domingo, 22 de março de 2020

Putin, o “espírito de Munique”
e a tragédia prevista em Fátima

 Milicianos da 'República Popular de Donetsk' beijam ícone de Putin. Um cristianismo adulterado posto a serviço de uma ambição anticristã.
 Milicianos da 'República Popular de Donetsk' beijam ícone de Putin.
Um cristianismo adulterado posto a serviço de uma ambição anticristã.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Vladimir Putin “brinca com fogo” no leste da Europa, registrou para a História o filósofo francês Bernard-Henri Lévy para o “The New York Times”.

Lévy criou a imagem de pensador radical da esquerda chique, não podendo ser tido como um conservador ou direitista.

Na teoria, Lévy não está tão longe do pensamento que justifica Putin, porém na prática está espantado com os crimes que estão sendo cometidos até com ar de "cristianismo" pelo chefe do Kremlin.

E pela covardia do Ocidente face à arrogância do chefe que aspira a ser "czar" da "nova Rússia" com uma reforma da Constituição.
Para Lévy, Putin “mobilizou os piores elementos existentes na região: criminosos, ladrões, estupradores, ex-presidiários e vândalos e os transformou numa força paramilitar”.

Os comandantes que executam as instruções de Putin devem matar ou afugentar intelectuais, jornalistas e autoridades morais nas regiões ocupadas pelas "milícias" e "voluntários", acrescenta o filósofo.

Lévy, entretanto omite a perseguição anticatólica e contra todo religioso não submisso ao Patriarcado de Moscou

Para Lévy, as milícias separatistas pró-russas constituem um exército de agitadores que toma conta e destrói prédios públicos, hospitais, escolas e prefeituras do país que pretende liberar.

Segundo o autor, Putin permitiu a consolidação de “uma verdadeira guerra de gangues”.

Em certa medida ele não as controla plenamente, pois umas se voltaram contra as outras numa anarquia que faz pensar nos piores momentos do caos feudal.

Mercenários em estado de ebriedade se gabam de matar ucranianos
Mercenários em estado de ebriedade se gabam de matar ucranianos
“É um mundo do crime soturno, sem estrutura ou disciplina, de baderneiros indômitos que só conhecem a lei da selva e constituem um novo estilo de tropa sem uma mínima ideia da guerra, cujas leis, Deus é testemunha, desconhecem em absoluto.

“A essa coleção heterogênea o presidente Putin entregou um arsenal aterrador com o qual esses soldados amadores não estavam familiarizados e com o qual vêm brincando como crianças com fogos de artifício.

“A Rússia distribuiu grandes quantidades de armamento pesado aos separatistas e os treinou para utilizar o sistema de mísseis SA-11, do gênero que se acredita ter sido empregado para derrubar o voo MH 17 da Malaysia Airlines”.

Lévy tenta imaginar a gangue vitoriosa comemorando seu triunfo com um fundo de restos fumegantes e cadáveres de crianças e turistas.

E a consternação dos oficiais russos destinados pelo Kremlin para supervisionar esses mísseis,  quando o autoproclamado ministro da Defesa da República de Donetsk se atribuiu a responsabilidade de abater um avião militar ucraniano que acabou sendo o voo comercial civil MH-17 da Malaysia Airlines.

Fivela de mercenário pró-Putin
Fivela de mercenário pró-Putin
O filósofo verbera com paixão a atitude dos pró-russos que deixaram os corpos das vítimas abandonados nos campos ou amontoados em vagões mal refrigerados, que exportaram para a Rússia partes possivelmente comprometedoras, e pilharam os objetos de valor dos corpos das vítimas.

Quando escreveu isso, Lévy não pensava na América Latina e no quanto certas gangues e/ou organizações criminosas de narcotraficantes ou de ideologias socialo-progressistas estão predispostas a tentar em nossos países análogas ‘proezas’ anárquicas seguindo o modelo de Putin

Para o filósofo, em todo caso estamos diante de crimes contra a humanidade, resultantes de uma estratégia de guerra nova promovida pelo chefe máximo do Kremlin.

