãos, quiçá bem mais de um milhão, que fugiram do país, por todas as fronteiras.

Russos fogem do recrutamento pela fronteira da Georgia
Russos fogem do recrutamento por todos os meios pela fronteira da Georgia
Uns não queriam ser enviados como recrutas forçados para a Ucrânia e outros temiam a miséria e a repressão interna que viria num alucinado clima de guerra.

Os deputados putinistas falam regularmente da necessidade de punir mais severamente aqueles que são considerados críticos do seu país, seja na Rússia ou no esterior, acrescentou a RFI.

De fato, no exterior os serviços secretos russos também executaram “oligarcas”, funcionários, ex-militares e dissidentes em geral.

Dois anos após o início do conflito, Sergei Lavrov insistiu:

A operação especial uniu a sociedade na Rússia num grau sem precedentes e ajudou a expurgá-la de pessoas que não tinham um sentimento de pertença à história e cultura russas.

“Alguns foram embora, outros ficaram e começaram a pensar. Mas a esmagadora maioria da sociedade se reuniu”.

O poder russo também pretende demonstrar, diz a RFI, tanto externa como internamente, que o apoio russo ao seu chefe de Estado é inquestionável.

Este é um dos objetivos das eleições presidenciais de meados de março.

O resultado delas já está escrito e para ninguém há suspense, tendo sido assassinados ou supressos legalmente os candidatos que poderiam colher certa votação e desdourar o triunfo aparatoso de Putin.



Dezenas de milhares de russos desafiam Putin no enterro de Navalny




"Ficou claro que Putin não é invencível na Rússia". A coragem popular