domingo, 16 de junho de 2024

80 anos após o “Dia D”, Putin é o novo Hitler e a Ucrânia é o local do embate decisivo

Putin é o novo Hitler e a Ucrânia é o local da batalha decisiva.
Putin é o novo Hitler e a Ucrânia é o local da batalha decisiva.
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O 80º aniversário do “Dia D”, ou desembarco de Normandia, que determinou o rumo final da II Guerra Mundial, foi ocasião de grandes comemorações oficiais na Europa. As festividades, entretanto, vieram carregadas de graves presságios.

Convergiram na França os chefes dos Estados especialmente engajados naquele tremendo episódio bélico.

Eles fizeram sonoros discursos entre os quais se destacou o do Joseph Biden, presidente dos EUA, a potência que mais engajou homens e armamentos em 6 de junho de 1944 e que ainda possui as maiores forças armadas do planeta.

Nas praias da Normandia, Biden fez um paralelismo entre a situação europeia de 1944 em que Hitler tentava submeter a Europa e a situação atual em que seu êmulo na invasão totalitária Vladimir Putin ameaça o continente começando pela Ucrânia.

O presidente americano apelou aos aliados para ajudarem a Ucrânia a derrotar “um tirano determinado a dominar” se referindo a Putin.

Segundo registrou a FoxNews, Biden vinculou diretamente a luta contra a Alemanha nazista aos combates na Ucrânia que vêm acontecendo desde a invasão em grande escala da Rússia em fevereiro de 2022.

“O isolacionismo não era a resposta há 80 anos e não é a resposta hoje. A Ucrânia foi invadida por um tirano determinado a dominar”, disse.

Biden sublinhou que 350 mil soldados russos foram mortos ou feridos no conflito, enquanto que quase 1 milhão de pessoas “deixaram a Rússia porque ali não conseguem mais ver um futuro”.

“Não iremos embora, continuou. Porque se o fizermos, a Ucrânia será subjugada e toda a Europa será ameaçada... os autocratas do mundo estão observando atentamente para ver o que acontece na Ucrânia, para ver se deixamos passar esta agressão ilegal. Curvar-se aos ditadores é simplesmente impensável”, concluiu.

Acima: concentração de blindados russos previa à invasão. Embaixo: desembarco americano na praia 'Omaha' em 1944
Acima: concentração de blindados russos previa à invasão.
Embaixo: desembarco americano na praia 'Omaha' em 1944
Do outro lado da linha de combate, Putin ordenou treinos para a eventualidade de usar armas nucleares
. Os temores se amplificaram obviamente.

De todas partes chovem noticias belicistas alarmantes. Por exemplo, Anne Kest-Butler, diretora da Sede de Comunicações do Governo Britânico (GCHQ), um dos principais centros de inteligência do mundo, alertou no primeiro discurso após assumir o cargo que a Rússia prepara “ataques físicos” contra o Ocidente, noticiou “El Mundo” de Madrid.

Moscou contaria com a colaboração de grupos locais dispostos a “operações de sabotagem”, “vigilância” e “ataques cibernéticos” dentro dos países europeus.

As declarações do chefe da ‘ciberinteligência’ britânica surgem na sequência da sabotagem contra fábricas de armas e armazéns de munições em vários países europeus.

"A Rússia está fazendo atos de sabotagem por toda Europa" ("Valeurs Actuelles", Paris, 8-6-24).
"A Rússia está fazendo atos de sabotagem por toda Europa"
("Valeurs Actuelles", Paris, 8-6-24).
Os ataques foram acompanhados das detenções de espiões russos na Alemanha e na Polônia, acusados de planejar ataques contra instalações militares dos EUA.

“A Rússia acha que está em conflito com o Reino Unido e com os países ocidentais”, alertou o deputado conservador Bob Seely, da comissão parlamentar de relações exteriores.

“Algumas ações parecem obra de amadores, outras são mais sofisticadas. Tudo faz parte da máquina de propaganda de Putin para responder ao Ocidente e testar as suas forças de segurança”, acrescentou o especialista em Rússia.

Anne Keast-Butler sublinhou também as ligações de Moscou com “grupos favoráveis” no continente (alguns deles ligados à extrema direita) para lançar ‘ataques cibernéticos’, realizar trabalhos de vigilância e “em alguns casos coordenar ataques físicos contra o Ocidente”.

Numa conferência CyberUK em Birmingham, Anne Kest-Butler esclareceu que o risco encarnado por Pequim é de “longo prazo”, comparado com o “perigo iminente” representado pela Rússia.


domingo, 19 de maio de 2024

Rússia comanda desinformação contra a família real britânica

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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A grande mídia não dá trégua à família real britânica despejando a seu propósito toda classe de boatos que transparecem uma visceral antipatia pelo regime monárquico ainda portador de intenso simbolismo medieval.

A bem dizer se assanha contra ela por qualquer coisa, verdadeira ou falsa, observou o jornal portenho “La Nación”.

Depois se rasgarem as vestimentas por uma fotografia retocada da princesa Kate e dos seus filhos, o rei Carlos III foi alvo de uma campanha de desinformação que o declarou morto com certeza originada em meios de comunicação russos.

Essas notícias falsas se espalharam como um incêndio, forçando o Palácio de Buckingham a negá-las. Mas de onde provinha esse ataque global?

Nada mais e nada menos que da Rússia, onde Putin há muito tem funcionando um verdadeiro exército produtor de fake news para semear o caos mental em Ocidente.

Os chefes a seu serviço explicam que estão incumbidos de tocar uma verdadeira guerra psicológica deturpando as informações, passo prévio para desorganizar o “inimigo” e preparar uma futura conquista política ou militar.

Neste casso, os boatos para desmoralizar a coroa britânica se aceleraram exponencialmente depois de serem publicados na rede social Telegram e serem reproduzidos pelo Vedomosti, um dos jornais de negócios mais respeitados da Rússia.

Lá uma foto de Carlos III em uniforme militar cerimonial saiu com uma breve legenda: “Morreu o rei Carlos III da Inglaterra”.

A partir de ali toda sorte de notícias falsas foram glosadas e amplificadas por sites russos próximos ao poder, incluindo o Readovka, um canal pró-Kremlin do Telegram com mais de 2.350.000 assinantes.