Em face dessa ofensiva que faz do crime organizado uma tropa de choque regular, o autor francês acena para a obrigação moral de tirar as consequências.

Lévy aponta sinais desalentadores de claudicação na União Europeia diante do comandante da imoral ofensiva russa.

Para ele, a atitude de apaziguamento, de condescendência e até bajulação de certos representantes europeus em face de Putin, se chama “espírito de Munique”.

Charmberlain, Daladier, Hitler, Mussonlini e Ciano  após a assinatura do Acordo de Munique.  Falso espírito de paz preludiou a pior das guerras.  Obama e a UE parecem optar por análoga entrega.
Charmberlain, Daladier, Hitler, Mussonlini e Ciano
após a assinatura do Acordo de Munique.
Falso espírito de paz preludiou a pior das guerras.
Obama e a UE parecem optar por análoga entrega diante de Putin.
O mesmo espírito que, em 1938, preludiou a imensa tragédia da II Guerra Mundial.

Para ele, esse espírito é um estigma.

Estigma, acrescentamos, que atrai horizontes sombrios como os de 1938 sobre os países liderados por populistas enamorados de Putin.

Esse horizonte apavorante pode ser concluído com base na história humana. Mas, se considerarmos a dimensão moral dos movimentos presentes diante de Deus, o que dizer?

Os terríveis horizontes para os quais Nossa Senhora acenou em Fátima e o papel que neles teria a Rússia revolucionária, fazem com que a ‘manobra Putin’ ganhe toda a sua dimensão.


domingo, 15 de março de 2020

Cresce o risco de III Guerra Mundial

Embaixador Sérgio Duarte mais perto da guerra mundial do que nunca
Embaixador Sérgio Duarte: mais perto da guerra nuclear do que nunca
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O conflito atômico mundial que parecia afastado há 50 anos, quando entrou em vigor o TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), hoje está mais perto do que se poderia imaginar.

Assim declarou em entrevista por email à “Folha de S.Paulo”, o embaixador Sérgio Duarte, 85, que foi o presidente da sétima revisão quinquenal do TNP, em 2005, e de 2007 até sua aposentadoria, em 2012, foi o alto representante das Nações Unidas para Assuntos de Desarmamento.

“Não há dúvida de que nos tempos de hoje o mundo é mais perigoso do que em qualquer época desde o início da era nuclear”, disse Duarte que preside em Belo Horizonte a ONG internacional Conferências Pugwash, receptora do Nobel da Paz de 1995 por seus esforços em prol do desarmamento nuclear.

Em 2019, os EUA abandonaram um dos principais acordos de limitação de armas nucleares do fim da Guerra Fria após a Rússia ostentar repetidamente que estava fabricando armas atômicas de uma capacidade destrutiva inaudita.

O presidente Trump revidou com o anúncio da fabricação de novas bombas atômicas menos potentes, porém mais empregáveis.

A Coreia do Norte continua produzindo, testando e esbravejando, com resultados até ridículos, mas que bem podem servir de estopim universal.

E o Irã causa calafrios no mundo tendo ficado claro que seus propósitos de desnuclearização não podem ser levados a sério ou são mera tapeação para esconder objetivos sinistros.

Em 2020 os EUA e a Rússia devem decidir se prolongam o maior tratado de limitação de arsenais global, o Novo Start, que vence em 2021.






Todos os nove possuidores de armas nucleares, sem exceção, vêm aumentando seus arsenais ou acrescentando novas tecnologias destruidoras, como mísseis várias vezes mais velozes que o som, uso de técnicas cibernéticas, lasers, inteligência artificial e outras inovações, numa verdadeira proliferação tecnológica”, afirmou o embaixador Sérgio Duarte.

