quarta-feira, 13 de maio de 2015

A serviço do Kremlin como nos ‘dias de ouro’
do pacto Ribbentrop-Molotov

Saudosistas da velha URSS não se sabe por que 'de direita' engrossaram o evento pro-Putin 'cristão' no Foro Internacional Conservador de São Petersburgo.
Saudosistas da velha URSS não se sabe por que 'de direita'
engrossaram o evento pro-Putin 'cristão'
no Foro Internacional Conservador de São Petersburgo.



A convite de militantes amigos do Kremlin, representantes de diversas legendas europeias consideradas de direita reuniram-se em São Petersburgo, noticiou a Deutsche Welle.

As fotografias, reproduzidas pela rádio oficial alemã, forneceram a deprimente imagem de velhos militantes russos exibindo incontáveis condecorações como os melhores servidores da era soviética.

Porém, o script fornecido pelo Kremlin mudou alguma coisa em relação a esses tempos remotos. A instrução agora era fomentar os “valores tradicionais” da família e do cristianismo, que o presidente Vladimir Putin afirma defender.

Os velhos roteiros da extinta URSS tiveram também seu lugar na hora de vituperar contra os EUA e a Europa a propósito da crise da Ucrânia.


O organizador foi Fiodor Birukov, do partido Rodina (Pátria), que integra a coalizão de Vladimir Putin. Birukov disse que o encontro foi o passo inicial para uma internacional contra a “ameaça à soberania e à identidade nacional”, que ele vê não na “nova URSS”, mas nos países onde há propriedade privada e livre iniciativa.

Segundo a Deustche Welle, participaram cerca de 150 políticos do espectro populista, inclusive do Partido Nacional Britânico (BNP), do grego Aurora Dourada e do alemão NPD.

Brilharam pela ausência grupos análogos de verdadeira relevância, como o UKIP da Inglaterra, que após o atentado contra o avião da Malaysia Airlines rompeu com Putin.

A simpatia pelo chefe do Kremlin foi religiosamente professada. Como também a hostilidade em relação aos países livres.

“É fascinante quanta paciência demonstram a Rússia e o presidente Putin diante da política agressiva da OTAN”, exclamou Udo Voigt, do NPD alemão.

Nick Griffin, ex-líder do British National Party no International Russian Conservative Forum. Mais espuma que substância, mas o velho pacto Ribbentrop-Molotov parece perdurar
Nick Griffin, ex-líder expulso do British National Party
no International Russian Conservative Forum.
Mais espuma que substância, mas o pacto Ribbentrop-Molotov parece perdurar
A Frente Nacional (FN) ausentou-se, mas sua líder, Marine Le Pen, pagou na véspera tributo ao chefe máximo de Moscou ao criticar na TV de Putin a “propaganda” anti-russa pela invasão da Ucrânia e as sanções europeias impostas ao invasor, as quais, segundo Le Pen, só ocorreriam “por ordem dos EUA”.

A disputa para tecer elogios no microfone ao novo amo da Rússia foi intensa e atingiu pontos ridículos, segundo a análise feita pelo sociólogo Demétrio Magnoli para a “Gazeta do Povo”. http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/santa-alianca-20-3elkuuomid3lfwv6n5o0cuc5u.

Dirigindo-se aos russos, o britânico Jim Dowson exibiu uma foto de Putin sem camisa montado num urso: “Obama e os EUA são homens efeminados, mas vocês foram abençoados por um homem que é homem”.

Roberto Fiore, da Forza Nuova, partido neofascista italiano, entoou sonoro o cântico proposto pelo ex-coronel da KGB: “Somos a vanguarda de uma nova Europa que logo emergirá. Será uma Europa cristã, uma Europa patriótica — e a Rússia não será apenas uma integrante disso, mas a força de liderança”.

Cacofonia: Roberto Fiore de 'Forza Nuova' italiana disse não se incomodar de ser rotulado 'fascista' mas o evento condenou o governo de Kiev como 'fascista'
Cacofonia: Roberto Fiore de 'Forza Nuova' italiana
disse não se incomodar de ser rotulado 'fascista'
mas o evento condenou o governo de Kiev como 'fascista'
“A contradição assomou na forma da cacofonia. Enquanto Fiore declarava que ‘não me considero difamado quando sou chamado de fascista’, o russo Aleksei Zhilov explicava que todos os fascistas estão no governo de Kiev”, escreveu Magnoli.

No site oficial do evento, destacava-se um discurso de Putin que evoca uma “profunda crise demográfica e moral” do Ocidente, derivada do colapso dos valores tradicionais, do declínio da religião e da legalização do casamento homossexual. Nas tradições russas, o mesmo Putin inclui as “grandes conquistas” da União Soviética.