Foram difundidas pelo site Mash; na conta pessoal de Vladimir Soloviev, ex-opositor de Vladimir Putin que se tornou o principal propagandista do regime, e pelo site Sotavision.

A página Readovka disse que possuía um documento, aliás de origem desconhecida, que publicou junto com a foto do monarca britânico e o dizer:

“O seguinte anúncio é feito por comunicações fidedignas. O rei faleceu inesperadamente ontem à tarde”, dizia o texto, datado de 18 de março de 2024.

O documento falso ostentava o selo oficial da residência do rei e era uma cópia do anúncio que o Palácio de Buckingham tinha feito quando da morte da rainha Isabel II.

Com essas aparências enganosas, tomou imediatamente conta das redes sociais, onde, conforme o noticiário, foram acrescentados detalhes.

Falsas informações montadas pela guerra psicológica russa.
Falsas informações montadas pela guerra psicológica russa.
Por exemplo, que todas as bandeiras nos edifícios do governo britânico foram baixadas a meio mastro. Quem conta um conto aumenta um ponto.

No entanto, havia vários indícios que deveriam ter alertado rapidamente as vítimas do embuste que o espalhavam talvez pensando em aumentar suas visualizações.

Os indícios punham e dúvida a credibilidade daquela informação: os seus contornos eram confusos, o formato do texto não correspondia ao utilizado por Buckingham nas suas declarações oficiais.

Sobretudo, a notícia não foi aproveitada por mídia britânica alguma, nem as mais baixamente sensacionalista que sabem como receber milhões de visitas de ingênuos, se seus números são verazes...

Mais recentemente, ocorreu a Putin ameaçar Gra-Bretanha mais uma vez com a bomba atômica.

Decididamente, o ditador do Kremlin e seus asseclas ocidentais disfarçados de conservadores ou religiosos não gostam do país que tantos santos e até Nossa Senhora em La Salette predisseram uma futura conversão que impactaria beneficamente o mundo.


domingo, 21 de abril de 2024

Fraude eleitoral de Putin superou 30 milhões de votos

Eleições fraudulentas
Eleições fraudulentas
Luis Dufaur
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Até hoje as organizações russas independentes tentam chegar a um número aproximado da extensão da fraude eleitoral praticada nas eleições presidenciais russas que voltaram a eleger Vladimir Putin como presidente, segundo antecipado com risível folga.

Segundo elas, a farsa das eleições de 2024 vai bater recordes.

Os detalhes da gigantesca fraude nessas eleições vão ficando cada vez mais claros.

Após a reeleição com o inverossímil 87,28% dos votos por Putin para um histórico quinto mandato pisando uma Rússia cada vez mais submissa, o jornal “Le Monde” citado por BFMTV tentou um balanço objetivo e destacou as manipulações.

Estimativas e observações de várias mídias e organizações independentes segundo “Le Monde” apontam para “a fraude mais significativa da história das eleições na Rússia”, nas palavras da organização de observação eleitoral Golos.

A Golos foi banida do país antes das eleições, obviamente por falta de subserviência ao ditador.

As organizações contaram todas as assembleias de voto em que a participação foi particularmente forte e inexplicável, beneficiando em grande parte o presidente russo.

Usaram o “método Shpilkine”, pelo estatístico que o desenvolveu.

Segundo Golos, o número de votos roubados a favor de Vladimir Putin poderia assim ter atingido os 22 milhões, num total de 76 milhões de votos expressos.

A mídia Novaya Gazeta Europa chega a uma fraude de 31,6 milhões.

As divergências se devem, segundo o “Le Monde”, às mesas de voto tidas como “honestas”, porque aceitaram observadores, e as não-honestas.

Policiais observam se votante foi 'correto'
Policiais observam se votante foi 'correto'
 escala global ocorreram fraudes em muitos mesas. No distrito de Danilovsky em Moscou, onde vive uma população rica e instruída, foram registrados fortes contrastes.

“Onde os observadores independentes conseguiram registrar-se, a pontuação de Vladimir Putin ronda os 60%. Em quatro escritórios onde estiveram ausentes, atingiu… 99%”, relata o correspondente do diário vespertino de Moscou.

Mas houve mesas sem observadores com 100% de participação dos eleitores e todos eles por Vladimir Putin. Na Chechênia, sob uma ditadura islâmica putinista o presidente obteve 98,99% dos votos.

Houve locais de voto onde a manipulação orquestrada foi até flagrada pelas câmeras de segurança com agentes trabalhando duro no clássico enchimento de urnas sob o olhar cúmplice da polícia.

Noutros, a falsificação deu a vitória a Putin na primeira volta por modificações entre a contagem e a publicação dos resultados.

Numa mesa de Moscou, por exemplo, o voto por Putin pulou maravilhosamente de 57% para 86%.

Numa outra de São Petersburgo, o presidente saltou de 77,1% para 98,3% pelo simples aumento artificioso da participação de 64,5% para 95,3%.

Para o “Le Monde” em 2018 os locais de voto “normais” ainda foram maioria.

Mas, nas últimas eleições presidenciais, as mesas “honestas” foram uma deprimente minoria, segundo o meio de comunicação independente Meduza.


Vídeo: funcionárias jogam pilhas de votos em urna




domingo, 31 de março de 2024

Europa pensa em guerra mundial e na Igreja grassa “guerra civil” teológica universal

Almirante Rob Bauer, chefe da NATO diz que aliança se prepara para conflito com a Rússia
Almirante Rob Bauer, chefe da NATO
diz que aliança se prepara para conflito próximo com a Rússia
Luis Dufaur
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continuação do post anterior: Eleição de Putin e rumores de guerra mundial

Europa se prepara para a guerra


Em janeiro, o general Patrick Sanders, chefe do Estado-Maior do exército britânico anunciou que no Reino Unido os cidadãos poderão ser convocados para uma guerra com a Rússia, para a qual as forças armadas se encontram assustadoramente desprovidas de soldados .

Falou também em começar a instrução militar de 120.000 civis.

O encolhimento das mais respeitadas forças militares da Europa é atribuível a décadas de propaganda ingênua de que o comunismo morreu deixando o lugar a uma era sem choques civilizatórios voltada exclusivamente para a economia.