Americanos e russos têm 92% das ogivas do mundo, respectivamente 1.750 e 1.650 prontas para uso. Isso fora um estoque de 8.130 bombas operacionais que podem ser reativadas.

Ainda possuem armas nucleares os rivais Índia e Paquistão, China, França, Reino Unido, Coreia do Norte e Israel —que faz disso um segredo de polichinelo útil no xadrez do Oriente Médio, escreveu a “Folha”.

 Míssil 'hipersônico' 'Tsirkon' que Putin garantiu estar desenvolvendo
 Míssil 'hipersônico' 'Tsirkon' que Putin garantiu estar desenvolvendo
O embaixador observou que o Novo Start, sempre foi vago no quesito desarmamento. “A única cláusula não produziu resultados satisfatórios, ao contrário, os países nucleares vêm aperfeiçoando seu poder”, explicou.

O TPAN (Tratado de Proibição de Armas Nucleares), de 2017, não está em vigor porque as potências atômicas e as candidatas a serem não querem ratifica-lo.

O Brasil foi pioneiro com a antiga rival Argentina, é signatário do TNP e do TPAN, e um regime de confiança mútua está instaurado.

Mesmo assim, o país se recusa a assinar o Protocolo Adicional ao TNP, de 1997, que prevê inspeções internacionais. Os EUA tentam convence-lo, mas sem sucesso inclusive sob o governo Bolsonaro.

“Nenhum instrumento no campo da não proliferação nuclear até hoje logrou adesão universal”, sublinhou Duarte.

Ele falou das “profundas divergências e à rivalidade, desconfiança e hostilidade entre EUA e Rússia”.

“Os arsenais existentes são suficientes para inviabilizar completamente a civilização humana caso sejam utilizados, por desígnio ou acidente”, resumiu o embaixador.

Esse tenso fundo da questão contradiz as aparências da era da “morte do comunismo”. Por isso, para os espíritos melhor informados, fatos que seriam vistos como menores podem mexer com um potencial de devastação universal.

O 'Yantar' no porto do Rio
O 'Yantar' no porto do Rio
Foi o caso do Yantar, navio russo de pesquisa e inteligência suspeito de espionagem na Europa e nos Estados Unidos, que a Marinha brasileira monitorou durante uma semana.

O Centro Integrado de Segurança Marítima do Rio de Janeiro detectou a embarcação de tecnologia avançada de sensores, dentro da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) do Brasil em fevereiro, segundo noticiou “O Estado de S.Paulo”.

Feito o primeiro contato, o navio sumiu do monitoramento, levantando a hipótese de que o equipamento AIS, que permite a sua localização, tenha sido desligado.

Por fim, um helicóptero da Marinha e um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) localizaram a embarcação a 80 quilômetros das praias do Rio.

A tripulação russa ou não atendia às chamadas ou respondia com evasivas, enquanto trabalhava numa área de cabos submarinos de internet. Acabou atracando no porto do Rio, onde ficou poucos dias e partiu.

O que mais intrigou as autoridades náuticas foi o fato de a embarcação, “reaparecer” perto dos cabos submarinos de comunicação que ligam o Brasil a outros países, após ficar por quase uma semana com o seu aparelho identificador desligado.

Com sensores de alta tecnologia para rastrear o fundo do mar, o navio oceanográfico Yantar sempre esteve na mira de governos. A Rússia repete que o navio de 5.700 toneladas e 108 metros atua em pesquisas científicas e em ajuda a outros países.

O Yantar anunciou que cooperaria na localização do submarino argentino desaparecido “San Juan”. A mídia exultou comemorando que então sim o submarino perdido seria encontrado. Nada disso, depois de recolher os dados que procurava retornou a Rússia, sem dizer nada.

Esquema de funcionamento do Yantar
Esquema de funcionamento do Yantar
A marinha britânica o considera um “navio espião” e os EUA suspeitam que os pequenos submarinos do Yantar operam especialmente no rastreamento de áreas de cabos submarinos.

