domingo, 8 de dezembro de 2024

Soldados norte-coreanos vítimas da inanição

A desnutrición cresce entre os militares (foto tirada desde a fronteira chinesa)
A desnutrição cresce entre os militares (foto tirada desde a China)
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A ASIAPRESS continua a receber relatos de várias áreas da Coreia do Norte sobre um aumento dramático dos soldados famintos devido à redução do fornecimento de alimentos para bases militares.

A fonte desses relatórios são soldados reenviados para casa devido à desnutrição. A ASIAPRESS realizou uma pesquisa sobre as condições nas bases na parte norte do país em meados de setembro.

Os parceiros de reportagem se reuniram com soldados enviados para casa por desnutrição. Assim obteriam melhor controle sobre as realidades da fome dentro das forças armadas.

Um parceiro de reportagem (“A”) na província de Yanggang disse à ASIAPRESS :

“Houve um aumento de soldados que voltaram para casa devido à desnutrição. ... um jovem soldado que voltou depois de um período em uma base em Wonsan, província de Kangwon, disse que comia duas refeições por dia na base, e em dias sem almoços, as autoridades pularam o treinamento da tarde e fizeram os soldados tirarem cochilos.


Outro parceiro de reportagem (“B”) na província de Hamgyung do Norte, conversou com um soldado que disse à ASIAPRESS :

“Há três jovens que sofrem de desnutrição que receberam alta por razões médicas em minha unidade de vigilância. Provavelmente há mais voltando para casa para não ser desonrosamente dispensado.

Soldados clinicamente inaptos para continuar o serviço militar devido a doenças, ferimentos ou desnutrição são liberados sob um sistema chamado “gamjongjaedae”.


“B” disse à ASIAPRESS mais sobre o que ele ouviu do soldado:

“O jovem com quem falei passou um ano e meio em uma base em Jajupo, província de Hwanghae do Norte, e recentemente voltou para casa por razões médicas.

“As refeições da base eram apenas sal e milho, nem mesmo totalizando 400 gramas por dia.

“Ele me disse que ‘havia três refeições por dia, mas elas equivaliam a apenas uma refeição dividida em três refeições’.

O soldado também disse que houve um aumento tão grande de soldados famélicos que ninguém poderia ser enviado para trabalhar em fazendas durante o verão.


Outro parceiro de reportagem na província de Yanggang (“C”) disse à ASIAPRESS o seguinte:

“Os soldados não podem voltar para casa só porque precisam de tratamento médico para uma doença. A maioria dos jovens que retornaram recebeu alta temporariamente por razões médicas.

“Pais com algum dinheiro subornam os hospitais para obter um documento que confirme que seus filhos precisam ser tratados em hospitais.

“Os hospitais então informam as bases militares de onde os soldados vieram”.


Por que os soldados estão famintos durante a época de colheita?

Uma entre três crianças norte-coreanas com menos de cinco anos está desnutrida
Uma entre três crianças norte-coreanas com menos de cinco anos está desnutrida
Soldados desnutridos na Coreia do Norte não é um problema novo.

Muitos desertores que serviram nas forças armadas testemunharam sobre a falta de suprimentos de alimentos em bases militares desde o início dos anos 90.

Existem três grandes fontes de alimento fornecidas aos militares norte-coreanos.

1. Algumas das colheitas de fazendas coletivas são enviadas para bases militares. Este alimento é chamado de “arroz militar”.
 
2. Alimentos importados do exterior.
 
3. Milho e legumes cultivados por soldados em campos perto de bases militares. Esses campos são chamados de “buopji”.

 
Na primavera deste ano, o regime de Kim Jong-un ordenou que todos os “buopjis” militares fossem combinados com os campos administrados por fazendas coletivas, embora não esteja claro quantos dos campos agrícolas administrados por militares estão realmente sob gestão de fazendas coletivas.

A comida é adquirida sistematicamente pelo governo. Mas esse, no entanto, não consegue o suficiente para alimentar os soldados, o que levou a níveis crônicos de desnutrição nas forças armadas.

A partir de abril de 2024, o governo norte-coreano não conseguiu adquirir arroz branco e milho suficientes para as lojas de alimentos estatais, por isso tirou das lojas militares de alimentos para resolver rapidamente o problema.

O impacto de tudo isso é que os soldados estão sofrendo de fome, o que levou a um aumento nos crimes por eles cometidos.

A ASIAPRESS se comunica com parceiros de reportagem por meio de telefones celulares chineses contrabandeados para a Coreia do Norte.


domingo, 1 de dezembro de 2024

Suécia e Finlância preparam cidadãos para agir numa guerra

'Em caso de crisis o guerra' apresentado na Finlância
'Em caso de crise o guerra' apresentado na Finlândia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Os governos sueco e finlandês estão preparando a população residente em seus países para saber como agir e resistir a uma guerra total que poderia estar na iminência de acontecer enquanto Putin apronta pretextos para iniciar uma guerra geral, até nuclear.

O bem informado site “Hoje no Mundo Militar” traz um conciso resumo da última atualização do manual dee resistência para os civis em caso de invasão.

O manual sueco leva o título “Em caso de crise ou guerra”. Este manual é publicado periodicamente, mas hoje virou de máxima atualidade. Pode conferir "Em caso de crise ou guerra" (em inglês).

Com as tensões com a Rússia aumentando, a Suécia, o mais novo membro da OTAN, atualizou o guia para os seus cidadãos enfrentarem situações de grave crise ou guerra.