Por sua vez, o almirante holandês Rob Bauer, chefe do Comitê Militar da NATO, defendeu que os países membros devem se preparar para um conflito iminente aberto por Moscou.

No mesmo sentido o ministro sueco da Defesa Civil, Carl-Oskar Bohlin, falou para seu pais que, antes que seja tarde demais, todos devem se preparar para o pior dos cenários: uma guerra com a Rússia .

A Dinamarca ordenou duplicar o número de alistamentos e forneceu jatos F16 para a Ucrânia.

O serviço militar obrigatório, há anos abolido, está voltando a Europa e em alguns países incluirá às mulheres na previsão de uma guerra massiva .

E a União Europeia após muitas discussões, validou uma ajuda de 50 bilhões de euros em empréstimos e dons para sustentar Kiev até 2027 e mais 5 bilhões em ajuda militar, segundo Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, após reunião extraordinária em Bruxelas, no início de fevereiro, noticiada por “Le Monde” .

General Patrick Sanders, chefe das FFAA inglesas, alertou para guerra próxima com a Rússia
General Patrick Sanders, chefe das FFAA inglesas,
alertou para guerra próxima com a Rússia
Também haverá eleições gerais para o Parlamento Europeu em junho deste ano que sondarão a opinião publica continental face a um eventual ataque vindo da Rússia.

O ministro da Defesa da Letônia, Andris Spruds, estuda retirar seu país do tratado sobre minas terrestres, ou Convenção de Ottawa.

Os países bálticos concordaram em construir uma “Linha de Defesa do Báltico”, um complexo de bunkers e fortificações, com sensores e obstáculos físicos anti-tanques além das minas.

“Podemos esperar que a NATO enfrente um grande exército de estilo soviético”, disse o diretor-geral do Serviço de Inteligência Estrangeira da Estônia, Kaupo Rosin, divulgada em fevereiro .

“Nosso plano é usar massivamente minas antitanque, minas de visão e todo tipo de outras minas”, disse Kusti Salm, secretário permanente do Ministério da Defesa da Estônia.

Políticos bálticos pedem fazer tudo o possível para que o Kremlin pense duas vezes antes de cruzar a fronteira .

O ponto de vista alemão


Exercício NATO
Exercício NATO
Nada alarmou mais do que a difusão de documento secreto das forças armadas alemãs no inicio do ano pelo jornal Bild.

Ele desenha diversos cenários possíveis de uma iminente guerra europeia desatada pela Rússia.

Segundo a hipótese “Defesa da Aliança 2025”, Moscou planejaria atacar o flanco oriental da NATO por volta de junho após uma contraofensiva bem-sucedida contra a Ucrânia, que parece estar acontecendo .

Essa “ofensiva de primavera” engajaria 200.000 homens e seria secundada por ataques cibernéticos e outras formas de guerra híbrida, primeiramente contra a Estônia, a Letônia e a Lituânia.

A Alemanha ocupa uma posição central nesses possíveis conflitos e é muito respeitada na planificação da guerra.

Vizinhos da Rússia temem os tanques de Putin e usam minas terrestres para se proteger de uma invasão russa
Vizinhos da Rússia temem os tanques de Putin
e usam minas terrestres para se proteger de uma invasão russa
Os cenários do Ministério da Defesa alemão focam a Polônia e o corredor estratégico (“Suwalki Gap”) entre a Bielorrússia e o enclave de Kaliningrado há muito identificado como um dos calcanhares de Aquiles da NATO.

Em qualquer um dos cenários, uma guerra aberta entre os dois blocos seria o início de uma Terceira Guerra Mundial, disse a CNN .

O conflito especulado teria como ponto de partida um exercício militar em grande escala na Bielorrússia denominado “Zapad 2024” e teria seu pior momento durante a transição presidencial dos EUA.

A Rússia arguiria falsos “conflitos fronteiriços” ou “motins com numerosas mortes”, ou até um complô macrocapitalista contra a gestão de Putin, o diria agir “em defesa própria” .

Francisco I pede a rendição da Ucrânia?


O golpe psicológico que mais favoreceu a estratégia de Putin proveio infelizmente do Papa Francisco I.

Em entrevista à Rádio e Televisão Suíça (RTS), propôs que a Ucrânia tivesse a “coragem de alçar a bandeira branca e negociar”, gesto universalmente interpretado como capitular diante da invasora Rússia.

A reprovação da proposta foi universal, a Ucrânia convocou o núncio apostólico [embaixador do Vaticano] Monseñor Kulbokas, em sinal de protesto, e se sucederam indignadas críticas e desmentidos vaticanos que não solucionaram o caso.

A diplomacia ucraniana acusou ao Pontífice de “legalizar a lei do mais forte” e apoiar Putin a “seguir ignorando o direito internacional” .

Francisco I pede a rendição da Ucrânia? Não pediu o mesmo ao agressor Putin, seu amigo
Francisco I pede a rendição da Ucrânia? Não pediu o mesmo ao agressor Putin, seu amigo

O secretário geral da NATO, Jens Stoltenberg, afirmou que “não é momento para falar em rendição” pois “seria um perigo para todos”.

A única solução negociada duradoura e pacífica passa pelo respaldo militar a Ucrânia, acrescentou.

O chanceler alemão, Olaf Scholz, discordou das declarações do Papa.

“Kiev tem o direito de se defender e pode contar com nosso apoio”, asseverou.

Os bispos alemães qualificaram “infeliz” a fórmula do Papa, mas adotaram as contorções verbais vaticanas que tentam lhe dar um sentido “benigno”.

O fato que as palavras criticadas deram continuidade à velha diplomacia vaticana conhecida como “Ostpolitik” que há décadas tenta a aproximação com o comunismo, hoje atualizado em Vladimir Putin.

Conflito doutrinário na Igreja


Os ditos do pontífice também atiçaram o violento conflito doutrinário dentro da Igreja rotulado de “guerra civil” religiosa em todos os campos da teologia e da disciplina eclesiástica.

Ela se mostrou agravada pela posta em evidencia de uma infiltração de agentes russófilos provocadores no mundo católico, que não só militam na extrema esquerda mas também se fingem “conservadores” e desta posição aplaudem ou desculpam os crimes de Putin.

Então às pesadas nuvens carregadas do perigo de uma Terceira Guerra Mundial se somaram os temores pelo preocupante estado de saúde do Papa que poderia precipitar a eleição de um sucessor num Conclave decisivo para o futuro da Igreja.

