domingo, 10 de março de 2024

Acusar de “seita”: velho artifício comunista, hoje putinista

Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregaddo de rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregado de
rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Moscou explora mais um artifício para reprimir os grupos dissidentes: os acusa de serem perigosas “seitas” cuja ameaça para a sociedade deve ser extirpada.

Nessa perseguição, o Kremlin tem um apoio destacado no líder anti-“seita”: o arcipreste Alexander Novopashin, que esteve afiliado até março de 2023 à Federação Europeia de Movimentos Anti-“seita” apoiada pela francesa, FECRIS.

Ele oficia na catedral cismâtica de São Alexander Nevsky, em Novosibirsk, dependente do Patriarcado de Moscou, porta-voz religioso das vontades de Putin.

A denúncia das ações deste agente foi feita por “Bitter Winter” site especializado em desvendar as perseguições religiosas no mundo.

O arcipreste é um inimigo profissional das “seitas” para o que ele elaborou um coquetel venenoso de ideologia criminosa do regime de Putin com os artifícios do movimento anti-“seita” ao estilo FECRIS.

Novopashin acusa os EUA de satanista e aponta contra a Ucrânia como responsável dos crimes satanistas cada vez mais freqüentes na Rússia.

Esse coquetel é derramado contra as vítimas escolhidas a dedo ou, por vezes, é mantido em silêncio aguardando para aplicá-lo em seu momento. A polícia política putinista escolhe.

Após o início da guerra de agressão contra a Ucrânia, a maior parte do coquetel saiu à luz para espalhar teorias anti-ucranianas tão absurdas quanto possível.

Em comparação com Alexander Dvorkin, outro importante ativista russo que trabalha contra ditas “seitas”, Novopashin se assemelha mais a um burocrata obtuso que multiplica as contradições, apontou Massimo Introvigne especialista nas perseguições anticristãs na Europa e no mundo.

O eclesiástico russo já apareceu bancando de especialista em espionagem.

Ele disse ao “News of Siberia” que a inteligência ucraniana recrutou “milhares” de agentes na Rússia para espionar infraestruturas militares, movimentos de tropas e comboios militares.

Ele apontou aos “tristes seguidores de Navalny”, o dissidente a quem definiu “agente estrangeiro e terrorista”. Navalny morreu depois num cárcere ártico, causando comoção mundial pelo aparente assassinato putinista.

Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior, representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior,
representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin não conta, nem sabe, onde se escondem os espiões ucranianos. “Na maioria das vezes”, explica o arcipreste da polícia putinista, “os encarceramentos de espiões ucranianos ocorrem em novas regiões do país”, ou seja, em partes da Ucrânia que a Rússia anexou fraudulentamente.

O arcipreste acusa a ucranianos de espionar para a Ucrânia na própria Ucrânia, o que não deixa de ter algo de histriônico.

“Mas o SBU [serviço de inteligência ucraniano] tenta expandir a sua rede de agentes, razão pela qual seus agentes são detidos mesmo na Sibéria”, acrescenta incongruentemente.

“Na verdade”, explica o inimigo das “seitas” que não são a sua, “milhares de agentes recrutados foram descobertos, a imprensa noticia apenas os casos mais ressonantes”.

E ali ele encaixar sua missão: “é necessária uma contra-propaganda em grande escala para suprimir as atividades de recrutamento do inimigo”.

“Os cidadãos da Federação Russa devem saber em detalhes como funciona a inteligência estrangeira, como ocorre o recrutamento e quais ameaças os agentes potenciais enfrentam para tais ações”. Essa denúncia justificaria a detenção de dissidentes anti-Putin.

“Tudo isto deve ser apresentado com exemplos modernos e históricos, da forma mais clara possível. Mas, infelizmente, esse trabalho não está sendo realizado”.

“Precisamos de uma visão mais ampla e inteligente do problema, e isto não é apenas uma questão da competência dos serviços de inteligência”, acrescentou.

A pátria russa precisa de lutadores contra as “seitas” que sejam clarividentes como ele para denunciar os espiões ucranianos que se escondem nessas “seitas”.

O jornal siberiano, em acordo com o arcipreste-policial Novopashin, apresenta uma antiga lista de 58 “seitas” (e “muitas outras”), que inclui de tudo, desde os Santos dos Últimos Dias às Testemunhas de Jeová, e desde a Cientologia à desconhecida Soka Gakkai.

O clérigo do Patriarcado de Moscou também define quem é cristão ou não, como no caso da Igreja da Nova Geração, que Putin persegue por qualquer razão, e que ele chama de “paródia blasfema do Cristianismo, movimento sectário ocultista”.

Obviamente, para ele a pior das “seitas” é o anticomunismo e o catolicismo levados a sério.


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