Sputnik V: vacina e arma da guerra psicológica russa segunda dose não sairá mais. |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Foi assinada a “certidão de óbito” da segunda dose da vacina russa Sputnik V após demorada morte anunciada, deplorou o jornal argentino “Clarín”.
Na Argentina, o governo esquerdista que banca ser “mais russo que os russos”, fez depender sua desastrosa campanha de vacinação do produto russo.
E criou barreiras de sabor ideológico contra a competição ocidental, sobretudo contra as vacinas americanas.
Agora o presidente Fernández liberou a vinda das vacinas Pfizer, Janssen e Moderna, em meio a uma onda de indignação nacional pela ausência das segundas doses da Sputnik V.
Essa indignação pode provocar a derrota eleitoral do partido governamental nas próximas eleições.
E isto importa muito mais ao governo do que os milhares de argentinos que estão morrendo ou, as centenas de milhares de pessoas passando angústias pela vacina que não aparece.
Enquanto o desastre sanitário cresce o governo ainda faz voar propagandisticamente um e outro avião de grande porte até Moscou para trazer com conta-gotas algumas vacinas russas.
A ata de defunção foi assinada oficialmente há 50 dias na Rússia quando o Kremlin aprovou a Sputnik Light, metade da vacina original, que dispensa a 2ª dose.
Propaganda governamental da Sputnik V foi inusitada. Agora Fernández implora vacinas americanas para não perder as eleições. |
A Sputnik V fora montada como um engenho de propaganda da guerra psicológica, na qual se destaca o ex-coronel da ex-KGB.
Só testes ainda não aprovados foram feitos quando Putin comemorou a medicina russa partindo na frente de todas as outras.
Mas era preciso produzi-la em quantidade suficiente para vacinar os russos e, também, os habitantes dos 67 governos que apelaram a uma das vacinas mais baratas do mundo e dos quais dependem 3,5 bilhões de pessoas.
Logo começaram os atrasos na fabricação das doses 1ª e 2ª. Não se sabe se a Argentina sabia, mas a preferência nacionalista pela Rússia segue sendo cega.
Os cidadãos argentinos começaram a perceber quando os atrasos entre a primeira e a segunda dose se tornaram evidentes.
Até hoje, apenas uma “elite” e mais alguns foram vacinados com o kit russo completo. E em primeiro lugar os amigos do governo (sem limites, desde que amigos) em vacunatórios “secretos” que acabaram descobertos.
Por fim, Moscou escancarou que não haveria segundas doses para o mercado externo porque nem consegue atender a demanda interna malgrado o povo fuja dos postos de vacinação do governo.
Governo esquerdista ficou “mais russo que os russos” até que Moscou confessou que não podia fabricar a segunda dose |
“Clarín” diz que é como se a Rússia nos tivesse vendido uma “casa com piscina” só que nos fundos no lugar da piscina só havia um poço.
O primeiro ministro da Saúde argentino caiu com o escândalo dos “vacunatórios” para os amigos do governo. A atual ministra, Carla Vizzotti, continua defendendo o incumprimento com as segundas doses pela dificuldade em fabricá-las.
É apenas uma parte da verdade. O que fica em pé é a cumplicidade política com a Rússia.
A Argentina assinou seu contrato com o Gamaleya Center por 20 milhões de doses 1 e 2. E as segundas não vieram, mas a Rússia oferece a Sputnik Light que nem foi aprovada na Argentina.
Seis milhões de argentinos que não receberam a segunda dose russa não seriam vacinados de forma satisfatória, quaisquer que sejam as promessas da ministra.
O chefe da Casa Civil, Santiago Cafiero, comparou a primeira dose russa com a dose única da Johnson & Johnson que tampouco foi homologada no país.
63% das vacinas não vieram nas datas pactuadas segundo o Ministério da Saúde argentino |
As autoridades atribuem as causas do pico letal às novas variantes e culpabiliza a população que não acredita na aplicação do governo.
Putin garantiu que a questão seria resolvida em poucos dias, e o primeiro-ministro Mikhail Mishustin anunciou gastos adicionais de 25 bilhões de rublos (US $ 347 milhões).
Apenas um sétimo da população russa recebeu pelo menos alguma dose. Agora todos se deverão conformar à Sputnik Light, dose única.
O Governo argentino se fotografa com aviões da empresa de bandeira Aerolíneas Argentinas que devem trazer, aos poucos, segundas doses para aqueles que levam três meses aguardando enervados após a primeira aplicação.
Se se acreditar no governo, o número nacional oficial de infectados na Rússia é de quase 5,5 milhões.
As estatísticas de óbitos fornecidas pela força-tarefa de Putin estão sempre em crescimento (mais de 130.000 em junho). Mas ainda assim poucas pessoas acreditam e muitos acham que o número deve ser muito mais horrível.
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