NATO treina a defesa do corredor estratégico Suwalki Gap
NATO treina a defesa do corredor estratégico Suwalki Gap.
Na Igreja, o conflito teológico-moral-litúrgico e disciplinar vai mais longe
Caso aconteça, os misteriosos manipuladores da guerra psicológica no Ocidente e no mundo católico tentarão por certo condicioná-la.

O que aconteceria, então, num contexto de conflito bélico iminente ou em ato, de formas caóticas de guerra híbrida, de ataques cibernéticos e invasões de migrantes empurrados desde Moscou percorrendo a Europa.

Nesse horizonte tenebroso, Putin “consagrado” em eleições fraudulentas, estaria interessado num Papa que olhasse para a Rússia como um baluarte contra o Ocidente corrupto, ponderou o prof. Roberto de Mattei .

Assim de três eleições aparentemente muito diversas – as presidências russa e americana, e a de um Papa num Conclave, que esperamos possa acontecer sem perturbações internas ou externas – neste ano 2024 pode se decidir o rumo da Igreja e do mundo.



domingo, 24 de março de 2024

Eleição de Putin e rumores de guerra mundial

Aurora boreal sobre porta-aviões HMS Prince of Wales do Reino Unido, Exercício Steadfast Defender, o maior da OTAN desde a Guerra Fria
Aurora boreal sobre porta-aviões HMS Prince of Wales do Reino Unido,
no exercício Steadfast Defender, o maior da OTAN desde a Guerra Fria
Luis Dufaur
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A prolongação até 2030 da autocracia que Vladimir Putin exerce há 24 anos obteve 87% dos votos na farsa montada dos subterrâneos do Kremlin, e semeada de protestos, atentados e violências policiais.

O mundo todo, excetuados seus amigos, desqualificou a “comédia negra” que o presidente russo aprontou obter o 5º mandato.

Um dia antes de concluir a votação de três dias, com a “vitória” pelo 87% divulgado, Putin se voltou ameaçadoramente contra os que não gostaram dele.

A fraude eleitoral foi pavimentada pela supressão dos candidatos que poderiam desdourar uma “arrasadora” vitória de Putin.

Ninguém superaria a máquina de fraudar os resultados, porém Alexander Navalny, ou alguém indicado por ele, teriam podido colher uma votação reveladora da insatisfação popular pela invasão da Ucrânia.

Esse temor no Kremlin precipitou a morte do opositor.

Mais de 3000 pesoas en protestos contra Putin assassino
Mais de 3000 pesoas em protestos contra Putin assassino
Navalny foi encarcerado após se submeter a um tratamento na Alemanha que o salvou do agente nervoso Novichok, um dos venenos preferidos pelos serviços putinistas.

Desapareceu da colônia penal onde estava preso por “extremismo” e reapareceu numa outra colônia penal em Kharp, no Ártico russo, onde teria sido assassinado por ordem de Putin segundo “The Economist” .

Dezenas de milhares de russos compareceram ao enterro e cerimônias públicas em muitas cidades desafiando a intimidação policial.

A “purga” de dezenas de “oligarcas” próximos do ditador e de altos mandos militares se somou ao mais de um milhão de cidadãos que fugiram do provável envio como “bucha de canhão” à Ucrânia.

Acresce ainda o meio milhão de baixas na guerra, segundo fontes independentes , o equivalente ao número total de homens engajados no início da invasão.

Putin queria, a qualquer custo, uma vitória para ser aclamado pelo eleitorado como um triunfador.

Vitória de Putin estopim da Guerra Mundial?


Mulltidão canta contra Putin no enterro de Alexei Navalny em Moscou
Mulltidão canta contra Putin no enterro de Alexei Navalny em Moscou
Por que, se a eleição estava decidida em seu escritório? Ele revelou suas intenções acionando um sinistro teclado de ameaças militares contra os países vizinhos.

Voltou-se contra a Polônia dizendo que devia boa parte de seu território a Stalin.

E a Polônia, desconfiada pela invasão da Ucrânia fez de seu exercito o maior de Europa e é o país que mais gasta em se armar no continente.

A Suécia e a Finlândia, países neutrais há dois séculos entraram às presas na NATO.

Até maio a mesma NATO está fazendo o maior exercício desde a Guerra Fria nas fronteiras da Rússia: o “Steadfast Defender 2024” com 90.000 soldados.

A Suécia re-militarizou a ilha de Gotland, no Mar Báltico, que controla a saída naval dos complexos militares russos em torno de São Petersburgo e no enclave lotado de mísseis nucleares de Kaliningrado,.

A Lituânia, a Letônia e a Estônia semeiam minas na fronteira com a Rússia e prepararam suas populações para uma invasão.

Putin reclamou da Noruega as ilhas Svalberg, estratégicas para a saída da frota russa de suas bases siberianas.

No sul Putin apontou contra a desarmada Moldávia, membro da NATO, que tem uma faixa de seu território – a Transnístria – ocupada por tropas russas.

Ali um plebiscito teledirigido pediu a anexação do país pela Rússia .

Na véspera da reeleição, o amo do Kremlin causou alvoroço mundial insistindo em entrevista à TV estatal que o arsenal da Rússia “está pronto” para uma guerra nuclear e anunciando armas “mais avançadas” que as dos EUA .

Essas, quando testadas repetidas vezes deram num fiasco.

Blindados espanhóis cruzam o rio Vístula durante o exercício Steadfast Defender
Blindados espanhóis cruzam o rio Vístula durante o exercício Steadfast Defender
Por sua vez, seu vice-presidente Dmitry Medvedev, em Socchi, no Festival Mundial da Juventude 2024 apresentou um mapa do futuro, em que da Ucrânia só fica uma área minúscula em volta de Kiev, e a Rússia abocanharia mais territórios de países próximos.

Também na iminência do pleito eleitoral russo, o presidente francês Emmanuel Macron acenou a hipótese de enviar soldados à Ucrânia deixando o prato servido a Putin que ameaçou retaliações de grande porte.

Nos mesmos dias, três unidades de soldados russos anti-Putin incursionaram em seu país desde a Ucrânia enquanto dezenas de drones incendiavam as principais refinarias de petróleo em território adversário.

