segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A mão russa no “surpressivo” golpe talibã

Líder Talibã Khalil Haqqani numa mesquita de Cabul. Foi-se o tempo em que usavam armas velhas capturadas. A Rússia e a China os armaram com o que há de mais moderno
Líder Talibã Khalil Haqqani numa mesquita de Cabul.
Foi-se o tempo em que usavam armas velhas capturadas.
A Rússia e a China os armaram com o que há de mais moderno
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Já no governo de Donald Trump, os serviços de inteligência americanos constataram que uma unidade especial russa pagava prêmios aos talibãs ou a criminosos associados para matar soldados ocidentais no Afeganistão, segundo o “The New York Times”.

Os EUA deduziram há meses que agia uma unidade russa ligada a serviços sujos análogos no Ocidente.

Seus membros interviram em tentativas de assassinato na Europa para desestabilizar Ocidente ou se vingar de espiões russos que se passaram para o lado ocidental no último ano, pelo menos.

Militantes islamistas e criminosos contratados para o mesmo teriam colhido grandes somas de dinheiro, disseram os especialistas.

A atividade dessa unidade russa e/o análogas foi documentada mais de uma vez em nosso blog.


O presidente Trump foi informado e o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca debateu o problema, escreveu o jornal novaiorquino.

Discutiu-se uma eventual reclamação diplomática a Moscou, mas a Casa Branca não autorizou qualquer medida.

Por primeira vez ficaria patente que uma unidade de espionagem russa orquestrava ataques às tropas ocidentais e oficializaria o reconhecimento do apoio russo ao Talebã.

A administração Trump temeria uma grande escalada da “guerra híbrida” da Rússia contra o Ocidente apelando com ataques cibernéticos, disseminação de notícias falsas e operações militares secretas.

Funcionários da inteligência não explicaram a demora da Casa Branca em responder à Rússia.

Pânico da população de Cabul
Pânico da população de Cabul
Alguns, como o secretário de Estado Mike Pompeo, postularam políticas mais agressivas em relação a Moscou, mas Trump adotou uma postura acomodatícia em relação, escreveu o jornal.

Biden nada fez nem insinuou a respeito deste ponto sensível esclarecedor do que se está passando.

A avaliação da inteligência no tempo de Trump se baseou em interrogatórios de militantes talibãs e criminosos afegãos capturados.

Pode-se então montar o mapa da operação russa, o pagamento em dinheiro e os lugares onde se faziam os encontros.

Outras autoridades americanas e afegãs já vinham acusando a Rússia de fornecer armas leves aos subversivos islâmicos.

Também supunham que os russos buscavam vingança pelas perdas na Síria em choques com militares americanos.

Ações desestabilizadoras e envenenamentos são tarefas da Unidade 29155
Ações desestabilizadoras e envenenamentos são tarefas da Unidade 29155.
Na vingança contra ex-agente Sergueï Skripal, 60 pessoas ficaram envenenadas
As mesmas fontes atribuíram a operação à Unidade russa 29155, um braço da agência de inteligência militar de Moscou, citada como G.R.U.

Essa unidade está ligada ao envenenamento de Sergei Skripal, um ex- oficial da G.R.U. que desertou, e sua filha.

Também esteve por trás de uma tentativa de golpe em Montenegro em 2016 e do envenenamento de um fabricante de armas na Bulgária um ano antes.

A unidade tem duas ciberunidades, conhecidas como 26165 e 74455, que invadiram os servidores do Partido Democrata na campanha presidencial americana de 2016 visando inclinar a eleição em favor de Trump.

As operações da Unidade 29155 tendem a ser cada vez mais violentas e seus oficiais são frequentemente condecorados como veteranos militares com anos de serviço, inclusive por ações no Afeganistão na década de 1980.

Mas a unidade não foi acusada formalmente de orquestrar ataques contra soldados ocidentais, como seria o caso agora.

A Rússia qualifica o Talibã como organização terrorista, mas os representantes islâmicos foram a Moscou para negociações de paz.

A ex-URSS sofreu humilhantes derrotas por parte dos Talibãs no século passado.

Embaixada russa se diz mais segura com os Talibãs. Foto de Russia Today
Embaixada russa se diz mais segura com os Talibãs. Foto de Russia Today
Mas o relacionamento parece ter mudado 180º nos últimos anos.

A agência Reuters chamou a atenção para o amigável tratamento dos Talibãs para a embaixada russa em Cabul.

Zamir Kabulov, representante especial do presidente Putin no Afeganistão, explicou que sua embaixada estava “conversando” com os Talibãs enquanto a capital caia nas mãos do grupo insurgente islâmico.

A embaixada russa declarou se sentir bem protegida quando os fanáticos assumiram sua segurança e desarmaram de forma “pacífica” à polícia.

“Correu com toda a calma e sem incidentes”, disse Kabulov, em meio às ondas de pânico que percorriam a capital e enquanto as nações ocidentais corriam para evacuar funcionários em cenas até patéticas.

O representante de Putin acrescentou que a “embaixada russa vai elaborar um mecanismo permanente de garantia da segurança” junto com os Talibãs, que agora exibem conduta amistosa para com os russos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário