Qualquer gesto desaprovado pelo regime leva à prisão |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Um por um, os russos considerados insuficientemente patrióticos estão sendo sequestrados pelas forças de segurança enquanto o Kremlin aperta o laço da forca na sociedade, escreveu “The New York Times”.
Porque agora quase todo mundo é punível na Rússia de Vladimir Putin.
A onda de prisões em todo o país sinalizou que o Kremlin quer enforcar mais a sociedade russa.
Dmitry Kolker, 54, especialista em óptica quântica, estava na UTI num hospital de Novosibirsk em tratamento de um câncer em estágio avançado, tão fraco que não conseguia comer.
Mas agentes do Serviço Federal de Segurança, ou FSB, a sucessora da KGB, entraram pela força acusando-o de traição, o levaram para uma prisão em Moscou onde morreu na mesma semana sob custódia.
O acadêmico Vladimir Mau é protegido por seu advogado numa audiência em Moscou |
“Eles nem deixaram nossa família se despedir” e tem que pagar as custas do traslado do corpo de Kolker desde Moscou.
A mídia estatal informou que Dmitry Kolker foi preso passando segredos para o exterior.
Mas tudo aponta para um falso do FSB para reprimir o livre pensamento no mundo acadêmico.
Ivan Fedotov, 25, goleiro estrela da seleção nacional de hóquei sobre gelo, esporte muito praticado na Rússia, planejava viajar para os EUA.
Por causa disso, quando saía de um treino em São Petersburgo, foi preso por homens usando máscaras e camuflagem, acusado de evasão do serviço militar e levado para uma base de treinamento do exército russo não identificada.
“Ele não vai a lugar nenhum depois disso”, disse um veterano do esporte soviético à RIA Novosti.
Vladimir Mau, 62, reitor da Academia Presidencial Russa de Economia Nacional e Administração Pública, reeleito para o conselho da Gazprom assinou com mais de 300 altos funcionários acadêmicos uma carta aberta chamando a invasão da Ucrânia de “decisão necessária”.
Ivan Fedotov, goleiro da seleção, ia jogar nos EUA. Por esse 'crime' foi encerrado numa base naval do Ártico |
Nem seus laços com o Kremlin o salvaram.
“As pessoas que transmitem conhecimento são grandes inimigas do governo”, explicou Leonid Gozman, presidente do movimento União das Forças de Direita, e que trabalhou com Mau na década de 1990.
“A verdade é um inimigo aqui”, acrescentou Leonid Gozman.
A repressão obedece às palavras de Putin de que a Rússia precisava se purificar da “escória e dos traidores” pró-ocidentais e está criando um calafrio inconfundível.
“Todo dia parece que pode ser o último”, disse Gozman, 71, que teme de ele também ser preso. E, de fato, em fim de julho (2022) a polícia o prendeu no Metrô pouco depois de retornar de Israel, país do qual é cidadão.
Quanto maior violência, maior é o prêmio aos policiais
Nenhum dos alvos da recente repressão criticou francamente o Kremlin.
Em verdade, os adversários mais barulhentos de Putin já estavam presos.
Putin cada vez mais retrata os discordantes como uma ameaça existencial.
Outro físico de Novosibirsk, Anatoly Maslov, também foi preso por suspeita de traição.
Ekaterina Schulmann, cientista política que lecionou na academia de Mau indicou, que a pureza ideológica é a prioridade cada vez maior para as autoridades russas.
“Aqui, a fidelidade ambígua pode não ser permitida”. O próprio Putin disse isso quando criticou os traidores que residem fisicamente na Rússia, mas vivem no Ocidente “em seus pensamentos, em sua consciência de escravos”.
Quanto maior violência, maior é o prêmio |
No sistema de Putin, tal comportamento é mais recompensado do que censurado.
“No sistema a crueldade excessiva por parte de um funcionário raramente é punida, mas a suavidade excessiva pode sê-lo. Portanto, qualquer agente do governo procura exibir grande violência”, disse o reputado Leonid Gozman.
Nenhum comentário:
Postar um comentário