Temores europeus pela vitória de Trump


Vicepresidente de Putin, Dmitry Medvedev, apresenta o mapa futuro do que sobraria da Ucrânia
Vicepresidente de Putin, Dmitry Medvedev, apresenta o mapa futuro do que sobraria da Ucrânia
Na Europa ecoam rumores de guerra, as indústrias bélicas se enchem de encomendas, os países aumentam seus orçamentos militares e se espalhou-se o temor de uma vitória eleitoral de Trump nos EUA.

O virtual candidato republicano diz que cortará o dinheiro dos EUA para a parte do orçamento da NATO que os europeus não cobrem.

Entrementes, seu partido, o Republicano bloqueia as verbas para a Ucrânia que, sem munição suficiente, cede pontos sensíveis do front permitindo ao exercito russo fazer avanços, pequenos em verdade, mas que antes não conseguia fazer.

A ninguém se esconde a recíproca simpatia pessoal entre Trump e Putin.

No partido Democrata, Joe Biden, que se posiciona pela Ucrânia, é o opositor eleitoral de Trump embora seja o presidente mais impopular da história dos EUA e exiba uma condição física e mental fraca para enfrentar uma crise das dimensões anunciadas.



Continua no próximo post: Europa pensa em guerra mundial e na Igreja grassa “guerra civil” teológica universal


domingo, 17 de março de 2024

Boomerang de frio congelou russos

Populares queimam o que podem sem aquecimento
Populares queimam o que podem sem aquecimento
Luis Dufaur
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Centenas de milhares de russos ficaram sem aquecimento no ultimo inverno (2023-2024), que foi particularmente rigoroso. Avarias em sistemas de aquecimento coletivo foram relatadas em todo o país.

As maiores delas foram registradas em Podolsk, uma cidade dormitório nos arredores de Moscou com uma população de 149 mil pessoas, segundo reportagem da FranceTVinfo.

Caldeiras quebradas, canos estourando em quase todos os lugares foram uma constante na região de São Petersburgo, em Voroniej, Volgogrado, e até no Extremo Oriente...

Por toda parte, viram-se moradores intumescidos de frio e exaustos, se aquecendo em grupos em volta de esquálidas fogueiras alimentadas com restos de qualquer coisa que queime.

Alguns deles difundiram vídeos nas redes sociais para dizer que estão congelando em casa e literalmente de congelar até a morte.

Como sempre acontece numa situação destas na Rússia de Putin, os cidadãos entre desesperados e resignados ante o fatalismo ensinado por cismâticos e comunistas apelaram a autoridade máxima do Kremlin.

Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Moradores gravam mensagem pedindo auxilio a Putin
Esse encenou alguma reação e pediu ao Ministério de Situações de Emergência tomar medidas. Também trombeteou que estava assumindo pessoalmente a situação que só se resolveu com o fim do inverno.

Nas redes sociais, não poucos russos, e em particular os ucranianos, viram nisto a prova de que a Rússia inteiramente focada na economia de guerra, estava a pagar a conta, cobrada por uma mão providencial.

Na realidade o problema não é tão novo: está intimamente ligado às disfunções crônicas do regime russo igualitário e dirigista, que é mais do mesmo do que havia na falida URSS.

As enormes caldeiras feitas para aquecer inteiras áreas urbanas herdadas da era soviética foram mal conservadas, e a guerra consumiu as verbas não roubadas pelos burocratas que deveria consertá-las.

Há décadas que os governos prometem resolver o problema, mas a rigidez burocrática, o imediatismo político e a corrupção significam que nada está a melhorar.

Pelo contrário, tudo piora como no comunismo soviético.

O governo russo não pode acalmar o descontentamento porque a economia de guerra produz consequências de longa duração, entre as quais o deterioro ou omissão de conserto de todos os serviços públicos. Já se faz saber que as verbas para melhorar as habitações coletivas diminuirão drasticamente nos próximos anos.

Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Casas invadidas pelo gelo de um inverno severo
Um quarto dos russos não tem acesso a banheiros conectados ao esgoto.

O projeto de modernização do aquecimento socializado é gigantesco... no papel. Entretanto, para acalmar a população, o governo recorre aos velhos métodos socialistas: escolher culpados.

Em Podolsk, o vice-chefe da administração e o diretor da sala das caldeiras foi detido e encarcerado por corrupção, mas nada foi solucionado.

Pensar que no início da guerra de invasão da Ucrânia a Rússia bombardeou seletivamente os sistemas de energia das cidades ucranianas, achando que o pobre país não suportaria o frio e acabaria capitulando.

A Ucrânia resistiu patriótica e religiosamente. Agora, tudo se passa como se um boomerang providencial tivesse abatido sobre a população russa recordes de frio com as infraestruturas de aquecimento sem conserto.

Ficaram em pânico Putin, seus cúmplices e o monstruoso dirigismo comunista que o déspota do Kremlin faz tudo para preservar. Pois o omniarca se aterroriza quando ouve os escravos agitando as correntes que os prendem, neste caso gemendo de frio.


domingo, 10 de março de 2024

Acusar de “seita”: velho artifício comunista, hoje putinista

Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregaddo de rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Alexander Novopashin, clérigo cismâtico encarregado de
rotular de 'seita' aos adversários cristãos de Puitn
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Moscou explora mais um artifício para reprimir os grupos dissidentes: os acusa de serem perigosas “seitas” cuja ameaça para a sociedade deve ser extirpada.

Nessa perseguição, o Kremlin tem um apoio destacado no líder anti-“seita”: o arcipreste Alexander Novopashin, que esteve afiliado até março de 2023 à Federação Europeia de Movimentos Anti-“seita” apoiada pela francesa, FECRIS.

Ele oficia na catedral cismâtica de São Alexander Nevsky, em Novosibirsk, dependente do Patriarcado de Moscou, porta-voz religioso das vontades de Putin.

A denúncia das ações deste agente foi feita por “Bitter Winter” site especializado em desvendar as perseguições religiosas no mundo.

O arcipreste é um inimigo profissional das “seitas” para o que ele elaborou um coquetel venenoso de ideologia criminosa do regime de Putin com os artifícios do movimento anti-“seita” ao estilo FECRIS.

Novopashin acusa os EUA de satanista e aponta contra a Ucrânia como responsável dos crimes satanistas cada vez mais freqüentes na Rússia.