O manual para os residentes na Suécia (em inglês)
O manual para os residentes na Suécia (em inglês)
O guia sueco começa com as seguintes frases:

“Estoquem comida e se preparem para a guerra” e "Se a Suécia for atacada, nós nunca nos renderemos!"

O governo sueco alerta ainda que todos os cidadãos, entre os 16 e os 70 anos, poderão ser convocados para proteger o país em caso de guerra.

O guia informa o cidadão a reconhecer as sirenes de alarme e o que fazer em cada caso, dando também indicações sobre os melhores locais para se proteger em caso de ataque aéreo.

O guia também orienta as pessoas a se prepararem para períodos de escassez, indicando a estocagem de água, comida, remédios, eletricidade (baterias) e aquecimento (roupas quentes).

Estoquem comida e se preparem para a guerra
Estoquem comida e se preparem para a guerra
O guia também pede aos cidadãos que tenham dinheiro em espécie em casa para pelo menos 1 semana de gastos habituais.

Por fim, o guia dá dicas sobre o que levar em caso de ordem de evacuação. Dentre os itens estão comida e água para alguns dias, roupas quentes, alguns remédios, celular com powerbank e carregador, mapa e bússola.

O guia "Em caso de crise ou guerra" também alerta para os riscos de guerra psicológica e interferências, uma especialidade da Rússia. Segundo o guia, os suecos devem estar preparados para duvidar de "certas fontes" e pede para estarem atentos a tentativas de manipulação através de imagens, vídeos e discursos criados por Inteligência Artificial.


O manual sueco de resistência e sobrevivência numa guerra próxima



domingo, 24 de novembro de 2024

Internacionalização da guerra põe o mundo em vilo

Um dos primeiros solldados norcoreanos capturados por Ucrânia
Um dos primeiros soldados norte-coreanos
que teriam sido capturados pela Ucrânia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







A presença de milhares de soldados norte-coreanos na Rússia fez soar tétricos alarmes de uma internacionalização da guerra na Ucrania.

A Coréia do Norte provoca fricções bélicas com vários países vizinhos, especialmente com o Japão e o ditador da Coreia do Norte estaria angariando recursos econômicos ou militares para desestabilizar ainda mais a Ásia.

Pyongyang dinamitou estradas e vias férreas que a ligam ao Sul, enquanto a Coreia do Sul anunciou que enviará instrutores e tradutores à Ucrânia, além de novos armamentos.

As unidades norte-coreanos seriam compostas por militares de carreira fanatizados por uma ideologia delirante.

Mas, as primeiras informações falam que os soldados estariam se entregando pois o que mais desejariam é fugir da ditadura de Kim jong-un.

A Rússia, entretanto, os quer como “bucha de canhão” pois suas perdas em homens foram tão elevadas que, para substitui-los, Putin precisaria de um levantamento em massa, mas a indignação potencial da população russa lhe sugere que poderia haver um levantamento popular.

Do outro lado, o projeto ucraniano “Eu quero viver” lançou sua campanha prometendo aos norte-coreanos em sua língua que se se rendem receberão asilo em campos de prisioneiros preparados para recebê-los de forma digna e segura, tratamento respeitoso, moradia, alimentação três vezes ao dia e cuidados médicos, não valendo a pena, portanto, ir à morte que está ceifando as tropas russas.

Oito oficiais norcoreanos mortos nos primeiros engajamentos
Oito oficiais norte-coreanos mortos nos primeiros engajamentos
A Rússia ao buscar reforços de regimes como o norte-coreano está sinalizando um isolamento crescente no cenário mundial.

Nesse panorama desolador, ela está enviando ao combate soldados sem treino e procura soldados no exterior. Por vezes para servir de ‘mulas’ carregadoras de material, por causa da perda de caminhões de transporte militar.

A situação desesperadora dos russos emerge com clareza vendo que unidades decisivas são aniquiladas em virtude de péssimas táticas dos seus generais brutais e impiedosos.

Um influencer russo que tem conexões diretas com seu exército fala que os comandantes jogam os soldados em ataques suicidas para se ufanar de conquistas ante os chefes de Moscou.

Encenação para propaganda de guerra de solidariedade ruso-norcoreana, logo desmentida pela trágica realidade
Encenação para propaganda de guerra de solidariedade russo norte-coreana,
logo desmentida pela trágica realidade
Os grupos de assalto sem preparo são jogados como peões numa carnificina onde morrem em poucas horas sendo substituídos por outros novatos também sem chance de sobrevivência, sem munição, sem ordens claras e sem plano estratégico.

A situação é ainda mais crítica quando se sabe que foram são enviados a missões sem retorno, militares categorizados e experientes, como são os tripulantes de submarinos ou do único porta-aviões, aliás desativado.

É tropa de elite desperdiçada em operações com baixíssima chance de sucesso mostra um desprezo dos superiores pelas baixas e dispostos a sacrificar centenas de vidas para mostrar algum progresso.

O desgaste das tropas russas se tornou evidente e indica uma ruptura da moral interna que Moscou não consegue esconder por muito tempo.

Para Putin está em jogo a estabilidade de seu governo abalada por uma oposição dentro das forças armadas e da população civil. Tanta perda de vidas provocar uma crise interna que vai além do campo de batalha.

Missil intercontinental do tipo que a Rússia teria disparado contra a Ucrânia
Míssil do tipo que a Rússia teria disparado contra a Ucrânia
Apelando a alianças questionáveis para preencher os vazios a Rússia suscita crescentes dúvidas sobre seu futuro militar. Ela prefere tudo à confessar derrota.

