A política de aproximação do Vaticano com o comunismo ou Ostpolitik, iniciada na década de 1960 sob o bafejo de João XXIII e Paulo VI, não só não deu os resultados esperados, mas se revelou desastrosa para os católicos sob a tirania marxista, escreveu George Weigel, pesquisador do Centro de Ética e Política Pública, de Washington. Seu artigo foi reproduzido no site da insuspeita
a, onde em meados da década de 1970 a chefia da Igreja estava sob as ordens do Partido Comunista. Este também estava no controle de fato do Colégio Húngaro, na própria Roma!
, incluindo a KGB, a Stasi (da Alemanha Oriental), a StB (da Checoslováquia), a SB (agência polonesa) e a AVH (húngara).
nos países oprimidos pelos seguidores de Lênin, Stalin e Mao Tsé-Tung.
comprometendo as negociações tão valorizadas pelo Cardeal Casaroli e seus apoiadores. Homem-símbolo e grande artífice dessa funesta política, o cardeal chegou a ser nomeado Secretário de Estado.
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Congressos promovidos por pesquisadores acadêmicos vêm peneirando as provas e analisando os métodos empregados; livros foram publicados explorando esta história fascinante – para não dizer de sinistro mau gosto.
Não obstante, importantes diplomatas do Vaticano continuam a insistir, ainda hoje, que a Ostpolitik foi um sucesso – escreve Weigel. E um sucesso tão grande, que
Hoje – segundo Weigel –, nenhum estudante sério que se debruce sobre este tema julga que a Ostpolitik foi um sucesso. Os que afirmam que ela foi um vento bem-sucedido são, ou deliberadamente ignorantes, ou obtusos e indispostos a aprender com o passado.
e uma crise de refugiados maciça emergiu desde que a Santa Sé montou uma campanha contra a intervenção militar ocidental para lidar com o ditador assassino Bashar al-Assad?
Sob a presidência de João XXIII e depois de Paulo VI, reuniu-se o Concílio Ecumênico mais numeroso da História da Igreja. Nele estava assente que iriam ser tratados todos os mais importantes assuntos da atualidade, referentes à causa católica.
Entre esses assuntos não poderia deixar de figurar – absolutamente não poderia! – a atitude da Igreja face ao seu maior adversário naqueles dias. Adversário tão poderoso, tão brutal, tão ardiloso como outro igual a Igreja não encontrara na sua História então já quase bimilenar.
Tratar dos problemas contemporâneos da religião sem tratar do comunismo, seria algo de tão falho quanto reunir hoje em dia um congresso mundial de médicos para estudar as principais doenças da época, e omitir do programa qualquer referência à AIDS...
Pois foi o que a
Ostpolitik vaticana aceitou da parte do Kremlin. Esse declarou que se, nas sessões do Concílio, se debatesse o problema comunista, os observadores eclesiásticos da igreja greco-cismática russa se retirariam definitivamente da magna assembleia.
Estrepitosa ruptura de relações que fazia estremecer de compaixão muitas almas sensíveis, pois tudo fazia temer, a partir daí, um recrudescimento das bárbaras perseguições religiosas para além da cortina de ferro. E, em atenção a esta possível ruptura, o Concílio não tratou da AIDS comunista!
A mão estendida era coberta por uma bela luva: a luva aveludada da cordialidade. Mas, por dentro da luva, a mão era de ferro. Sentiam-no as mais altas autoridades da Igreja.
Mas isto não impediu que prosseguissem na
Ostpolitik. O que foi levando crescente número de católicos a tomar em relação ao comunismo uma atitude interior equivalente a uma verdadeira “queda de barreiras ideológicas”.
E, no terreno da ação concreta, a colaborar cada vez mais com as esquerdas na ofensiva contra o capitalismo privado, e em favor do capitalismo de Estado, na ilusão de que o primeiro era oposto à “opção preferencial pelos pobres”, ao passo que o segundo tinha várias afinidades (ou até mais do que só isto) com tal opção tão preconizada pelo atual Pontífice.
Oh que cruel desmentido lhes infligiu o capitalismo de Estado!
– A TFP na tormenta
Todo esse suceder de fatos verdadeiramente dramáticos não podia deixar de sobressaltar a fundo (não fosse a confiança na Santíssima Virgem, melhor seria dizer “angustiar de modo atroz”) os componentes da TFP brasileira.