E o Yantar ouve e vê tudo até 6 mil metros de profundidade porque pode lançar dois minissubmarinos de 25 toneladas da classe Konsul capazes de descer até esses abismos.

Os cabos submarinos respondem por 99% das comunicações transoceânicas e 97% das conexões de internet entre os servidores do mundo.

Uma ruptura desses cabos pode não apenas causar danos gravíssimos à economia global, como deixar países inteiros sem acesso à internet.

Relatório de 2019 do Real Instituto de Serviços para Estudos da Defesa, citado pelo “O Estado de S.Paulo”, revela que os navios de inteligência da Rússia “perambulam discretamente por áreas estratégicas o tempo todo em todo o mundo”. 

Um atrito com suspeitadas operações de sabotagem ou espionagem com um navio provocador desses, ou alguma fricção armada com as incursões aéreas russas mirando Ocidente que publicamos periodicamente no nosso blog, poderia servir de pretexto à má vontade para ativar o potencial nuclear.

É uma das espadas de Dámocles que pairam sobre o mundo.


domingo, 8 de março de 2020

“Valores familiares” de Putin incluem assassinato, diz neto de antigo presidente do PC dos EUA

O advogado Sergei Magnitsky foi sequestrado e assassinado porque denunciou esquema de corrupção no Kremlin.
O advogado Sergueï Leonidovich Magnitski foi sequestrado e assassinado
porque denunciou esquema de corrupção no Kremlin.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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política internacional,
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O empresário Bill Browder, que chegou a dirigir na Rússia o fundo de investimento Hermitage Capital Management, declarou já hái anos no programa “60 Minutes” da TV CBS que:
“o regime russo é um regime criminoso. Estamos lidando com um país nuclear dirigido por uma gangue de bandidos como a Máfia”.

Browder disse isso numa entrevista a Cliff Kincaid, diretor do Accuracy in Media Center for Investigative Journalism (Centro de Jornalismo Investigativo de ‘Acuidade na Mídia’), grupo independente sediado em Bethesda, Maryland, EUA.

Accuracy in Media analisa a objetividade das notícias veiculadas nos órgãos do macrocapitalismo publicitário e a veracidade das declarações publicadas.

Na entrevista, Browder manifestou seu espanto com o engano de certos conservadores que acreditam que Vladimir Putin seja um defensor dos valores familiares.
Se você quer falar de valores familiares, vai falar com a família Magnitsky sobre o que aconteceu com sua família em consequência da maldade de Vladimir Putin”, disse.
De fato, Sergei Magnitsky, advogado da firma de Browder na Rússia, foi sequestrado e assassinado pelas autoridades em 2009. Ele tinha revelado um esquema de corrupção no Kremlin que desviou um total de $230 milhões de dólares.

Browder disse que muita gente acha que Putin é bom porque “ignora o fato de que ele é um frio assassino que mata por dinheiro...”

O avô de Browder foi chefe do Partido Comunista dos EUA e o neto quis investir na Rússia assim que acreditou ter uma oportunidade.

Sergueï Leonidovich Magnitski:
seu assassinato pelos 'serviços' do Kremlin ainda faz falar Ocidente.
Porém, ficou estarrecido quando o caso de Magnitsky evidenciou de modo concreto como Putin e seu grupo de ex-policiais da KGB estavam saqueando o país e consolidando seu poder.

Segundo Browder, Putin age na base de um “princípio da Máfia”: “tirar o máximo de dinheiro possível do Estado e ficar no poder segurando esse dinheiro”.

A invasão da Ucrânia soou em 2014 como alerta de que não se pode confiar no Kremlin. Era para ter ficado alerta antes, agora que entrou vai ser difícil tirar.

Moscou havia assinado um acordo com os EUA para garantir a integridade territorial do país, a Crimeia incluída. Mas agora o Leste ucraniano está invadido, Putin enrola e não sai.