Mas, se essa se torna inevitável, o ditador poderia reagir de um modo imprevisível e ferozmente cruel.

A ameaça que significou o uso de míssil balístico intercontinental contra a Ucrânia (“novo míssil balístico de alcance intermédio”, segundo Putin), e que pelo seu desenho parece feito para ser jogado contra o Ocidente se montado com carga nuclear!, foi um aviso da maior gravidade.


domingo, 17 de novembro de 2024

Putin conduz mata-mata paranoico no mundo

Assassinatos sanguinários estarrecem aos dissidentes
Assassinatos sanguinários estarrecem aos dissidentes
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






As evidências dos crimes ordenados por Putin fora da Rússia estão se acumulando, registradas algumas por Lilia Yapparova, jornalista que escreve sobre a Rússia desde a Letônia para jornais americanos, citada em post anterior. Cfr: Putin persegue, sequestra e mata opositores fora da Rússia.

Suas fontes, conservadas no anonimato prudencialmente, incluem pessoas que sobreviveram a sequestros de líderes da diáspora russa em todo o mundo, segundo reportagem do “The New York Times”. “Putin Is Doing Something Almost Nobody Is Noticing” (“Putin faz coisas que quase ninguém percebe”).

Certos países anfitriões costumam ser cúmplices das redes russas, escreveu Lilia. No Cazaquistão, serviços especiais locais cooperam com a Rússia para capturar procurados, por exemplo.

No Quirguistão, a polícia usa reconhecimento facial para localizar os procurados pelo Kremlin, que devem fugir às montanhas onde não chega o sinal.

Sergei Podsytnik, jornalista que investigava ligações militares entre a Rússia e o Irã, ficou eufórico após descobrir uma fábrica de drones recém sancionada.

Quando ele retornava a sua casa em Duisburg, Alemanha viu, espreitando na esquina, um desconhecido que seguia cada movimento seu.

Repressão de Putin não conhece limites
Repressão de Putin não conhece limites
Um colega de Podsytnik também percebeu e apelaram à polícia de Duisburg que não achou possível que os agentes da Rússia operassem na sua pequena cidade.

Porém, segundo o Dossier Center, organização de pesquisa sediada em Londres, Duisburg é um centro desde onde agentes de inteligência militar russa fazem sabotagem no exterior. Podsytnik acabou recebendo proteção.

Por vezes, exilados acabam desaparecendo sem deixar vestígios. Os desaparecimentos se deram até na porta de uma embaixada na Armênia ou de uma igreja rural na Geórgia, e reapareceram em centros de detenção russos.

Em meados de 2023, grupos civis apelaram ao Parlamento Europeu para que seja regularizado o status de pessoas que se recusaram a lutar no exército de Putin. Porém, não receberam resposta significativa.

Margarita Kuchusheva, advogada de imigração no Chipre conta que o asilo político é rotineiramente negado às vezes com argumentos monstruosamente falsos de que “a situação na Rússia é normal e você pode contar com um julgamento justo”.

Na Rússia, os opositores são frequentemente assassinados
Na Rússia, os opositores são frequentemente assassinados
As organizações de direitos humanos que tentam ajuda-los, estão à beira do fechamento por falta de fundos.

Mas a Rússia esbanja fundos para acusa-los de traição e terrorismo.

A perseguição é paranoica e se estende por todo o mundo.

O fato mais lancinante é a cumplicidade de governos que se fingem defensores do Direito, mas sorrateira ou escancaradamente simpatizam com os ogros do Kremlin, conclui Lilia.



domingo, 3 de novembro de 2024

Putin persegue, sequestra e mata opositores fora da Rússia

Lilia Yapparova não acreditava que Putin fosse tão ruim. A descoberta da verdade foi sinistra
Lilia Yapparova não acreditava que Putin fosse tão ruim.
A descoberta da verdade foi sinistra
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Lilia Yapparova, jornalista que escreve sobre a Rússia desde a Letônia para jornais americanos, foi aconselhada a não comprar comida pela Internet.

Ela achou exagerado mas levou a sério quando, apenas um mês depois, sua colega Elena Kostyuchenko foi envenenada na Alemanha, em tentativa de assassinato cometida pelo estado russo.

Sua reportagem foi publicada pelo “The New York Times”. “Putin Is Doing Something Almost Nobody Is Noticing” (“Putin faz coisas que quase ninguém percebe”)

Lilia conta que fatos como esses se tornaram rotina.

Em 2023, a jornalista investigativa Alesya Marokhovskaya, foi assediada na República Tcheca; e o corpo de Maxim Kuzminov, desertor russo, apareceu na Espanha crivado de balas. O Kremlin estava envolvido nos casos.

As figuras da oposição russa, acresce Lilia, sabem muito bem que, mesmo no exílio, continuam sendo alvos dos serviços de inteligência da Rússia.

Há também centenas de milhares de russos que abandonaram o país porque não queriam ser recrutados à força para a invasão de Ucrânia ordenada por Putin. Eles também são vigilados ou sequestrados.

Maxim Kuzminov não queria a guerra e abandonou seu helicóptero. Apareceu ametralhado na Espanha
Maxim Kuzminov não queria a guerra e abandonou seu helicóptero.
Apareceu metralhado na Espanha
A repressão acontece longe dos holofotes da grande mídia e, muitas vezes, com o consentimento tácito ou a prevenção inadequada dos países onde se refugiaram.

É uma coisa assustadora, diz Lilia: o Kremlin está caçando pessoas comuns em todo o mundo, e ninguém parece se importar e poucos ativistas de direitos humanos os ajudam.