Esse coquetel é derramado contra as vítimas escolhidas a dedo ou, por vezes, é mantido em silêncio aguardando para aplicá-lo em seu momento. A polícia política putinista escolhe.

Após o início da guerra de agressão contra a Ucrânia, a maior parte do coquetel saiu à luz para espalhar teorias anti-ucranianas tão absurdas quanto possível.

Em comparação com Alexander Dvorkin, outro importante ativista russo que trabalha contra ditas “seitas”, Novopashin se assemelha mais a um burocrata obtuso que multiplica as contradições, apontou Massimo Introvigne especialista nas perseguições anticristãs na Europa e no mundo.

O eclesiástico russo já apareceu bancando de especialista em espionagem.

Ele disse ao “News of Siberia” que a inteligência ucraniana recrutou “milhares” de agentes na Rússia para espionar infraestruturas militares, movimentos de tropas e comboios militares.

Ele apontou aos “tristes seguidores de Navalny”, o dissidente a quem definiu “agente estrangeiro e terrorista”. Navalny morreu depois num cárcere ártico, causando comoção mundial pelo aparente assassinato putinista.

Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior, representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin e Kolokoltsev, ministro do Interior,
representantes russos na aliança ocidental anti-seita FECRIS
Novopashin não conta, nem sabe, onde se escondem os espiões ucranianos. “Na maioria das vezes”, explica o arcipreste da polícia putinista, “os encarceramentos de espiões ucranianos ocorrem em novas regiões do país”, ou seja, em partes da Ucrânia que a Rússia anexou fraudulentamente.

O arcipreste acusa a ucranianos de espionar para a Ucrânia na própria Ucrânia, o que não deixa de ter algo de histriônico.

“Mas o SBU [serviço de inteligência ucraniano] tenta expandir a sua rede de agentes, razão pela qual seus agentes são detidos mesmo na Sibéria”, acrescenta incongruentemente.

“Na verdade”, explica o inimigo das “seitas” que não são a sua, “milhares de agentes recrutados foram descobertos, a imprensa noticia apenas os casos mais ressonantes”.

E ali ele encaixar sua missão: “é necessária uma contra-propaganda em grande escala para suprimir as atividades de recrutamento do inimigo”.

“Os cidadãos da Federação Russa devem saber em detalhes como funciona a inteligência estrangeira, como ocorre o recrutamento e quais ameaças os agentes potenciais enfrentam para tais ações”. Essa denúncia justificaria a detenção de dissidentes anti-Putin.

“Tudo isto deve ser apresentado com exemplos modernos e históricos, da forma mais clara possível. Mas, infelizmente, esse trabalho não está sendo realizado”.

“Precisamos de uma visão mais ampla e inteligente do problema, e isto não é apenas uma questão da competência dos serviços de inteligência”, acrescentou.

A pátria russa precisa de lutadores contra as “seitas” que sejam clarividentes como ele para denunciar os espiões ucranianos que se escondem nessas “seitas”.

O jornal siberiano, em acordo com o arcipreste-policial Novopashin, apresenta uma antiga lista de 58 “seitas” (e “muitas outras”), que inclui de tudo, desde os Santos dos Últimos Dias às Testemunhas de Jeová, e desde a Cientologia à desconhecida Soka Gakkai.

O clérigo do Patriarcado de Moscou também define quem é cristão ou não, como no caso da Igreja da Nova Geração, que Putin persegue por qualquer razão, e que ele chama de “paródia blasfema do Cristianismo, movimento sectário ocultista”.

Obviamente, para ele a pior das “seitas” é o anticomunismo e o catolicismo levados a sério.


domingo, 3 de março de 2024

Guerra é usada para atroz “purga” na Rússia

Velório de Alexei Navalny, dissidente 'purgado' porque podia oscurecer o triunfo
Velório de Alexei Navalny, dissidente 'purgado'
porque podia oscurecer o triunfo
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Putin empreendeu uma “purga” daqueles que não o acompanhavam em sua enigmática marcha ao precipício. E a guerra de invasão da Ucrania foi a oportunidade.

De certo muitos da “oligarquia” se manifestaram e foram purgados, sendo encontrados suicidados, caindo da janela, etc.

Essas dezenas de “acidentes” que noticiamos fartamente neste blog, agora pela primeira vez uma alta autoridade russa reconheceu que fazem parte de uma purga. O estilo é do modelo soviético admirado por Putin: o de Joseph Stalin.

Quem deu a público que essas dezenas de mortes de altos funcionários russos, civis e militares foi pelo desejo supremo de "purgar", foi nada mais e nada menos que o Ministro de Relações Exteriores Serguei Lavrov, um dos mais íntimos colaboradores na ditadura de Putin.

Lavrov falou na comemoração do segundo ano da invasão, que deveria se ter completado em poucos dias e está custando por volta de 500.000 baixas, equivalentes ao número total dos soldados enviados para o ataque geral inicial.

Serguei Lavrov não teve escrúpulo em comemorar os “benefícios” dessa cruel guerra, incluindo entre esses a necessidade de uma purga que eles precisavam na sociedade russa, segundo noticiou a Radio France International (RFI).

A criminosa afirmação não é invenção de Lavrov, mas de seu patrão Vladimir Putin.

Esse, logo no início da guerra, em 17 de março de 2022, declarou num discurso no estádio Luzhniki: “O povo russo sempre será capaz de reconhecer a escória e os traidores, cuspi-los como se cuspiria um mosca que entrou na boca”.

O número exato é desde então desconhecido, porque entre os “purgados” e execrados se contam muitos cidadãos, quiçá bem mais de um milhão, que fugiram do país, por todas as fronteiras.

Russos fogem do recrutamento pela fronteira da Georgia
Russos fogem do recrutamento por todos os meios pela fronteira da Georgia
Uns não queriam ser enviados como recrutas forçados para a Ucrânia e outros temiam a miséria e a repressão interna que viria num alucinado clima de guerra.

Os deputados putinistas falam regularmente da necessidade de punir mais severamente aqueles que são considerados críticos do seu país, seja na Rússia ou no esterior, acrescentou a RFI.

De fato, no exterior os serviços secretos russos também executaram “oligarcas”, funcionários, ex-militares e dissidentes em geral.