Por isso, logo na poluída e sombria “madrugada” desta crise, o pugilo de católicos do qual nasceria de futuro nossa entidade, deu a voz de alerta (cfr. Plinio Corrêa de Oliveira,
Em defesa da Ação Católica, 1943, prefácio do Cardeal Bento Aloisi Masella, então Núncio Apostólico no Brasil.
A obra foi objeto de expressiva carta de louvor, escrita em nome do Papa Pio XII, pelo Substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, Mons. J. B. Montini, mais tarde Paulo VI).
Incontinenti partiu daí uma geral saraivada de contra-ataques, que iam desfechando em que grande número de meios católicos – pepineira de futuros comunistas nas agitações dos anos 1963-1964 – se cerrassem à nossa ação. Assim, ecumênicos com tudo e com todos, e notadamente com os esquerdistas, os católicos de esquerda se manifestavam desde então inquisitoriais em relação a nós!
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O Cardeal de Santiago do Chile, Mons. Silva Henríquez
artífice de escandalosa colaboração com o comunismo.
Na foto, abraça o presidente marxista Salvador Allende
na catedral chilena, 18.09.1971. |
Engajou-se assim a parte mais dolorida de nossa luta. Esta luta, antigamente a traváramos contra o lobo devorador. Agora, nossa própria fidelidade à Igreja levava-nos a travá-la contra ovelhas do mesmo rebanho. E, oh dor das dores! até com pastores deste ou daquele rebanho bendito de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Toda essa luta, tão longa e gotejante de lágrimas, de suor e do sangue das decepções, a TFP a historiou em dois livros, um deles recente (
Meio século de epopeia anticomunista, 1980; Um homem, uma obra, uma gesta, 1989).
Estão eles ao alcance de qualquer interessado, no endereço abaixo. Desnecessário é resumi-los aqui.
Diga-se simplesmente que, com o apoio das valentes e brilhantes TFPs então existentes, respectivamente na Argentina, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, Equador, Espanha, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela, foi lançado o documento intitulado
A política de distensão do Vaticano com os governos comunistas – Para a TFP: omitir-se? ou resistir?, em que todas as nossas entidades coirmãs e autônomas se declaravam em estado de respeitosa resistência à
Ostpolitik vaticana.
O espírito que as levou a isso – e que hoje anima igualmente as TFPs e Bureaux depois constituídos em 22 países – se pode resumir nesta apóstrofe da mesma declaração:
“Neste ato filial, dizemos ao Pastor dos Pastores: Nossa alma é Vossa, nossa vida é Vossa. Mandai-nos o que quiserdes. Só não nos mandeis que cruzemos os braços diante do lobo vermelho que investe. A isto nossa consciência se opõe”.
– Interpelação? – Não: apelo fraterno
A vós, diletos irmãos na Fé, a cuja vigilância a falácia comunista transviou ou está em vias de transviar, não faremos uma só interpelação.
De nosso coração sempre sereno parte, rumo a vós, um apelo repassado de ardoroso afeto
in Christo Domino: diante do quadro terrível que nestes dias se esboça a vossos olhos, reconhecei, pelo menos hoje, que fostes ludibriados. Queimai o que ajudáveis a vencer. E combatei ao lado daqueles que ainda hoje ajudais a “queimar”.
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Nossa Senhora de Fátima chorando em Nova Orleans, EUA |
Sinceramente, categoricamente, sem ambiguidades tendenciosas, mas com a franqueza tão enormemente respeitável que é inerente à contrição humilde, voltai vossas costas para os que cruelmente vos têm enganado. E ponde em nós vosso olhar, serenado e fraterno, de irmãos na Fé.
Este é o apelo que vos fazemos hoje. Ele exprime nossas disposições de sempre, as de ontem como as de amanhã.
Nas palavras finais deste documento, nossa voz se carrega de emoção, a veneração as embarga, nossos olhos filiais e reverentes se levantam agora a Vós, ó pastores veneráveis que dissentistes de nós.
Onde encontrar as palavras de afeto e de respeito próprias a depositar em vossas mãos – em vossos corações – em um momento como este?
Melhores não as podemos encontrar senão, mutatis mutandis, nas próprias palavras que, em 1974, dirigimos ao hoje falecido Paulo VI.
Pronunciamo-las genuflexos, pedindo vossas bênçãos e vossas orações.