Um fonoaudiólogo preso pelo governo “amigo” do Cazaquistão a pedido de Moscou que enlouqueceu em uma prisão local.

Um cuidador de idosos foi preso pela Interpol em Montenegro por ordens russas.

Uma professora foi detida por guardas na fronteira com Armenia após falar a seus alunos sobre os atrozes crimes dos soldados russos em Bucha, Ucrânia.

Um dono de loja de brinquedos, um alpinista industrial, uma roqueira punk: esses são outros casos pegos na rede do Kremlin, em todo o mundo.

No Reino Unido, os exilados que assistem a eventos anti-Putin em Londres percebem agentes “que se destacam facilmente em meio ao público”, segundo Ksenia Maximova, ativista anti-Kremlin.

Elena Kostyuchenko ama a Rússia. Criticou a Putin e a comida comprada na Internet estava cheia de veneno
Elena Kostyuchenko ama a Rússia. Criticou a Putin
e sua comida comprada na Internet chegou cheia de veneno
Oficiais de inteligência russos monitoram as diásporas na Alemanha, Polônia e Lituânia, diz Evgeny Smirnov, advogado especializado em casos de traição e espionagem.

Já houve emigrados russos perseguidos e ameaçados em Roma, Paris, Praga e Istambul.

Alguns métodos são pérfidos, escreve Lilia. Lev Gyammer, ativista exilado na Polônia, recebe mensagens de texto há dois anos, de sua mãe muito aflita pela sua ausência e que clama por seu retorno. Só que a mãe de Lev, Olga, morreu há cinco anos.

Outro expatriado russo na Finlândia cujos pais são muito idosos e doentes acreditou no telefonema da cuidadora sobre um incêndio no apartamento dos pais.

Ele foi correndo e acabou sendo levado para a prisão e torturado. Nunca houve incêndio nenhum, foi enganação mortal da polícia secreta.



domingo, 20 de outubro de 2024

Padres católicos presos e torturados pelos russos como na era comunista

Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa
Padres Ivan Levitsky e Bohdan Geleta, fotografados ainda em prisão russa
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Os padres católicos ucranianos redentoristas Ivan Levitsky e Bohdan Geleta reapareceram em imagens publicadas pela Igreja Greco-Católica Ucraniana (IGCU).

Segundo essa fonte, as fotos foram obtidas quando os dois sacerdotes ainda estavam detidos numa prisão russa, informou o “Catholic Standard”.

Os sacerdotes foram presos por soldados russos em Berdyansk, na Ucrânia, em novembro de 2022, e recentemente foram libertados, segundo anunciou o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, em junho de 2024.

O padre redentorista Bohdan Geleta contou na Zhyve TV, canal de televisão da Igreja Greco-Católica Ucraniana, que ele e seu colega redentorista, o Pe. Ivan Levitsky, tiveram sua paróquia Igreja da Natividade do Santíssimo Theotokos em Berdyansk, invadida por soldados russos que os levaram pela força.

A Igreja Católica nunca soube onde estavam reclusos nem as condições exatas em que viviam durante a maior parte dos 18 meses de cativeiro, mas reapareceram muito emagrecidos e com a cabeça rapada numa troca de prisioneiros.

O Pe. Geleta confirmou que foram sujeitos a tortura psicológica e física segundo informou o Arcebispo-mor católico ucraniano Sviatoslav Shevchuk.

Após a ocupação russa da cidade, os dois sacerdotes continuaram celebrando a Divina Liturgia, rezando e acolhendo refugiados, disse o Pe. Geleta.

No entanto, um carro marcado com a letra “Z”, símbolo das tropas invasoras na Ucrânia, circundou ameaçadoramente a Igreja “diversas vezes” até que prenderam o Pe. Geleta que se preparava para celebrar a Divina Liturgia, e o Padre Levitsky que ia para uma reunião de oração ao ar livre.

Os militares entraram na igreja mascarados e armados e ordenaram irem com eles sem outra explicação senão a ameaça dos fuzis.

O Pe. Geleta tirou os paramentos e foi levado para o local de detenção preventiva central em Berdyansk.

Foram acusados de não terem pedido autorização às autoridades para rezar na cidade. A acusação é típica das forças de ocupação russas na Ucrânia.

Essas suprimem todas as religiões, exceto os ‘popes’ obedientes ao Patriarcado de Moscou que servem aos ditadores do Kremlin.

Os russos destroem casas de culto, prendem, torturam e matam clérigos e estabeleceram leis para restringir a prática religiosa que não sirva à propaganda de Putin.

Na região de Zaporizhia, os ocupantes proibiram a Igreja Católica, os Cavaleiros de Colombo e a Caritas, braço humanitário oficial da Igreja Católica mundial.

O Pe. Geleta e o Pe. Levitsky, foram mantidos separados em celas úmidas onde “podiam ouvir gritos provenientes dos corredores”, enquanto os prisioneiros eram torturados.

Um companheiro de cela do Pe. Geleta levou choques elétricos e foi obrigado a aprender o hino nacional russo, sob ameaça de execução.

Os carrascos queriam que os padres cooperassem com a polícia política de Putin, a FSB, que tenta recrutar líderes religiosos para torná-los propagandistas do domínio da Rússia nas zonas ocupadas da Ucrânia.

“Mas nós recusámos”, disse o Pe. Geleta.

Os inquisidores “não gostavam da palavra ‘guerra’”, preferindo o eufemismo do Kremlin, “operação militar especial”, para descrever os seus ataques à Ucrânia.

