domingo, 18 de setembro de 2022

Agressividade russa angustia área estratégica da Europa

Kaliningrado pode ser o próximo pretexto de guerra russo
Kaliningrado pode ser o próximo pretexto de guerra russo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A bucólica região fronteiriça entre a Polônia e a Lituânia, famosa por suas infinitas terras agrícolas, lagos e cidades históricas, agora virou um foco de perigo, escreveu “La Nación”.

Entre a Bielorrússia, súbdito da Rússia que serviu de base para a invasão da Ucrânia, e Kaliningrado, enclave portuário russo na Europa Oriental desconectado do resto do gigante, fica a cidade de Suwalki que tem quase 70.000 habitantes e fica no corredor de 70 quilômetros entre dois grandes redutos militares do Kremlin.

Os estrategistas militares ocidentais temem que, após anexar a Crimeia em 2014 e invadir a Ucrânia este ano, a Rússia use a força para ocupar essa região e reunir Kaliningrado com a Bielorrússia.

Os governos da Rússia e da Bielorrússia fazem declarações angustiantes para a região, e um projeto de lei apresentado no Parlamento russo revoga o reconhecimento de Moscou da independência da Lituânia em 1991.

A Finlândia e a Suécia já se inscreveram na OTAN, enquanto o Cazaquistão e outras ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central se afastaram da órbita russa por desconfiança.

O Corredor Suwalki tem uma longa história de guerra. Napoleão a atravessou na invasão da Rússia; nas duas Guerras Mundiais foi terra arrasada até cair sob o controle da União Soviética à qual foi entregue Kaliningrado.

Pelo corredor de Suwalki passam os produtos russos até Kaliningrado
Pelo corredor de Suwalki passam os produtos russos até Kaliningrado
A volatilidade e agressividade do Kremlin preocupam as agências de inteligência militar ainda quando a ameaça da Rússia não é imediata.

Ewa Sidorek, ex-vice-prefeita de Suwalki, diz que muitos moradores ficaram com medo quando a Rússia invadiu a Ucrânia. Uma amiga tem mala feita e o tanque do carro sempre cheio, caso tenha que fugir. E no resto da Polônia as pessoas acreditam que a região está sob ataque.

O que preocupa é a belicosidade da Rússia. Na vizinha Goldap, a menos de 5 quilômetros da fronteira de Kaliningrado, os hotéis receberam cancelamentos de reservas. Zuzanna Rozmyslowska, diretora do centro turístico regional diz que “há muitos apartamentos à venda”.

A pequena cidade de Marijampole tem um plano de evacuação pronto. Após a invasão russa da Ucrânia, a prefeita Sandra verificou se os passaportes de seus pais estavam em ordem e suas malas estão feitas desde então.

Área alvejável pelos mísseis Iskander desde Kaliningrado
Área atingível pelos mísseis Iskander de meio alcance
com cargas nucleares desde Kaliningrado
Em caso de emergência levará os pais para a Alemanha, onde eles têm parentes, e ela irá para a Noruega, onde trabalhou no passado.

Os temores na região aumentaram em junho, quando Rússia e Lituânia entraram em confronto por causa de uma rota internacional de trem que atravessa a Lituânia e liga Kaliningrado à Rússia continental.

Quando os estados bálticos aderiram à União Europeia (UE) em 2004, a Rússia e a Lituânia concordaram nos termos para operar a ferrovia. Em 2021, segundo a Lituânia Railways, cerca de 250 trens russos cruzaram o território lituano todos os meses.

Mas em junho [2022], as autoridades lituanas aplicaram as sanções da UE, proibindo o embarque por trem de alguns produtos russos e interrompeu todo o tráfego ferroviário russo para Kaliningrado.

Moscou acusou a Lituânia de bloquear Kaliningrado e ameaçou com retaliações. No final de julho, a Lituânia e os aliados da UE concordaram em evitar conflitos, mas as pessoas continuam perturbadas.

Só num mes de 2021, a NATO enviou 15 voos para afastar violacoes do espaço aéreo do Bático
Só num mês de 2021, a NATO enviou 15 voos
para afastar violações do espaço aéreo do Báltico

“Há trens russos passando pela Lituânia. Como não ficar nervosos?”, diz Migle Onaityte, uma adolescente de 19 anos que mora em Pilviskiai, perto da ferrovia.

Muitos trens russos são escoltados por helicópteros lituanos para garantir que não parem e que ninguém entre ou saia da formação no meio da viagem.

Em comparação com 2020, de acordo com um porta-voz do Ministério do Interior, a Lituânia quadruplicou as patrulhas aéreas de sua fronteira.

“As pessoas pensaram que eram helicópteros russos e ficaram com medo”, diz o jovem Migle.


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