domingo, 13 de setembro de 2020

Cérebro da dopagem russa:
“não se pode confiar em Putin”

Putin observa em Sochi se o doping está dando medalhas
Putin observa em Sochi se o doping está dando medalhas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs









Grigory Rodchenkov [pseudônimo para evitar represálias] vive oculto nos EUA há cinco anos. Correndo o risco de revelar sua verdadeira identidade ele gravou em vídeo uma entrevista a The Associated Press. Nessa, o químico revelou o esquema usado pela Rússia para fraudar os controles antidoping nos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi 2014.

“São minhas medidas de segurança porque estou no risco físico de ser assassinado, disse. “E quero viver”.

Grigory Rodchenkov foi diretor do laboratório nacional antidopagem da Rússia, suspenso pela Agência Mundial Antidopagem (WADA) em 2015 pelo elaborado programa de doping patrocinado pelo Estado da Rússia. 

Ele ajudou a desenvolver e distribuir substâncias proibidas para melhorar o desempenho de milhares de estrelas do esporte russas de 2005 a 2015.

As provas apresentadas por Grigory fizeram da Rússia de Vladimir Putin o suspeito nº1 no mundo esportivo internacional, e as informações do laboratório que já teve em Moscou continuam sendo válidas na análise dos atletas russos.

“Putin separa a oposição em dois grupos: os inimigos e os traidores”, explicou o químico para fazer sentir o regime de repressão que pesa sobre ele sobre o país.
“Eu entrei na categoria dos traidores onde todos devem ser supressos e mortos. Não há dúvida alguma: ele me quer morto”.

Laboratório nacional antidopagem da Rússia
trabalha pela dopagem de seus atletas
No exílio, documentou a história de sua vida no livro “O caso Rodchenkov: Como eu derrubei o império secreto do doping de Putin” (“The Rodchenkov Affair: How I Brought Down Putin's Secret Doping Empire”, WH Allen – Penguin, UK).

No livro narra como conspirou na Rússia soviética e na Rússia de Putin, para corromper o esporte a serviço dos regimes totalitários.

Por fim, se arrependeu, fugiu e virou uma testemunha privilegiada do sistema montado para burlar os sistemas antidoping com intuito de propaganda internacional.

Rodchenkov foi o cérebro do “Coquetel da Duquesa” uma combinação de esteroides anabólicos [hormônios sintéticos que estimulam o desenvolvimento do corpo, usados para obter vantagem competitiva] e de enganações que converteu Rússia numa máquina de ganhar medalhas nos Jogos Olímpicos de Sochi 2014, onde ficou no topo do medalheiro com 13 ouros.

Após as descobertas, muitas dessas premiações ilegítimas foram anuladas, a Rússia ficou proibida de participar nas Olimpíadas de Tóquio (atletas russos poderão participar a título privado e não como representantes do país).

Espiões russos garantiam que o “Duquesa” não fosse detectado nos testes antidoping: agentes do Serviço Federal de Segurança (FSB, nas siglas em russo, herdeira da KGB) tinham dissimulado uma passagem no muro do laboratório de controle em Sochi para trocar as amostras com esteroides por urina limpa de droga durante a noite.

O livro denúncia 'The Rodchenkov Affair - How I Brought Down Putin's Secret Doping Empire'
O livro denúncia 'The Rodchenkov Affair -
How I Brought Down Putin's Secret Doping Empire'

O acobertamento da dopagem foi além dos Jogos Olímpicos de Inverno e se estendeu aos Jogos Olímpicos de Verão, os Paraolímpicos, o campeonato mundial de atletismo e todos os esportes mais importantes.

Atletas russos foram proibidos nos Jogos Olímpicos de Rio de Janeiro 2016 e nos de Inverno em Pyeongchang (Coreia do Sul) 2018, porque o Comitê Olímpico Internacional não quer proibir delegações completas que representam um país.

Por isso, alguns atletas russos podem competir a nível internacional se provam que não se dopam.

Em 2019 a Rússia ficou proibida de participar em todos os grandes eventos esportivos do planeta durante quatro anos, tendo sido reveladas novas ilegalidades, inclusive com dados tirados do laboratório de Rodchenkov em Moscou.

“O esporte faz parte da política de Putin para mostrar ao Ocidente como a Rússia é boa”, afirma Rodchenkov.

“Não se pode confiar na Rússia. Não se pode confiar nas autoridades que certificam, e não se pode permitir que os laboratórios (antidopagem) prossigam suas atividades num futuro previsível”, concluiu a entrevista citada por “La Nación”.

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