Esse é um capricho de Putin, mas a invasão foi qualificada até genocídio, segundo grandes relatórios do New Lines Institute e do Centro Raoul Wallenberg para os Direitos Humanos.

Os raptores acusaram falsamente os padres de armazenarem armas na sua Igreja, pelo que seriam julgados e condenados a 25 anos de prisão.

Foram então transferidos para a colônia penal russa n.º 77 em Berdyansk.

O Pe. Geleta foi trancado numa cela solitária com um alto-falante que “tocava canções soviéticas durante o dia todo. Nessa altura, percebi como é que uma pessoa enlouquece, percebi porque é que as pessoas se suicidam”, disse ele.

“O Senhor Deus ajuda e dá força através da oração. Deus, Jesus Cristo, Maria e os anjos estavam todos presentes. A oração era a salvação. E, como eu estava a dizer, senti a oração da Igreja”.

Os padres foram transferidos algemados e vendados, com sacos na cabeça para outra colônia penal em Horlivka, Donetsk, onde os prisioneiros eram “maltratados quase todos os dias (…) a admissão era muito terrível, muito cruel”, disse o religioso.

Os combatentes do regimento Azov da Ucrânia e os civis que desafiaram a ocupação russa de Mariupol foram “lá muito maltratados”, contou.

Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas recebidos pelo Núncio Apostólico
Os padres (com a bandeira ucraniana) apenas libertados de prisões e torturas
recebidos pelo Núncio Apostólico
Os padres foram abusados várias vezes. “O Pe. Ivan foi espancado tão severamente que perdeu a consciência duas vezes”, lembrou o padre Geleta.

Durante as torturas o sacerdote “lembrou-se de Jesus Cristo, da Sua Cruz, do Seu sofrimento. “E foi uma força e uma graça tão grandes que eu dizia: Senhor, eu posso sofrer contigo”, disse ele.

Ele e o Pe. Levitsky partilharam a mesma cela durante apenas 15 dias dos 10 meses de prisão em Horlivka, onde estavam detidos cerca de 2.000 prisioneiros de guerra.

“Tivemos a oportunidade de conhecer muitas pessoas” que “contaram-nos muitas coisas e estavam à procura de ajuda espiritual”, acrescentou o Pe. Geleta.

No cárcere, o sacerdote organizou reuniões de oração de manhã e à noite, lendo a Bíblia e recitando o Pai-Nosso e a Ave Maria pelas intenções dos prisioneiros.

Também pôde ouvir confissões e sentiu que “toda a Igreja” rezava pela libertação dos sacerdotes.

Os russos consideram os católicos da Igreja Greco-Católica Ucraniana como “uma seita que se separou da Ortodoxia” pelo que os seus sacerdotes devem ser “erradicados, isolados da sociedade e purificados”.

Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan
Católicos assistindo Missa nas jornadas da Praça Maidan
Os captores louvam a Deus segundo os ritos da ‘igreja ortodoxa russa’ enquanto batem nas pessoas. “É um fanatismo religioso.”, contou o sacerdote.

“Sofremos e carregámos esta cruz com os prisioneiros que lutaram por uma Ucrânia livre, para estar perto de Deus, da salvação do Senhor”, disse.

O Pe. Geleta exortou às famílias, mães, esposas, que têm filhos, pais e irmãs em cativeiro, a não perderem a esperança, que rezem, que se voltem para Deus.

“O Senhor Deus através destes sofrimentos conduz todos até Si. Caso contrário, uma pessoa poderia não suportar aquilo”, explicou o sacerdote torturado, mas no fim libertado.



domingo, 6 de outubro de 2024

Milhares de recrutas russos sem treino militar se rendem

Rendição de milhares de conscritos russos é uma dor de cabeça para Putin
Rendição de milhares de recrutas russos é uma dor de cabeça para Putin
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Mais de 300 jovens recrutas russos foram interrogados numa prisão ucraniana visando sua troca por prisioneiros ucranianos cativos dos invasores. O jornal americano “The New York Times”, assistiu à cena e a relatou.

Eles tinham um rosto jovial e corpos delgados. A batalha que perderam e em que ficaram prisioneiros na região de Kursk foi a primeira de suas jovens vidas.

O “New York Times” os menciona só pelo primeiro nome para garantir sua segurança caso sejam devolvidos à Rússia. O simples fato de ter falado diante de repórteres americanos poderia lhes custar excessivamente caro voltando ao despotismo putinista.

Na prisão ucraniana viviam deitados em beliches ou sentados em bancos de madeira, assistindo a desenhos animados numa televisão fornecida pelo carcereiro. De fato, pareciam nunca ter saído de casa.

Vasily, capturado no início da incursão ucraniana na Rússia contou que o único que ele e seus colegas pensaram foi em fugir e se esconder num arvoredo onde foram capturados ingenuamente por astutos ucranianos.

Os jovens soldados nas entrevistas descreveram como se tinham rendido ou abandonado as suas posições espantosamente desorganizadas.

Conscritos russos en Kursk mal conseguiam combater sem treino nem armas, com oficiais incompetentes
Recrutas russos em Kursk mal conseguiam combater
sem treino nem armas, com oficiais incompetentes
Vasily disse: “nunca pensei que isso fosse acontecer”, referindo-se ao ataque ucraniano.

O comando militar russo parecia ter achado que nunca ocorreria o que aconteceu e instalou nas defesas fronteiriças recrutas inexperientes, alguns com poucos meses nas filas.