Na Ucrânia, Putin teve um semelhante no presidente filo-comunista Viktor Yanukovych, que praticou os mesmos abusos e viveu nos mesmos luxos espalhafatosos e crapulosos até fugir.

Browder concorda que o estilo soviético de controle e da desinformação fazem parte do plano.

Como Putin controla a maioria das fontes de informação dentro da Rússia e está enforcando a Internet ainda ficam raras janelas de liberdade de expressão. Mas pessoas se perguntam o que ele vai fazer para acabar enforcando-as, acrescentou o empresário.

A respeito das afirmações de que a fortuna de Putin atingiria algo como 70 bilhões de dólares, Browder apenas responde: “Ouvi números maiores do que estes”.

William 'Bill' F. Browder, em Davos 2011. Neto de presidente do Partido Comunista dos EUA não quer voltar a Russia pois teme ser assassinado.
William 'Bill' F. Browder, em Davos 2011.
Neto de presidente do Partido Comunista dos EUA
não quer retornar à Rússia pois teme ser assassinado.
Enquanto investidor na Rússia, Browder participava regularmente dos encontros do U.S.-Russia Forum, em Washington e Moscou.

Mas como Browder começou a criticar os desmandos do Kremlin, foi expulso do país em 2005, seus escritórios foram devassados em 2007, e seu advogado Magnitsky desapareceu em 2008, sendo assassinado em 2009.

Browder disse conversar com muitos homens de negócios no Foro Econômico de Davos, na Suíça, e que o 90% deles não pretendem investir mais na Rússia porque temem que lhes aconteça o mesmo.

Não faz sentido investir na Rússia quando há a possibilidade real de acabar morto. Não há direito de propriedade, não há direitos legais, não há regras”, explicou.

As pessoas não estão bem informadas sobre o que acontece na Rússia e agem com base no que elas querem que a Rússia seja em lugar do que ela realmente é. Infelizmente, a verdade sobre a Rússia é muitíssimo ruim”, acrescentou.

O Congresso americano aprovou a Sergei Magnitsky Rule of Law Accountability Act em 2012, uma lei que faz represálias econômicas e de vistos contra os agentes envolvidos no caso de Magnitsky ou acusados de abusos contra os direitos das pessoas.

Mas a lei precisa ser implementada, e isso não é do gosto de muitos funcionários altamente posicionados em Washington, e secretamente muito mais próximos de Vladimir Putin do que parece à primeira vista.


domingo, 1 de março de 2020

Teia de sicários russos enreda Europa

Yevgeny Prigozhin, o irritadiço e mafioso 'chefe da cozinha' de Putin, escolhe os mercenários e os 'trolls'
Yevgeny Prigozhin, o irritadiço e mafioso 'chefe da cozinha' de Putin,
escolhe os mercenários e os 'trolls'
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Em dezembro/19, o jornal francês “Le Monde” revelou que pelo menos 15 espiões russos, da Unidade 29155 da Direção Geral do Estado-Maior General das Forças Armadas da Federação Russa (GRU), estavam usando a região alpina francesa da Haute-Savoie, como base logística para tarefas secretas, incluindo assassinatos e sabotagens, repercutiu o Eurasia Daily Monitor, da The Jamestown Foundation.

Concomitante a isso, autoridades alemãs divulgaram que agentes russos estavam ligados ao assassinato de Zelimkhan Khangoshvili, um ex-comandante rebelde da Chechênia, morto em Berlim, em agosto, com três tiros disparados em pleno dia, por arma com silenciador, num parque de Berlim. O suspeito preso teria chegado da França, acrescentou “Le Monde”.

A Alemanha acusou o governo russo de relutância em cooperar na investigação do assassinato, sendo dois diplomatas que trabalhavam para a GRU na embaixada russa de Berlim declarados personae non gratae.

Cinco meses depois, o opositor checheno Imran Aliev foi morto a facadas num hotel de Lille, noticiou a Agência France Presse (AFP) citada pelo mesmo “Le Monde”.