Dois anos após o início do conflito, Sergei Lavrov insistiu:

A operação especial uniu a sociedade na Rússia num grau sem precedentes e ajudou a expurgá-la de pessoas que não tinham um sentimento de pertença à história e cultura russas.

“Alguns foram embora, outros ficaram e começaram a pensar. Mas a esmagadora maioria da sociedade se reuniu”.

O poder russo também pretende demonstrar, diz a RFI, tanto externa como internamente, que o apoio russo ao seu chefe de Estado é inquestionável.

Este é um dos objetivos das eleições presidenciais de meados de março.

O resultado delas já está escrito e para ninguém há suspense, tendo sido assassinados ou supressos legalmente os candidatos que poderiam colher certa votação e desdourar o triunfo aparatoso de Putin.



Dezenas de milhares de russos desafiam Putin no enterro de Navalny




"Ficou claro que Putin não é invencível na Rússia". A coragem popular



domingo, 25 de fevereiro de 2024

Loucura ditatorial na Rússia de Putin

Poetas punidos com 5 e 7 anos de cárcere por poesia contra a guerra na Ucrânia
Poetas punidos com 5 e 7 anos de cárcere
por poesia contra a guerra na Ucrânia
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Putin governa Rússia desde 1999. Nesses anos ficou excluída qualquer oposição séria, mas a repressão se acelerou desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.

Nos últimos dois anos, milhares de russos, opositores ou cidadãos comuns, foram condenados pelos tribunais por terem criticado a ofensiva contra a Ucrânia. Às vezes com penalidades particularmente severas, noticiou a TV “France 24”.

Artiom Kamardine e Iegor Shtovba foram presos em setembro de 2022 após participarem de uma leitura pública em Moscou, na Praça Triumfalnaya, perto do monumento ao poeta Vladimir Mayakovsky, ponto de encontro de dissidentes desde os tempos soviéticos.

No dia seguinte, ele foi preso durante uma busca em sua casa, durante a qual alegou ter sido espancado e estuprado por policiais.

Processados inicialmente por “incitamento ao ódio”, os dois poetas foram depois também acusados de “apelos públicos à realização de atividades contra a segurança do Estado”.

“Vergonha” gritavam os apoiadores de Artiom Kamardine, 33 anos, e de Iegor Chtovba, 23 anos, no anúncio deste julgamento, a esposa do primeiro gritando-lhe que o amava, notou um jornalista da AFP presente na audiência.

Centenas foram presos pondo flores em memorial a Navalny. Mais de 200 sofreram penas
Centenas foram presos pondo flores em memorial a Navalny.
Mais de 200 sofreram penas
“É uma arbitrariedade absoluta!”, exclamou o pai de Artiom Kamardine, Yuri. Várias pessoas foram presas pela polícia fora do tribunal após o julgamento dos dois homens.

“Todos são iguais perante a lei, mas alguns são mais iguais que outros. Nossos filhos se mostraram desiguais na luta contra eles”, brincou sua mãe, Elena.

Pouco antes de a sentença ser pronunciada, Artiom Kamardine leu alguns versos sobre poesia, o que segundo ele permite “quebrar o silêncio” e “colocar as tripas na mesa”. “A poesia é a vitória sobre o tempo e o caminho do prisioneiro, do cativo”, recitou.

Ele também disse à imprensa que “não desistiu” e não “se arrependeu”. “Muitas pessoas da cultura que admiro tiveram experiências na prisão”, disse ele.

Durante a leitura da sentença, Artiom recitou o poema “Mate-me, miliciano!”, hostil aos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia.

“Não sou um herói e ir para a prisão pelo que penso nunca fez parte dos meus planos”, disse Artiom ao tribunal no seu discurso final, publicado no Telegram pelos seus simpatizantes.

Implorando ao juiz que o deixasse “voltar para casa”, prometeu em troca manter distância de qualquer “assunto delicado”.

Sua esposa, Alexandra Popova, lamentou à AFP uma sentença “muito severa”. “Sete anos para poesia, por uma ofensa não violenta”, ressaltou.

Prisão é o destino de quem não opina como Putin
Prisão é o destino de quem não opina como Putin

“Por mais que quiséssemos acreditar no fundo que as coisas seriam mais tranquilas, mais fáceis”, era “uma loucura ter esperança”, continuou ela. “Se tivéssemos tribunais normais, esta situação não existiria.”

Ela foi levada pela polícia após falar com a imprensa.

Um terceiro poeta, Nikolai Daïneko, preso na mesma época, foi condenado a quatro anos de prisão em maio, segundo o OVD-info.

A Rússia tem vindo a suprimir vozes críticas durante anos, mas a campanha de repressão assumiu proporções consideráveis com o lançamento da ofensiva contra a Ucrânia.

De acordo com o OVD-Info, quase 20.000 pessoas foram presas na Rússia por se oporem ao conflito na Ucrânia desde fevereiro de 2022. A ONG Memorial lista 633 presos políticos atrás das grades, informou “La Nación”.

Em novembro, a artista Alexandra Skotchilenko, detida em abril de 2022, foi condenada a sete anos de prisão por substituir etiquetas de preços num supermercado com mensagens denunciando a ofensiva na Ucrânia.

A artista Alexandra Skotchilenko presa pelo crime de deixar dizeres em supermercado contra a guerra na Ucrânia
A artista Alexandra Skotchilenko presa pelo crime de deixar dizeres
em supermercado contra a guerra na Ucrânia
Um estudante de Yaroslavl, um artista em São Petersburgo, um engenheiro em Kaliningrado, um professor aposentado na Buriácia, um escritor na região de Krasnodar... Na Rússia, todos os dias aumenta a lista de cidadãos perseguidos por “apologia do nazismo”, “extremismo” ou “difamação do Exército”.

De acordo com uma nova lei em vigor desde março de 2022, todos podem ser condenados. Mas a repressão é particularmente dura contra os intelectuais.

Entre 24 de fevereiro de 2022, data da invasão da Ucrânia, e 3 de dezembro de 2023, 19.884 pessoas foram detidas por manifestarem oposição à guerra, segundo a ONG russa OVD-Info, especializada no monitoramento de detenções e brutalidades policiais.