Não houve sangrentas lutas: os recrutas abandonaram as suas posições percebendo que acontecia o nunca imaginado e que sua inferioridade em número e armas era grande demais.

A lei proíbe enviar recrutas para fora da Rússia e o exército, com falta de combatentes treinados, utilizou os jovens ignorantes para proteger a fronteira.

Na Rússia, os recrutas são enrolados após o ensino médio para tarefas braçais, como remover neve de bases.

Os soldados, porém, devem ser voluntários e são contratados, sendo melhor pagos e hoje suportam o peso das guerras na Síria e na Ucrânia.

Foi assim que sem muita dificuldade que os ucranianos que capturaram centenas de jovens numa semana e meia.

A prisão ucraniana de Sumy, já interrogou 320 prisioneiros de guerra, 80% deles recrutas, antes de serem enviados para mais longe dos combates, amontoados em celas no porão, onde estão protegidos de possíveis ataques aéreos.

Eles usavam moletons, camisetas e shorts que seus captores lhes haviam fornecido. Alguns tinham ferimentos de estilhaços ou balas.

Com os olhos arregalados e aparentemente desorientados, observaram enquanto os guardas escoltavam os jornalistas até às celas para entrevistá-los.

Eles foram estacionados em pelotões de 30 em fortes de concreto ou terra a pouco menos de 2 quilômetros ao longo da fronteira. Lá eles fugiram com presteza, segundo testemunhas.

Os recrutas russos prisioneiros narraram condições penosas no exército russo
Os recrutas russos prisioneiros narraram condições penosas no exército russo
A bem dizer, eles não estavam interessados em dar a vida por Putin.

A população recebeu alimentos e ajuda humanitária dos ucranianos e Moscou mandou deportar a 200.000 cidadãos russos, parecendo desconfiar da simpatia desses pelos ucranianos.

Igor, um jovem magro de 21 anos contou: “informamos os comandantes, mas eles não reagiram”. Então concluíram que “não podemos fazer nada” e se refugiaram numa fortificação que logo pegou fogo.

A corrupção no exército russo, objeto de continuados expurgos, consumiu os recursos para reforçar as defesas fronteiriças junto à Ucrânia.

O grupo de Igor tinha apenas um rifle sem recuo com o qual nunca foram capazes de acertar os veículos de combate Bradley ucranianos fornecidos pelos EUA. O rifle disparava, mas o cano estava torto e o tiro saia na direção errada.

Sergei, de 20 anos, é do vale do rio Volga, contou que o líder do seu pelotão de 28 soldados ordenou uma retirada caótica. Refugiaram-se numa casa da cidade, até que chegaram os soldados ucranianos.

A reação foi unânime e o líder do pelotão gritou pela janela: “Há recrutas aqui. Queremos nos render.”

Dmitry, 21 anos, do norte da Rússia, disse que seus rádios pararam de funcionar no dia que, segundo lhes tinham dito, nunca viria o inimigo.

Os ucranianos descreveram uma defesa russa fraca e desorientada.

E os recrutas do “segundo maior exército do mundo” continuam a ser capturados.

Bradley ucraniano avança celeremente dentro da Rússia
Bradley ucraniano avança celeremente dentro da Rússia.
Ucranianos ficaram surpresos pela fraqueza das defesas russas
As perdas de jovens soldados ucranianos recrutados pela URSS para as guerras no Afeganistão e na Chechênia tinham causado descontentamento generalizado.

Agora, famílias perturbadas organizaram protestos semanais em Kiev, a capital ucraniana, para chamar a atenção para seus entes queridos detidos. A Rússia não revela o número de ucranianos que capturou, mas presume-se que há mais ucranianos do que russos.

A chegada dos recrutas presos deixou felizes as famílias de soldados ucranianos detidos na Rússia pois poderá haver um intercâmbio de prisioneiros mais numeroso.

Exemplo típico é Tetyana Vyshnyak que tem um filho capturado e condenado a 22 anos de prisão russa.

Havia pouca esperança de que ele fosse libertado, mas agora, disse ela, “para todos nós, esta é uma grande oportunidade e esperamos que nossos entes queridos sejam redimidos”.

Valeria Subotina, ex-assessora de imprensa do Regimento Azov, passou 11 meses em cativeiro russo antes de uma troca em 2023, disse: “espero que a operação na região de Kursk possa mudar isto”.

Soldados russos protestam contra o 'trato animalesco' que recebem dos oficiais
Soldados russos protestam contra o 'trato animalesco' que recebem dos oficiais
Acresce que os ucranianos presos na guerra são maltratados, torturados, forçados a trabalhos esgotadores, e até assassinados nos campos de concentração russos, contra todas as normas internacionais sobre o trato dos prisioneiros de guerra.

Putin acena com recrutar números mirabolantes de jovens ou operários nessas condições, mas não há tempo para lhes dar treino militar.

Além do mais carece angustiantemente de uniformes, armas, veículos, combustíveis e fornecimentos para sustentá-los.

Agora precisa tirar soldados profissionais da Ucrânia para conter a invasão de seu território pelos ucranianos que jamais imaginaram encontrar uma resistência tão fraca.

domingo, 15 de setembro de 2024

Expurgo de generais russos porque a guerra vai mal

Facilidade com que drones destroem caríssimos depósitos russos é atribuída a desvio de verbas na construção
Facilidade com que drones destroem caríssimos depósitos russos
é atribuída a desvio de verbas na construção
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Os insucessos e/ou parcos sucessos daquela que foi acreditada como “segunda potência militar do mundo” na invasão da Ucrânia desencadearam crises de desconfiança no próprio coração de Moscou.