Ele foi um blogueiro muito crítico do regime pro-Putin de seu país, parte da Federação Russa.

Costumava postar sob o pseudônimo Mansur Staryi, no Facebook e no YouTube, críticas muito fortes ao autoritário dirigente russo.

No dia 17 de novembro do ano passado, um vídeo publicado no YouTube mostra o diplomata russo Georgiy Kleban dando dinheiro a um oficial sérvio em Belgrado.

É prática comum da GRU manter uma ou duas pessoas entre os adidos militares de cada embaixada russa. Suas tarefas incluem contatos com círculos políticos e militares do estado anfitrião.

O envenenamento de Sergei V. Skripal na Grã-Bretanha acelerou a descoberta da Unidade 29155
O envenenamento de Sergei V. Skripal na Grã-Bretanha
acelerou a descoberta da Unidade 29155
A Agência de Inteligência de Segurança da Sérvia (BIA) expressou profunda insatisfação com o fato de a inteligência russa usar a capital sérvia como plataforma para inúmeras operações especiais em outros países europeus.

Grande número de nacionalistas sérvios radicais, supostamente conservadores ou identitários foram treinados por instrutores da GRU no leste ucraniano ocupado por separatistas filo-russos, segundo a Deutsche Welle.

Já o Ministério Público búlgaro denunciou que o primeiro secretário da embaixada russa em Sofia fez reuniões secretas com cidadãos búlgaros, incluindo um alto funcionário com acesso a informações classificadas da Bulgária, da União Europeia e da OTAN visando ações contra o Ocidente.

Os serviços de inteligência russos instalaram dispositivos de escuta do porão ao telhado do hotel cinco estrelas Marinela, em Sofia, que foi utilizado por líderes europeus na capital búlgara.

O proprietário do hotel, Vetko Arabadjiev, foi agente do serviço secreto búlgaro na era soviética, e hoje é próximo do Partido Socialista Búlgaro, apoiado por Moscou.

A Rússia também visava usar seu esquadrão de assassinos móveis da Unidade 29155 para eliminar o traficante de armas búlgaro Emilian Gebrev.

Uma série de investigações conjuntas apontou que pelo menos oito agentes da GRU tentaram envenenar Gebrev, seu filho e o diretor de sua empresa.

Os matadores dispunham de um veneno da família “Novichok”, que é exclusividade da GRU, também empregado contra o ex-agente Skripal e sua filha no Reino Unido.

Por sua vez, a Catalunha é a região europeia onde mais opera a Unidade 29155, ou “esquadrão móvel” da GRU.

O traficante de armas Emilian Gebrev sobreviveu a tentativa de assassinato em Sofia, Bulgária
O traficante de armas Emilian Gebrev
sobreviveu a tentativa de assassinato em Sofia, Bulgária
Em 2017, foi identificado um “rastro russo” no movimento pró-independência da Catalunha. Em novembro, o Supremo Tribunal da Espanha investigou o envolvimento de um espião russo para desestabilizar a Espanha nas vésperas do referendo na Catalunha.

Ele agia sob o falso nome de “Sergey Fedotov” e esteve envolvido em tentativas de assassinato em todo o continente europeu.

Em outubro, o Serviço de Informações de Segurança da República Checa (BIS) divulgou a existência de uma rede que dependia do Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB, a “KGB de Putin”) e era financiada pela embaixada russa em Praga.

A tarefa dessa rede consistia em ataques cibernéticos contra alvos na República Checa e seus aliados.

Apesar de o governo russo negar o seu envolvimento na enxurrada de escândalos de espionagem que pulularam por toda a Europa nos últimos meses, ficou muito claro que tais desmentidos de Moscou não apresentam credibilidade alguma, diz o Eurasia Daily Monitor.

Com efeito, a rede de inteligência da Rússia trabalha para minar a coesão interna e a unidade dos países europeus.