As sentenças vão de seis, sete, oito a até 25 anos de prisão. A pena mais dura foi infligida ao oposicionista Vladimir Kara-Mourza.

Yegor Balazeïkine (17 anos), foi condenado em novembro de 2023 a seis anos de prisão por um tribunal militar de São Petersburgo, por ter tentado atear fogo a um centro de recrutamento.

Quase 300 mulheres e homens se apinham nas celas, sejam opositores, simplesmente perseguidos, Testemunhas de Jeová ou tártaros da Crimeia.

A ONG de direitos humanos Memorial, aliás interditada e que teve fechados os seus museus dos Gulags soviéticos, estima que há um total de 1.352 presos políticos.

Comparado com os 144 milhões que constituem a população russa, o número pode parecer modesto. O problema é que aumenta exponencialmente.

Segundo a mesma organização, antes de Mikhail Gorbachev chegar ao poder, os presos políticos não ultrapassavam os 700.

“A repressão não faz distinção de idade ou profissão: pode ser uma aposentada ou uma jovem sem influência. A mensagem que o Kremlin envia é que ninguém está seguro”, afirma Olga Prokopieva, porta-voz da Rússia-Liberdades.

“E as penas são muito duras. Ao mesmo tempo, os criminosos são perdoados (prisioneiros recrutados nas prisões para sedrem enviados à “moedora de carne na frente ucraniana). É assustador”, acrescenta.

Ela reconhece, no entanto, que o poder putinista exerce uma repressão particular contra os intelectuais.

Na região de Tver, por exemplo, a produtora audiovisual Ludmila Razumova (56 anos) foi condenada a sete anos de colônia penal juntamente com o marido por ter publicado um vídeo nas redes sociais sobre “o uso das Forças Armadas Russas para destruir cidades e civis da Ucrânia”.

Jornalista Maria Ponomarenko condenada por ser contra a invasão da Ucrânia
Jornalista Maria Ponomarenko condenada por ser contra a invasão da Ucrânia
O casal também foi acusado de atos de “vandalismo” porque pintou a inscrição “Ucrânia, perdoe-nos” na parede de uma empresa. Mãe de três filhos, Ludmila passou um ano isolada.

A jornalista da RusNews Maria Ponomarenko (45 anos) foi condenada a seis anos de prisão por um artigo sobre o bombardeio do teatro dramático de Mariupol, na Ucrânia.

Ela foi presa em abril de 2022, em São Petersburgo e depois foi transferida a 4 mil quilômetros de distância para o centro de detenção provisória de Barnaul, na região de Altai.

Em março de 2023 foi encaminhada a um hospital psiquiátrico por se recusar a se despir na frente da polícia, e mais uma segunda vez em outubro. Pouco depois foi apresentada à força perante uma comissão disciplinar, descalça e algemada, por ter “pisado nos pés” dos agentes penitenciários.

Tal como nos tempos da União Soviética, os juízes e as administrações penitenciárias recorrem cada vez mais à psiquiatria punitiva. Muitos presos políticos também sofrem maus-tratos, tortura e privação de cuidados médicos.

Boris Akunin, um dos escritores russos mais famosos, foi rotulado de “terrorista” e suas obras foram retiradas da venda.

Dois anos depois do lançamento da “operação militar especial” de Putin contra Ucrânia, a armadilha judicial fechou-se em torno deste ensaísta e romancista que, com a sua caneta amarga, critica Vladimir Putin e denuncia “a guerra” (é crime chamar assim a “operaçao especial”, termo oficial).

Rosfinmonitoring, a agência federal de inteligência financeira, incluiu Akunin no registro de terroristas e extremistas. A polícia revistou as edições de Zakharov que distribuem os seus livros, e uma investigação de “difamação” do exército forçou as livrarias a retirar “As Aventuras de Eraste Fandorin” e todos os seus outros best-sellers dos seus catálogos.

Poeta foi surrado e violado por ler poesia anti-guerra
Poeta foi surrado e violado por ler poesia anti-guerra
Akunin vive exilado em Londres desde 2014 e acompanha à distância esta crescente onda de repressão contra os detratores do Kremlin.

“A loucura venceu”, lançou ele em 24 de fevereiro de 2022, descrevendo a ofensiva militar russa na Ucrânia como uma “guerra do absurdo”. Ele tampouco conteve as críticas a Putin: “A Rússia é liderada por um ditador que é mentalmente desequilibrado e, pior ainda, obedece à sua paranóia”, declarou.

No exílio, co-fundou o projeto “Nastoïachtchaïa Rossia” (Verdadeira Rússia) com outras personalidades culturais que fugiram do país.

“A repressão tornou-se intermina. A qualquer momento a lâmina pode cair sobre qualquer um de nós”, confidencia outra figura da autoproclamada “classe criativa anti-Putin”.

Por questões de segurança, este renomado escritor prefere permanecer anônimo porque, ao contrário de Boris Akunin, decidiu continuar morando na Rússia.

“É o meu país. Não é minha função partir. Mas escrever sobre o atual ambiente de guerra e repressão é impossível”, lamenta.

Quando pode, aproveita as bolsas europeias para deixar a família na Rússia e passar algumas semanas no estrangeiro.

Circularam mensagens nas redes sociais russas acusando-o de traição e extremismo, e de ser “um agente estrangeiro” devido aos seus contactos ocidentais.

Artistas renomadas aguardam julgamento
Artistas renomadas aguardam julgamento
“Tudo pode começar com trolls na internet e terminar em processos judiciais reais. Nós, intelectuais, estamos diretamente ameaçados”, confirma.

Evguenia Berkovitch, conhecida diretora de teatro, aguarda seu julgamento desde o verão. Oficialmente, ela é acusada de “defender o terrorismo” depois de um programa sobre o destino de mulheres recrutadas por islâmicos sírios.

Mas o seu grande pecado foi denunciar o Kremlin e sua ofensiva militar. No entanto, um público bastante jovem e intelectual tem a coragem de frequentar o pequeno teatro independente onde são apresentadas as suas obras, numa Moscou quase subterrânea.

Poucos dias antes do Natal, uma de suas criações terminava com um poema de outro autor: “Não vale a pena escrever, não vale a pena ler, é impossível acabar com a guerra ou começar a viver. Já é noite e você não consegue ver quase nada. A grama está coberta por uma névoa impenetrável”.