Tendência artística explora como ficaria Moscou após uma crise apocalíptica. (by_myjavier). |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
continuação do post anterior: balcanização da Rússia: um perigo maior
A falta de noticias dos mortos ou desaparecidos na “operação especial” na Ucrânia que deveria durar apenas três dias, após meses de desinformação oficial movimentou grupos de mães, esposas ou filhas que apelaram a Putin nas redes sociais russas por notícias dos desaparecidos.
Quando o exército devolvia algum cadáver era num saco lacrado sem explicações.
Multiplicaram-se então os protestos civis nas grandes cidades com repressão policial violenta.
Em quartéis em toda a Rússia e na própria Ucrânia, generalizaram-se os motins.
Os recrutados não recebem armas, ou armamentos que têm inscritos que foram para a guerra do Afeganistão, muitas vezes enferrujadas ou culatras de madeira podres.
Os recrutados precisam comprar fardas e equipamentos no mercado negro, muitas vezes dominado por oficiais corruptos.
Falta alimento e água em quartéis e no front. Houve o caso de soldados que foram mandados combater sem sapatos, e até sem fuzis que tinham que procurar pelo campo.
Nas capitais, a falta de comida gerou cenas como no auge da crise da Venezuela com populares miserabilizados brigando pelo lixo e prateleiras vazias nos supermercados.
As perdas de homens giram por volta de 300.000 mortos, desaparecidos, prisioneiros ou incapacitados. O governo putinista não fornece qualquer cifra crível.
Para o Kremlin o fim do mundo é preferível a perder a guerra |
Resultado: a Rússia está canibalizando tanques dos anos 50 guardados em depósitos, de uma eficácia contestável.
Os tanquistas dessas antiguidades chegam a enchê-las de explosivos, as jogam contra as posições ucranianas e pulam fora.
A Ucrânia, sem marinha de guerra, afundou por volta de 20 vasos de guerra russos, inclusive a nau capitania da frota, o Mokba, última palavra de tecnologia russa de recente posta a novo.
A Marinha da foice e do martelo, seu símbolo ainda, tirou seus melhores navios da grande base de Sebastopol onde estavam sendo dizimados por mísseis e bombas inteligentes.
Alguns navios irrecuperáveis foram canibalizados e seus canhões foram instalados sobre blindados sem torres em heterogênea e risível mistura andando sobre terra.
Os mandou para portos russos mais longínquos, mas mesmo assim foram atingidos nos portos russos do Mar Negro.
O último grupo que assim saiu devia ser protegido por um patrulheiro de alto mar da mais recente geração. Mas o moderno navio protetor bateu numa mina flutuante russa e afundou.
Propaganda da TV russa conta os segundos que demorariam os mísseis atômicos para atingir Berlim, Paris e Londres sem sobreviventes |
Apenas com esses dados, aliás só parciais, não é difícil compreender o desanimo e a revolta que tomou conta das fileiras militares russas.
Se compreende também que o motim de Prigozhin com sua milícia Wagner recrutada nas prisões russas (teria chegado a ter 50.000 homens, 20.000 dos quais mortos ou desaparecidos) tenha sido apoiada por generais do exército regular..
Vários generais e altos mandos russos, até alguns tidos como heróis de guerra, foram mortos ou destituídos, incluído o mais famoso general Popov e dois comandantes supremos da guerra na Ucrânia, o último o “general do Apocalipse”, Surovikhin, assim apelidado pela sua crueldade. Só de recente foi nomeado seu sucessor no comando.
O próprio Prigozhin, também tido como caudilho militar de muita liderança, a quem Putin teria perdoado a vida, foi morto num mal explicado acidente aéreo a 10 quilômetros de Moscou junto com o alto comando de sua milícia. Os milicianos juraram vingança contra Moscou.
E estes são só alguns exemplos e amostras. Uma lista completa de repressões, sumiços, suicídios, demissões, etc. de coronéis e generais seria intérmina.