Esfuma-se dia após dia a aura de ditador intocável de iniciativas invencíveis que envolvia a Vladimir Putin.

Esse então passou a recorrer ao terror e à eliminação de seus mais próximos auxiliares, caprichosamente tidos em suspeição de traições com que sonham os ditadores em desgraça.

O vice-ministro de Defesa a cargo da logística militar durante quase 15 anos Dimitri Bulgakov, fora demitido em setembro de 2022.

Agora foi detido pela polícia secreta de Putin, a FSB, sucessora da KGB, e posto na prisão de Lefortovo, em Moscou, onde gemem detidos altos funcionários e dissidentes que caíram no malestar do dono do Kremlin, informou “El Mundo” de Madri.

O ex-comandante militar é a enésima vítima de alto perfil na purga incessante que Putin conduz entre os principais comandantes do país tentando achar um bode expiatório para o mal andamento da guerra de invasão da Ucrânia.

A FSB é seu grande braço de execução, acentuando o papel dos serviços secretos na tentativa de reverter os maus resultados russos na guerra.

O Kremlin quer mais eficiência na frente de combate passando por cima até da prioridade anterior que era a da lealdade ao ditador ainda que atropelando qualquer moral ou realidade.

O organograma militar estava definitivamente abalado desde que Putin demitiu o anterior ministro da Defesa, Sergei Shoigu, amigo pessoal do líder russo, substituindo-o por um economista, o tecnocrata Andrei Belousov.

Explosão do novíssimo míssil intercontinental 'Satan II' também atribuída a falhas de oficiais corruptos
Explosão do novíssimo míssil intercontinental 'Satan II'
também atribuída a falhas de oficiais corruptos
Assim que foi nomeado, Belousov iniciou uma limpeza no Ministério e no Estado-maior que abalou a cabeça das forças armadas russas.

Os altos funcionários amigos do antigo ministro da Defesa foram despedidos ou presos, em geral acusados de corrupção e suborno.

Entre eles, o vice-ministro Temur Ivanov, que supervisionava as construções do Ministério da Defesa. A corrupção e desvios de verbas eram segredos a vozes no Exército Vermelho e quando a frente de combate continuou enviando notícias que não eram as que Putin queria, os que seriam condenados já estavam escolhidos.

O caso de Ivanov é paradigmático, segundo “El Mundo”.

Supervisionar as construções do Ministério da Defesa russo era uma das posições mais lucrativas na Rússia: onde milhões são ganhos com o peculato de recursos públicos.

A bem dizer, até o próprio Putin é acusado a boca pequena de fantásticos desvios de capitais, bem aplicados no Ocidente.

Mas, ai de quem falar forte!

A Rússia está se preparando para uma guerra longa e custosa e não quer perder um único rublo (menos os que estão no meu bolso, diriam alguns).

A máquina estatal russa, durante anos funcionou na base da corrupção, a serviço da ideologia mais corrupta da História.

O enriquecimento ilícito consolidava as lealdades sem mecanismos de controle.

Enquanto foi possível anunciar o feliz desenvolvimento do plano do ditador que devia se concluir em três dias de uma vitória relâmpago, malgrado estivessem passando meses e anos, tudo corria bem, porque assim Putin queria.

Mas quando as notícias reais da guerra ficaram indissimuláveis se acenderam tétricas luzes em alguns escritórios.

Bulgakov foi logo responsabilizado pelas falhas logísticas do exército russo, difíceis de acreditar de tão monstruosas.

As tropas russas estavam gravemente sub-abastecidas e os avanços de Moscou se retardavam.

Pior ainda foi quando os ucranianos invadiram a própria Rússia sem encontrar uma defesa eficaz.

Andrey Belkov, chefe da empresa de construção militar no Ministério da Defesa russo, também foi preso por abuso de poder.

O combate à corrupção no exército foi a oportunidade para os serviços de segurança se vingarem dos militares, segundo explicou o analista Giorgi Revishvili, antigo conselheiro do Conselho de Segurança da Geórgia.

Vladimir Verteletsky, chefe do departamento de compras de defesa do Ministério da Defesa foi preso em maio.

E no mesmo mês, Vadim Shamarin, vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas Russas acusado de suborno.

O novo Ministro da Defesa, marca pontos ante Putin com purgas que enterram a era Shoigu mas ali não se decide a guerra na Ucrânia.

O imenso arsenal de Tver 'a prova de bombas atómicas' destruído por drones fora mal feito por corrupção
O imenso arsenal de Tver 'a prova de bombas atômicas'
destruído por drones fora mal feito por corrupção
O porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov proclamou aos jornalistas em maio que a luta contra a corrupção “é um trabalho contínuo”.

Na guerra o chefe do Estado-maior deve dirigir as operações na frente, garantir que nada falte aos combatentes.

Mas, com as purgas putinistas, ele deve se concentrar contra os inimigos da retaguarda instalados em ministérios e comandos militares. Pelo menos, até não cair ele próprio.

Agora o grande objetivo é racionalizar a produção militar para uma longa guerra – sim, aquela que está anunciada para ser ganha nos primeiros três dias.

Ela só poderá ser decidida aumentando a produção industrial militar ainda que custe a fome dos civis.

Produzir mais armas e mais munição mais rápido enquanto chovem os drones ucranianos sobre Moscou e pegam fogo as refinarias de petróleo e gás não é nada fácil.

Putin visitou os países amigos – os “países bandidos” – para implorar armas e munição, de péssima qualidade, aliás.

Muitas teriam virado fumaça nos recentes bombardeios de drones ucranianos a grandes depósitos de armas.



domingo, 18 de agosto de 2024

Descalabro das forças armadas russas

Fotos de satélite mostram bases russas vazias perto da fronteira com a Finlândia
Fotos de satélite mostram bases russas vazias perto da fronteira com a Finlândia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O ministro da Defesa norueguês, Eirik Kristoffersen, garantiu que as forças terrestres russas estacionadas na Península de Kola, fronteira com a Noruega e a Finlândia, foram “dizimadas” pelas pesadas perdas sofridas na Ucrânia, divulgou o jornal francês “L’Independant”.

O descalabro ficou patente com a surpreendente facilidade com que o exército ucraniano está entrando na região russa de Kursk e se abrindo, eventualmente, caminho para Moscou.

Um jornal finlandês assegura que as guarnições e bases militares russas perto da fronteira com a Finlândia estão quase vazias. Quase todas as forças terrestres de Moscou, outrora estacionadas na área, foram enviadas para a Ucrânia.

As imagens de satélite recentes confirmam forte redução no número de tropas e equipamentos ao longo da fronteira com a Finlândia.

“Em média, 80% do equipamento e dos soldados foram transferidos para a Ucrânia”, relata uma importante fonte da inteligência militar finlandesa.

Também várias bases russas de remotas regiões russas sofreram diminuições pesadas. Só Moscou ainda conserva intacta suas tropas de defesa. A insegurança de Putin e os rumores de rebeliões militares o justifica.

As perdas na Ucrânia foram tão grandes que segundo os serviços de inteligência, a Rússia levará de 3 a 5 anos para restaurar a capacidade de combate das suas forças armadas.

A mais recente estimativa da inteligência britânica estima que o invasor perdeu 70.000 homens, entre mortos e feridos, nos meses de maio e junho de 2024, segundo “Le Monde”.

Putin tenta assustar Ocidente ameaçando com uma Terceira Guerra Mundial, mas na realidade as ameaças verbais são cortinas de fumaça para dissimular sua fraqueza. A Rússia não tem com o que fazer a guerra que acena.

Um terço do total da marinha russa não está mais operativa. A perda foi puxada pelo afundamento de um terço da frota russa no Mar Negro.

Bases militares russas esvaziadas na fronteira com a Finlândia
Bases militares russas esvaziadas na fronteira com a Finlândia
Vários navios emblemáticos foram afundados ou danificados na base da Crimeia em Sebastopol, a ponto de a Rússia enviar os seus navios para outros portos mais afastados da área de combate, escreveu ainda o “L’Independant”.

Essa retirada foi principalmente para Novorossiysk. “Eles podem pensar que seus navios estão mais seguros lá, mas a maioria se esconde atrás de navios civis”, disse o porta-voz da marinha ucraniana, Dmytro Pletenchuk. Realmente uma estratégia muito pouco decorosa para uma marinha de guerra.

Pletenchuk sustenta ainda que “um terço dos navios da flota russa do Mar do Norte está definitivamente inutilizável, foi destruída ou danificada”.

Por sua vez, o vice-almirante americano aposentado Mike LeFever declarou à revista “Newsweek”: “víamos a marinha russa como algo grande e poderoso, mas agora ver a Ucrânia dizimá-la sem uma marinha real e com navios não tripulados é significativo de mais”.

A sensação de degringolada da marinha russa foi aumentada por um fato misterioso. Um grande navio russo especializado em neutralizar submarinos, o ‘Almirante Levchenko’, incendiou-se no Mar de Barents, que faz parte do oceano Glacial Ártico.

E tudo indica que a tripulação a bordo não foi salva, noticiou a mídia polonesa Geekweek.

Este mesmo meio de comunicação indica que haveria várias centenas de tripulantes a bordo do navio desaparecido, escreveu o “Huffington Post”.

A catástrofe aconteceu nos mares árticos russos, muito longe do Mar Negro. A Rússia costuma disfarçar suas perdas navais atribuindo-as a acidentes a bordo e nunca a sucessos misseis ou drones do adversário.

Neste caso, guardou enigmático silencio, enquanto o porta-voz das Forças Armadas Ucranianas comentou com uma ponta de ironia: “é o que acontece quando uma ‘superpotência’ recebe sanções e não consegue reparar os motores de seus barcos. Dez anos não foram suficientes para resolver este problema. Uma das instalações pegou fogo”, anunciou.

Estoques de armamento estão se esgotando. No 'desfile da vitória' Putin fez desfilar um só tanque e da II Guerra Mundial
Estoques de armamento estão se esgotando.
No 'desfile da vitória' Putin fez desfilar um só tanque e da II Guerra Mundial!

Os ucranianos não admitiram ter participado no ataque ao navio russo.

Recentemente, porém, as forças especiais ucranianas provocaram um incêndio no navio de guerra russo ‘Serpukhov’, que estava ancorado na região de Koenigsberg, Mar Báltico, segundo os mesmos meios de comunicação.

O ‘Almirante Levchenko’ é um destróier soviético de mísseis guiados do projeto 1155 (classe Udaloy), oficialmente classificado como um grande navio anti-submarino. A unidade estava ativa desde 1988 na Frota do Norte.

Seu armamento principal torpedos de diversos modelos, mísseis e lançadores múltiplos de cargas de profundidade, além de canhões de uso universal e canhões guiados por radar.