Um orador denunciou Le Pen pelo crime de ter amigos homossexuais, que é aliás o caso (assumido) de Florian Philippot, vice-presidente do FN.

No entanto, tendo conquistado amplas parcelas do eleitorado, os líderes do FN na França e da UKIP na Grã-Bretanha preferiram ausentar-se, para evitar a urucubaca dos fanáticos sem votos congregados na antiga capital russa.

A Frente Nacional não oculta sua atração pelo czar restaurador da “Grande Rússia”: obteve um empréstimo de US$ 11 milhões de um banco russo ligado ao Kremlin.

Numa entrevista recente, Le Pen declarou seu alinhamento à “visão econômica” de Putin, que “desenvolveu uma economia patriótica”, sem explicar no que ela se diferencia do dirigismo soviético.

Um representante do partido grego Aurora Dourada, que desfralda suásticas em Atenas, pregou o estreitamento de relações econômicas entre a Grécia e a Rússia.

Entrementes, o Syriza, partido esquerdista que governa a Grécia e que na teoria seria o contrário do Aurora Dourada, critica as sanções europeias à Rússia, procura empréstimos de Moscou e acalenta a ideia de uma cooperação com Moscou no terreno militar. Como se fosse, à esquerda, um sósia do Aurora Dourada.

Não faltaram figurinos artificiais enviados pela FSB para dar volume ao evento putinista.
Não faltaram figurinos artificiais enviados pela FSB
para dar volume ao evento putinista.
Antes de seu triunfo eleitoral, o Syriza exibia em sua sede uma grande fotografia do Che Guevara.

Ela sumiu, mas o primeiro-ministro Alexis Tsipras nunca renegou sua admiração por Fidel Castro e Hugo Chávez, observou o sociólogo.

As frases, quase idênticas, contra a “guerra fria conduzida pela União Europeia sob o comando dos EUA” e as bajulações ao presidente russo faziam lembrar discursos do venezuelano Nicolás Maduro, semelhantes aos de Hugo Chávez.

O capitalismo de Estado, o nacionalismo e o antiamericanismo constituíram boas chaves de descodificação dessa aparente cacofonia: decifraram e explicaram as contradições superficiais dos presentes no evento.

Também serviram para desvendar a sintonia profunda desses “companheiros de viagem” com Moscou. Como na época em que o acordo Ribbentrop-Molotov funcionava a toda vapor.

E, de ricochete, deixaram ver uma extensa ponte criada com o esquerdismo populista latino-americano, tão caro ao lulopetismo e garantia do perene silêncio do Brasil sobre a agressão russa à Ucrânia.

Magnoli lembrou que Lenine, logo após a Revolução Russa, promoveu alianças espúrias com líderes estrangeiros, que qualificou de “idiotas úteis do Ocidente”.

Agora Putin, segundo o sociólogo, está “recrutando seus próprios ‘idiotas úteis’, que não se envergonham sequer de repetir a ladainha do Kremlin sobre o conflito ucraniano”.

Hoje na “nova URSS” como outrora na URSS, o linguajar para seduzir incautos não conhece escrúpulos.


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5 comentários:

  1. Comunistas mudam o nome de rua no centro do Rio para "Stalin":

    http://br.sputniknews.com/brasil/20150515/1031825.html

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  2. Bandeira russa na comemoração da vitória na Segunda Guerra hasteada no Rio:

    http://br.sputniknews.com/fotos/20150508/970589.html

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  3. ministro da defesa de dilma em Moscou para comemoração da "vitória" estalinista:

    http://br.sputniknews.com/mundo/20150511/988352.html

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  4. Está comprovado o (anticristo do nosso tempo): Organização inaugura busto de Putin como imperador romano


    "Queríamos imortalizar Vladimir Putin como um vencedor e estadista que devolveu a Crimeia à Rússia", declarou líder da associação "Ibris".
    http://new.d24am.com/noticias/mundo/organizacao-inaugura-busto-putin-como-imperador-romano/134067


    Psicopata, ex-oficial e torturador da KGB, Vladimir Putin em discurso* na Duma, parlamento russo, em abril de 2005: “Antes de tudo nós devemos reconhecer que o colapso da União Soviética foi a maior catástrofe geopolítica do século”. Ignorando as Tragédias das Guerras Mundiais, genocídio de Holodomor (Ucrânia 32-33), Holocausto, genocídio armênio 1915, Hiroxima, Nagasaqui. Para esse sujeito a pior tragédia foi o fim da tirânica genocida de 30 milhões de pessoas, União Soviética.


    * http://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml?http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft2604200511.htm

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  5. Governo ucraniano assina a lei que proíbe símbolos comunistas.

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