domingo, 17 de março de 2024

Boomerang de frio congelou russos

Populares queimam o que podem sem aquecimento
Populares queimam o que podem sem aquecimento
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Centenas de milhares de russos ficaram sem aquecimento no ultimo inverno (2023-2024), que foi particularmente rigoroso. Avarias em sistemas de aquecimento coletivo foram relatadas em todo o país.

As maiores delas foram registradas em Podolsk, uma cidade dormitório nos arredores de Moscou com uma população de 149 mil pessoas, segundo reportagem da FranceTVinfo.

Caldeiras quebradas, canos estourando em quase todos os lugares foram uma constante na região de São Petersburgo, em Voroniej, Volgogrado, e até no Extremo Oriente...

Por toda parte, viram-se moradores intumescidos de frio e exaustos, se aquecendo em grupos em volta de esquálidas fogueiras alimentadas com restos de qualquer coisa que queime.

Alguns deles difundiram vídeos nas redes sociais para dizer que estão congelando em casa e literalmente de congelar até a morte.

Como sempre acontece numa situação destas na Rússia de Putin, os cidadãos entre desesperados e resignados ante o fatalismo ensinado por cismâticos e comunistas apelaram a autoridade máxima do Kremlin.

Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Esse encenou alguma reação e pediu ao Ministério de Situações de Emergência tomar medidas. Também trombeteou que estava assumindo pessoalmente a situação que só se resolveu com o fim do inverno.

Nas redes sociais, não poucos russos, e em particular os ucranianos, viram nisto a prova de que a Rússia inteiramente focada na economia de guerra, estava a pagar a conta, cobrada por uma mão providencial.

Na realidade o problema não é tão novo: está intimamente ligado às disfunções crônicas do regime russo igualitário e dirigista, que é mais do mesmo do que havia na falida URSS.

As enormes caldeiras feitas para aquecer inteiras áreas urbanas herdadas da era soviética foram mal conservadas, e a guerra consumiu as verbas não roubadas pelos burocratas que deveria consertá-las.

Há décadas que os governos prometem resolver o problema, mas a rigidez burocrática, o imediatismo político e a corrupção significam que nada está a melhorar.

Pelo contrário, tudo piora como no comunismo soviético.

O governo russo não pode acalmar o descontentamento porque a economia de guerra produz consequências de longa duração, entre as quais o deterioro ou omissão de conserto de todos os serviços públicos. Já se faz saber que as verbas para melhorar as habitações coletivas diminuirão drasticamente nos próximos anos.

Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Um quarto dos russos não tem acesso a banheiros conectados ao esgoto.

O projeto de modernização do aquecimento socializado é gigantesco... no papel. Entretanto, para acalmar a população, o governo recorre aos velhos métodos socialistas: escolher culpados.

Em Podolsk, o vice-chefe da administração e o diretor da sala das caldeiras foi detido e encarcerado por corrupção, mas nada foi solucionado.

Pensar que no início da guerra de invasão da Ucrânia a Rússia bombardeou seletivamente os sistemas de energia das cidades ucranianas, achando que o pobre país não suportaria o frio e acabaria capitulando.

A Ucrânia resistiu patriótica e religiosamente. Agora, tudo se passa como se um boomerang providencial tivesse abatido sobre a população russa recordes de frio com as infraestruturas de aquecimento sem conserto.

Ficaram em pânico Putin, seus cúmplices e o monstruoso dirigismo comunista que o déspota do Kremlin faz tudo para preservar. Pois o omniarca se aterroriza quando ouve os escravos agitando as correntes que os prendem, neste caso gemendo de frio.


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