O conjunto de exemplos citados torna factível que um cuidadoso documento interno do governo britânico alertasse para uma possível “desintegração e balcanização” da Rússia após o motim dos mercenários de Wagner.
“A Grã-Bretanha deve se preparar para o colapso repentino da Rússia”, em um processo que poderá ser tão rápido quanto o motim, acrescentou alarmantemente.
A ausência de resistência militar ao motim teria revelado que “algo novo está nascendo” no exército russo, provavelmente voltado contra sua cúpula de Moscou.
O motim dos milicianos patenteou a explosividade da união russa |
Em Voronezh o povo aplaudiu os amotinados passando.
John Foreman, ex-adido de defesa britânico em Moscou, disse que se Prigozhin tivesse derrubado a Vladimir Putin teria se configurado “o pior cenário possível”.
Lord Richards de Herstmonceux, ex-chefe britânico do Estado-maior de Defesa, especula que “temos um longo caminho a percorrer que é o pior dos mundos para o Ocidente”.
Alexander Duguin, suposto filósofo ocultista russo que Putin ouviria muito respondeu à TV indiana que a Rússia não perderá a guerra, porque antes de perder “nós vamos destruir o mundo”.
A Rússia se livrou do motim, mas ficou à beira da desintegração, acrescenta o informe.
Putin não pode fugir de suas responsabilidades quando está perdendo a guerra. É por isso que esse motim é o começo de seu fim, diz o relatório.
As nomeações dos novos dos chefes de defesa russos não são claras, e só o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, aparece frequentemente na TV pública.
O próprio Putin se faz ver raramente, e muitas vezes se supõe que só aparece um dos vários sósias.
Putin estaria executando um “expurgo” militar para evitar outra rebelião.
O motim mostrou o que pode acontecer na Rússia nos próximos meses com os diferentes movimentos da Chechênia, Komi e Arcangel, que querem se separar de Moscou.
Cada corporação, cada prefeito e cada oligarca poderoso está construindo sua própria milícia privada, em função do que pode vir, provocando guerras civis infindas dentro do imenso território russo.
Wagner dispõe de minas de ouro no Sudão, depósitos de energia na Líbia, urânio no Congo, gás e petróleo em Moçambique e sua impressionante sede central em São Petersburgo opera “normalmente” e continua a “recrutar”.
A Europa não entendeu até agora que a Rússia pode entrar rapidamente em uma guerra civil.
O professor Plinio Corrêa de Oliveira previu uma desintegração ou balcanização de trágicas e imensas dimensões há mais de 30 anos quando a Rússia beirou uma guerra civil na fase final do governo de Mikhail Gorbachev.
A releitura do que então previu esclarece sobre o que hoje poderia vir a acontecer:
“Se a URSS [N.R.: predecessora da atual Federação Russa] cai no caos, desfechará num neotribalismo.
Pais e filhos que fugiam indefesos foram mortos por russos |
“Esses pequenos centros independentes devem governar-se a si próprios, aceitando uma certa direção geral do governo do país.
“O fato é que nenhum dos altos personagens do Estado que aparecem na mídia [no caso atual, eventuais sucessores de Putin] está conseguindo formular um projeto coerente para a instauração de uma ordem.
“Caso acontecer uma guerra civil violenta, muitos russos não quererão entrar nela e no desespero vão procurar forçar os limites da Polônia e da Alemanha e invadir a Europa.
“Nesta hipótese a Rússia viraria uma fornalha caótica que despeja fragmentos étnicos e populacionais que se espalhariam pela Europa adentro”.
“Na Europa se encontrarão mais uma vez as forças bárbaras do Ocidente e forças bárbaras do Oriente, procurando comprimir o que resta de Civilização Ocidental”. (7-7-1991, sem revisão do Autor)
Na perspectiva do Sr.Dr.Plinio essa implosão da Rússia seria só o estopim de uma desintegração dos países a nível mundial.
Qué alegría poder leer un comentario tan profético del Sr. Dr. Plinio!! Que venga pronto el Reino de María y se convierta Rusia!!
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