domingo, 18 de fevereiro de 2024

Morte de Navalny e vertigem de fraudes eleitorais

Alexei Navalny foi alastrado de cárcere em cárcere até morrer
Alexei Navalny foi alastrado de cárcere em cárcere até morrer
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Putin já aprontou tudo para ser eleito presidente pela enésima vez e pelas mesmas tenebrosas vias. Seu principal opositor Alexeï Navalny desaparecera da colônia penal de Vladimir, 250 quilômetros a leste de Moscou, onde estava preso.

Seu advogado e familiares não tinham notícias dele até que após três semanas de buscas em que as autoridades putinistas diziam não saber de nada foi achado na colônia penal número 3, noticiou “Paris Match”.

O cárcere fica em Kharp, Yamalo-Nenetsia, uma região remota no norte da Rússia é inacessível, para além do Círculo Polar Ártico. No local estão localizadas várias colônias penais herdadas do Gulag soviético de sinistra memória.

Nela apareceu morto quando contava com apenas 47 anos. Morte misteriosa em que o corpo apareceu com hematomas múltiplos, segundo o jornal independente “Novaya Gazeta Europa”, retransmitiu “El Mundo”.

O governo alegou diversas versões do falecimento e não queria entregar o corpo à família.

Numerosas autoridades do mundo como o presidente dos EUA responsabilizaram Putin pela surpreendente morte do opositor. O aparente crime oficial acirrou as já difíceis relações econômicas e militares entre Rússia e o Ocidente.

Ativista carismático anticorrupção e inimigo número um de Vladimir Putin, Navalny cumpria pena de 19 anos de prisão por “extremismo”.

Colônia penal de  Kharp, Yamalo-Nenetsia, onde acabou morto Alexei Navalny
Colônia penal de  Kharp, Yamalo-Nenetsia, onde acabou morto Alexei Navalny
Ele foi encarcerado em janeiro de 2021 ao retornar de uma convalescença na Alemanha por um veneno ded uso exclusivo da polícia política de Putin: a FSB, herdeira da KGB.

Um de seus associados, Ivan Zhdanov, explicou que é “um dos assentamentos mais setentrionais e remotos” da Rússia. “As condições lá são difíceis”, explicou no X. “É muito difícil chegar lá e não existe sistema de distribuição de cartas ou (acesso telefônico)”, acrescentou.

O veredicto de “extremismo” condenou Navalny a um “regime especial” em um estabelecimento onde as condições de detenção são mais duras, e onde v os mais perigosos prisioneiros para o regime purgam prisão perpétua.

“Desde o início ficou claro que as autoridades queriam isolar Alexei, em particular antes das eleições presidenciais” marcadas para março de 2024, reagiu Ivan Zhdanov.

As transferências de uma colônia penal para outra na Rússia levam várias semanas e os parentes dos detidos não são ouvidos durante esse período.

A Casa Branca disse estar “muito preocupada” e exigiu mais uma vez a libertação do opositor, sem eco algum. O movimento de Navalny foi metodicamente erradicado nos últimos anos pelas autoridades. Seus colaboradores e aliados foram empurrados para o exílio ou a prisão.

Oferenda floral a Navalny num local público da Rússia.
Oferenda floral a Navalny num local público da Rússia.
O seu Fundo Anticorrupção foi declarado “extremista” em 2021 e se aproximava a eleição, a polícia dou prender a sua diretora, Maria Pevtchikh, que fugiu para o estrangeiro.

Perante uma oposição esmagada e a repressão de qualquer voz crítica no país, Vladimir Putin ambiciona um novo mandato de seis anos no Kremlin que o levará até 2030, ano em que assumirá o poder com 78 anos.

Desde o primeiro cárcere, Navalny convocou os russos para protestarem contra a invasão da Ucrânia ordenada pelo presidente Vladimir Putin.

