Su-24 russo cai derrubado por jato turco. Intervenção militar russa no Oriente Médio não pacificou mas acirrou os confrontos. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
O presidente russo Vladimir Putin anunciou de modo surpreendente a retirada do grosso de suas tropas da Síria. A saída pareceu tão estranha como sua decisão de efetivar bombardeios poucos meses antes.
Segundo o jornal de Madri “El Mundo”, a saída está ligada parcialmente a suas matreiras agressões militares em diversas frentes do planeta. Putin tinha prometido exterminar o Estado Islâmico, mas este segue ativo.
As bombas russas danificaram o território e as instalações dos inimigos do fundamentalismo islâmico e do governo pró-russo de Damasco.
Confira: Aviação russa bombardeia hospitais civis e força migração de massa
Se os adeptos do Corão estão sofrendo reveses é por causa das tropas e das milícias independentes sírias e iraquianas.
Para o jornal espanhol, Putin entrou no conflito para salvar o regime sírio, seu aliado, mas saiu sem vencer o adversário. Assim, a guerra não teria conclusão e o êxodo da população civil prosseguirá.
A aliança da Síria com Moscou perpetua os tempos e as estratégias soviéticas. Também é desses tempos que datam as bases russas no país.
Essa presença alavanca a influência russa no Oriente Médio e no Mediterrâneo Oriental.
O Estado Islâmico ganhou certo desafogo com a saída russa.
Mas também ganharam os adversários pró-ocidentais do regime socialista sírio que sofreram os ataques russos.
Eles poderão se recuperar diante da péssima alternativa: ou a brutalidade terrorista do Estado Islâmico ou a brutalidade socialista do amigo de Putin, o presidente Assad.
Opinião pública russa temia que aventura na Síria fosse acabar como a guerra no Afeganistão (foto). |
Porém, Putin viu claro que não era capaz da vitória militar que prometia. Tampouco se mostrou capaz de liderar a coalizão internacional contra os fanáticos do Corão.
Como também não conseguiu levantar as sanções ocidentais que ainda pesam sobre a Rússia pela invasão da Ucrânia.
Por fim, diz o jornal espanhol, a guerra na Síria estava lhe custando muito. Moscou está recortando seu orçamento por todos os lados. O barril de petróleo, outrora pago a preço de ouro pelo Ocidente, continua mal cotado, o rublo está desvalorizado e a Rússia se debate na crise econômica, pois a propriedade agrária continua comunistizada e incapaz de sustentar o país.
A guerra na Síria, trombeteada pelo ministério da propaganda putinista, excitou os ânimos nacionalistas por certo período, mas hoje já não inflama o orgulho nacional russo. A mídia russa apresentava os terroristas islâmicos como o diabo encarnado e Putin como o salvador do Bem em luta contra o Mal.
Mas, apesar de todos os esforços da propaganda estatal, o apoio popular à guerra na Síria ficou entre modesto e irregular. Pior ainda, 46% dos russos temem que a intervenção de Putin conclua vergonhosamente “num novo Afeganistão”.
Tendo tirado proveitos, alguns deles relevantes, outros medíocres e outros pífios, Vladimir Putin não hesitou em largar o conflito no qual pretendia aparecer como um “Cesare trionfatore”, como é encenado em certas peças teatrais italianas.
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