Por isso, muitos dos seus apoiadores temiam o pior, aliás já acontecido a varias dezenas de oligarcas que apareceram suicidados do modo mais suspeito, escreveu “Clarín”.

Dezenas de manifestantes anti-guerra foram detidos em São Petersburgo após pedirem a paz e o retorno dos soldados desaparecidos na Ucrânia. Após a morte, ou assassinato, de Navalny em ruas de muitas cidades russas foram erigidos monumento florais em sua memória.

A polícia prendeu com violência a pelo menos 400 pessoas que foram a depositar uma flor em algum desses monumentos simbólicos.

A Comissão Eleitoral Russa também descartou a candidatura presidencial da ex-jornalista televisiva e ex-deputada municipal Iekaterina Duntsova, informou “Le Monde”.

Iekaterina Duntsova ex-deputada contrária à guerra na Ucrânia foi desqualificada pelo TSE russo por ser muito jovem
Iekaterina Duntsova ex-deputada contrária à guerra na Ucrânia
foi desqualificada pelo TSE russo por ser muito jovem
A Comissao arguiu “erros” no de registro, segundo informou no Telegram a equipe de campanha da desqualificada, três dias depois ela solicitar o registro no tribunal eleitoral.

A presidente da Comissão Eleitoral, Ella Pamfilova, declarou que foi rejeitada por unanimidade a candidatura desta mulher de 40 anos dizendo que a candidata “é uma jovem, tem toda uma vida pela frente”.

Yekaterina Duntsova propunha acabar com a guerra na Ucrânia e libertar os prisioneiros políticos, posição que contradiz a Putin.

Quase todos os principais opositores foram presos ou levados ao exílio, e milhares de russos comuns foram processados e multados ou presos por expressarem o seu desacordo com o Kremlin.

A vitória de Vladimir Putin era indubitável mas o Tribunal Eleitoral não quis deixar nem mesmo uma pálida sombra de oposição rejeitando a candidatura de Boris Nadejdin, o único candidato anti-Putin que ainda sobrava.

O opositor anunciou-o no início de fevereiro, uma semana depois de ter apresentado 105 mil assinaturas necessárias para concorrer, informou o “Huffpost”.

Boris Nadejdin criticou Putin e foi declarado 'não-candidato'
Boris Nadejdin criticou Putin e foi declarado 'não-candidato'

Boris recorreu ao Supremo Tribunal de Justiça sabendo que sua sorte estava decidida no Kremlin.

O Tribunal Eleitoral achou que 15% das assinaturas apresentadas eram “errôneas”.

Nadejdin é um antigo deputado liberal e discreto veterano da vida política que podia canalizar as esperanças dos russos opostos às políticas do Kremlin, após a supressão de outras figuras da oposição, todas elas hoje no exílio ou na prisão.

“Dezenas de milhões de pessoas iriam votar em mim. Estou em segundo lugar, atrás de Putin!”, proclamou perante o Tribunal Eleitoral. Essas palavras selaram sua perdição final

Ele prometia parar o “pesadelo” da ofensiva na Ucrânia, pôr fim à “militarização” da Rússia e libertar “todos os presos políticos” como o opositor Alexeï Navalny encarcerado no Ártico em local inacessível.

Nenhuma outra figura anti-Putin havia se arriscado a assumir essas causas sem ser punida.

A polícia russa prendeu centenas de pessoas que foram depositar flores por Navalny
A polícia russa prendeu centenas de pessoas que foram depositar flores por Navalny
O Kremlin desprezava-o: “não o consideramos um concorrente”, disse Dmitri Peskov, porta-voz do presidente russo. E o Tribunal aceitou a vontade do mestre, como nos tempos da falida URSS.

Com boa antecipação Putin estava creditado com cerca de 80% (não com mais de 100% como Fidel Castro) das intenções de voto, segundo sondagens que obviamente não podem dar resultados negativos para o ditador. Esse está no poder desde 1999.



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